terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Preparação Ficha de Avaliação 11º Ano




Preparação 3ª Ficha de

Avaliação - 11º Ano


Temas: 


 O empirismo de David Hume

O apriorismo de Kant 

O estatuto do conhecimento cientifico




Estrutura da Ficha de Avaliação:

 

 

Grupo I -  Itens de seleção - Escolha múltipla. (50 pontos).

Grupo II - Itens de resposta curta - definição de conceitos (50 pontos).

Grupo III - Itens de resposta restrita. (50 pontos).

Grupo IV - Item de resposta extensa - Análise de um texto filosófico. (50 pontos).

 

 

Nota: Nos quatro grupos de questões serão avaliados todos os domínios.

 

 

Tempo : 50 minutos

 

 

Aprendizagens essenciais a avaliar:


  1.   David Hume:  Identifique tipos ou modos de conhecimento, segundo  Hume.
  2.   Caracterize-os.
  3.   Relacione conhecimento humano com o principio da não contradição.
  4.   O que são proposições contingentes?
  5.   Apresente os princípios  de associação de ideias?
  6.   Como se conhecem os factos?
  7.   Justifique a afirmação "Não há conhecimento rigoroso acerca dos factos futuros".
  8.   Qual a posição de Hume em relação à intuição (eu), ao Mundo e a Deus ?
  9.   O que defende Hume acerca do Principio da Causalidade?
  10.   Qual é, segundo Hume, o problema da Indução?
  11.   Porque se pode afirmar que David Hume é um empirista céptico?
  12.   O que é o Empirismo?
  13. Compare as teorias Filosóficas de Descartes e Hume. 
  14.   O que é o apriorismo kantiano?
  15.   Quais as fontes do conhecimento para Kant?
  16.   Defina-as.
  17.   De que é resultado o conhecimento em Kant?
  18.   Distinga matéria e forma do conhecimento.
  19.   Porque concorda Kant com os empiristas?
  20.   Porque concorda Kant com os racionalistas?
  21.   Qual o papel da razão em Kant?
  22.   Quais as ideias da Razão?
  23.   O que se pode conhecer, segundo Kant?
  24.   Porque é o númeno incognoscível?
  25.   Explique a seguinte afirmação "Todo o conhecimento começa com a experiência, mas nem todo deriva dela" (Kant, Critica da Razão Pura)
  26. O que significa a expressão "Estatuto do Conhecimento Cientifico"?
  27. O que é a ciência?
  28. O que é o senso comum?
  29. Características da ciência.
  30. Características do senso comum.
  31. Será o senso comum o ponto de partida da ciência?


VAMOS, ENTÃO, TESTAR OS CONHECIMENTOS!


 

 A - O empirismo de David Hume

1. Hume distinguiu as questões de facto das relações de ideias. De acordo com esta distinção, 

(A) as questões de facto apenas podem ser decididas pela experiência. 

(B) as verdades matemáticas são questões de facto. 

(C) todos os raciocínios sobre causas e efeitos exprimem relações de ideias. 

(D) negar uma questão de facto resulta numa contradição.                        

 

2. Identifique a afirmação errada.

  a) As proposições do tipo 2 + 3 = 5 são conhecimentos de facto.

  b) As proposições que consistem na relação entre ideias são proposições cuja validade não depende da experiência.

  c) As proposições factuais são aquelas cujo valor de verdade é aferido pela experiência.

                 

                 

3. Identifique a afirmação verdadeira:

   a) A mente humana trabalha com ideias inatas.

   b) "O ouro é amarelo" é uma proposição válida, independentemente de qualquer recurso à observação.

   c)  Só as proposições que não dependem da confirmação da experiência e respeitam o princípio de não contradição são absolutamente certas.

        

                 

4. Identifique as afirmações verdadeiras.

   a) A pretensa relação causal nada mais é do que uma conjunção constante de factos, que gera uma ficção mental que catalogamos como necessária.

   b) A inferência causal é um raciocínio que vai para além do testemunho imediato dos sentidos.

   c)  A interferência causal não se baseia na razão, mas sim no costume (hábito).

   d)  A sucessão temporal constante entre dois fenómenos não é sinónimo de conexão necessária ou causal entre eles.

   e) O hábito não é fonte de conhecimento científico, mas sim de crença.

   f)  A razão é um fenómeno psicológico, com base orgânica, que gera ficções úteis para a nossa sobrevivência.

