terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Filosofia e Futebol




Filosofia e Futebol




    Filosofia do Futebol
de Manuel Sérgio
Edição/reimpressão: 2009
Páginas: 144
Editor: Prime Books
ISBN: 9789896550363

Sinopse
Manuel Sérgio, guru que inspira treinadores tão importantes como José Mourinho ou Jorge Jesus, apresenta sob a forma de livro a matéria que fez parte de uma cadeira que leccionou numa universidade brasileira. José Mourinho resume tudo ao escrever que Manuel Sérgio "quando fala de futebol, pede desculpa por saber tão pouco. É a humildade dos sábios".


Entrevista
22/01/2010 00:00:00
Manuel Sérgio, filósofo do futebol
Influente na forma de trabalho de Mourinho, fala sobre filosofia no futebol e nas comissões
 técnicas

Equipe Universidade do Futebol


A filosofia pode ser considerada como a reflexão radical, rigorosa e de conjunto dos fenômenos que envolvem nossa realidade. E como tal, não deve estar de fora de nenhuma das preocupações e atividades humanas;

Neste sentido, o futebol é uma destas atividades que, segundo Manuel Sérgio, pode se beneficiar muito das contribuições desta importante, mas ainda desconhecida área do conhecimento.

Abordando temas polêmicos, como é praxe no pensamento filosófico, este erudito e respeitado professor lisboeta tem contribuido ao longo das últimas décadas para um repensar da Educação Física e do esporte, onde o futebol se insere como fenômeno especial e uma das mais importantes manifestações culturais contemporâneas. Neste aspecto, talvez a sua maior contribuição seja a proposta de criação de uma "Ciência da Motricidade Humana", enquanto um conjunto de conhecimentos sistematizados, com objeto de estudo próprio que caracteriza todo saber científico, e que consiste em uma verdadeira mudança de paradigma diante do pensamento convencional, cartesiano e tecnicista que ainda envolve a Educação Física, o esporte de forma geral e o futebol particularmente.




“Filosofia e Futebol: troca de passes” 
Por Manuel Sérgio



Quero crer que, escondida no meio dos meus inúmeros defeitos, se encontra em mim uma virtude: dá-me prazer o ato de admirar o que verdadeiramente deve ser admirado, por outras palavras: o que é mesmo admirável. Entre o pouco que sou ou valho, deixem-me então distinguir uma qualidade: na minha indispensável atitude judicativa de “aprendiz de filosofia”, de tudo o que me parece um trabalho honesto e competente me aproximo, com a boa fé suficiente, para aplaudir, para julgar, para aprender. Este sentimento de admiração o senti diante do livro Filosofia e Futebol: troca de passes (Editora Sulina, Porto Alegre, 2012) da autoria de Luiz Rohden, Marco Antonio Azevedo, Celso Cândido de Azambuja e outros. 

É um livro de prosa pujante e significativa cujo colorido e graça, bem brasileiros, dão uma agradável tonalidade de originalidade e frescura ao aparato das ideias. Trata- se, portanto, de uma obra de intelectuais brasileiros, simultaneamente “torcedores” do futebol. E assim o seu estilo vivo e castiço é um nítido espelho onde se reflete o que o futebol (nomeadamente o brasileiro) é e o que vale. Nela se descobre uma citação de Hilário Franco Júnior, a qual sublinha que, no Brasil, o “futebol é bastante jogado e insuficientemente pensado”. 

Mas o mal, que os autores e o Hilário Franco Júnior lastimam, não o surpreendemos tão-só no Brasil. Por esse mundo fora, há muita gente, estudiosa e imaginosa, que se ocupa do futebol, espiolhando até o que de mais escondido tem a sua originalidade. Mas muitas vezes o seu pessimismo demolidor e negativista não é acompanhado do realce das enormes virtualidades em que o futebol (no meu entender: o fenómeno cultural de maior magia, no mundo contemporâneo) se desentranha, na sociedade hodierna. Os agentes do futebol têm defeitos? É evidente, pois são seres humanos! Por isso, os defeitos do futebol estão nele... por contágio de cada um de nós! 

No futebol, como em qualquer atividade humana, assoma uma primeira constatação: ele não encontra em si mesmo a sua plena inteligibilidade, porque não pode conceber-se fora da totalidade social e cultural que o sustenta
Não há futebolistas, porque há futebol, mas há futebol, porque há futebolistas. Lá volto eu a uma ideia que defendo, há 40 anos: o futebol não é só uma atividade física, mas uma atividade humana. Com as qualidades e os defeitos de qualquer atividade humana! Ruy Carlos Osterman assinala o futebol como modelo de solidariedade. “A sociedade é muito mais individualista, é muito mais fechada em si mesma e nos seus valores de consumo do que gregária, unida, solícita, colaboradora (…). O futebol não é apenas uma metáfora da vida real. Ele é, na verdade, a reprodução idealizada da vida real, embora em outros termos – o que é diferente de uma metáfora. A metáfora é uma ideia no lugar de outra ideia. Mas aqui é um fato no lugar de outro fato” (p. 123). Luiz Rohden, associando, com mestria, a filosofia ao futebol, escreve: “A filosofia precisa ser posta em jogo sempre, faz parte da sua natureza estar em jogo, jogar com o real. Disso decorre o pressuposto segundo o qual ela vive do diálogo incessante com outras áreas do conhecimento e nisso ela tem sua razão plena de ser” (p. 181). 

