domingo, 27 de outubro de 2019

Descartes: O Circulo Cartesiano





Descartes
 O Circulo Cartesiano

De acordo com a objecção do círculo cartesiano, colocada perspicazmente por Arnauld, Descartes defende o seguinte:

1. Posso saber que aquilo que percebo clara e distintamente é verdade só se sei primeiro que Deus existe e não é enganador.

2. Posso saber que Deus existe e não é enganador só se sei primeiro que aquilo que percebo clara e distintamente é verdade.

Nas Objecções e Respostas que complementam as Meditações, Descartes responde a esta acusação de circularidade nas passagens seguintes:

Quando disse que nada podemos saber de forma certa até descobrirmos que Deus existe, declarei explicitamente que estava a falar apenas do conhecimento daquelas conclusões que podem ser recordadas quando já não estamos a considerar os argumentos pelos quais as deduzimos.

Estamos certos de que Deus existe porque atendemos aos argumentos que o provam. Subsequentemente, basta recordarmo-nos de que percebemos algo claramente para termos a certeza de que isso é verdade. Isto não seria suficiente se não soubéssemos que Deus existe e não é enganador.

Descartes parece estar aqui a declarar que, na verdade, não subscreve a tese 1, ficando assim livre da circularidade. Ou seja, Descartes parece estar a dizer que não defende, a respeito de toda e qualquer percepção clara e distinta, que poderá estar certo da sua verdade só se souber primeiro que Deus existe e não é enganador. A dúvida restringe-se às percepções claras e distintas passadas. A prova da existência e da veracidade de Deus não é necessária para garantir que as percepções claras e distintas presentes são verdadeiras – e, portanto, estas podem ser usadas para provar que Deus existe e não é enganador. A “garantia divina”, então, só é necessária para justificar o seguinte: aquilo que me recordo de ter percebido clara e distintamente é verdade.

                                                                                                                         Pedro Galvão


Tenho outra preocupação: como pode o autor evitar raciocinar em círculo quando diz que estamos certos de que aquilo que percebemos clara e distintamente é verdade apenas porque Deus existe?

Pois podemos estar certos de que Deus existe apenas porque percebemos isso clara e distintamente. Assim, antes de podermos estar certos de que Deus existe, devemos poder estar certos de que aquilo que percebemos clara e evidentemente é verdade.

                                                                                                            Antoine Arnauld


                                                 Lola



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