domingo, 6 de outubro de 2024

Filosofia da Religião: Exercícios

  



Filosofia da  Religião: 

Exercícios

 

GRUPO I

Responda às questões apresentadas.

 

1. Teísmo e ateísmo são doutrinas antagónicas relativamente à existência:

(A) Do mal.

(B) Do universo.

(C) Do livre-arbítrio.

(D) de Deus.

 

2. O argumento ontológico pode ser sintetizado nos seguintes termos:

(A) Deus é o ser sumamente perfeito. Perfeição pressupõe, necessariamente, existência. Logo, Deus existe necessariamente.

(B) O universo existe. Tudo o que existe foi causado. A série de causas não pode ser infinita. Logo, existe uma causa primeira, Deus.

(C) Tal como tudo o que foi criado artificialmente pelos seres humanos tem um criador, também as coisas naturais o têm, Deus.

(D) O mal existe. Um ser sumamente bom não é compatível com a existência do mal. Logo, Deus não é sumamente bom.

 

3. Uma das objeções colocada ao argumento ontológico é:

(A) Mesmo que se consiga provar que “o ser maior do que o qual nada pode ser pensado” tem de existir, necessariamente, isso não obriga a que seja o Deus teísta.

(B) O facto de existir mal no mundo inviabiliza a possibilidade de pensar em Deus como um ser perfeito.

(C) A crença em Deus não pode ser racionalmente justificada.

(D) A existência não é uma qualidade do objeto, mas tão-somente uma condição de possibilidade para que ela se manifeste.

 

4. O argumento cosmológico é um argumento:

(A) Independente da experiência.

(B) Empírico.

(C) A priori.

(D) Puramente conceptual.

 

5. A segunda via de São Tomás mostra que:

(A) Fé e razão são inconciliáveis.

(B) A bondade é a via da salvação.

(C) É impossível provar, de forma conclusiva, que Deus existe.

(D) A fé em Deus pode ser racionalmente justificada.



Nota: "o filósofo cristão distingue cinco vias para caracterizar o conhecimento e provar a existência de Deus. Vejamos quais são:


1. Primeiro motor imóvel: esta primeira via supõe a existência do movimento no universo. Porém, um ser não move a si mesmo, só podendo, então, mover outro ou por outro ser movido. Assim, se retroagirmos ao infinito, não explicamos o movimento se não encontrarmos um primeiro motor que move todos os outros;


2. Primeira causa eficiente: a segunda via diz respeito ao efeito que este motor imóvel acarreta: a percepção da ordenação das coisas em causas e efeitos permite averiguar que não há efeito sem causa. Dessa forma, igualmente retrocedendo ao infinito, não poderíamos senão chegar a uma causa eficiente que dá início ao movimento das coisas;


3. Ser Necessário e os seres possíveis: a terceira via compara os seres que podem ser e não ser. A possibilidade destes seres implica que alguma vez este ser não foi e passou a ser e ainda vem a não ser novamente. Mas do nada, nada vem e, por isso, estes seres possíveis dependem de um ser necessário para fundamentar suas existências;


4. Graus de Perfeição: a quarta via trata dos graus de perfeição, em que comparações são constatadas a partir de um máximo (ótimo) que na verdade contém o verdadeiro ser (o mais ou menos só se diz em referência a um máximo);


5. Governo Supremo: a quinta via fala da questão da ordem e finalidade que a suprema inteligência governa todas as coisas (já que no mundo há ordem!), dispondo-as de forma organizada racionalmente, o que evidencia a intenção da existência de cada ser."


CABRAL, João Francisco Pereira. "Cinco vias que provam a existência de Deus em Santo Tomás de Aquino"; Brasil Escola

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/cinco-vias-que-provam-existencia-deus-santo-tomas-.htm. 

Acesso em 07 de maio de 2024.

 

6. O teísmo é uma perspetiva em torno da natureza de Deus que considera que:

(A) Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado  (S. Anselmo).

(B) Deus é imanente, pois confunde-se com a natureza.

