A ciência e o método
Segundo alguns filósofos um dos aspectos fundamentais da ciência tem a ver
com o modo como os cientistas trabalham, ou seja, o método usado pela ciência.
O método científico é
o caminho que o cientista percorre para investigar, descobrir e alcançar
determinados objectivos. Será, por isso, um conjunto de procedimentos ordenados
e sistematizados que as diversas ciências seguem para descobrir as verdades, ou
seja, as leis científicas.
Não há um método único que possa ser mecanicamente aplicado às diferentes
áreas de investigação pois cada ciência, ao determinar o seu campo de investigação,
define de uma perspectiva própria um conjunto de objectivos e de procedimentos
(métodos e técnicas) que lhe permitirão construir uma visão especifica da
realidade.
Acerca do método, poderemos dizer que existem duas perspectivas rivais:
- O método hipotético-dedutivo que
se baseia no raciocínio dedutivo.
- O método indutivo que
se baseia no raciocínio indutivo
1. O método hipotético-dedutivo/experimental
Este método foi defendido por Galileu e é, também, defendido por Karl Popper (1902-1994) e assume o nome de Falsificacionismo, já que há uma diferença importante no que concerne ao papel dos testes e da experimentação.
Galileu adoptou uma perspectiva verificacionista na medida
em que considera que o papel do cientista é confrontar as hipóteses com os
factos e verificar a sua verdade - quando no teste experimental a hipótese se
confirma, o enunciado transforma-se em lei universal. Se não se confirma, a
hipótese terá de ser abandonada ou reformulada.
O método hipotético-dedutivo é o método mais utilizado
em pesquisas laboratoriais e tem por base a formulação de uma hipótese que
deverá ser experimentada e comprovada.
O Método hipotético-dedutivo tem as seguintes etapas:
A. HIPOTESE - formula-se uma hipótese ou teoria geral
B. DEDUZEM-SE CONSEQUÊNCIAS (preditiva - previsão)
C. EXPERIMENTAÇÃO (confirma ou refuta a hipótese)
D- LEI CIENTIFICA
Este método começa por formular um facto-problema, uma hipótese e investiga
essa hipótese tentando-a falsificar ou comprovar, inferindo da mesma
consequência preditiva.
Posteriormente, dever-se-á realizar a experimentação e posterior confirmação
ou refutação da consequência preditiva.
Se a experimentação confirmar consequência preditiva, a hipótese é apoiada
ou corroborada, formulando-se uma lei.
Se a experimentação refutar a consequência preditiva, a hipótese é
rejeitada e é formulada outra hipótese.
UM EXEMPLO
HIPÓTESE
Formula-se uma teoria geral:
"Todos os planetas têm órbitas elípticas"
PREDIÇÃO/DEDUÇÃO
Deduz-se uma afirmação particular:
"Dada a informação que Mercúrio é um
planeta podemos deduzir que a sua órbita é elíptica".
EXPERIMENTAÇÃO
A afirmação é testada por observação ou por
experimentação. Se o resultado for negativo, a hipótese geral tem de ser
abandonada.
ASPECTOS POSITIVOS DO MÉTODO HIPOTÉTICO DEDUTIVO/
EXPERIMENTAL
O método hipotético-dedutivo é o método mais
utilizado em pesquisas laboratoriais e tem por base a formulação de uma
hipótese que deverá ser experimentada e comprovada.
2. O método indutivo
A ciência procura estabelecer teorias e leis universais que
permitam fazer previsões rigorosas a partir de um número elevado de
observações particulares e de experiências realizadas.
A perspectiva indutivista é, normalmente, associada ao método experimental
tal como foi entendido durante a Revolução Científica.
Francis Bacon (1561-1626) foi o primeiro filósofo a defender um método para
a ciência baseado na indução, no entanto, outros autores como Stuart Mill
(1806-1873) e Hans Reichenbach (1891-1953) defenderam versões diferentes
do indutivismo.
De acordo com os indutivistas não há ciência sem indução e este é o raciocínio central usado no método.
O raciocínio indutivo faz generalizações e previsões -
partindo de casos particulares concluiu com afirmações gerais.
As generalizações e previsões são raciocínios indutivos.
Exemplos:
O galo canta, logo todos os galos cantam -
(generalização)
Até hoje o sol nasceu, todas as manhãs, às 7 horas,
logo, no futuro o sol nascerá, todos as manhãs pelas 7 horas. (previsão: uma
observação feita no passado leva a concluir um acontecimento futuro)
Segundo a perspetiva indutivista do método científico,
a ciência começa com a observação e as inferências indutivas
permitem progredir dos enunciados singulares aos enunciados gerais,
leis e teorias científicas.
