Descartes
O Circulo Cartesiano
De acordo com a
objecção do círculo cartesiano, colocada perspicazmente por Arnauld, Descartes
defende o seguinte:
1. Posso saber que aquilo que percebo clara e distintamente é
verdade só se sei primeiro que Deus existe e não é enganador.
2. Posso saber que Deus existe e não é enganador só se sei
primeiro que aquilo que percebo clara e distintamente é verdade.
Nas Objecções
e Respostas que complementam as Meditações, Descartes
responde a esta acusação de circularidade nas passagens seguintes:
Quando disse que nada
podemos saber de forma certa até descobrirmos que Deus existe, declarei
explicitamente que estava a falar apenas do conhecimento daquelas conclusões
que podem ser recordadas quando já não estamos a considerar os argumentos pelos
quais as deduzimos.
Estamos certos de que
Deus existe porque atendemos aos argumentos que o provam. Subsequentemente,
basta recordarmo-nos de que percebemos algo claramente para termos a certeza de
que isso é verdade. Isto não seria suficiente se não soubéssemos que Deus
existe e não é enganador.
Descartes parece estar aqui a declarar que, na verdade, não subscreve a
tese 1, ficando assim livre da circularidade. Ou seja, Descartes parece estar a
dizer que não defende, a respeito de toda e qualquer percepção clara e
distinta, que poderá estar certo da sua verdade só se souber primeiro que
Deus existe e não é enganador. A dúvida restringe-se às percepções claras e
distintas passadas. A prova da existência e da veracidade de Deus
não é necessária para garantir que as percepções claras e distintas presentes são
verdadeiras – e, portanto, estas podem ser usadas para provar que Deus existe e
não é enganador. A “garantia divina”, então, só é necessária para justificar o
seguinte: aquilo que me recordo de ter percebido clara e
distintamente é verdade.
Pedro Galvão
Tenho outra preocupação: como pode o autor evitar raciocinar em círculo quando diz que estamos certos de que aquilo que percebemos clara e distintamente é verdade apenas porque Deus existe?
Pois podemos estar certos de que Deus existe apenas porque percebemos isso clara e distintamente. Assim, antes de podermos estar certos de que Deus existe, devemos poder estar certos de que aquilo que percebemos clara e evidentemente é verdade.
Antoine Arnauld
Muito bom!!!
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