- Filosofia da Arte:
- questões e respostas
- Como entender o conceito de Arte?
- Podemos usar a palavra «arte» a propósito de coisas diferentes:
- GRAFFITI, SINFONIA, FILME, ARQUITECTURA, DANÇA, PINTURA, ESCULTURA....
- Muitos exemplos de obras de arte poderão não ser motivo de discussão. Outros exemplos que não envolvem as capacidades que tradicionalmente associamos à arte poderão ser polémicos; por exemplo, 1550 Cadeiras, uma obra de Doris Salcedo. Exemplos como estes levam-nos a questionar: O que é a arte?
- O que é a arte?
- Como pode a palavra «arte» designar coisas tão diferentes? Por que razão, então, algumas coisas são consideradas arte e outras não? Como distinguir o que é arte do que não é arte?
- O que é a Filosofia da Arte?
- A Filosofia da arte é a disciplina filosófica que se dedica ao estudo deste problema. Qual é a definição de arte?
- O que terá de dizer uma boa definição de arte?
- - Terá de dizer o que é a arte e distingui-la do que não é arte.
- - É necessário identificar características:
- • que todas as obras de arte possuam;
- • e que só as obras de arte possuam.
- O que significa condições necessárias e as condições suficientes?
- quais as condições necessárias e as condições suficientes para algo ser arte
- Que teorias respondem à questão - O que é a arte?
- uma resposta à pergunta «O que é a arte?»: podem identificar-se condições necessárias e suficientes para definir a arte. Teorias essencialistas e teorias não-essencialistas
- Defina Teorias Essencialistas da Arte.
- - Teorias essencialistas são aquelas que defendem a existência de características que constituem a natureza da arte.
- - São inerentes às obras de arte.
- - Aceitam a existência de uma essência da arte.
- - Tentam captar essa essência quando definem arte.
- Defina Teorias não Essencialistas da Arte.
- - Há características comuns a todas as obras de arte, mas essas características não são inerentes às obras de arte.
- - Essas características não são observáveis nas próprias obras de arte: têm a ver com o contexto social.
Quais são as teorias essencialistas da arte que vamos estudar?
1. Teoria representacional
2. Teoria expressivista
3. Teoria formalista
Quais são as teorias não essencialistas da arte que vamos estudar?
4. Teoria institucional
5. Teoria histórica
O que nos diz a teoria da ARTE COMO REPRESENTAÇÃO?
- - Segundo esta teoria: Se algo é arte, então é uma representação.
- - Foi a primeira teoria a surgir.
- - Foi defendida por Platão e Aristóteles.
- - Durante séculos este modo de entender a arte foi quase consensual.
- - A arte era uma representação imitativa. Os artistas procuravam imitar as coisas do modo mais fiel possível. Quanto mais fossem parecidas com o que representavam, mais valor artístico as obras teriam.
Qual a diferença entre IMITAÇÃO e REPRESENTAÇÃO?
- - A imitação é apenas um tipo de representação entre outros.
- - O conceito de representação é mais abrangente do que o de imitação.
- Uma coisa pode representar outra mesmo que não a imite.
- - Há obras que não imitam nada, embora representem alguma coisa.
- Exemplo: frequentemente, o escultor Antony Gormley representa o corpo humano sem o reproduzir.
Que criticas se podem apresentar à teoria da ARTE COMO REPRESENTAÇÃO?
- - A ideia de que a representação é uma condição necessária da arte é muito discutível.
- - Há muitas obras de arte que não representam nada.
- - Contraexemplos «Se algo é arte, então é representação» significa que todas as obras de arte são representação, mas não significa que só a arte é representação. - O conceito é muito abrangente, inclui coisas que não são arte, por exemplo, os sinais de trânsito. Não apresenta uma definição de arte
- O que nos diz a teoria da ARTE COMO EXPRESSÃO?
- - Segundo Collingwood, a arte é expressão clarificadora de sentimentos
- - Exprimir = clarificar
- - Para R. G. Collingwood:
- - «Algo é arte se e só se foi produzido por alguém com o intuito de exprimir as suas emoções individuais, de modo a clarificá-las".
O que significa "Expressar Emoções"?
- - A expressão de emoções:
- • é a essência da arte;
- • é um esforço do artista para clarificar as suas emoções.
Que tipo de emoções são essas?
- As emoções:
- • não são gerais, são específicas;
- • não está em causa apenas se o artista sente insatisfação;
- • mas também que insatisfação é essa.
- Collingwood distingue a "ARTE AUTÊNTICA" e "ARTE COMO OFICIO" . Porquê?
- algumas coisas normalmente consideradas como arte não o são.
- Existe....
