domingo, 31 de agosto de 2025

LOLA: Quem sou eu?

    


LOLA: Quem sou eu?


Antes de mais....

Ao fim de 42 anos e 8 meses, aposentei-me e vivo agora, fisicamente, fora da sala de aula.

Alguns alunos questionaram-me se era minha intenção terminar com este blog e eu respondi que não....pois ele poderá ser útil a outros miúdos que se iniciam neste mundo, sempre desafiante, da reflexão filosófica.

Por certo, o material a publicar será menor....já que aproveitarei este meu descanso merecido a ler e a viajar, mas sempre que sentir que algo será útil para divulgação neste blog, criado por dois meus alunos (que nunca esquecerei) e que tanto me tem apaixonado, pois nasceu numa altura em que eu "odiava" convictamente os computadores....

Muito obrigado a todos aqueles que passaram e vão parando por aqui.

Abracinho de Filosofia!


Gosto!

Chamam-me, desde a infância, Lola... e eu gosto...

Gosto de ser morena, baixa, olhos castanhos e cara redonda.

Gosto de ser frontal, extrovertida, meiga, persistente, lutadora e educada.

Gosto de Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Xutos, Sérgio Godinho, António Zambujo e Jorge Palma.

Gosto de Simon e Garfunkel, Leonard Cohen, Jacques Brel, Doors, Cat Stevens e U2

Gosto de Bacalhau à Gomes Sá e Francesinha.

Gosto da família que é o Porto de Abrigo – o meu suporte de vida...com alegrias e desilusões!

Gosto de pessoas sinceras, alegres, com bom humor, elegantes no trato e tolerantes.

Gosto dos focinhos húmidos dos meus cães e gatos e daquela forma ternurenta de me olhar!

Adoro uma boa conversa sem tempo, num espaço de serenidade luminosa!

Gosto de  escrever textos reflexivos!

Gosto muito de ensinar Filosofia!

Gosto de viajar pela multiculturalidade.

Gosto de artesanato e de fazer ponto de cruz,

Gosto de uma piada engraçada  e de ler Fernando Pessoa.

Gosto de beber água, de vestidos coloridos, de ler a HOLA, de ter muitos pares de sapatos, de ver o telejornal, de música, de combinar as cores,!

Gosto do Benfica....e gosto de recordar que em 2004 adiei um teste a uma turma (a pedido desta) para que um dos seus alunos (hoje dirigente de um dos clubes de futebol da primeira liga) fosse assistir ao jogo da  Liga dos Campeões entre o FC Porto e o Mónaco, em Gelsenkirchen.

Gosto de Miguel Torga,  de Saramago e Almada Negreiros.

Gosto duma boa gargalhada, ouvida no inesperado de um momento inadequado. 

Gosto de brincar com os meus alunos. 

Gosto da minha cara de boneca . 

Gosto de pastéis de mil folhas, de romãs e de um sumo natural daquela pastelaria na rua de Santa Catarina, em frente à Zara.

 

Gosto de música sertaneja, pela alegria que transmite mais do que pela mensagem das letras. 

Gosto da expressão ADORO-TE! 

Gosto do azul do céu e do mar.  

Gosto de nuvens brancas. 

Gosto de cuidar o Outro.... Tenho um orgulho imenso em ter estado com os meus pais ate ao último dia, tendo-lhes oferecido a minha casa e o meu quarto.


Gosto de filmes que exprimem valores!

 

Gosto de KANT e do imperativo categórico! 

 

Gosto de sorrisos envolvidos por transparência. 

 

Gosto da grandeza da minha casa e do espaço do meu escritório e de todos os objectos que o enchem e que contam estórias. 

 

Gosto de jarros, hidranjas, rosas e amores-perfeitos. 

 

Gosto de livros, de lhes tocar e de dormir com eles ao lado.

Gosto dos momentos em que alguém se abre numa fragilidade desconhecida! 


Gosto das minhas mãos e do que elas sentem e transmitem. 

Gosto de proteger o meu sono e os meus sonhos. 

 

Gosto da rebeldia do meu cabelo vermelho. 

 

Gosto de conversar com pessoas interessantes e fantásticas!

 

Gosto de olhares profundos e perfurantes. 

 

Gosto de dar a mão e sentir a mão do outro. 

 

Gosto da minha colecção de frascos de perfume que guardo religiosamente mesmo com a resistência de alguns cá de casa.. 

