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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Filosofia da Arte: Teorias essencialistas




Teorias essencialistas da Arte


Qual a essência da arte?
Quais as condições necessárias e suficientes para que algo possa ser considerada arte?
Qual o conjunto de características que as obras de arte têm em comum?
Que propriedades intrínsecas tem a obra de arte?




Teorias


Descrição

Vantagens

Críticas



















Arte como
Imitação

Platão

Aristóteles

Mark Rothko


A arte é imitação da realidade.

O critério é: para ser arte essa obra tem de imitar algo.

Um aspecto geral desta teoria mostra-nos que é uma teoria centrada nos objectos imitados.

- os defensores mais recentes da teoria da arte como imitação, acabaram por substituir o conceito de imitação pelo conceito mais sofisticado de representação ficamos, deste modo, com uma teoria que defende que uma condição necessária para algo ser arte é imitar, e isso não acontece com todas as obras de arte.

Representar é muito mais que imitar: pode representar-se algo sem imitar.


- Adequa-se ao facto incontestável de muitas pinturas, esculturas e outras obras de arte, como peças de teatro ou filmes imitarem algo da natureza: paisagens, pessoas, objectos, acontecimentos, etc.


- Oferece um critério de classificação das obras de arte bastante rigoroso, o que nos permite distinguir com alguma facilidade um objecto que é uma obra de arte de outro que o não é.


- Oferece um critério de valoração das obras de arte que nos possibilita distinguir facilmente as boas das más obras de arte: uma obra de arte seria tão boa quanto mais se conseguisse aproximar do objecto imitado.




1- Há de obras de arte que nada imitam
 tanto na pintura como na escultura abstractas ou noutras artes visuais não figurativas, na literatura e na música.
2 - esta teoria acaba também por desconsiderar o critério de classificação apresentado pois verificamos que há obras que são reconhecidamente arte e não são classificadas como tal. A conservar este critério, seriam as obras de arte que deveriam conformar-se à definição de arte e não o contrário. Mas acontece que nem esta nem nenhuma outra definição de arte disponível é suficientemente forte para nos fazer abandonar as nossas intuições de que certas obras são arte, ainda que tais definições as não classifiquem como tal.

3- Apesar de ficarmos muitas vezes positivamente impressionados com a perfeição representativa de algumas obras de arte, o seu critério valorativo falha porque muitas outras obras de arte não poderiam ser consideradas boas nem más, já que não imitam nada. Mas falha ainda por haver obras que imitam algo sem que nos encontremos alguma vez em condições de saber se a imitação é boa ou má.
- Basta pensar em obras que imitam algo que já não existe ou não é do conhecimento de quem as aprecia. - em relação ao critério valorativo esta teoria está longe de dar resposta satisfatória a todas as objecções que se lhe colocam.
- Se a arte é imitação, a melhor seria a mais realista, mas muita arte, embora representativa, não é imitação










Exemplos
- Como podemos saber se A Escola de Atenas, de Rafael, reproduz com perfeição as figuras de Platão e Aristóteles ou o ambiente da Academia? Como sabemos que o Jardim das Delícias, de Bosch, imita bem aquelas figuras estranhas e inverosímeis, admitindo que algo está a ser imitado? Como podemos saber se O Nascimento de Vénus, de Botticelli, é uma boa imitação, se é que, mais uma vez, algo é imitado? E não será abusivo afirmar que qualquer pintura figurativa tecnicamente apurada é melhor do que o tosco Auto-Retrato com Chapéu de Palha, de Van Gogh, ou do que todas as obras impressionistas? Segundo este critério Picasso seria, com certeza, um artista menor e teríamos de reconhecer que a fotografia é a mais perfeita de todas as artes. Só que não é isso que acontece.

· Exprime-se, frequentemente, através de frases como “este filme é excelente, pois é um retrato fiel da sociedade americana nos anos 60”, ou como “este quadro é tão bom que mal conseguimos distinguir aquilo que o artista pintou do modelo utilizado”.

A vida dos Queen e o filme Rohemian Rhapsody


















Arte como expressão


Lev Tolstoi

R. G. Collingwood








- Teoria defendida por filósofos e artistas românticos do século XIX.

- A arte é a expressão da emoção do artista.

- Oferece um critério valorativo: uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.



- É uma teoria centrada no artista que exprime emoções.

- São muitos e eloquentes os testemunhos de artistas que reconhecem a importância de certas emoções sem as quais as suas obras não teriam certamente existido.

- se é verdade, como parece ser, que a arte provoca em nós determinadas emoções ou sentimentos, então é porque tais sentimentos e emoções existiram no seu criador e deram origem a tais obras.

- apresenta um critério que permite, com algum rigor, classificar objectos como obras de arte.
- Com a vantagem acrescida de classificar como arte todas as obras que não imitam nada, o que acontece frequentemente na literatura e sempre na música e na arte abstracta.