- • a «arte autêntica», aquilo que genuinamente é arte;
- • e aquilo que não é arte, mas sim, «ofício». Por exemplo, a olaria.
- - O artífice sabe o que quer fazer antes de o fazer.
- Os artistas:
- • não têm um plano prévio;
- • só ganham consciência do que estão a expressar durante o processo de construção ou criação.
E a arte de entretenimento: será arte autêntica ou oficio?
- Segundo Collingwood: É incorreto designar como arte a música, o cinema ou o teatro quando têm por objetivo o entretenimento.
- Porquê? Procura provocar emoções previamente concebidas no público.
A «arte» do entretenimento não é arte autêntica, é, sim, uma forma de ofício.
- Qual o objectivo da verdadeira arte?
- - A verdadeira arte não tem por finalidade despertar emoções.
- - A contemplação da arte não deve ser passiva.
- - O artista partilha a sua experiência com o público.
- - Artista e público ganham consciência do seu mundo interior a arte promove o autoconhecimento.
Que criticas se podem apresentar à teoria da ARTE COMO EXPRESSÃO?
- - Muitas vezes não é possível saber o que sentiram determinados artistas ao fazerem as suas obras.
- - A apreciação de uma obra não pode depender dos sentimentos do artista.
- - É implausível que a expressão de emoções seja a essência da arte.
- - O estado de espírito dos artistas é muitas vezes desconhecido
- - Definir arte como expressão e clarificação de emoções é demasiado restritivo.
- Esta forma de entender a arte....Exclui:
- • obras que não parecem exprimir emoções do artista;
- • obras criadas para entretenimento e reconhecidas como obras-primas.
- Há muitos contraexemplos
O que nos diz a teoria da ARTE COMO FORMA SIGNIFICANTE?
- - Clive Bell propõe a seguinte definição de arte: Um objeto ou atividade é arte se, e só se, tem forma significante.
O que é a FORMA SIGNIFICANTE?
- - A forma significante:
- • constitui a essência da arte;
- • está presente em tudo o que é obra de arte. Forma significante
• não é a forma física dos objetos;
• é uma determinada relação entre as partes da obra;
• é independente de qualquer função;
• destaca-se por si mesma e impressiona-nos.
Exemplo: Na dança, há uma certa organização dos movimentos. Forma significante
- - A forma significante provoca uma emoção estética.
- Esta emoção:
- • não é como a alegria ou a insatisfação;
- • é uma emoção especial;
- • é uma emoção apenas suscitada por uma obra de arte.
- Forma significante e emoção estética Calmaria, de Nicolas Poussin (1650-1651)
- A emoção estética só é sentida por pessoas que têm sensibilidade estética.
- Há quem não a tenha de todo.
- Sem sensibilidade estética, estar diante de uma pintura ou de uma escultura é como estar num concerto e ser surdo. Sensibilidade
- É indiferente se a arte representa ou não alguma coisa.
- A representação não é essencial.
- Também é indiferente se houve ou não intenção artística na sua criação. Essencial é uma obra:
• ter forma significante;
• e provocar emoção estética.
- Só a forma significante e a emoção estética contam
- - se possuírem forma significante e suscitarem emoção estética:
- • edifícios;
- • tapetes;
- • cerâmica; etc.; podem ser considerados obras de arte.
- - Pelo contrário, vários quadros famosos e muito apreciados foram rotulados por Bell como meros documentos ou descrições que não mereciam o título de obras de arte.
- - Só a forma significante e a emoção estética contam.
- Que criticas se podem apresentar à teoria da ARTE COMO FORMA SIGNIFICANTE?
- - A teoria formalista é circular: as explicações de forma significante e de emoção estética remetem uma para a outra. Circularidade
- - Há objetos considerados artísticos que não se distinguem de outros (com a mesma forma) que não são artísticos; logo, a forma significante não permite diferenciar o que é arte do que não é.
- Por exemplo: se Fonte, de Marchel Duchamp, é arte, então todos os urinóis com essa forma são obras de arte. Contraexemplos
SERÁ POSSÍVEL DEFINIR ARTE?
- - Existem razões para pensar que as teorias representacional, expressivista e formalista não conseguem definir arte adequadamente.
- - Morris Weitz é um dos filósofos que pensa deste modo.
- - E afirma que a dificuldade está na natureza da atividade artística:
- • os artistas valorizam muito a criatividade e a liberdade;
- • experimentam frequentemente novas possibilidades e coisas diferentes;
- • a arte vai estando em permanente construção.
- Morris Weitz: «Arte» é um conceito aberto e não fechado.
- O conceito tem mudado ao longo da história e pode continuar a mudar.
- Tal como as atuais, as futuras teorias também não encontrarão a essência da arte.
- Não é possível definir a arte – posição cética de Weitz.