 

Gosto do mar e não gosto da praia – o sol quente, beijando o meu corpo, enerva-me! 

Gosto de conduzir o meu carro, ouvindo música. 

 

Gosto de conversar desinteressadamente.

Gosto de homens e mulheres elegantemente bem vestidos. 

Gosto muito do silêncio.

 

Gosto de sítios que ainda quero visitar - Ilhas gregas, Viena e Roma!

Gosto de anéis, colares e brincos grandes, coloridos e vistosos.

 

Gosto de recordar a minha filha DIANA e a minha mãe ROSA que já partiram para o céu!

Gosto de me sentir cuidada.

Gosto de carteiras de marca!

Não gosto de ocupar cargos políticos!

Gosto de usar batôn vermelho!

Gosto de dizer e mostrar o que sinto. 

Gosto de chocolate com amêndoas. 

 

Gosto que me abracem de corpo inteiro 

 

Gosto de animais adoptados, tenho vários e trato-os como filhos!

Gosto da quietude, da solidão da minha companhia e de um apreciar um bom debate. 

Gosto da sedução que se intensifica através das palavras. 

 

Gosto muito de Paris e de passear sozinha pelas ruas da cidade. 

 

Gosto de mexer a terra do meu jardim e da piscina límpida que nunca usei!

 

Gosto de Museus D'orsey, Louvre e  Prado! 

 

Gosto da liberdade e sou incontrolável por quem quer que seja!

 

Gosto do Bairro do Cerco, no Porto, onde nasci e vivi muitos anos.

Gosto de recordar os domingos de um bom e emocionante relato de futebol.

 

Gosto de Coimbra, vista da ponte. 

Gosto de adormecer sozinha com pensamentos que são só meus... 

Gosto de um olhar moreno que sorri espontaneamente. 

 

Gosto de sentir o amor platónico!

Gosto de olhar o mar, o pôr-do-sol, com a mão apertadinha na outra em sonho. 

Gosto de estar sozinha, quando é preciso pensar. 

Gosto de beijar suavemente um rosto que me agrada. 

 

Gosto de roupas coloridas, com bolinhas, pintinhas, rendas e nervuras. 

 

Gosto de oferecer livros e quadros!

 

Gosto do espirito boémio!

 

Gosto do fado de Coimbra!

 

Gosto dos sons da Natureza….água dos rios, passarinhos e as rãs a coachar… 
Gosto de acordar com o cantar de um galo!

 

Gosto de rir em conjunto. 

 

Gosto de sonhos ainda que estes sejam distantes do aqui e agora!.

 

Gosto das expressões do Porto! 

 

Gosto daquela voz suave e sedutora!

Gosto de andar pela cidade de autocarro!
Gosto de gostar mesmo que o Outro não saiba!
Gosto de recordar a minha meninice feliz e de uma ingenuidade que hoje me envergonha suavemente.
Gosto de ouvir os grilos cantar na noite quente! 


Gosto pouco de me levantar cedo, da arrogância, da falta de respeito, de álcool e de filmes de ficção

Não gosto da traição,  mentira,  frio,  violência,  hipocrisia,  autoritarismo e golas altas.

Gosto da família, dos alunos e de animais, 

Gosto de  homens que lutam por ideais como Nelson Mandela.

Gosto (sem saber) de nadar, andar de bicicleta, desenhar, dançar e fazer bolos.

Gosto de ver os meus filhos e os meus alunos pessoas éticamente responsáveis.

Gosto de  de um futuro em que possa ver a Palestina como país independente.

Gosto da palavra  SAUDADE.

Gosto mais de perguntas que de respostas!

Gosto de ser intelectualmente curiosa!

Gosto de saber que quando era pequena queria ser professora ou advogada.

Gosto da escola porque ela é o espaço que nos ajuda a crescer e a desenvolver os alunos.

Gosto muito de ser professora de Filosofia!

Gosto de ser cada vez melhor.
Gosto de estar sempre aberta às críticas responsáveis dos meus alunos.

 

Gosto duma boa gargalhada. ...com espontaneidade.

 

Gosto de brincar com os meus alunos. 


Gosto da palavra ternura, cuidado e amante. 

 

Gosto do azul do mar e do vermelho forte. 

 

Gosto de dias de chuva

 

Gosto de música francesa 

Gosto de filmes que acabam bem. 
Gosto muito de ler e de escrever!