(C) Deus é omnipotente, omnisciente, sumamente bom, governa o mundo e revela-se aos seres humanos.

(D) Deus é omnipotente, mas não providente.

 

7. O fideísmo é a doutrina que defende que:

(A) A fé e a razão são conciliáveis.

(B) A fidelidade a Deus é aceitar que o mal faz parte da vida.

(C) É a fé, e não a razão, a via que justifica as crenças religiosas.

(D) Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado.

 

8. A “aposta de Pascal” é um argumento que procura mostrar que:

(A) Aquele que aposta na existência de Deus tem tudo a ganhar e pouco ou nada a perder.

(B) Aquele que não acredita na existência de Deus nunca tem nada a ganhar ou a perder.

(C) Aquele que não acredita na existência de Deus tem tudo a ganhar ou a perder.

(D) Aquele que acredita na existência de Deus tem tudo a ganhar e tudo a perder.

 

9. Uma das objeções à “aposta de Pascal” é:

(A) O argumento ser circular e não provar a existência de Deus.

(B) Não haver como provar que Deus recompensa quem acredita e que castiga quem não acredita.

(C) Nenhum argumento baseado em palpites pode ser considerado válido.

(D) A conclusão do argumento é meramente provável.

 

10. Segundo a teodiceia de Leibniz:

(A) Não há inconsistência lógica entre a existência de Deus e a existência do mal, pois o melhor mundo possível é aquele em que o bem triunfa sobre o mal.

(B) O mal metafísico é responsabilidade de Deus, pelo que o ser humano não pode ser responsabilizado pelos seus atos.

(C) Se no melhor dos mundos possíveis existe mal moral, Deus não pode ser considerado sumamente bom.

(D) É impossível provar, de forma conclusiva, que Deus existe.


GRUPO II


1. Exponha, sucintamente, a versão tomista do argumento cosmológico.

 

2. Leia o texto com atenção.

 

Porém, se atento mais cuidadosamente, torna-se manifesto que a existência pode separar-se tanto da essência de Deus como da essência de um triângulo que a soma dos seus três ângulos é igual a dois ângulos retos ou da ideia de monte a ideia de vale: de tal modo que não repugna mais pensar um Deus (isto é, um ente sumamente perfeito) a que falta a existência (isto é, a que falta alguma perfeição) do que pensar um monte a que falta o vale.

 

René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira (5.ª Meditação), Almedina, 1976, p. 187.

 

 

2.1. Tendo em conta os três argumentos teístas que tentam demonstrar a existência de Deus:

a) Identifique o argumento subjacente ao texto.

b) Apresente as críticas que lhe são feitas.

 

3. Se o mal existe, então Deus não é um ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente. Como comentaria um teísta esta afirmação?

 

4. Explique o que são teodiceias e qual o objetivo a que se propõem.

 

GRUPO III

 

 

1. Leia o texto seguinte.

 

O argumento do apostador, derivado da obra do filósofo e matemático Blaise Pascal (1623-1662), habitualmente conhecido como aposta de Pascal, é muito diferente dos outros. O seu objetivo não é proporcionar uma demonstração, mas antes mostrar que um apostador sensato deveria «apostar» na existência de Deus.

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2007, pp. 57-59.

 

1.1. Explique o argumento de Pascal.

 

2. Leia o excerto seguinte.

O mundo contém, pois, muito mal. Um deus omnipotente poderia ter evitado este mal — e sem dúvida que um deus sumamente bom e omnipotente o teria feito. Mas então, por que razão existe este mal? Não será a sua existência um forte indício contra a existência de Deus? Sê-lo-ia, sem dúvida — a menos que possamos construir o que é conhecido por teodiceia, uma explicação da razão pela qual Deus terá permitido que o mal ocorresse.

 

Richard SwinburneSerá que Deus existe?, 1998, Gradiva, p. 109.

 

2.1. Se Deus podia ter evitado o mal, porque não o fez? Como responderia Leibniz a esta questão?


 O que é a religião?

