quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Criticas CVJ







Edmund Gettier e os contra exemplos




Porque é que uma crença verdadeira racional justificada poderá não ser conhecimento?



Platão, na obra Teeteto, defende que o conhecimento [do tipo proposicional] é uma crença que o sujeito tem [acredita que], que deve ser verdadeira [sabe que], isto é, a representação mental do objecto, traduzida na proposição, deve estar de acordo com a realidade e justificada [a crença está justificada], ou seja, o sujeito deve ter fundadas razões para aceitar essa proposição.

“a opinião verdadeira acompanhada de razão é ciência, e (…), desprovida de razão, a opinião está fora da ciência e que as coisas que não é possível explicar são incognoscíveis (…) e as que é possível explicar são cognoscíveis.”

Platão, Teeteto 

Se podemos aceitar facilmente que as crenças falsas não podem originar conhecimento [o que é falso não é conhecimento], não deixa de ser igualmente claro que, para evitar a adivinhação e/ou sorte, as crenças que são verdadeiras precisam ainda ser justificadas através de razões que as expliquem e ou sustentem.
Platão, como os demais defensores da teoria tripartida do conhecimento (teoria CVJ), considera a crença, a verdade, e a justificação condições necessárias e suficientes para que exista conhecimento. Estas 3 condições devem aplicar-se simultaneamente para podemos ter conhecimento.







A teoria CVJ  foi objecto de críticas/objecções. 

Em 1963, Edmund Gettier, num artigo publicado na revista "Analysis"  apresentou argumentos, casos exemplificativos (contra-exemplos) que refutam a tese defendida pela teoria tripartida do conhecimento. 

Embora aceite a crença, a verdade e a justificação, como condições necessárias ao conhecimento, considera no entanto, que são insuficientes.

Como demonstram os casos apresentados por Gettier, não basta ter uma crença verdadeira justificada (CVJ) para possuir conhecimento.

Para Gettier podemos ter crenças que são verdadeiras, para as quais podemos ter justificadas razões, sem que, no entanto, possamos falar de conhecimento, mas apenas de mera coincidência ou acaso. 

Uma crença falsa pode dar origem uma crença verdadeira justificada. Vejamos o seguinte exemplo:

"Posso acreditar que Xavier é espanhol por acreditar que os Espanhois são as unicas pessoas que têm o nome começado por X. Posso estar certo - o Xavier é espanhol -, mas tive sorte do ponto de vista epistémico; a minha crença revelou-se verdadeira apesar de o meu raciocínio ser incorecto."

Dan O'Brien, Introdução à Teoria do conhecimento, 
Lisboa, Gradiva, 2013, pp. 34-35.



Há,neste caso, uma crença falsa que originou uma crença verdadeira justificada. 
Qual?
A justificação usada "os espanhois são as unicas pessoas que têm o nome começado por X" é uma crença falsa, sendo o resultado uma questão de sorte e não de conhecimento.






Sintese: 

  • E. Gettier demonstrou através de contra-exemplos que as três condições defendidas   pela definição tradicional de conhecimento não são suficientes para existir conhecimento; 

  • Assim, verificamos que nos casos em que temos uma CVJ sem conhecimento a justificação apresenta-se apenas como credível e não como infalível.

  • Segundo a concepção de Gettier é, pois, necessário encontrar uma nova condição [extra] que, conjuntamente com a crença, a verdade, e a justificação, permita determinar o que é o conhecimento.  

  • No âmbito da teoria do conhecimento, deve-se então reflectir para procurar uma nova concepção de conhecimento, isto é, uma concepção quadripartida (crença + verdade + justificação + condição extra).












O que dizem os alunos:

Uma das críticas que é feita à definição tradicional de conhecimento é que crença, verdade e justificação são condições necessárias para que este exista, no entanto, que podem ser insuficientes
Edmund Gettier prova-nos isso através de um exemplo muito simples:
Dois homens, Jones e Smith, candidatam-se a um determinado emprego. Smith tem grandes convicções de que será Jones a conseguir o cargo e, além disso, de que Jones também tem dez moedas no bolso, pelo que as convicções de Smith poderiam ser baseadas em: o presidente ter-lhe garantido que Jones seria o escolhido; Smith ter contado as moedas do bolso de Jones.
Então, pode afirmar-se que “O homem que conseguirá o emprego tem dez moedas no bolso”. Se Smith aceita esta proposição com base nas palavras do presidente está justificada a sua crença de que esta é verdadeira.
Gettier leva-nos, depois, a imaginar que é Smith, sem saber, que consegue o emprego e que, também sem saber, Smith tem dez moedas no bolso. Assim, a afirmação acima referida é verdadeira, mesmo que a crença de que Jones conseguirá o emprego (e da qual Smith deduziu que que “O homem que conseguirá o emprego tem dez moedas no bolso”) seja falsa.

Concluiu-se, portanto, que as três condições defendidas pela definição tradicional de conhecimento - crença, verdade e justificação são necessárias mas não suficientes para haver conhecimento. 


Cátia Cardoso, 11º D
 (adaptado da obra "Is Justified True Belief Knowledge?, In Analysis, Vol. "3, pp. 121-123.






Lola

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