- Há obras de arte que não expressam emoções do artista:  quadros de Yves Klein, Mondrian ou de Vasarely

- Há a dificuldade em saber se a emoção do artista foi verdadeira e se o que sentimos corresponde ao que o artista nos quis transmitir
- uma maior quantidade de objectos podem ser classificados como arte. Mas nem todas as obras de arte são, de facto, classificadas como tal.
- Como podemos nós saber se uma determinada obra exprime correctamente as emoções do artista que a criou, quando o artista já morreu há séculos?

 - Se a obra em causa for erradamente atribuída a outro autor, essa obra deixaria de poderá deixar de ser considerada obra-prima?
- E as obras de autores anónimos ou desconhecidos não são boas nem más?

- E como avaliar uma obra de arte colectiva ou a interpretação de uma obra musical?

Há várias correntes artísticas  cujas obras não têm nenhum conteúdo emocional: a arte aleatória, a arte conceptual e a arte perceptiva.



Exemplos


·       Esta teoria manifesta-se frequentemente em juízos como “Este é um livro exemplar em que o autor nos transmite o seu desespero perante uma vida sem sentido” ou como “O autor do filme filma magistralmente os seus próprios traumas e obsessões”.

O GRITO de E. Munch., Segunda Sinfonia de Mahler, O grande canal de Veneza de Canaletto.




















A arte como forma significante


Clive Bell

- Teoria mais recente  que abandonou a ideia de que existe uma característica que possa ser directamente encontrada em todas as obras de arte.
- não se deve começar por procurar aquilo que define uma obra de arte na própria obra, mas sim no sujeito que a aprecia. Isso não significa que não haja uma característica comum a todas as obras de arte, mas que podemos identificá-la apenas por intermédio de um tipo de emoção peculiar, a que chama emoção estética, que elas, e só elas, provocam em nós. 

 -A emoção peculiar chamada “emoção estética” é provocada pelas obras de arte, e só por elas, então tem de haver alguma propriedade também ela peculiar a todas as obras de arte, que seja capaz de provocar tal emoção nas pessoas: é a forma significante.

- É arte toda a obra que possui uma forma significante

- Forma significante é a combinação de cores, linhas e formas, capaz de provocar a emoção estética.

- A única propriedade simultaneamente necessária e suficiente para a arte é a forma significante.



- A característica de provocar emoções estéticas constitui, simultaneamente, a condição necessária e suficiente para que um objecto seja uma obra de arte.














- Esta teoria apresenta uma grande vantagem: pode incluir todo o tipo de obras de arte, inclusivamente obras que exemplifiquem formas de arte ainda por inventar. Desde que provoque emoções estéticas qualquer objecto é uma obra de arte, ficando assim ultrapassado o carácter restritivo das teorias anteriores.
 - Algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que essas obras podem ser arte para uns e não o ser para outros?
Então  qual o critério para diferenciar as obras de arte das outras de outras?
- Teríamos, então, obras de arte que não são obras de arte, o que não faz sentido.
– E  quem não sente emoções estéticas em relação a determinadas obras não é uma pessoa sensível, como sugere Bell?

- é dificil explicar de maneira convincente em que consiste a tal propriedade comum a todas as obras de arte, a tal “forma significante”, responsável pelas emoções estéticas que experimentamos.
- Clive Bell refere, pensando apenas no caso da pintura, que a forma significante reside numa certa combinação de linhas e cores. Mas que combinação é essa e que cores são essas exactamente?
- E em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro, etc.?
- A ideia que fica é que a forma significante não serve para identificar nada pois a forma significante na pintura consiste numa certa combinação de cores e linhas, mas na música, na literatura, no cinema, etc., já não podem ser as cores e linhas a exemplificar a forma significante.
- Não temos, assim, uma propriedade mas várias propriedades e  chamar a diferentes propriedades “forma significante” é  muito vago
- Também a resposta de que a forma significante é a propriedade que provoca em nós emoções estéticas, depois de dizer que as emoções estéticas são provocadas pela forma significante é não só inútil mas decepcionante, já que se trata de uma falácia: a falácia da circularidade.


Não é consensual que exista uma emoção estética (distinta das outras emoções humanas)

O conceito de forma significante é controverso já que todas as pinturas possuem uma certa combinação de linhas, cores e formas

É controverso o facto de esta teoria considerar que apenas a forma é relevante para a obra de arte e não o conteúdo

Há obras de arte com formas indistinguiveis dos objectos comuns: os ready made.










Exemplos

· Frases como “Este quadro é uma verdadeira obra prima devido à excepcional harmonia das cores e ao equilíbrio da composição”, ou como “Aquele livro é excelente porque está muito bem escrito e apresenta uma história bem construída apoiada em personagens convincentes e bem caracterizadas”, exprimem habitualmente uma perspectiva formalista da arte.

Paul Cezanne, Lac d'Annecy (1986)
Bisonte, Gruta de Altamira, Espanha (não tem conteúdo representativo ou expressivo)

William Powel Frith, A Estação de Paddington (1866)- segundo Bell não é uma obra de arte.

Pieter Brueghel, Paisagem com queda de Ícaro(1558) - o conteudo representacional nem sempre é irrelevante para a apreciação artistica de uma obra.



Baseado num texto de Aires Almeida
Ver AQUI


                                                Lola

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