Em sentido lato, pode dizer-se que a religião é a relação, a união, entre o Eu e uma entidade ou ser sobrenatural. Na religião encontramos uma dimensão privada e mais subjetiva, relacionada com o próprio sentimento religioso e com a fé, e uma dimensão mais pública, marcada pelas cerimónias e rituais da experiência religiosa.

 

 Em que consiste a visão teísta de Deus?

O teísmo é a doutrina que afirma Deus como realidade suprema, absoluta e transcendente. O teísta entende Deus como criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é fundamento da moral, do conhecimento e das leis. É pessoa que, embora transcendente, pode entrar em relação com o ser humano.

 

 Qual o fundamento da resposta da religião ao sentido da vida?

Do ponto de vista da religião, o sentido da vida depende da existência de Deus e da crença numa vida depois da morte que tudo recompensará. Para o crente, esta resposta é a que melhor esclarece as experiências e questões radicais postas pela realidade e pela existência. Deus é o sentido último de todo o sentido. Ele é a razão de todo o sentido.

 

 Há argumentos teístas que tentem provar a existência de Deus?

Sim. Os argumentos teístas tradicionais que tentam provar a existência de Deus são três: o argumento cosmológico (ou da primeira causa), o argumento teleológico (ou do desígnio) e o argumento ontológico. Os dois primeiros são a posteriori e o último é a priori.

 

 Em que se baseia a versão tomista do argumento cosmológico?

Se todo efeito tem uma causa e cada causa é, por sua vez, o efeito de outra causa, cai-se no mesmo ciclo indefinido e infinito do problema anterior, o que não é satisfatório. É, pois, necessário que haja uma primeira causa (causa eficiente) que por ninguém tenha sido causada, caso contrário não haveria nenhum efeito, uma vez que cada causa pediria uma outra causa numa sequência infinita de causas. A causa primeira das outras causas é uma causa não causada por nenhuma outra. Essa primeira causa é Deus.

 

 De que forma é criticada a versão tomista do argumento cosmológico?

O argumento é criticado por defender que tudo tem de ter uma causa e, no entanto, afirmar, simultaneamente, que há algo que não a tem. Por outro lado, é também refutado pelo facto de não ser uma demonstração, já que se é possível ter uma série infinita de causas e efeitos porque não pode esta prolongar-se, retrospectivamente, de forma infinita? Por fim, porque nada prova que essa causa primeira, a existir, seja necessariamente o deus teísta.

 O que diz a versão tomista do argumento teleológico?

A ordem do mundo implica que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas de uma inteligência que os dirige. Logo, é necessário que exista um ser inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade.

 

 Que críticas são feitas à versão tomista do argumento teleológico?

À semelhança do argumento cosmológico, o argumento teleológico, ainda que possa demonstrar a existência e a necessidade de um ser criador, não prova que ele seja único, como não prova que, existindo, seja o deus teísta. E se Deus existe e governa os fins para que tudo tende, sendo, por definição, omnisciente, omnipotente e sumamente bom, como se explica a existência do mal – catástrofes, sofrimento, crueldade, etc. – e a inação de Deus perante isso?

 

 Em que é o argumento ontológico diferente?

O argumento ontológico é o único que é a priori, pois assenta em verdades puramente conceptuais, já que tenta demonstrar Deus a partir da sua própria definição como ser supremo, omnisciente, omnipresente e omnipotente. Neste sentido, e a partir da argumentação apresentada por Sto. Anselmo, Deus seria o ser maior do que o qual nada pode ser pensado. E se Deus, com todas as suas características, só existisse no pensamento e não existisse na realidade, então, não seria perfeito, uma vez que a noção de perfeição inclui necessariamente a existência. Logo, conclui, Deus existe necessariamente.

 

 Que contra-argumentação é apresentada ao argumento ontológico?

Uma das críticas assenta no facto de, partindo do mesmo pressuposto do argumento, se poder justificar a existência de qualquer outra coisa, por mais absurda que seja. Uma outra crítica afirma que a existência não é uma propriedade de Deus, mas apenas uma possibilidade para que Ele possa ter propriedades, como a de ser omnipotente, por exemplo. Por fim, e na nesta mesma linha, a crítica apresentada por Kant diz que dado que a existência não faz parte da essência, e que o argumento a considera como tal, é dado um salto ilícito da ordem do pensar para a ordem do ser.