                                    

                

4. Na perspectiva de Hume, as conclusões dos nossos raciocínios acerca de questões d de facto são:

   a) Quando muito, prováveis, mas nunca certas.

   b) Demonstrativas.

   c) Necessariamente verdadeiras.

        

                

5. O empirismo de Hume é um cepticismo porque:

    a) Afirma que o conhecimento deriva da experiência e não alcança objectos fora do campo da experiência.

    b) Reduz o conhecimento científico ao conhecimento matemático.

    c) Afirma que o conhecimento deriva da experiência, mas não podemos ter qualquer certeza acerca do comportamento futuro dos objectos.

   d) 


6. Identifique VERDADES NECESSÀRIAS e VERDADES CONTINGENTES

Amália nasceu em Lisboa Verdade Contingente
Nenhum preto é branco Verdade Necessária
Um pedaço de metal dilatou ao ser aquecido Verdade Contingente
Um triângulo tem três lados Verdade Necessária



7. Identifique QUESTÕES DE FACTO e RELACÕES DE IDEIAS:

Deus existe ou não existe RELAÇÃO DE IDEIAS
Deus existe QUESTÃO DE FACTO
Três morangos são mais que dois RELAÇÃO DE IDEIAS
O sol vai nascer amanhã QUESTÃO DE FACTO
As coisas velhas não são novas RELAÇÃO DE IDEIAS
Os planetas têm órbitas elipticas QUEST
ÃO DE FACTO
Pedro Abrunhosa é um musico português QUESTÃO DE FACTO


8. Complete de acordo com a filosofia de David Hume

A relação de causa e efeito é uma relação de CAUSALIDADE
Habitualmente concluimos que há uma relação de causa e efeito com base NUMA CONJUNÇÃO CONSTANTE
Há uma conexão necessária entre dois acontecimentos quando UM NÃO PODE OCORRER SEM O OUTRO
A conexão necessária entre dois acontecimentos é algo que não CONSEGUIMOS OBSERVAR
Conjunção constante e conexão necessária são COISAS DIFERENTES
A nossa convicção de que há uma conexão necessária entre acontecimentos é apenas fruto do HÁBITO


9.  Selecciona a alternativa correcta:

1. Hume defende que ...

A. todas as nossas ideias têm origem empírica.
B. apenas as ideias simples têm origem empírica.
C. apenas as ideias complexas têm origem empírica.
D. nenhuma ideia tem origem empírica.

2. Hume defende que as afirmações sobre questões de facto …

A. exprimem verdades necessárias.
B. exprimem verdades contingentes.
C. não exprimem verdades.
D. não têm sentido.

3. Hume defende que as afirmações sobre  relações de ideias …

A. exprimem verdades necessárias.
B. exprimem verdades contingentes.
C. não exprimem verdades.
D. não têm sentido.

4. Hume defende que as inferências causais …

A. baseiam‐se na observação de conjunções constantes.
B. não se baseiam na observação.
C. baseiam‐se na observação de conexões necessárias.
D. têm um carácter demonstrativo. 

5. Segundo Hume, a ideia de conexão necessária entre causa e efeito … 

A. resulta da observação. 
B. resulta de um sentimento interno. (O Hábito)
C. tem uma origem desconhecida.
D. não existe.

10. Defina os seguintes conceitos

1.    Empirismo O Empirismo é uma teoria filosófica que procura responder ao problema da origem e natureza do conhecimento. Rejeita as ideias inatas da Razão, e a noção de conhecimento "a priori" . Defende a tese de que nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos, todo o conhecimento tem origem na experiência é, portanto formado “a posteriori”.  Fundamenta-se na noção de que qualquer conceito para ter um significado tem que se referir a uma sensação/impressão qualquer, essas sensações são simples e a mente neste primeiro momento capta apenas as sensações e depois por abstração e generalização forma os conceitos ou ideias, estas não são tão vivas como as sensações ou impressões o que quer dizer que são posteriores a estas.


2.    Relações de Ideias Para David Hume há dois tipos de conhecimento distintos, aquele que resulta do pensamento e se fundamenta em leis racionais, como a matemática, ou a lógica e o conhecimento que resulta da experiência direta dos factos e que se fundamenta “a posteriori” como a Física, e as outras ciências - o conhecimento de “questões de facto” e o conhecimento de “relação de ideias”. 


3.   Questões de facto É um tipo de conhecimento que nos dá a informação sobre o modo como o mundo é, mas o conhecimento que daí resulta é contingente e não necessário.