No entanto, “há alguns povoados e vilarejos do Brasil que não têm igreja, mas não existe nenhum sem campo de futebol” (Alex Bellos, Futebol, o Brasil em campo, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2003, p. 10). Ou seja, no Brasil, o futebol é filosofia e a filosofia é futebol. Neste caso (e no meu modesto entender) o futebol de Pelé e Garrincha e Didi e Sócrates e Tostão e Zico e Ronaldo, o fenómeno, e Romário e Ronaldinho Gaúcho e Neymar, etc., etc. diz respeito a uma atitude filosófica brasileira resultante do modo-de-ser do homem brasileiro. 

O sentimentalismo incontido, a sensibilidade ardente, a emotividade, de preferência à frieza e ao intelectualismo e racionalismo doutras culturas formam um corpo de doutrina que os futebolistas e os filósofos traduzem, cada um à maneira que lhes é própria. Há uma filosofia brasileira, como há um futebol brasileiro. A filosofia é um conhecimento apátrida, pela sua metafísica, pelo plano lógico em que se coloca. Mas, enquanto pesquisa, num lugar e num tempo, ela nacionaliza-se, espacializa-se, temporaliza-se. Do futebol poderíamos dizer outro tanto: pelas instituições e pelas regras, não tem pátria; pelo caráter, personalidade e linguagem corporal dos jogadores, o futebol tem alma. Há pois um laço profundo entre o futebol e a filosofia e uma reciprocidade tão profunda que uma rutura entre ambos é absolutamente impossível. Recordo as minhas conversas, na Unicamp, com o João Batista Freire, naqueles irrequietos anos de 1987 e 1988, onde tudo se discutia, do futebol à filosofia e à política. 

Era ele, um homem de ternura e de bondade incomparáveis, acudindo de pronto às minhas dúvidas, que me dizia: “O futebol brasileiro é também a consciência da nossa historicidade como povo, com alma própria. Por isso, o nosso estilo de jogar futebol é inconfundível. É artístico, como nenhum outro o é”. Para Luiz Rohden, com o extenso horizonte dos seus olhos fascinados pelo futebol, “a produção do jogo belo fascina e continuará a cativar os amantes do futebol. Garrincha é exemplo eterno disso; é a encarnação do paradoxo segundo o qual é possível jogar a sério, visto que jogar é caçoar, é gracejar (…). Enfim, no futebol-arte estão conjugados dois elementos básicos: por um lado, possui regras e requer tácnicas repetitivas, aplicáveis universalmente, que são produtivas e eficientes; por outro lado, participam dele a criação, a improvisação e também a beleza” (p. 189). Do futebolista de recursos técnicos e físicos e táticos invulgares, emerge quase sempre trabalho e beleza, há portanto muito para uma objetiva análise de índole filosófica e futebolística. 

Celso Cândido de Azambuja (mais um dos autores deste magnífico livro) afaga, com deslumbramento, o futebol brasileiro e sustenta que “no Brasil, o futebol não é simplesmente uma alienação, como pretendem alguns críticos de estirpe (…). Para outros, muitos, o futebol é uma verdadeira benção, um caminho, uma esperança, uma salvação (…). Faz parte da saúde física e mental do povo brasileiro” (p. 261). O livro Filosofia e Futebol: troca de passes é uma oportuna chamada de atenção para o respeito que o futebol, como atividade humana, nos merece – atitude de respeito tantas vezes substituída pela absolutização do mercado e pela ditadura do lucro. O ser humano ocupa uma posição privilegiada, pois que é nele que a natureza se faz consciência. Parece-me, por isso, imperioso e urgente uma reflexão antropológica, no futebol, como treino e como competição e como espetáculo. 

O futebol, pela sua inigualável popularidade e até pela sua atitude normativa, tem condições únicas de assumir a tarefa específica de apontar caminhos para uma organização solidária e fraterna das relações sociais. O futebol tem de viver-se como valor, como experiência de comunhão e de humanização. É isto, no meu pensar, o que o futebol tem o dever de cultivar. O perigo que nos espreita, no futebol e no mais, não é o choque de civilizações, mas a ausência de valores compartilhados. Parabéns aos autores e ao editor deste livro – que vai ser, tenho a certeza, um ponto de partida, para novas reflexões filosóficas, sobre o futebol, se possível mais atuais e mais atuantes. 

Manuel Sérgio é Professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor da Ética no Desporto


In A Bola de 2" de Fevereiro de 2014








Filosofia e Futebol - Troca de Passes 

Luiz Rohden
Marco Antonio Azevedo
Celso Cândido de Azambuja

ISBN: 978-85-205-0648-6
Categoria: Ensaio, Filosofia, Futebol
Edição: 1ª - 2012
Formato: 16 x 23 cm
Nº de Pag.: 278
Peso: 0,425 Kg
Preço: R$ 38,00



Filosofia e Futebol: troca de passes é uma mostra de talento na filosofia. A obra reúne acadêmicos de diferentes especialidades – sociologia, comunicação, filosofia, educação física e psicologia –, que nos convidam, cada um a sua maneira, a pensar filosoficamente o futebol.
Os autores tratam de temas pouco explorados, mesmo inéditos, no “país do futebol”. Em estilo ensaístico e acadêmico, o multifacetado mundo do futebol ganha tratamento envolvente. A leitura, do aquecimento ao apito final, evidencia como a ética, a estética e a ontologia, entre outras áreas da filosofia, podem desvelar aspectos fundamentais e conduzir a novas interrogações sobre o futebol. O livro é da máxima relevância para todos que querem conhecer como a filosofia e o futebol se entrelaçam de maneira instigante, criativa e original. Pela atualidade, a obra reveste-se de significado especial. O país prepara-se para sediar o maior evento de futebol do planeta, e uma reflexão filosófica sobre esse fascinante esporte se faz mais que necessária. 

Confira a fanpage da Editora Sulina www.facebook.com/editorasulina?


                                        Lola













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