Argumentação, Persuasão e Manipulação. Publicidade e
Propaganda
1. Argumentação e Persuasão
A argumentação
é distinta da persuasão. Se podemos dizer que todo o discurso argumentativo é
persuasivo, o contrário não é verdadeiro, pois nem todo o discurso persuasivo é
argumentativo.
A argumentação
para poder ser convincente tem que fazer apelo à razão, ao julgamento de quem
participa ou assiste ao confronto de ideias.
A persuasão está ligada à sedução.
A adesão de alguém a certas ideias é feita através de gestos, palavras ou
imagens que estimulam nela sentimentos ou desejos ocultos, acabando por gerar
falsas crenças. Através da persuasão o orador reforça os seus argumentos
despertando emoções, de modo a criar uma adesão emotiva às suas teses. Na
persuasão ao contrário da argumentação faz-se apelo a processos menos
racionais. Como veremos, os actuais meios de comunicação de massas, veiculam
discursos publicitários que utilizam sofisticadas técnicas de persuasão dirigidas
a públicos-alvo bem determinados.
Chaim Perelman
questiona este critério de distinção. Segundo este autor, o critério de
distinçãonão assenta na dicotomia razão/emoção, mas sim na dimensão do
auditório: os discursos argumentativos dirigem-se a públicos particulares,
capazes de avaliarem as teses em confronto. Os discursos persuasivos dirigem-se
a públicos universais, pouco versados nos tema em discussão e por isso mais
receptivos à sedução.
2. Logos, Ethos e Pathos
Um discurso
argumentativo requer uma organização e encadeamento de argumentos, tal de forma
lógica que o auditório não apenas possa acompanhar o raciocínio do orador, mas
também que possa ser convencido da justeza da posição que está a ser defendida (Logos). Para além deste aspecto, é
também fundamental para que o discurso seja persuasivo que o próprio orador
seja credível (Ethos) e que desperte
simpatia ou gere empatia com o auditório (Pathos)
Este aspecto
realça a importância do emissor (orador, o que elabora a argumentação). Ele tem
que conhecer as características do seu receptor (auditório) e saber calcular as
suas reacções face à mensagem pretende veicular. O discurso argumentativo
valoriza o orador e as suas opiniões ou reacções.
3. Persuasão e Manipulação
Persuadir não
é a mesma coisa que manipular. A grande diferença reside na intenção do orador.
No caso da persuasão o objectivo é apenas provocar a adesão, apelando a
factores racionais e emocionais. No caso da manipulação, existe uma intenção
deliberada de desvalorizar os factores racionais, apelando a uma adesão
emocional. O próprio discurso é baseado em falácias, onde é patente a intenção
de confundir o auditório.
As técnicas de
persuasão (manipulação ) ensinadas pelos sofistas, apesar da sua eficácia,
podem ser consideradas muito rudimentares face às aplicadas no século XX para
manipularem milhões de pessoas.
A persuasão
dos sofistas estava muito confinada às capacidades manifestadas pelo orador. A
palavra tinha ainda uma lugar central. As técnicas de persuasão actuais,
ornaram os oradores parte de uma vasta encenação, onde se recorre a uma enorme
variedade de mais para seduzir, persuadir e manipular.
O ditador
Adolfo Hitler, foi o primeiro a integrar a retórica em gigantescos espectáculos
de propaganda, produzindo um poderoso efeito hipnótico sobre os auditórios.
Os discursos
Hitler eram cuidadosamente ensaiados. Modelações no tom de voz, gestos
dramáticos, olhares acutilantes, e expressões faciais acentuavam os momentos
mais importantes nos seus discursos. Os discursos abordavam de forma muito
emocional quase sempre os mesmos temas: o ódio aos judeus, o desemprego e o
orgulho ferido da Alemanha. Os locais eram decorados de forma a acentuar a sua
presença. As paradas militares, bandeiras e símbolos conferiam à sua figura e
palavras uma dimensão sobrenatural.
4. Novas Formas de Manipulação
As práticas de
manipulação são milenares. Estão intrinsecamente ligadas à vontade de domínio. Há manipulação sempre que alguém procura
controlar o conhecimento de outro tendem em vista condicionar ou alterar o seu
comportamento. As formas de manipulação ligadas ao poder político são as
mais conhecidas, mas não são as únicas existentes.
Formas Directas de Manipulação
As formas
manipulação mais conhecidas são as realizadas pelos regimes ditatoriais. Podemos
neste caso identificar facilmente quem as faz, com que objectivos e os meios
que utiliza. Trata-se de um manipulação com rosto, que coloca desde logo os
cidadãos de sobreaviso em relação àqueles que as planeiam e executam. A
censura, a propaganda e a violência repressiva sobre os "desviantes"
são os seus meios privilegiados .