 

Gosto de sorrisos cheios de alegria. 

Gosto e uso a moda dos anos 60.

 

Gosto da minha casa e do cheiro da terra. 
Gosto da cidade de Coimbra


Gosto dos momentos em que alguém está ali perto de mim! 

 

Gosto das minhas mãos  a tocar um rosto. 

Gosto de proteger o meu sono e viver os  meus sonhos. 

 

Gosto de olhos castanhos em pele morena. 

 

Gosto de apreciar pessoas interessantes e de as elogiar!
Gosto muito de expressar afectos.

Gosto de ser desalinhada!
Gosto de rir e sorrir.

Gosto de olhares profundos e misteriosos. 

 

Gosto de cestos de vime e vasos de barro;
Gosto de plantas e de memorias.
Gosto de falar com os meus (ex) alunos que continuam  alunos meus, sem ex! 

 

Gosto de um abraço de corpo inteiro!

E há alguém  de quem eu gosto tanto que  me faz sentir serena e infinitamente  feliz!

Gosto tanto de ti, sabias?

E da Filosofia...

Acho que FILOSOFIA é um saber interessante que em muito poderá contribuir para o desenvolvimento intelectual dos alunos e para a sua atitude crítica face ao mundo que requer mudanças continuas e continuadas!



LOLA


domingo, 6 de outubro de 2024

Filosofia da Religião: Exercícios

  



Filosofia da  Religião: 

Exercícios

 

GRUPO I

Responda às questões apresentadas.

 

1. Teísmo e ateísmo são doutrinas antagónicas relativamente à existência:

(A) Do mal.

(B) Do universo.

(C) Do livre-arbítrio.

(D) de Deus.

 

2. O argumento ontológico pode ser sintetizado nos seguintes termos:

(A) Deus é o ser sumamente perfeito. Perfeição pressupõe, necessariamente, existência. Logo, Deus existe necessariamente.

(B) O universo existe. Tudo o que existe foi causado. A série de causas não pode ser infinita. Logo, existe uma causa primeira, Deus.

(C) Tal como tudo o que foi criado artificialmente pelos seres humanos tem um criador, também as coisas naturais o têm, Deus.

(D) O mal existe. Um ser sumamente bom não é compatível com a existência do mal. Logo, Deus não é sumamente bom.

 

3. Uma das objeções colocada ao argumento ontológico é:

(A) Mesmo que se consiga provar que “o ser maior do que o qual nada pode ser pensado” tem de existir, necessariamente, isso não obriga a que seja o Deus teísta.

(B) O facto de existir mal no mundo inviabiliza a possibilidade de pensar em Deus como um ser perfeito.

(C) A crença em Deus não pode ser racionalmente justificada.

(D) A existência não é uma qualidade do objeto, mas tão-somente uma condição de possibilidade para que ela se manifeste.

 

4. O argumento cosmológico é um argumento:

(A) Independente da experiência.

(B) Empírico.

(C) A priori.

(D) Puramente conceptual.

 

5. A segunda via de São Tomás mostra que:

(A) Fé e razão são inconciliáveis.

(B) A bondade é a via da salvação.

(C) É impossível provar, de forma conclusiva, que Deus existe.

(D) A fé em Deus pode ser racionalmente justificada.



Nota: "o filósofo cristão distingue cinco vias para caracterizar o conhecimento e provar a existência de Deus. Vejamos quais são:


1. Primeiro motor imóvel: esta primeira via supõe a existência do movimento no universo. Porém, um ser não move a si mesmo, só podendo, então, mover outro ou por outro ser movido. Assim, se retroagirmos ao infinito, não explicamos o movimento se não encontrarmos um primeiro motor que move todos os outros;


2. Primeira causa eficiente: a segunda via diz respeito ao efeito que este motor imóvel acarreta: a percepção da ordenação das coisas em causas e efeitos permite averiguar que não há efeito sem causa. Dessa forma, igualmente retrocedendo ao infinito, não poderíamos senão chegar a uma causa eficiente que dá início ao movimento das coisas;


3. Ser Necessário e os seres possíveis: a terceira via compara os seres que podem ser e não ser. A possibilidade destes seres implica que alguma vez este ser não foi e passou a ser e ainda vem a não ser novamente. Mas do nada, nada vem e, por isso, estes seres possíveis dependem de um ser necessário para fundamentar suas existências;


4. Graus de Perfeição: a quarta via trata dos graus de perfeição, em que comparações são constatadas a partir de um máximo (ótimo) que na verdade contém o verdadeiro ser (o mais ou menos só se diz em referência a um máximo);


5. Governo Supremo: a quinta via fala da questão da ordem e finalidade que a suprema inteligência governa todas as coisas (já que no mundo há ordem!), dispondo-as de forma organizada racionalmente, o que evidencia a intenção da existência de cada ser."