Para os indutivistas, não há ciência sem
indução. O
método experimental começa com a observação, partindo de factos, e a hipótese é
confirmada pela experiência.
O Método científico segundo a perspetiva
indutivista tem as seguintes etapas:
A, OBSERVAÇÃO
Observação de factos de forma rigorosa e imparcial
Registo e classificação de factos empíricos
B. FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES
Obtenção da teoria por generalização indutiva: a partir de enunciados singulares
são inferidos enunciados gerais (leis ou teorias)
A generalização indutiva tem de satisfazer condições:
- O número de observações/ enunciados singulares deve ser grande
- As observações devem-se repetir em múltiplas circunstâncias
- Nenhum enunciado singular deve entrar em contradição com a lei
derivada
3. VERIFICAÇÃO EXPERIMENTAL
A partir das teorias, os cientistas deduzem previsões e explicações que possam
ser confirmadas
4. LEI GERAL
São o resultado da indução a partir de experiências em que se verifica
aquilo que é previsto pela teoria.
UM EXEMPLO
OBSERVAÇÃO
Observação rigorosa e imparcial dos factos.
(ex: observa-se que a água ferve a uma certa temperatura)
FORMULAÇÃO DE UMA HIPÓTESE
Suposição de teoria ou lei que explique o fenómeno.
(Formula-se a hipótese que a água ferve a 100 graus Celcius)
PREVISÃO DE CONSEQUÊNCIAS
Extracção de consequências da hipótese.
(Extrai-se a consequência de que a água que se encontra num recipiente irá
ferver quando atingir 100 graus Celcius)
EXPERIMENTAÇÃO
Realização de experiências para averiguar se as previsões ocorrem.
(Faz-se a experiência para averiguar se a previsão ocorre)
CONFIRMAÇÃO DA HIPÓTESE
Se as previsões ocorrem, a hipótese é confirmada e passa a teoria/ lei.
ASPECTOS POSITIVOS DO MÉTODO INDUTIVO
Para os indutivistas a dedução é meramente demonstrativa, concluindo o
que já está implícito nas premissas não permitindo ampliar o conhecimento - não
acrescenta conhecimento que é aquilo que se espera da ciência.
A dedução tem importância quando é preciso deduzir consequências das hipóteses,
que terão de ser experimentalmente confirmadas e por isso pode chamar-se
hipotético-dedutivo ao método experimental. Mas o que os indutivistas realçam é
que só
a indução tem um carácter ampliativo.
Para os indutivistas a indução encontra-se em dois momentos do método experimental:
– no processo da observação à hipótese
- no processo da experimentação à lei geral.
A inferência indutiva, pelo seu carácter ampliativo, é a única inferência capaz de produzir conhecimento do mundo.
CRITICAS AO MÉTODO INDUTIVO
· O método
indutivo não chega a teorias universais
seguras pois parte do particular para o universal, no entanto
poupa tempo e é funcional.
· Este método
depende muito da observação e é precisamente aí que começa, devendo ser
imparcial, rigorosa e neutra.
· A observação nunca é imparcial, mas
selectiva pois o cientista tem que saber o que é que quer ver / observar, sendo
portanto, selectiva e nunca neutra como defendem os indutivistas.
· Nem tudo é observável em ciência - as partículas subatómicas, por
exemplo.
· Seguidamente
dever-se-á formular hipóteses, que serão verificadas ou refutadas após a
experimentação (por se basear na experimentação este método é sempre uma
generalização).
· Superada
esta, a hipótese poderá ser considerada uma lei, podendo –se a partir dela chegar
a novas conclusões .
· Poderá
prever-se o futuro e se os dados futuros não concordarem com as previsões, a
lei terá de ser alterada.
· A grande
desvantagem do método indutivo é que nem sempre se chega a premissas verdadeiras
gerais partindo de premissas particulares, o que faz com que este método
científico seja algo dúbio.
· David Hume
tece críticas ferozes contra a indução pois entende que todas as inferências
indutivas pressupõem que a natureza é uniforme , ou seja, previsivel e repetitiva.
· Porém, este
princípio não pode ser estabelecido dedutivamente, pois o principio é fruto de
uma generalização - sendo assim ele próprio se baseia no raciocinio indutivo.
· O problema da indução colocado por David Hume
consiste no seguinte: não podemos confiar na indução pois nada nos garante que,
por exemplo, os corvos ainda não observados sejam como os corvos já observados.
Justificar a nossa confiança no raciocinio indutivo recorrendo a outro
raciocinio indutivo é uma petição de princípio.
· Se o método
científico se baseasse essencialmente no raciocínio indutivo e se este não é confiável, então a própria ciência, também, não é confiável.
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