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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Filosofia da Religião - Sintese





Filosofia da Religião - Síntese



1. O que é a Filosofia da Religião?
  • A Filosofia da Religião consiste em pensar filosoficamente tópicos acerca da religião.
  • Pensar filosóficamente envolve reflectir criticamente acerca de questões que não podem ser resolvidas por métodos formais (matemática) nem por métodos empiricos (ciência)
  • A Filosofia é um estudo a priori/racional que permite a reflexão critica de ideias, a análise de razões e uma boa discussão argumentativa.


A Filosofia da Religião não é:
  • A  história das religiões (A Filosofia não se reduz à história)
  • nem a teologia (nesta já se parte de um conjunto de doutrinas que não se colocam em causa, como por exemplo: a existencia de Deus, a encarnação, a ressurreição).
  • A filosofia da Religião questiona: Será que há boas razões para aceitar a existência de Deus?
A Filosofia da Religião  é:
  • O exame critico das crenças e dos conceitos religiosos fundamentais (Conceito de Deus, de fé, noção de milagre, ideia de omnipotencia, crenças religiosas fundamentais como se Deus existe, se há vida depois da morte, se Deus sabe, antes mesmo de nascermos, o que vamos fazer, se a existencia do mal é consistente com o amor de Deus pelas suas criaturas) e consiste em pensar filosoficamente sobre tópicos que surgem, relativamente à religião.
O que é que a Filosofia da Religião examina criticamente?

1. Conceitos religiosos fundamentais como:
  • conceito de Deus
  • conceito de fé
  • noção de milagre
  • ideia de omnipotência
2. Crenças religiosas fundamentais:
  • crença de que Deus existe
  • de que há vida depois da morte
  • de que Deus sabe, mesmo antes de nascermos, o que vamos fazer
  • de que a existencia do mal é consistente com o amor de Deus pelas suas criaturas.

No exame critico deverá ter-se como ideal uma argumentação que seja válida, sólida e cogente!


2. O conceito TEISTA de Deus.


A que se referem as principais religiões como o judaismo, cristianismo e islamismo, quando falam de Deus?
Quando estas falam de Deus estão a referir-se ao Deus Teista que é um Deus com os seguintes predicados:
  • Omnipotente (pode fazer tudo)
  • Omnisciente (sabe tudo)
  • Sumamente bom (moralmente perfeito)
  • Criador
  • Pessoa (e não uma força da natureza).
Tanto o cristianismo, o judaismo e o islamismo defendem a existencia deste Deus teista com estes predicados, ainda que lhe deêm nomes diferentes.

"Teismo é a tese de que há uma pessoa sem um corpo (um espirito) que é eterno, livr, capaz de fazer qualquer coisa, conhecer tudo, é perfeitamente bom, é o objecto apropriado de adoração humana e obediência, o criador e o sustento do universo. Cristãos, judeus e muçulmanos são todos, neste sentido, teistas".

Richard Swinburne (1993)

A concepção teista de Deus distingue-se de outras, nomeadamente:
- Deismo (Deus é o criador mas não intervém nem se importa com a criação)


- Panteismo (Deus não é distinto do mundo)


Mas será que o Deus Teista Existe?
Quais os argumentos?
Que falácias a favor e contra a existencia de Deus?


Quais os principais argumentos acerca da existência de Deus?


A. Argumento Cosmológico (da causa primeira ou causal) - S. Tomás de Aquino

  • Parte da observação que tudo que existe tem uma causa
  • baseia-se em alguma informação acerca do modo como o mundo é
  • é um argumento a posteriori
  • começa-se  com factos simples acerca do mundo, como o facto de nele haver coisas cuja existência é causada por outras coisas e daí concluir que tem de haver uma primeira causa, ou seja, Deus

Formulação: 
  1. Existem coisas no mundo
  2. Se existem coisas no mundo, entao tais coisas foram causadas a existir por alguma outra coisa
  3. Se as coisas do mundo foram causadas a existir por alguma outra coisa, então ou há uma cadeia causal que regride infinitamente ou há apenas uma primeira causa que é a origem da cadeia causal
  4. Mas não há uma cadeia causal que regride infinitamente
  5. Logo, há apenas uma primeira causa (a que chamamos Deus) que é a origem da cadeia causal.