4.    Princípios de associação de ideias: 

A.  Semelhança

– Semelhança, quanto duas ideias são semelhantes, a consideração de uma delas conduz-nos à consideração da outra.
– Exemplo: Um rosto desenhado remete-nos para o rosto original.


B. Contiguidade no Tempo e no Espaço

– Contiguidade no Tempo e no Espaço, quando duas ideias são contíguas no espaço e no tempo, a consideração de uma delas evoca a consideração da outra. O mesmo acontece quando dois acontecimentos são contíguos no tempo.
– Exemplo: A lembrança de um comboio leva a pensar na estação, nos passageiros.

 C. Causalidade

– Causalidade, quando representamos duas ideias como correspondendo a uma relação causa-efeito, é natural que a consideração de efeito.
– Exemplo: A água fria posta ao lume (causa) faz pensar na fervura (efeito) que se lhe seguirá.
 


5. Principio da causalidade - Para Hume, a causalidade consiste num processo de conhecer que transcende as experiências do passado e do presente. Quer isto dizer que a causalidade fundamenta-se a partir de um processo que se resume ao hábito, à contiguidade espácio-temporal e à sucessão de eventos. Apesar de ser através da experiência que adquiro a noção de relação entre fenómenos, essa relação não está necessariamente presente. Simplesmente adquiro essa noção pelo facto do mesmo fenómeno se repetir.


6. Conexão Necessária - O acontecimento B não pode existir sem o acontecimento A.


7.    Conjunção constante - Um acontecimento surge a seguir a outro.


8. Hábito -  Hume refere-se à importância do costume ou hábito na construção do conhecimento dos factos. É devido à perceção da repetição de certos fenómenos que se sucedem em contiguidade no espaço e sucessivos no tempo, que estabelecemos uma relação entre eles e pensamos poder prever que sempre que um acontece o outro também acontecerá. Esta forte crença de uma conexão necessária entre dois fenómenos permite-nos estabelecer uma relação de causa e efeito entre os dois. O problema que Hume coloca é sobre o fundamento de tal crença. Ora, para Hume tal crença não tem um fundamento, logo, tal conhecimento de causa efeito sobre os fenómenos não deixa de ser duvidoso.


9.    Indução  - A indução consiste numa inferência que decorre da observação e das respectivas generalizações e previsões. Apesar da base da indução ser a causalidade, esta baseia-se numa mera repetição de eventos o que não significa que tal relação seja necessária e, por isso, é difícil de prever que tal ocorra no futuro - este é o problema da indução de que nos fala David Hume.


10.  Principio da regularidade da natureza É uma crença  que o homem possui e que lhe permite acreditar que  se A aconteceu seguido de B tal vai acontecer sempre no futuro pois o hábito ou costume leva-nos a acreditar que a natureza se comporta sempre de forma regular, repetitiva e previsível.




11. Qual é, segundo Hume a origem da ideia de causalidade  ?

Para David Hume, o conceito de causa não tem qualquer validade objectiva nem fundamento racional. À ideia de causa não corresponde qualquer impressão sensível.
Que regularmente vejamos ou tenhamos visto B acontecer depois de A não nos permite estabelecer uma relação causal objectiva, ou seja, que B acontecerá necessariamente de­pois de A. A experiência — para Hume o único critério quanto ao conhecimento dos fac­tos — permite-me captar uma sucessãoregular entre dois fenómenos, mas não uma suces­são necessária (ou seja, só permite ver o que acontece aqui e agora e não o que sempre acontecerá). Pela experiência, sabemos que sempre no passado a água ferveu, mas não é le­gítimo concluir que no futuro sempre ferverá. E contudo acreditamos — e é, útil que acreditemos — que o aquecimento da água é a causa necessária da sua fervura. Porquê?
A explicação de Hume baseia-se em factores psicológicos. Transformamos uma suces­são temporal regular em relação causal ou necessária devido ao costume ou ao hábito: habi­tuados a ver que B sucede regularmente a A, acreditamos que A é a causa necessária de B, isto é, que sempre assim será.
O conceito de causa é o resultado de uma ilusão psicológica.
Na verdade, o que acontece é que, por nos habituarmos a ver dois objectos sucederem-se um ao outro do mesmo modo, criamos a tendência para crer que, aparecendo o primeiro, apare­cerá também o segundo. Nada mais ilusório do que esta relação de dependência, porque transformou-se uma relação de mera sucessão temporal (o antes e o depois) em relação cau­sal. Não há, segundo Hume, qualquer fundamento objectivo na experiência que confirme esta relação. Assim, o princípio de causalidade considerado um princípio racional e objec­tivo nada mais é do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, a transformação de uma expectativa em realidade.
Negando a origem a priori do conceito de causa e do princípio de causalidade, Hume rejeita um instrumento no qual a metafísica tradicional se baseava para as suas especula­ções. 
Como usamos a ideia de causa para compreender muito do que acontece no mundo, então como ela exprime uma conexão de que não temos experiência, o nosso conhecimento do mundo não passa de conjectura que bem pode ser uma ilusão.



