Livre Arbítrio
A lógica do louvor é semelhante à lógica da censura. Uma pessoa é louvável
por ter realizado um certo acto somente se a) realizou de facto esse acto, b) foi bom que o tenha
realizado e c) não estão presentes condições
análogas às desculpas. É curioso que não haja um nome para essas condições
análogas. Temos uma palavra «desculpas», para as condições que tornam imprópria
a censura, mas não temos uma palavra para as condições que tornam impróprio o
louvor. No entanto, é evidente que há condições similares que funcionam de
formas similares. Se fizermos algo esplêndido apenas por acidente ou por
ignorância, não merecemos louvor, o que aconteceria se tivéssemos realizado
deliberadamente o acto. Talvez não haja uma palavra geral para essas condições
porque as pessoas não costumam tentar evitar ser louvadas. Podemos designá-las
por «condições eliminatórias de crédito»
Deste modo, a concepção de senso comum de responsabilidade diz-nos que as
pessoas são responsáveis pelo que fizeram se não estão presentes condições de
desculpa ou condições eliminatórias de crédito. Nessas circunstâncias, merecem
o louvor se se comportam bem, mas merecem a censura se se comportam mal. E esta
concepção de responsabilidade, devemos sublinhar, é inteiramnete compatível com
a possibilidade de o comportamento estar causalmente determinado.
Podemos resumir tudo isto de duas formas alternativas, o que depende de
considerarmos o compatibilismo uma teoria viável. Os compatibilistas diriam
que, se essas condições são satisfeitas, então agimos livremente. Porém, os
deterministas podem dizer que não somos livres, mas que não deixamos de ser
responsáveis, dado que a responsabilidade não requer o livre-arbítrio. Correu
muita tinta neste debate, mas tudo parece, suspeitosamente, não passar de uma
disputa verbal. A ideia essencial é que o facto de o comportamento das pessoas
estar causalmente determinado não implica que elas não sejam responsáveis pelo
que fazem.
Conclusão. O problema do livre-arbítrio
é uma das questões filosóficas mais difíceis, e quem arrisque dar uma opinião a
seu respeito deve estar devidamente consciente da possibilidade de estar
enganado. Ainda assim, vale a pena considerar esta possibilidade: perderemos
pouco se deixarmos de nos conceber como seres com livre-arbítrio. Podemos
continuar a ver-nos como seres inteligentes que agem segundo objectivos, que
são capazes de agir bem ou mal, e podemos continuar a avaliar as pessoas como
boas ou más em função das suas escolhas. Podemos continuar a reagir positiva ou
negativamente aos outros em função daquilo que fazem e do tipo de pessoa que
são. Ao mesmo tempo, no entanto, faremos tudo isto compreendendo também que, em
última análise, as pessoas não controlam o seu carácter ou os seus desejos. No
que respeita ao «livre-arbítrio», isto pode ser tudo o que há para saber.
Problemas da Filosofia,James Rachels,
Gradiva
-(Colecção Filosofia Aberta, pp. 202-3)
Lola
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