CABRAL, João Francisco Pereira. "Cinco vias que provam a existência de Deus em Santo Tomás de Aquino"; Brasil Escola

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/cinco-vias-que-provam-existencia-deus-santo-tomas-.htm. 

Acesso em 07 de maio de 2024.

 

6. O teísmo é uma perspetiva em torno da natureza de Deus que considera que:

(A) Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado  (S. Anselmo).

(B) Deus é imanente, pois confunde-se com a natureza.

(C) Deus é omnipotente, omnisciente, sumamente bom, governa o mundo e revela-se aos seres humanos.

(D) Deus é omnipotente, mas não providente.

 

7. O fideísmo é a doutrina que defende que:

(A) A fé e a razão são conciliáveis.

(B) A fidelidade a Deus é aceitar que o mal faz parte da vida.

(C) É a fé, e não a razão, a via que justifica as crenças religiosas.

(D) Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado.

 

8. A “aposta de Pascal” é um argumento que procura mostrar que:

(A) Aquele que aposta na existência de Deus tem tudo a ganhar e pouco ou nada a perder.

(B) Aquele que não acredita na existência de Deus nunca tem nada a ganhar ou a perder.

(C) Aquele que não acredita na existência de Deus tem tudo a ganhar ou a perder.

(D) Aquele que acredita na existência de Deus tem tudo a ganhar e tudo a perder.

 

9. Uma das objeções à “aposta de Pascal” é:

(A) O argumento ser circular e não provar a existência de Deus.

(B) Não haver como provar que Deus recompensa quem acredita e que castiga quem não acredita.

(C) Nenhum argumento baseado em palpites pode ser considerado válido.

(D) A conclusão do argumento é meramente provável.

 

10. Segundo a teodiceia de Leibniz:

(A) Não há inconsistência lógica entre a existência de Deus e a existência do mal, pois o melhor mundo possível é aquele em que o bem triunfa sobre o mal.

(B) O mal metafísico é responsabilidade de Deus, pelo que o ser humano não pode ser responsabilizado pelos seus atos.

(C) Se no melhor dos mundos possíveis existe mal moral, Deus não pode ser considerado sumamente bom.

(D) É impossível provar, de forma conclusiva, que Deus existe.


GRUPO II


1. Exponha, sucintamente, a versão tomista do argumento cosmológico.

 

2. Leia o texto com atenção.

 

Porém, se atento mais cuidadosamente, torna-se manifesto que a existência pode separar-se tanto da essência de Deus como da essência de um triângulo que a soma dos seus três ângulos é igual a dois ângulos retos ou da ideia de monte a ideia de vale: de tal modo que não repugna mais pensar um Deus (isto é, um ente sumamente perfeito) a que falta a existência (isto é, a que falta alguma perfeição) do que pensar um monte a que falta o vale.

 

René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira (5.ª Meditação), Almedina, 1976, p. 187.

 

 

2.1. Tendo em conta os três argumentos teístas que tentam demonstrar a existência de Deus:

a) Identifique o argumento subjacente ao texto.

b) Apresente as críticas que lhe são feitas.

 

3. Se o mal existe, então Deus não é um ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente. Como comentaria um teísta esta afirmação?

 

4. Explique o que são teodiceias e qual o objetivo a que se propõem.

 

GRUPO III

 

 

1. Leia o texto seguinte.

 

O argumento do apostador, derivado da obra do filósofo e matemático Blaise Pascal (1623-1662), habitualmente conhecido como aposta de Pascal, é muito diferente dos outros. O seu objetivo não é proporcionar uma demonstração, mas antes mostrar que um apostador sensato deveria «apostar» na existência de Deus.

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2007, pp. 57-59.

