Dilemas morais
Qual é a decisão mais correta a tomar?
O bote salva-vidas
superlotado
Em 1842, um navio atingiu um iceberg e
mais de 30 sobreviventes foram apinhados em um bote salva-vidas que comportava
apenas 7 pessoas. Ao se aproximar uma tempestade, ficou óbvio que algumas
pessoas deveriam ser deixadas para trás para que o bote não afundasse. O
capitão argumentou que a coisa certa a fazer nessa situação era forçar alguns
indivíduos pular no mar e se afogar. Tal ação, raciocinou ele, não era injusta
para aqueles jogados ao mar, pois eles teriam se afogado de qualquer maneira.
Se ele não fizesse nada, no entanto, ele seria responsável pelas mortes
daqueles que ele poderia ter salvo. Algumas pessoas se opuseram à decisão do
capitão. Eles alegaram que, se nada fosse feito e todos morressem como
resultado, ninguém seria responsável por essas mortes. Por outro lado, se o
capitão tentasse salvar alguns, só poderia fazê-lo matando outros e suas mortes
seriam de sua responsabilidade; isso seria pior do que não fazer nada e deixar
todos morrerem. O capitão rejeitou esse raciocínio. Como a única possibilidade
de resgate exigia grandes esforços de remo, o capitão decidiu que os mais
fracos teriam que ser sacrificados. Nessa situação, seria absurdo, pensou ele,
decidir por sorteio quem deveria ser jogado ao mar. Como se viu, depois de dias
de remo duro, os sobreviventes foram resgatados e o capitão foi julgado por sua
ação. Se você estivesse no júri, como você teria decidido?
A escolha de Sofia
No romance A escolha de Sofia, de
William Styron, uma polonesa, Sophie Zawistowska, é presa pelos nazistas e
enviada para o campo de extermínio de Auschwitz. Ao chegar no campo de
concentração, por não ser judia, é premiada com uma escolha: Sofia pode
escolher um de seus filhos para ser poupado da câmara de gás. O outro deve morrer.
Em uma agonia de indecisão, quando vê as duas crianças sendo levadas para a
morte, Sofia pede para que deixem seu filho mais velho viver e levem sua filha
mais jovem. Sua decisão é motivada pelo fato de pensar que seu filho terá mais
chance de sobreviver, por ser mais velho e forte. No fim, ela acaba se
afastando do filho e nunca mais o vê. Ela fez a coisa certa? Anos depois,
assombrada pela culpa de ter escolhido entre seus filhos, Sofia comete
suicídio. Ela deveria ter se sentido culpada?
A tortura do terrorista
Um terrorista que ameaçou explodir
várias bombas em regiões populosas foi preso. Infelizmente, ele já plantou as
bombas e elas estão programadas para explodir em pouco tempo. É possível que
centenas de pessoas morram. As autoridades não conseguem fazê-lo divulgar a
localização das bombas por métodos convencionais. Ele se recusa a dizer
qualquer coisa e pede a um advogado que proteja seu direito de manter silêncio
e não dizer nada que o incrimine. Desesperado, um dos chefes de polícia sugere
tortura. Isso seria ilegal, é claro, mas o funcionário acha que, no entanto, é
a coisa certa a se fazer nessa situação desesperadora. Você concorda? Se o
fizer, seria também moralmente justificável torturar a esposa inocente do
terrorista se essa for a única maneira de fazê-lo falar? Por quê? Quais valores
importantes estão em jogo nessa decisão?
A Parcialidade da
Amizade
Jim tem a responsabilidade de preencher
uma vaga de trabalho em sua empresa. Seu amigo Paul se candidatou e está
qualificado, mas outra pessoa parece ainda mais qualificada. Jim quer dar o
trabalho a Paul, mas ele se sente culpado, acreditando que deveria ser
imparcial. Essa é a essência da moralidade, ele inicialmente diz a si mesmo.
Essa crença é, no entanto, rejeitada, pois Jim resolve que a amizade tem uma
importância moral que permite, e talvez até requeira, parcialidade em algumas
circunstâncias. Então ele dá o trabalho para Paul. Ele fez a coisa certa? Que
valores morais, deveres, princípios importantes estão em jogo nesse dilema?
O dilema do trem
Você vê um trem desgovernado movendo-se
em direção a cinco pessoas amarradas nos trilhos (ou incapacitadas de qualquer
outra maneira). Caso nada seja feito, elas serão mortas pelo trem. Mas você
está de pé ao lado de uma alavanca que controla um interruptor. Se você puxar a
alavanca, o trem será redirecionado para uma pista lateral e as cinco pessoas
na pista principal serão salvas. No entanto, na pista lateral também há uma
pessoa presa que acabará morrendo.
Você tem duas opções:
- Não faça nada e permita que o
trem mate as cinco pessoas na pista principal.
- Puxe a alavanca, desviando o
trem para a pista lateral, onde ele matará uma pessoa.
Os limites da promessa
Um amigo quer lhe contar um segredo e
pede que você prometa não contar a ninguém. Você dá sua palavra. Ele conta que
atropelou um pedestre e, por isso, vai se refugiar na casa de uma prima. Quando
a polícia o procura querendo saber do amigo, o que você faz?
Conta à polícia?
Não conta à polícia?
Qual é a decisão mais correta a tomar?
O antropólogo holandês Fonz Trompenaars
realizou pesquisas em diversos países com dilemas como esse. O mais
interessante é que as respostas variaram de acordo com o povo. A maioria dos
russos acusaria o amigo na lata. Outros mentiriam para protegê-lo, dando dicas
ambíguas à polícia, como os americanos. Já os brasileiros inventariam histórias
malucas para dizer que a culpa não era do amigo, mas do pedestre, que era um
suicida.
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