Censura: a informação
é manipulada não apenas tendo em vista omitir factos relevantes, mas também
deformar o conteúdo da informação veiculada de modo a que a mesma se ajuste às
ideias dos censores. Em Portugal a censura foi um dos instrumentos mais
utilizados pela ditadura (1926-1974) para a manipulação da opinião pública: a
informação que era autorizada era previamente mutilada. A restante era
simplesmente proibida.
Propaganda:
a informação é forjada de forma provocar a uma adesão imediata a certos
estímulos, explorando para tal as emoções ou os medos das pessoas. Durante a
1ª. Guerra Mundial (1914-1945), as técnicas de propaganda aos serviços dos
Estados tornaram-se enormes máquinas de mobilização de massa, dotadas de
enormes recursos técnicos, que foram depois eficazmente aplicados e
desenvolvidos pelos diferente regimes totalitários.
Em Portugal,
uma das primeiras acções da ditadura (1926-1974) foi a de criar importantes
orgãos de propaganda do regime ( consultar ). O regime de nazi, foi contudo
aquele mais desenvolveu as técnicas de propaganda e as aplicou com grande
êxito. No Congresso de Nuremberg, em 1936, Hitler afirmou: "a propaganda
conduziu-nos ao poder, a propaganda permitiu-nos conservar depois o poder, a
propaganda, ainda, dar-nos-à a possibilidade de conquistar o
mundo". Uma das suas acções mal conquistou o poder foi criar um
Ministério da Propaganda, dotando-o de enormes recursos. A propaganda nazi
assentava em ideias muitos simples, que podia ser facilmente apreendidas pelas
pessoas. Estas ideias apelavam à emoção, estimulando reacções de medo, ódio,
violência e desejo de vingança.
Formas Difusas
Manipulação
Os processos
de manipulação da informação são
todavia mais amplos, e estão largamente disseminados nas sociedades
democráticas ocidentais, utilizando-se técnicas muito sofisticadas, mas não
menos eficazes, nomeadamente porque os cidadãos estão desprevenidos.
Televisão: Um Perigo para a Democracia ?
Karl Popper,
no início da década de 90, acusou a televisões de estarem a destruir os regimes
democráticos. Afirmando:
1. A
finalidade das televisões não é a educação ou a melhoria das pessoas, mas
apenas o lucro.
2. Aquilo que
oferecem às pessoas não é o que é melhor para a sua educação, mas apenas aquilo
que as seduz e as mantém presas aos ecrans de televisão, fazendo desta forma
subir as audiências. A receita que utilizam é sempre a mesma: sexo, violência,
sensacionalismo, etc. Uma receita que cansa, por isso mesmo obriga-as a um
reforço continuo das suas doses diárias (mais sexo, mais violência, mais
sensacionalismo…).
3.Com o
aumento do número de canais de televisão, cresceu também o número de pessoas
mediocres ou gente sem escrúpulos ligadas à produção de programas televisivos.
Gente que apesar da sua enorme influência social, trabalha na mais completa
impunidade e sem qualquer controlo democrático.
4. As pessoas
mais vulneráveis a esta influência nefasta da televisão são as que possuem um
nível de formação e maturidade insuficiente para estabelecerem uma distinção
entre a ficção e a realidade.
Exemplos de Manipulação
A - Os meses que
precederam a ocupação do Iraque, em
19 de Março de 2003, assistiu-se a uma campanha de manipulação da informação a
nível mundial.
As principais
agências de comunicação social divulgavam informações provenientes das mais
diversas fontes e origens todas num único sentido: sustentarem a tese dos EUA
de que a o ditador do Iraque possui armas de destruição maciça .
Em vários países,
como Portugal, muitos jornalistas e especialistas em questões militares
apoiaram activamente esta campanha preparando a opinião pública para aceitar a
inevitabilidade de uma intervenção no Iraque, a fim de acabar com os arsenais e
a produção das alegadas armas de destruição maciça.
Um ano depois
da ocupação, os governos dos EUA e da Grã-Bretanha reconheciam que estas armas
não existiam e que haviam enganado a opinião pública. Acusaram na altura os
seus serviços de espionagem de lhes terem fornecido de informações forjadas.
Objectivo da manipulação: o controlo
das enormes reservas de petróleo existentes no Iraque.
B - Logo após o atentado de Madrid de 11 de Março de 2004,
o governo espanhol procurou deliberadamente manipular a comunicação social, veiculando
informações no sentido de fazer crer à população que a ETA era a autora do
atentado ( A ETA é uma organização fundada em finais dos anos 50 do século XX e
que luta pela Independência do país Basco (Euskadia). O próprio
primeiro-ministro da altura (José Maria Aznar) pressionou directamente
directores de jornais para veicularem uma informação que sabia ser falsa.
Objectivo da manipulação: vencer uma
disputa eleitoral.
LOLA
Sem comentários:
Enviar um comentário