 

1.1. Explique o argumento de Pascal.

 

2. Leia o excerto seguinte.

O mundo contém, pois, muito mal. Um deus omnipotente poderia ter evitado este mal — e sem dúvida que um deus sumamente bom e omnipotente o teria feito. Mas então, por que razão existe este mal? Não será a sua existência um forte indício contra a existência de Deus? Sê-lo-ia, sem dúvida — a menos que possamos construir o que é conhecido por teodiceia, uma explicação da razão pela qual Deus terá permitido que o mal ocorresse.

 

Richard SwinburneSerá que Deus existe?, 1998, Gradiva, p. 109.

 

2.1. Se Deus podia ter evitado o mal, porque não o fez? Como responderia Leibniz a esta questão?


 O que é a religião?

Em sentido lato, pode dizer-se que a religião é a relação, a união, entre o Eu e uma entidade ou ser sobrenatural. Na religião encontramos uma dimensão privada e mais subjetiva, relacionada com o próprio sentimento religioso e com a fé, e uma dimensão mais pública, marcada pelas cerimónias e rituais da experiência religiosa.

 

 Em que consiste a visão teísta de Deus?

O teísmo é a doutrina que afirma Deus como realidade suprema, absoluta e transcendente. O teísta entende Deus como criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é fundamento da moral, do conhecimento e das leis. É pessoa que, embora transcendente, pode entrar em relação com o ser humano.

 

 Qual o fundamento da resposta da religião ao sentido da vida?

Do ponto de vista da religião, o sentido da vida depende da existência de Deus e da crença numa vida depois da morte que tudo recompensará. Para o crente, esta resposta é a que melhor esclarece as experiências e questões radicais postas pela realidade e pela existência. Deus é o sentido último de todo o sentido. Ele é a razão de todo o sentido.

 

 Há argumentos teístas que tentem provar a existência de Deus?

Sim. Os argumentos teístas tradicionais que tentam provar a existência de Deus são três: o argumento cosmológico (ou da primeira causa), o argumento teleológico (ou do desígnio) e o argumento ontológico. Os dois primeiros são a posteriori e o último é a priori.

 

 Em que se baseia a versão tomista do argumento cosmológico?

Se todo efeito tem uma causa e cada causa é, por sua vez, o efeito de outra causa, cai-se no mesmo ciclo indefinido e infinito do problema anterior, o que não é satisfatório. É, pois, necessário que haja uma primeira causa (causa eficiente) que por ninguém tenha sido causada, caso contrário não haveria nenhum efeito, uma vez que cada causa pediria uma outra causa numa sequência infinita de causas. A causa primeira das outras causas é uma causa não causada por nenhuma outra. Essa primeira causa é Deus.

 

 De que forma é criticada a versão tomista do argumento cosmológico?

O argumento é criticado por defender que tudo tem de ter uma causa e, no entanto, afirmar, simultaneamente, que há algo que não a tem. Por outro lado, é também refutado pelo facto de não ser uma demonstração, já que se é possível ter uma série infinita de causas e efeitos porque não pode esta prolongar-se, retrospectivamente, de forma infinita? Por fim, porque nada prova que essa causa primeira, a existir, seja necessariamente o deus teísta.

 O que diz a versão tomista do argumento teleológico?

A ordem do mundo implica que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas de uma inteligência que os dirige. Logo, é necessário que exista um ser inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade.

 

 Que críticas são feitas à versão tomista do argumento teleológico?

À semelhança do argumento cosmológico, o argumento teleológico, ainda que possa demonstrar a existência e a necessidade de um ser criador, não prova que ele seja único, como não prova que, existindo, seja o deus teísta. E se Deus existe e governa os fins para que tudo tende, sendo, por definição, omnisciente, omnipotente e sumamente bom, como se explica a existência do mal – catástrofes, sofrimento, crueldade, etc. – e a inação de Deus perante isso?

 

 Em que é o argumento ontológico diferente?

O argumento ontológico é o único que é a priori, pois assenta em verdades puramente conceptuais, já que tenta demonstrar Deus a partir da sua própria definição como ser supremo, omnisciente, omnipresente e omnipotente. Neste sentido, e a partir da argumentação apresentada por Sto. Anselmo, Deus seria o ser maior do que o qual nada pode ser pensado. E se Deus, com todas as suas características, só existisse no pensamento e não existisse na realidade, então, não seria perfeito, uma vez que a noção de perfeição inclui necessariamente a existência. Logo, conclui, Deus existe necessariamente.