Análise das premissas
  1. A premissa é trivial
  2. As coisas que existem no mundo não se causaram a si mesmas: foram causadas por outras coisas. Ex. Somos causados pelos nossos pais
  3. Há duas possibilidades acerca do que pode causar as coisas que existem no mundo: ou uma cadeia causal que regride infinitamente ou admitir uma primeira causa (incausada)que é a origem de toda a cadeia causal.
  4. A regressão ao infinito na cadeia de causas não é plausivel, pois se esta regressão fosse infinita entao não havia nada no seu inicio que desse origem à propria cadeia causal que deu origem a tudo o que temos hoje. Exemplo: nós existimos porque os nossos pais nos causaram e eles proprios foram causados pelos nossoa avós e assim sucessivamente se não houvesse um primeiro casal nós nao existiriamos tal como se não existisse Deus, a primeira causa, não existiriam coisas nem cadeias causais.

Objecções:

  • Falácia do Falso Dilema- Na premissa 3 há um falso dilema na medida em que apresenta apenas duas opções para explicar as coisas que existem no mundo quando podemos pensar em mais possibilidades, por exemplo, a opção de existirem primeiras várias causas diferentes e, deste modo, a conclusao não poderia ser a de que há apenas uma causa primeira. Porque é que a existencia de várias causas não é plausivel?
  • Poderá haver uma cadeia causal infinita - Em relação à premissa 4, poderemos dizer que S. Tomás de Aquino argumenta que se não existe uma primeira causa, também não existe qualquer cadeia causal e nada existiria, ou seja, deixaria de haver tudo o que é causado por essa causa primeira. Por isso, conclui que as cadeias causais não podem regredir infinitamente, como se lê na premissa 4. Porém há aqui um problema que é o da definição pois uma cadeia causal que regride infinitamente não tem uma primeira causa. Portanto, é falso que, se retirassemos a causa primeira (se ela não existir), a cadeia causal e tudo o que existe no mundo deixaria de existir.
  • Não implica o Deus Teista - Em relação à conclusão , mesmo que se possa concluir que existe uma causa primeira, nada garante que essa causa seja o Deus teista, ou seja, a primeira causa da cadeia causal não precisa de ter os atributos tradicionais do teismo, como a omnipotencia, a omnisciencia ou a suma bondade.
  • Qual foi a causa de Deus? - se tudo tem uma causa, Deus também a tem.
  • O universo poderá ser incriado e eterno - a possibilidade de que tudo o que existe tem uma causa é compativel com a possibilidade de um mundo sem um principio nem fim, um mundo que exista desde sempre (como as séries infinitas de númerosem qualquer das direcções)
Argumento Cosmológico - O que diz a Bíblia?


A Bíblia  diz-nos, desde o primeiro versículo, que Deus criou o universo. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1). “...o SENHOR, porém, fez os céus” (1 Crônicas 16:26). Sabemos que Deus não é em Si uma parte física do universo. 2 Crônicas 2:6 diz: “...visto que os céus e até os céus dos céus o não podem conter”. Sabemos também que o “SENHOR, Deus Eterno” (Gênesis 21:33) é eterno e infinito. “Ele, em seu poder, governa eternamente” (Salmo 66:7). A Bíblia ensina claramente que Deus é a Primeira Causa sem causa anterior e que Ele criou o universo apenas pela Sua vontade.




B. Argumento Teleológico (ou do Desígnio) - S. Tomás de Aquino
  • O argumento teleológico (do grego telos - "finalidade" ou "propósito") baseia-se numa analogia entre o universo e um artefacto humano como um relogio ou uma máquina.
  • Muitas das coisas que existem no universo provocam em nós sentimento de surpresa por manifestarem ordem e designio
  • Procura, então, mostrar-se que seja o que for que produziu o universo, tem de ser um ser inteligente
  • Podemos fazer uma comparação: durante um passeio encontramos um relógio no chão - esse relógio é composto por diferentes partes que, por estarem ajustadas, assinalam o dia e a hora e podemos questionar: ou o relógio foi concebido por um relojoeiro ou formou-se por acaso. Como o relógio tem uma função(assinalar a hora e o dia) seria surpreendente que este se tivesse auto-formado.
  • A hipótese que melhor explica os fenómenos observados é a hipótese do relojoeiro e não a hipótese do mero acaso.

Formalizando este raciocínio num silogismo disjuntivo:

1. As caracteristicas especificas do relógio encontrado devem-se a um relojoeiro ou devem-se ao acaso
2. Mas tais caracteristicas não se devem ao acaso
3. Logo, tais caracteristicas devem-se a um relojoeiro. 

NOTA: é esta a estrutura que é utilizada nas várias versões do argumento teleológico! 

