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domingo, 3 de novembro de 2019

Descartes e o Cepticismo




DESCARTES E O CEPTICISMO


O argumento céptico da regressão infinita

Teremos maneira de saber se sabemos alguma coisa? O céptico defende que não.O problema pode parecer estranho; e, se o problema pode parecer estranho, a resposta céptica pode parecê-lo ainda mais. Muitas vezes temos boas razões para duvidar de que saibamos certas coisas; há, todavia, outras coisas de que nos parece difícil duvidar seriamente. Mas o céptico pensa ter um bom argumento1. O seu argumento pode ser formulado do seguinte modo:

Se há conhecimento, então as nossas crenças estão justificadas;
mas as nossas crenças não estão justificadas;
 logo, não há conhecimento.

Ora, este argumento é válido2.
Se for sólido, teremos de aceitar a sua conclusão; se não queremos aceitar a sua conclusão, teremos de mostrar que não é sólido.
Mas por que razão deveremos preocupar-nos com a conclusão céptica? Porque não poderemos aceitá-la, ainda que com uma reserva sorridente — e passar tranquilamente adiante?
Essa é uma possibilidade.
O que há de insatisfatório com ela é que, se a aceitamos, dificilmente haverá um adiante a que passar.
Muitos filósofos pensam que a conclusão céptica é inaceitável; e que temos, por conseguinte, boas razões para nos ocuparmos dela.

Se isso é verdade, então temos de regressar ao argumento céptico e procurar determinar o que há de errado com ele.

Será o argumento céptico um argumento sólido?
Válido, é; se é válido, então será sólido na circunstância em que todas as suas premissas são verdadeiras. Serão?

A primeira premissa parece indisputável; isto porque não parece possível haver conhecimento sem justificação.
Mas a segunda premissa não parece tão evidentemente verdadeira; e isto porque não é óbvio que as nossas crenças — ou, ao menos, algumas delas — não estejam justificadas.

Se o céptico pretende que o seu argumento é sólido, então deverá defender a sua segunda premissa.
O argumento céptico da regressão infinita procura fazê-lo. Este argumento pode ser formulado do seguinte modo:

Todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças; 
se todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças, então há uma regressão infinita; 
se há uma regressão infinita, então as nossas crenças não estão justificadas; 
se as nossas crenças não estão justificadas, então não há conhecimento; 
logo, não há conhecimento.

Ora, este argumento é válido; logo, e mais uma vez, se não queremos aceitar a sua conclusão, teremos de mostrar que pelo menos uma das suas premissas é falsa.
 Mas será? E, se o for, qual?



Descartes e o argumento céptico da regressão infinita

Descartes procura responder ao argumento céptico da regressão infinita mostrando que a sua primeira premissa é falsa; isto é, mostrando que não é verdade que todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças.
Mas esse não é o seu principal problema.
A Descartes não parece satisfatório mostrar que o céptico pode estar errado3: ele pretende mostrar que o céptico está, efectivamente, errado.
O seu principal problema pode ser formulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?”


A dúvida cartesiana

Como o céptico, Descartes parte da dúvida; mas, ao contrário do céptico, não permanece nela. 
A dúvida cartesiana é muito especial, por diversas razões: Metódica, hiperbólica e será abandonada logo que Descartes encontre o primeiro principio da sua filosofia - o cogito.


Ainda acerca do cepticismo...

O texto de Arístocles (séc. II), reproduzido na obra “Preparação Evangélica”, de Eusébio de Cesareia (265?- 339) resume o princípio filosófico do cepticismo:

"Aquele que quiser ser feliz deve considerar três pontos: em primeiro lugar, o que são as coisas em si mesmas? Depois, que disposições devemos ter em relação a elas? Por fim, o que nos resultará dessas disposições?
As coisas não têm diferença entre si, e são igualmente incertas e indiscerníveis. Por isso, nossas sensações e nossos juízos não nos ensinam o verdadeiro nem o falso.

Por conseguinte, não devemos nos fiar nos sentimentos nem na razão, mas permanecer sem opinião, sem nos inclinarmos para um lado ou para o outro, impassíveis".

                                                Lola


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