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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

David Hume e a ideia de causalidade





David Hume
 a ideia de causalidade




"No entanto, para nos convencermos de que, sem exceção, todas as leis da natureza e todas as operações dos corpos são conhecidas apenas pela experiência, as reflexões que seguem são sem dúvida su­ficientes. Se qualquer objeto nos fosse mostrado, e se fôssemos solici­tados a pronunciar-nos sobre o efeito que resultará dele, sem consultar observações anteriores; de que maneira, eu vos indago, deve o espírito proceder nesta operação? Terá de inventar ou imaginar algum evento que considera como efeito do objeto; e é claro que esta invenção deve ser inteiramente arbitrária. O espírito nunca pode encontrar pela in­vestigação e pelo mais minucioso exame o efeito na suposta causa. Porque o efeito é totalmente diferente da causa e, por conseguinte, jamais pode ser descoberto nela. O movimento na segunda bola de bilhar é um evento bem distinto do movimento na primeira, já que não há na primeira o menor indício da outra. Uma pedra ou um pedaço de metal levantados no ar e deixados sem nenhum suporte caem imediatamente. Mas, se consideramos o assunto a priori, desco­brimos algo nesta situação que nos pode dar origem à idéia de um movimento descendente, em vez de ascendente, ou de qualquer outro movimento na pedra ou no metal?
Do mesmo modo que a imaginação inicial ou invenção de um efeito particular é, em todas as operações naturais, arbitrária se não con­sultamos a experiência, devemos igualmente supor como tal o laço ou a conexão entre a causa e o efeito, que une um ao outro e faz com que seja impossível que qualquer outro efeito possa resultar da operação desta causa. Quando vejo, por exemplo, que uma bola de bilhar desliza em linha reta na direção de outra, mesmo se suponho que o movimento na segunda me seja acidentalmente sugerido como o resultado de seu contato ou impulso, não posso conceber que cem diferentes eventos poderiam igualmente resultar desta causa? Não podem ambas as bolas permanecer em absoluto repouso? Não pode a primeira bola voltar em linha reta ou ricochetear na segunda em qualquer linha ou direção? Todas estas su­posições são compatíveis e concebíveis. Por que, então, deveríamos dar preferência a uma que não é mais compatível ou concebível que o resto? Todos os nossos raciocínios a priori nunca serão capazes de nos mostrar fundamento para esta preferência.
Em uma palavra: todo efeito é um evento distinto de sua causa. Portanto, não poderia ser descoberto na causa e deve ser inteiramente arbitrário concebê-lo ou imaginá-lo a priori. E mesmo depois que o efeito tenha sido sugerido, a conjunção do efeito com sua causa deve parecer igualmente arbitrária, visto que há sempre outros efeitos que para a razão devem parecer igualmente coerentes e naturais. Em vão, portanto, pretenderíamos determinar qualquer evento particular ou inferir alguma causa ou efeito sem a ajuda da observação e da experiência".

David Hume, 
Investigação acerca do entendimento Humano 




  • O princípio de causalidade é o fundamento de toda a investigação científica, mas o que nos diz o princípio de causalidade?
  • diz-nos que há uma ligação necessária ou conexão entre dois fenómenos, isto é, dado a ocorrência de um determinado fenómeno (a – causa), podemos prever ou antecipar a ocorrência do outro (b – efeito).
  • Um exemplo: um determinado aumento de temperatura (a) é a causa da dilatação de determinados corpos (b). o que significa dizer que a é a causa de b?
  • significa afirmar: sempre que, em determinadas condições, acontece a, acontece necessariamente b. 
  • conexão necessária a = causa b = efeito
  • David Hume submete o princípio de causalidade a uma análise rigorosa, baseando-se na sua teoria do conhecimento: 
  • Se todas as nossas ideias derivam de impressões sensíveis e a qualquer ideia tem de corresponder uma impressão então sem impressão sensível não há conhecimento.
  • será que temos a impressão sensível da ideia de “conexão necessária”?
  • observação de um facto: surge uma impressão sensível – a surge uma outra impressão sensível – b;  a = aumento de temperatura b = dilatação de certos corpos observação de um facto 
  • 1º observação: impressão sensível: conjunção ou sucessão temporal a seguir a um acontecimento (a) sucedeu um outro (b) 
  • várias observações: impressão sensível: conjunção ou sucessão temporal constante verifica-se que até agora b (dilatação) sucedeu a a (aquecimento) 
  • análise do facto: nasce na nossa mente, como consequênciada successão temporal constante, a ideiade relação causal ou conexão necessária (sempre foi assim, sempre será assim). a = causa b = efeito;  
  • a sucessão temporal constante entre dois fenómenos não é sinónimo de conexão necessária entre eles pois, porque se até agora b (dilatação) sempre sucedeu a seguir a a (aquecimento), não significa que a seja a causa de b.
  • a ideia de relação causal (conexão necessária) é uma ideia da qual não temos nenhuma impressão sensível.
  • questão: poderemos ter a certeza do que vai acontecer?
  • Não, o conhecimento de factos reduz-se às impressões actuais e passadas e nada nos diz em relação às impressões futuras.
  • Quando dizemos que, acontecendo a, sempre acontecerá b, estamos a falar de um facto futuro, que ainda não aconteceu, ora não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer impressão sensível (experiência) do que ainda não sucedeu.
  • Como surge então a ideia de uma conexão (ligação necessária) entre causa (a) e efeito(b)?
  • como várias vezes observamos (b) que um corpo dilata após um determinado aumento de temperatura (a) acontece isto: sempre quevemos acontecer um determinado aumento de temperatura, concluímos, devido ao hábito ou costume, que determinados corpos vão dilatar.
  • A conjunção constante  e sucessão de a e b leva a inventar ou a acreditar numa conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência (impressão), a necessidade aqui é meramente psicológica.
  • O princípio de causalidade é uma crença que nem a experiência nem a razão podem justificar: é o produto de um hábito, e do desejo de que o futuro seja previsível ou controlável.
  • Assim, poderemos dizer que o empirismo de David Hume surge como um cepticismo porque defende que não podemos racionalmente justificar a crença nas relações causais no mundo. e como a maior parte do conhecimento científico tem por base o conhecimento de relações causais grande parte do que pensamos saber é uma ilusão.
  • David Hume é um céptico moderado porque pensa que não podemos deixar de acreditar na ideia de regularidade constante dos fenómenos já que sem essa crença, a vida seria impraticável.




                                              Lola

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