O que nos diz a teoria INSTITUCIONAL DA ARTE?
-George Dickie procura responder aos desafios colocados pelos desenvolvimentos da arte no século XX, nomeadamente o aparecimento de obras como Fonte, de Marcel Duchamp.
- Tal como Weitz pensava não ser possível encontrar uma essência da arte pensava ser possível definir arte
- Ao contrário de Weitz acredita ser possível indicar condições necessárias e suficientes da arte, mas:
• essas características não fazem parte das próprias obras de arte;
• fazem parte do contexto institucional em que as obras são apreciadas.
- A teoria institucional é uma teoria não-essencialista.
- Propriedades das obras de arte Intrínsecas, observáveis nas obras e comuns a todas
- Extrínsecas, dependentes do contexto (institucional ou histórico)
- - Para a teoria institucional, algo é arte se for um artefacto e se for considerado arte por alguém que faz parte de uma certa instituição social – o «mundo da arte».
- ENTÃO....
- Se um membro do mundo da arte atribui a um objeto ou atividade o estatuto de candidato a apreciação; esse objeto ou atividade torna-se uma obra de arte.
- Para Dickie, – um artefacto:
• não tem de ser um objeto produzido pelo próprio artista;
• pode ser um objeto escolhido pelo artista.
Exemplo: um tronco de árvore apanhado do chão e colocado num museu pode ser um artefacto.
– mundo da arte: artistas, críticos, historiadores de arte, galeristas, público.
- O mundo da arte é uma instituição social, como a família ou uma religião.
- Objetos e atividades concebidos pelo artista
- Objetos fabricados por outras pessoas
- Coisas retiradas na natureza e colocadas noutro contexto
- Artefactos
- Como caracterizar a Teoria institucional da Arte?
- - A teoria institucional é classificativa e não avaliativa - Porquê?
- • pretende apenas dizer o que é arte e o que não é arte;
- • não pretende distinguir a boa e a má arte.
- Dickie tenta contornar o problema das teorias essencialistas: a avaliação de obras de arte.
- - Ao fazê-lo, acaba-se por negar valor a obras geralmente consideradas como artísticas.
- Dickie pretende:
- • limitar-se a indicar as características que as obras de arte possuem;
- • abster-se de indicar características que deveriam ter.
- Que criticas se podem apresentar à teoria da ARTE INSTITUCIONAL?
- - Ninguém parece ser capaz de estabelecer muito bem as regras e os procedimentos do mundo da arte.
- - Se um dos principais conceitos da teoria é pouco claro, esta não parece ser uma definição de arte satisfatória.
- Circularidade: as obras de arte são definidas como objetos que são aceites como tais pelas pessoas que entendem de arte; e as pessoas que entendem de arte são definidas como as que aceitam certos objetos como sendo obras de arte.
- - Há obras artísticas de autores que não fazem parte do mundo da arte.
- - Autores que nunca publicaram nada em vida só foram reconhecidos após a sua morte.
- Contraexemplos
O que nos diz a teoria da HISTÓRICA DA ARTE?
- - A teoria histórica é uma teoria não-essencialista.
- - Tal como a teoria institucional, Jerrold Levinson defende:
- • é possível indicar condições necessárias e suficientes da arte;
- • essas características não são intrínsecas às obras de arte, mas sim um aspeto contextual.
- - Este aspeto contextual é o caráter histórico ou retrospetivo da arte.
- - Todas as obras de arte se relacionam de modo intencional com as anteriores.
- - Por vezes, Levinson refere-se à sua teoria como histórico-intencional.
- Segundo Levinson: Um objeto (ou atividade) é arte na medida em que o seu autor quer que este seja encarado como o foram as obras de arte do passado e estas, por sua vez, são arte porque os seus autores queriam que elas fossem encaradas como foram encaradas as obras de arte anteriores.
- O que significa que uma obra de arte se tem de relacionar, de modo intencional, com as anteriores?
- • sem a intenção, a semelhança de uma obra com as obras do passado poderia dever-se ao acaso;
- • essa intenção tem de ser firme e duradoura para poder transparecer na própria obra.
- - A relação com o passado não significa:
- • que as obras imitem as obras do passado;
- • que se inspirem nas obras do passado. Se assim fosse, a arte não mudaria. Mas é facto que muda, e muito.
- - A intenção do titular do artefacto para que este seja encarado como outras criações artísticas do passado, reconhecidas pela tradição histórica.
- Que definição de arte apresenta a teoria histórica de Levinson?
- X é uma obra de arte se, e apenas se, X é um objeto acerca do qual uma pessoa (o artista), possuindo o direito de propriedade sobre X, tem ou teve a intenção séria de que seja encarado como as obras de arte anteriores foram encaradas.
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