Hubert Reeves em 2014 TRIZEK |
Cosmólogo e divulgador de ciência Hubert Reeves estará no Porto na
quinta-feira
O cientista
canadiano Hubert Reeves vai falar numa conferência no Porto sobre o cosmos e a
sustentabilidade e responsabilidade do homem em relação à Terra.
O
COSMÓLOGO E DIVULGADOR DE CIÊNCIA HUBERT REEVES VAI ESTAR NESTA QUINTA-FEIRA
NUMA CONFERÊNCIA DA PORTO BUSINESS SCHOOL INTITULADA “COSMOS, SUSTENTABILIDADE
E RESPONSABILIDADE”.
O DEBATE
PARTIRÁ DA HISTÓRIA DO UNIVERSO ATÉ AOS “FENÓMENOS QUE AMEAÇAM A SUSTENTABILIDADE
DO PLANETA EM ÁREAS COMO O AMBIENTE OU A BIODIVERSIDADE”, LÊ-SE NUM COMUNICADO
DA EDITORA GRADIVA, QUE PUBLICA AS OBRAS DESTE AUTOR CANADIANO DESDE O INÍCIO
DA DÉCADA DE 1980.
O
COSMÓLOGO, DE 81 ANOS, QUE NASCEU E CRESCEU NO CANADÁ E FOI VIVER PARA A FRANÇA
QUANDO SE TORNOU DIRECTOR DO CENTRO NACIONAL DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA (CNRS,
NA SIGLA EM FRANCÊS), É AUTOR DE ALGUNS DOS MAIS EMBLEMÁTICOS LIVROS SOBRE
CIÊNCIA, COMO UM POUCO MAIS DE AZUL E AS ÚLTIMAS
NOTÍCIAS DO COSMOS. O ÚLTIMO LIVRO EDITADO EM PORTUGAL CENTRA-SE NO FUTURO
DA TERRA: ONDE CRESCE O PERIGO SURGE TAMBÉM A SALVAÇÃO.
O
CIENTISTA VAI INICIAR O DEBATE ÀS 9H DA MANHÃ DE QUINTA-FEIRA, QUE CONTINUARÁ
ATÉ ÀS 13H. NO PAINEL DA MANHÃ TAMBÉM ESTARÃO ALEXANDRE QUINTANILHA, FÍSICO DE
FORMAÇÃO E BIÓLOGO, ACTUALMENTE PROFESSOR DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS
ABEL SALAZAR, E PAULO TUNHAS, FILÓSOFO DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE
DO PORTO.
À TARDE, O DEBATE CABERÁ A
RESPONSÁVEIS DE EMPRESAS QUE APRESENTARÃO “AS MELHORES PRÁTICAS DO MERCADO A
NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE CORPORATIVA”, REVELA O COMUNICADO.
ENTRE AS EMPRESAS ESTARÃO A LIPOR, A SIEMENS, A PORTUCEL E A SONAE.
Hubert Reeves: "É um erro cortar na educação só porque é fácil"
Um dos astrofísicos mais
famosos do mundo esteve no Porto e deixou um alerta: "A humanidade pode
desaparecer se não fizermos mais nada"
Cosmólogo de 81 anos, é
uma das referências mundiais da divulgação científica e esteve em Portugal para
uma conferência sobre Cosmos Sustentabilidade e responsabilidade, organizada
pela Porto Business School. Não tem receio de se colocar ao lado do Papa
Francisco na denúncia da idolatria do dinheiro, mas está convencido de que o
futuro da humanidade passa pelo homem deixar de se considerar mais importante
do que as outras espécies. Acaba de lançar em Portugal mais uma obra -
"Onde Cresce o perigo Surge Também a Salvação", uma adaptação de um
verso do poeta alemão Friedrich Hölderlin - que resume duas das suas maiores
preocupações de sempre: o ambiente e a astrofísica. Divide a vida entre Paris e
a sua cidade natal, Montreal, onde ainda ensina e dá palestras. Há três décadas
lançou "Um Pouco mais de Azul", uma obra que o tornou famoso por usar
uma linguagem simples e até lírica para explicar complexidades da ciência.
Que mensagem trouxe a
Portugal, tendo como plateia empresários e engenheiros?
Quero sensibilizar para
a situação perigosa em que nos encontramos. Vemos um crescendo de ameaças ao
futuro da vida no planeta, do aquecimento, à poluição ou aumento dos gases de
estufa. É interessante falar com pessoas que de-senvolvem projectos e ajudá-las
a ver o ponto em que nos encontramos, para que possam avaliar de forma mais
acertada o que devem e o que não devem fazer.
Sente que este tipo de
preocupação tem estado ausente da formação nestas áreas?
Tem melhorado mas ainda
pode melhorar mais. Por vezes faltam ideias práticas e foi isso que procurámos
fazer: uma espécie de lista de coisas de que não nos devemos esquecer ao pensar
num projecto. O meu contributo é no sentido de apresentar uma visão de que
temos no presente duas histórias: uma boa, que é como chegámos até aqui desde o
início do universo. A outra é como a humanidade está a deteriorar o planeta com
a sua presença e influência. O desafio - nosso e deles - é conseguir conciliar
as duas histórias.
Somos os vilões nesta
última história?