 

 Em que consiste o teísmo?

O teísmo é considera Deus criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é o fundamento dos valores morais e o princípio supremo das leis naturais e das verdades lógicas. Deus é concebido como absolutamente livre, perfeito, omnipotente, omnisciente, sumamente bom. Apesar de ser, para os teístas, misterioso e infinito, a sua existência pode ser provada através de argumentação racional. Podemos não compreender os desígnios de Deus, mas podemos provar racionalmente a sua existência.

 

 Em que consiste o fideísmo?

O fideísmo considera que acreditar em Deus é dar um salto para lá dos limites e da capacidade de compreensão da razão. Por contraposição ao teísmo, considera que fé e razão são incompatíveis. A fé começa onde a razão acaba. De Deus podemos dar testemunho, mas não provas.

 

 O que separa a razão da fé?

A fé é a única via para se aceder a Deus. A razão é incompetente para tal fim. Como defendem os fideístas, a fé é um caminho alternativo para a verdade e, no caso da crença religiosa, o único caminho. A fé afirma-se por si própria, sem críticas, o que não acontece com a razão. A razão nunca é absoluta e isenta de erros e críticas.

 

 Qual o alcance da “Aposta de Pascal”?

A aposta de Pascal é um argumento baseado na impossibilidade de emitir qualquer juízo relativamente à existência ou não existência de Deus que tenha a razão como fonte. Apostar, isto é, arriscar, é a melhor alternativa que nos resta, porque ou Deus existe ou Deus não existe. A conclusão do argumento é a de que vale a pena apostar na existência de Deus, pois, se o fizermos e se Ele efetivamente existir, ganhamos tudo; se Deus existir e não apostarmos nele, temos tudo a perder.

 

 Que críticas podem ser feitas à “Aposta de Pascal”?

Mesmo admitindo que Deus existe, este tem de ser obrigatoriamente o Deus teísta. Não há como provar que Deus recompensa os que acreditam e que castiga os que não acreditam.

 

■ Em que consiste o argumento do problema da existência do mal no mundo?

O argumento do problema da existência do mal no mundo parte da própria definição de Deus como ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente para afirmar que um Deus assim definido não evita que exista a dor e o sofrimento. Assim, argumenta-se que: (a) ou Deus não sabe que existe o sofrimento e então não é omnisciente (logo, não é Deus); (b) ou sabe que o sofrimento existe mas não consegue pôr-lhe fim e então não é omnipotente (logo, não é Deus); ou (c) sabe que existe sofrimento mas não quer terminar com ele e então não é sumamente bom (logo, não é Deus).

 

■ Que objetivos procura Leibniz alcançar na sua teodiceia?

Leibniz procura, através da resposta a duas questões principais, conciliar Deus com a presença do mal no mundo: como justificar o mal no mundo face à infinita bondade e omnipotência de Deus? Se Deus é bom e tudo quanto existe existe segundo a sua vontade, como pode existir o mal no mundo?

 

■ Que argumentos apresenta Leibniz?

Leibniz argumenta que o mundo criado por Deus é imperfeito e contingente, daí que a obra de Deus inclua o mal metafísico (imperfeição do ser criado). Do mal metafísico decorre o mal moral (pecado) e o mal físico (sofrimento). O livre-arbítrio é a origem do mal moral (pecado). O mal físico (sofrimento) surge como castigo decorrente do mal moral e para que possamos valorizar o bem. Pode, ainda, ser um instrumento que visa evitar um mal maior ou obter um maior bem. Deus não escolhe o mal. Deus quer, primordialmente, o bem, mas consente (posteriormente) o mal como condição sem a qual o melhor dos mundos nunca o seria.


 

 Muito obrigada aos autores do

 projecto "Clube das Ideias"!


LOLA

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