 

 Que contra-argumentação é apresentada ao argumento ontológico?

Uma das críticas assenta no facto de, partindo do mesmo pressuposto do argumento, se poder justificar a existência de qualquer outra coisa, por mais absurda que seja. Uma outra crítica afirma que a existência não é uma propriedade de Deus, mas apenas uma possibilidade para que Ele possa ter propriedades, como a de ser omnipotente, por exemplo. Por fim, e na nesta mesma linha, a crítica apresentada por Kant diz que dado que a existência não faz parte da essência, e que o argumento a considera como tal, é dado um salto ilícito da ordem do pensar para a ordem do ser.

 

 Em que consiste o teísmo?

O teísmo é considera Deus criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é o fundamento dos valores morais e o princípio supremo das leis naturais e das verdades lógicas. Deus é concebido como absolutamente livre, perfeito, omnipotente, omnisciente, sumamente bom. Apesar de ser, para os teístas, misterioso e infinito, a sua existência pode ser provada através de argumentação racional. Podemos não compreender os desígnios de Deus, mas podemos provar racionalmente a sua existência.

 

 Em que consiste o fideísmo?

O fideísmo considera que acreditar em Deus é dar um salto para lá dos limites e da capacidade de compreensão da razão. Por contraposição ao teísmo, considera que fé e razão são incompatíveis. A fé começa onde a razão acaba. De Deus podemos dar testemunho, mas não provas.

 

 O que separa a razão da fé?

A fé é a única via para se aceder a Deus. A razão é incompetente para tal fim. Como defendem os fideístas, a fé é um caminho alternativo para a verdade e, no caso da crença religiosa, o único caminho. A fé afirma-se por si própria, sem críticas, o que não acontece com a razão. A razão nunca é absoluta e isenta de erros e críticas.

 

 Qual o alcance da “Aposta de Pascal”?

A aposta de Pascal é um argumento baseado na impossibilidade de emitir qualquer juízo relativamente à existência ou não existência de Deus que tenha a razão como fonte. Apostar, isto é, arriscar, é a melhor alternativa que nos resta, porque ou Deus existe ou Deus não existe. A conclusão do argumento é a de que vale a pena apostar na existência de Deus, pois, se o fizermos e se Ele efetivamente existir, ganhamos tudo; se Deus existir e não apostarmos nele, temos tudo a perder.

 

 Que críticas podem ser feitas à “Aposta de Pascal”?

Mesmo admitindo que Deus existe, este tem de ser obrigatoriamente o Deus teísta. Não há como provar que Deus recompensa os que acreditam e que castiga os que não acreditam.

 

■ Em que consiste o argumento do problema da existência do mal no mundo?

O argumento do problema da existência do mal no mundo parte da própria definição de Deus como ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente para afirmar que um Deus assim definido não evita que exista a dor e o sofrimento. Assim, argumenta-se que: (a) ou Deus não sabe que existe o sofrimento e então não é omnisciente (logo, não é Deus); (b) ou sabe que o sofrimento existe mas não consegue pôr-lhe fim e então não é omnipotente (logo, não é Deus); ou (c) sabe que existe sofrimento mas não quer terminar com ele e então não é sumamente bom (logo, não é Deus).

 

■ Que objetivos procura Leibniz alcançar na sua teodiceia?

Leibniz procura, através da resposta a duas questões principais, conciliar Deus com a presença do mal no mundo: como justificar o mal no mundo face à infinita bondade e omnipotência de Deus? Se Deus é bom e tudo quanto existe existe segundo a sua vontade, como pode existir o mal no mundo?

 

■ Que argumentos apresenta Leibniz?

Leibniz argumenta que o mundo criado por Deus é imperfeito e contingente, daí que a obra de Deus inclua o mal metafísico (imperfeição do ser criado). Do mal metafísico decorre o mal moral (pecado) e o mal físico (sofrimento). O livre-arbítrio é a origem do mal moral (pecado). O mal físico (sofrimento) surge como castigo decorrente do mal moral e para que possamos valorizar o bem. Pode, ainda, ser um instrumento que visa evitar um mal maior ou obter um maior bem. Deus não escolhe o mal. Deus quer, primordialmente, o bem, mas consente (posteriormente) o mal como condição sem a qual o melhor dos mundos nunca o seria.


 

 Muito obrigada aos autores do

 projecto "Clube das Ideias"!


LOLA

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