Agora, se em vez do relógio, partirmos de evidencias ou obserbvações - as maravilhas da natureza:

Os seres vivos e os seus orgãos (por exemplo, o olho) exibem uma estrutura intrincada, com desempenho de funções complexas (como a visão).

Tendo em conta essas maravilhas da natureza, temos duas hipóteses para explicar esse fenómeno: ou os seres vivos foram criados por Deus ou formaram-se por acaso. Provavelmente, as maravilhas da natureza são menos surpreendentes se foram concebidas por Deus do que se foram concebidas por acaso.Assim, as maravilhas da natureza confirmam a hipótese de Deus em detrimento da hipotese do acaso. Podemos concluir, por isso mesmo, que os dados ou observações sobre as maravilhas da naturezaconfirmam a existencia de Deus.



Formalizando este raciocínio num silogismo disjuntivo:

1. As maravilhas da natureza devem-se ou a uma concepção de Deus ou devem-se ao acaso
2. Mais tais maravilhas não se devem ao acaso
3. Logo, tais maravilhas devem-se a uma concepção de Deus.

Objecção: falácia do falso dilema

Na premissa 1 há uma falácia informal do falso dilema pois alem das hipóteses de Deus e do acaso, há uma terceira hipótese muito relevante:

Darwinismo 
Os seres vivos resultam de um processo de evolução por selecção natural.

Ora, a hipótese do darwinismo parece constituir uma melhor explicação para dar conta das maravilhas da natureza do que a hipótese Deus. Assim, o darwinismo põe em causa o argumento teleológico na versão formulada.
Porém, há uma nova versão do argumento teleológico que não é afectada pela anterior critica baseada no darwinismo.



Nova versão do argumento teleológico


Numa nova versão do argumento teleológico, em vez de se partir da evidencia das maravilhas da natureza, parte-se de uma evidencia diferente, nomeadamente da observação do universo como altamente estruturado com parâmetros precisamente definidos.


A esse propósito, há quem observe que se a explosão inicial do BIG BANG diferisse em força por tão pouco quanto uma parte de 10 elevado a 60, o universo ou teria colapsado sobre si mesmo ou teria expandido muito rapidamente, não permitindo que as estrelas se formassem.Além disso, se a força nuclear forte, a força que liga protoes e neutroes num átomo, bem como se a gravidade e a força eletromagnética fossem ligeiramente mais fortes ou mais fracas, a vida seria impossível.

Assim, na nova versão do argumento teleológico parte-se dos seguintes dados:



Afinação minuciosa
As constantes fisicas estão minuciosamente afinadas para a existencia da vida

Tendo em conta a afinação minuciosa, temos as seguintes hipóteses para explicar esse fenómeno:

  • Designer - a afinação minuciosa do universo deve-se a um designer sobrenatural: a umm Deus.
  • Acaso - A afinação minuciosa do universo é fruto do acaso.
Ora:
se o universo for resultado do acaso, será surpreendente ele ter as caracteristicas de afinação minuciosa. Podemos establecer uma analogia: tal como é surpreendente que uma seta atirada ao acaso acerte no circulo central de um alvo, também se o universo for um mero fruto do acaso será bastante surpreendente que esteja tão precisamente afinado para a vida.

- se o universo for resultado de algum tipo de designer inteligente, não será surpreendente ele ter as caracteristicas de afinação minuciosa - pois se supomos que a vida em geral (mesmo a racional e consciente) é algo bom, então não será surpreendente que um designer inteligente e sobrenatural, tendo os atributos tradicionais do teismo (omnipotencia e sumamente bom), tenha criado um universo minuciosamente afinado para a vida.

Poderemos, então, afirmar o seguinte:
- a probabilidade de o universo exibir as caracteristicas da afinação minuciosa, tendo rsultado do acaso, é baixa.
- a probabilidade  de o universo exibir as caracteristicas da afinação minuciosa, tendo rsultado de um designer inteligente, não é baixa.
- É mais provável que o universo tenha constantes minuciosamente afinadas para a vida se houver um designer do que se for fruto do acaso.
- Portanto, a afinação minuciosa do universo dá razão para acreditar em Deus.


Formalizando este raciocínio num silogismo disjuntivo:

1. A afinação minuciosa do universodeve-se a um designer ou ao acaso
2. Mas não se deve ao acaso
3. Logo, deve-se a um designer.

Será este um bom argumento?


