Os princípios lógicos da razão dizem-nos como
pensar e não o que pensar. Eles referem-se à estrutura formal do
pensamento e não ao seu conteúdo, a que podemos chamar a matéria do
pensamento.
Assim, quer pensemos acerca de faquires,
borboletas, idas ao cinema, ou qualquer outra coisa, por mais mirabolante que
seja, temos que pensar de forma consistente, temos que seguir os
princípios lógicos da razão, ou seja, o nosso pensamento tem que estar bem
estruturado. Isto, como é óbvio, independentemente do conteúdo do pensamento.
Dizer que o João é bom e mau aluno, sem mais, é um
pensamento inválido, porque viola o princípio da não-contradição; o mesmo
acontece se dissermos que "agora é de dia e de noite", ou "os
xptos são extraterrestres e terrestres”.
Ora, chamamos validade formal à
consistência dos nossos pensamentos, eles são válidos se estiverem bem
construídos, de acordo com os princípios lógicos da razão, caso contrário são
inválidos em termos formais.
Para além da sua estrutura formal os nossos
pensamentos têm um conteúdo, têm uma matéria. Se o conteúdo do
nosso pensamento for incongruente com os dados da experiência sensível (da
realidade), então o nosso pensamento é inválido em termos materiais, ou
seja, é falso (mesmo que seja formalmente válido).
Sendo assim, podemos dizer que o nosso
pensamento é verdadeiro quando está adequado à realidade. A verdade
(validade material) pode ser definida como a adequação do pensamento à
realidade.
Mas, para poder ser verdadeiro, para estar
adequado à realidade, o pensamento tem que ser válido em termos formais, tem
que estar bem estruturado. Assim: os pensamentos só podem ser verdadeiros se
forem válidos em termos formais e, também, se estiverem adequados à realidade.
Daqui se depreende que um pensamento inválido em termos formais não pode ser
verdadeiro (se está mal construído não pode corresponder à realidade).
Para além de uma estrutura formal, os nossos pensamentos têm que ter um conteúdo
(caso contrário seriam vazios). Ora, o conteúdo dos nossos pensamentos também
tem que estar correctamente estabelecido. Aquilo que determina a correcção do
conteúdo do pensamento não é um conjunto de princípios ou regras de carácter
formal, mas a sua adequação à realidade. Assim a validade material
(ou verdade), corresponde, de acordo com a definição aristotélica, à adequação
do pensamento à realidade. Sendo assim, a validade material (ou verdade) do
pensamento está fora do âmbito da Lógica Clássica, que tem como objecto o
estudo dos princípios e das regras que permitem a coerência formal do
pensamento e não a sua adequação à realidade.
O
problema da adequação à realidade não depende da Lógica Clássica, mas da Gnoseologia
(Filosofia do conhecimento) e da Epistemologia (Filosofia das ciências).
Sendo assim, a partir deste momento não nos iremos preocupar com o conteúdo
dos enunciados com os quais iremos trabalhar, mas apenas com a sua estruturação
formal, com a sua conformidade com os princípios e regras que regem a sua
coerência formal.
Mas
com isto não se pense que a Lógica ( a partir deste momento sempre que nos
referirmos à Lógica, estamos a referir-nos à Lógica Clássica) não se preocupa
com a verdade (validade material), antes pelo contrário: é que o pensamento só pode ser verdadeiro se
estiver correctamente estruturado.
Podemos, então, concluir o seguinte:
Podemos, então, concluir o seguinte:
A
validade formal é uma condição necessária da validade material, quer
dizer: os enunciados só podem ser válidos em termos materiais (verdadeiros) se
forem válidos em termos formais. Mas um enunciado pode ser válido em termos
formais, sem que seja verdadeiro (válido em termos materiais). Simplificando:
os enunciados inválidos em termos formais são necessariamente falsos
(Ex.; os enunciados verdadeiros não podem ser inválidos em
termos formais; os enunciados válidos em termos formais podem
ser verdadeiros ou falsos, consoante a sua adequação ou não
adequação à realidade
Tarefa:
- O que distingue a validade material e a validade formal?
- Explique
a seguinte afirmação: “A validade formal é uma condição necessária da verdade material”.
A quem interessar...
«A Lógica
é o estudo dos raciocínios, dos argumentos formalmente válidos. Um argumento é formalmente válido
quando a verdade das premissas garante a conclusão pela forma, e apenas pela
forma.
(...) Se
dissermos “Todos os homens são mortais, Sócrates é homem, logo Sócrates é
mortal” (…) Podemos proceder do mesmo modo para todos os termos do raciocínio,
e simbolizar o mesmo escrevendo, ”Todos os X são Y, A é X, logo A é Y”, e
substituir o X, o Y e o A pelo que quisermos, se bem que os valores devam ser
diferentes pois X, Y e A são-no, e se as premissas forem verdadeiras, então a
conclusão deve sê-lo igualmente, independentemente de qualquer consideração de
conteúdo. Se dissermos “Todos os homens têm asas, Sócrates é homem”, teríamos o
direito de deduzir daí que “Sócrates tem asas”. A conclusão, materialmente falsa porque uma das premissas o é, é formalmente verdadeira.»
M.
Meyer, Lógica, Linguagem e Argumentação, Lisboa, Edições Teorema, p. 85
LOLA
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