De certa forma. Fizemos
coisas maravilhosas como medicamentos, mas temos vindo a transformar o nosso
planeta de uma maneira que não é favorável à vida. Estamos a aquecê-lo, a
acidificar os oceanos. Temos de fazer alguma coisa se não podemos desaparecer.
É a principal mensagem: a humanidade pode desaparecer se não fizermos nada.
Quando?
Ninguém sabe. Pode ser
um processo gradual ou repentino. Ninguém sabe o futuro mas a probabilidade
existe e parece ser grande. Se aqueceremos a atmosfera 4oC, 5oC ou 6oC, o clima
pode tornar-se ingovernável e isso é um perigo para os nossos filhos e netos.
O professor defende um
novo humanismo, como quando o Papa Francisco condenou a idolatria do dinheiro.
Ciência e fé aproximam-se neste apelo?
O dinheiro, de facto,
tem um papel tão negativo, hoje, que deve haver um esforço no sentido de o
tornar positivo. Esse esforço passa muito pela responsabilidade das empresas e
instituições. Começam a acontecer algumas mudanças - o edifício onde trabalho
acaba de ser construído com preocupações enormes de sustentabilidade. Nesse
aspecto, move-nos um mesmo objectivo: salvar a humanidade da destruição.
Vive em França, onde o
presidente Hollande, recentemente, anunciou que quer poupar a ciência e o
ensino superior de cortes. Em Portugal não têm sido áreas poupadas...
É verdade. Todos os
países quando atravessam uma crise, como esta em que estamos, tenta fazer
algumas poupanças. A questão é onde se poupa. Se um país como Portugal corta os
apoios a escolas, professores e alunos vai depender mais de tecnologia
desenvolvida no exterior e no futuro vai gastar mais a comprá-la do que teria
gasto ao apostar na formação. Acho que um dos sectores principais a garantir
num país, mesmo quando se pensa em questões económicas, é a educação. Por isso
é um erro cortar nesta área só porque é mais fácil do que noutras. Já aconteceu
noutros países e a longo prazo saíram--se pior do que os que decidiram manter o
financiamento. Os apoios à educação, ciência, cultura devem ser os últimos a
ser cortados.
Nasceu no Canadá, um dos
melhores países na competição global por pessoas qualificadas. Em Portugal
agora há a intenção de lançar vistos de talento. Como vê este campo?
A melhor forma de atrair
pessoas de fora é ter boas instituições e, para isso, os centros e as pessoas
têm de ser apoiadas. Acho que é uma contradição cortar apoios internos se se
quer atrair de fora. Se o objectivo é esse, então o caminho e a mensagem estão
erradas.
Aos 81 anos quais são os
seus sonhos científicos?
Continuar a
popularização da ciência, torná-la compreensível. Isto tem um duplo objectivo:
por um lado as histórias da ciência são maravilhosas e há um interesse natural por
elas, que torna entusiasmante partilhar. Por outro lado, só a popularização da
ciência vai permitir que as pessoas percebam a importância do conhecimento e
actuem contra o aquecimento global e este paradigma de que a humanidade,
através das suas actividades, destrói o planeta.
Para si, qual foi a
melhor história?
Muitas. Começou com a
confirmação da teoria do Big Bang em 1965 e cada vez sabemos mais sobre o
passado e de onde vimos. Para mim, grandes histórias são estas, a descoberta do
átomo. Mas acho que o que mais surpreende a audiência é a ideia de que o
universo tem uma história e como o natural se organiza através de moléculas e
átomos. E mesmo que comecemos por falar do universo, de estrelas e planetas,
trata-se da nossa própria história. Depois há a questão se tudo isto tem um
propósito ou não, que devemos fazer, e não tem resposta.
Uma cientista premiada
em Portugal noutro dia defendia a necessidade de maior racionalidade na tomada
de decisões, quase uma importação do método científico para a política contra
alguma subjectividade. Concorda?
Acho que precisamos de
ciência para nos contar donde viemos e o que somos. Mas acho que a ciência não
nos pode ajudar a tomar as decisões correctas. Ensina-nos a fazer a bomba
atómica e transgénicos mas não é a ciência que nos diz se os devemos usar. Isso
é o campo da moralidade, da discussão sobre o mundo em que queremos viver.
A sua defesa de um novo
humanismo então também não é a estritamente ciência?
Assenta na ideia de que
temos de expandir o nosso conceito de humanismo. Tem sido o homem primeiro e
depois o resto. O que vemos no estudos é que é fundamental que a noção de
humanismo e humanidade se estenda a toda a natureza porque dependemos de plantas
e animais, racionalmente não sobrevivemos sem eles. Somos uma grande rede e
esta generalização é importante, é objectiva.
Rompemos o dogma de que
a Terra era o centro do universo mas continuámos a pôr o homem excessivamente
no centro?
Sim. Somos uma espécie e
há muitas outras. Não temos nenhuma razão para acreditar que somos melhores que
as outras.
Por Marta F. Reis
publicado em 17 Fev 2014 - 05:00
in ionline de 17 de Fevereiro de 2014
Hubert Reeves: “Não acredito que os seres humanos possam exterminar a vida”
Publicou Um Pouco mais de Azul há mais de 30 anos, o livro que o lançou numa carreira com mais de uma dezena de títulos de divulgação científica. Tem também uma carreira científica notável. Cosmólogo, nascido no Canadá, fez de França a sua casa depois de se ter sido escolhido para director do Centro Nacional da Investigação Científica.
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