Objecções:


Falácia do Falso Dilema - está presente na premissa 1 pois as hipoteses do designer e do acaso não são as unicas hipoteses possiveis e relevantes para explicar a evidencia da afinação minuciosa - pode existir uma terceira hipotese: 
Multiverso
Existem muitos universos distintos: muitos dominios do espaço-tempo que divergem entre si em virtude de terem constantes fisicas ou leis naturais diferentes.

Assim, entre os vários universos, acabará por surgir, por mero acaso, um universo em que as constantes assumem os valores correctos para a existencia da vida. Admitida esta pluralidade de universos, a afinação minuciosa não será surpreendente.


(...) O britânico Stephen Hawking tinha postulado em 1980 (juntamente com o norte-americano James Hartle) que o Big Bang tinha criado não só o nosso Universo, como também universos infinitos, com diferentes leis entre si. Como, em teoria, tudo seria possível num universo paralelo, não haveria maneira de garantir que as leis da física seriam as mesmas do que aquelas que se aplicam ao nosso cosmos.
Este último trabalho de investigação desenvolvido por Hawking antes da sua morte, a 14 de Março deste ano, aponta uma solução para este problema, dizendo que o nosso Universo é apenas um entre muitos universos parecidos, que se regem pelas mesmas leis.(...) In Público, 3 de Maio de 2018


Não se prova a existência do Deus teista - um problema que atinge as várias versões do argumento teleológico tem a ver com a ideia de que com o argumento em consideração sabemos pouco sobre a natureza do designer:será que a afinação minuciosa do universo se deve apenas a um Deus ou é um trabalho colaborativo de vários deuses? Talvez o designer em questão tenha poder suficiente para criar um universo favorável à vida, mas será omnipotente, omnisciente, ou moralmente perfeito? Será alguém com quem podemos establecer uma relação pessoal, por exemplo, através da oração?

O argumento da afinação minuciosa, por si só, não consegue responder a estes desafios. Será esta uma objecção boa ou má?

Esta prova parece limitativa pelas seguintes razões:

  • Mesmo que aceitemos que as analogias provam que um ser inteligente criou o universo, esta prova não demostra que este seja o Deus do teismo.
  • Tal não implica que o criador seja omnipotente (embora tenha de ser poderoso), nem omnisciente, nem bondoso, nem que tenha de ser eterno (poderá já ter morrido), nem mesmo que seja só um - para uma tão grande criação, seria até bem mais provável que, por analogia, com o que vemos na terra, resulte da colaboração entre vários cocriadores.

C. Argumento Ontológico  - Anselmo de Cantuária (1033-1109) 

  • é um argumtento a priori (sem apelar à experiencia)
  • A caracteristica mais invulgar deste argumento é o facto de se basear apenas em premissas cuja verdade, a serem verdadeiras, poderá ser conhecida sem apelar à experiencia: a simples análise do conceito de  Deus que todos somos capazes de formar nas nossas mentes, poderá demonstrar  a sua existencia na realidade.
  • É um argumento por redução ao absurdo: juntando às restantes premissas a proposição de que Deus não existe na realidade, gera-se uma contradição (pois o tal ser maior do que o qual nenhum outro é possivel, teria de ter outro ser superior maior que Deus), pelo que essa proposição Deus não existe na realidade- é falsa - Deus existe.
  • Na versão clássica de Santo Anselmo parte-se da definição de Deus como "ser maior do que o qual nada pode ser pensado" - um ser que acumula todas as perfeições que existam, que detém todas as propriedades positivas e nenhuma negativa, de tal modo, que seja o máximo possível da perfeição.
  • A partir desta definição conclui-se que Deus existe na realidade, pois se Deus não existisse ou se apenas existisse no pensamento, mas não na realidade, não seria aquele ser maior do que o qual nada pode ser pensado.

Formalizando este raciocínio:

1. Deus existe no pensamento (isto é, pode ser concebido como ideia, quer exista ou não na realidade)
2. Deus é um ser possível
3. Se Deus existe no pensamento e não na realidade, então um ser mais perfeito do que Deus é concebivel.
4. Deus não existe na realidade (hipótese da redução ao absurdo). 
5. Se Deus não existe na realidade, então pode haver um ser maior que ele.
6.Há um ser que é existindo no pensamento e na realidade é maior do que o Deus que existe só no pensamento mas a quem falta a existencia na realidade.Mas, não é concebível  um ser mais perfeito do que Deus, nem que Deus não exista na realidade.
4. Logo, Deus existe na realidade e no pensamento.


Análise:

- Na premissa 1 afirma-se que Deus existe pelo menos como entidade mental. Mesmo o ateu aceita esta premissa; ou seja, pode pelo menos pensar-se na existencia de Deus.Para se afirmar ou negar a existencia de Deus na realidade, deve compreender-se o que está a ser afirmado ou negado. Assim, Deus existe pelo menos como entidade mental ou conceito, se é afirmado ou negado.

- Na premissa 2 sustenta-se que se Deus existir apenas como entidade mental, mas não como existente na realidade, então seria possível conceber um ser mais perfeito do que Deus. E porquê? Porque desse modo parece que podemos imaginar um ser ainda melhor e mais perfeito do que esse Deus, ou seja, podemos conceber um ser que além de existir no pensamento também exista na realidade. Ora, existir no pensamento e na realidade é maior perfeição do que existir apenas no pensamento. 

- Na premissa 3 defende-se que não se pode conceber um ser mais perfeito do que Deus. Estamos a partir  da definição de Deus como o "ser maior do que o qual nada pode ser pensado". Ora, afirmar que Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado é o mesmo que dizer que Deus é o ser maximamente perfeito, isto é, o ser com todas as qualidades (omnipotencia, omnisciência, suma bondade e outras) - não se pode conceber outro ser melhor ou mais perfeito do que Deus.

- Aceitando estas premissas, terá de se aceitar a conclusão de que Deus existe na realidade pois o argumento é logicamente válido. Mas será sólido?


Objecções:

A. Pode provar-se coisas que não existem - Gaunillo (994- 1083), um monge beneditino da Abadia de Marmoutier em Tours, França apresentou uma primeira critica em que seguindo a mesma estrutura argumentativa do argumento ontológico de Santo Anselmo , pode provar-se coisas que não existem. Para mostrar isto, Gaunillo definiu "Ilha Perfeita" como uma ilha maior do que a qual nada maior pode ser pensado e conclui, pelas mesmas razões de Santo Anselmo, que essa ilha meramente imaginária também existe na realidade.
 Formalizando o argumento de Gaunillo: 
1. A Ilha Perfeita existe no pensamento
2. Se a ilha perfeita existe no pensamento e não na realidade, então uma ilha mais perfeita do que a ilha perfeita é concebivel
3. Mas não é concebível uma ilha mais perfeita do que a ilha perfeita
4. Logo, a ilha perfeita existe na realidade.


Deste modo, chega-se a uma conclusão estranha com base na mesma estrutura do argumento ontológico. Como nao há qualquer ilha perfeita, na forma como Gaunillo a definiu, alguma das premissas terá de ser falsa. Embora Gaunillo não tenha identificado, com precisão, qual o erro, filósofos posteriores tentaram-no fazer.


B. A existência não é um verdadeiro predicado - Na premissa 2 do argumento de Santo Anselmo - Se Deus existe no pensamento e não na realidade, então um ser mais perfeito do que Deus é concebível - uma das razões a favor dessa premiss assenta na ideia  de que existir na realidade torna algo mais perfeito do que existir apenas no pensamento. Contra essa ideia, Kant (1724-1704) defende que a existencia não é um verdadeiro predicado. A existencia não é um predicado tal como o é uma propriedade que pode caracterizar uma coisa (ou seja, "existe" não é uma propriedade como "verde", "inteligente" ou "alto").Isto porque a existencia não acrescenta nada ao conceito de uma coisa - , a existencia é apenas a exemplificação ou instanciação de uma coisa.
No argumento ontológico, Santo Anselmo parece sustentar que a existencia é um predicado que se acrescenta ao conceito de Deus definido como um ser maior do que o qual nada pode ser pensado, ou seja, é maior ter a propriedade de existir do que não ter essa propriedade. Ora, afirmat que algo existe não acrescenta nada ao conceito de um tal ser, apenas afirma que o conceito é exemplificado. Não há diferença de propriedades entre      o conceito de um Deus existente e de um Deus não existente. A existencia não envolve uma nova propriedade. E se a existencia não é uma propriedade ou um predicado, então um ser maximamente perfeito não é maior se existir do que se não existir.

C. Falácia da Petição de Principio - o argumento ontológico comete a falácia informal da petição de principio  ou circularidade, pois parte-se da definição de Deus como absolutamente perfeito, contendo todos os predicados e perfeições, inclusive a existência na realidade. Assim, quando se diz   na premissa 1 - que Deus existe no pensamento - já se está comprometido, pela definição apresentada de Deus, com a ideia de que Deus existe na realidade.   



                                                Lola

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