12. Distinga questões de facto e relações de ideias?

Os conhecimentos a que Hume dá o nome de "relação entre ideias" são conhecimentos a priori. Consistem, esses conhecimentos, em analisar o significado dos elementos de uma proposição, em estabelecer relações entre as ideias que ela contém. As "relações entre ideias" são proposições cuja verdade pode ser conhecida pela simples inspecção lógica do seu conteúdo.

Vejamos: A proposição "O quadrado tem quatro lados" é um juízo necessariamente verdadeiro e para disso estarmos certos basta analisar o significado de "quadrado". Trata-se de uma verdade necessária porque a sua negação implica uma contradição.
Vemos assim que, embora todas as ideias tenham o seu fundamento nas impressões, podemos conhecer sem necessidade de recorrer às impressões, isto é, ao confronto com a experiência. É o caso dos conhecimentos da lógica e da matemática. Contudo, diz Hume, tais conhecimentos, ou seja, as proposições lógicas e matemáticas, nada nos dizem sobre o que existe e acontece no mundo. Se nos limitarmos a este tipo de conhecimentos, nada ficamos a saber sobre o mundo.

O segundo tipo de conhecimento – o conhecimento de questões de facto – já implica um confronto das proposições (do que dizemos) com a experiência. Os conhecimentos de facto são proposições cujo valor de verdade tem de ser testado pela experiência, ou seja, temos de "inspeccionar" o mundo dos factos para verificar se elas são verdadeiras ou falsas.

Assim, a proposição "Este martelo é pesado" é um juízo cujo valor de verdade não pode ser decidido pela simples inspecção a priori do significado dos termos, isto é, temos de a confrontar com uma verificação experimental elementar, ou seja, a sua verdade ou falsidade só pode ser determinada a posteriori.

Como todas as nossas ideias têm uma origem empírica, não há conhecimento a priori de questões de facto, ou seja, o nosso conhecimento do mundo depende completamente da experiência. E, quando as nossas ideias acerca do mundo exprimem mais do que aquilo que observamos ou de que nos lembramos de ter observado, estamos a ultrapassar o que a experiência nos permite e nenhum conhecimento certo e seguro podemos assim constituir. Será o caso da ideia de causalidade. 


13. Leia o texto e responda às questões:

"Em que consiste a nossa ideia de necessidade quando dizemos que dois objetos estão necessariamente ligados entre si? A este respeito repetirei o que muitas vezes disse: como não temos ideia alguma que não derive de uma impressão se afirmarmos ter a ideia de ligação necessária (ou causal) deveremos encontrar alguma impressão que esteja na origem desta ideia. Para isso, ponho-me a considerar o objeto em que comummente se supõe que a necessidade se encontra. E como vejo que esta se atribui sempre a causas e efeitos, dirijo a minha atenção para dois objetos supostamente colocados em tal relação (causa-efeito) e examino-os em todas as situações possíveis. Apercebo-me de imediato que são contíguos em termos de tempo e lugar e que o objeto denominando causa precede o outro, a que chamamos efeito. Não existe um só caso em que possa ir mais longe, não me é possível descobrir uma terceira relação entre esses objetos.

Suponhamos que uma pessoa, embora dotada das mais fortes faculdades de razão e reflexão, é trazida subitamente para este mundo; observaria, de facto, imediatamente uma contínua sucessão de objetos e um acontecimento sucedendo-se a outro, mas nada mais seria capaz de descobrir. Não conseguiria, a princípio, mediante qualquer raciocínio, alcançar a ideia de causa e efeito, visto que os poderes particulares pelos quais todas as operações da natureza são executadas, nunca aparecem aos sentidos; nem é justo concluir, unicamente porque um evento, num caso, precede outro, que o primeiro é, por isso, a causa e o segundo o efeito. A sua conjunção pode ser arbitrária e casual. Pode não haver motivo para inferir um a partir do aparecimento do outro. E, numa palavra, tal pessoa, sem mais experiência, nunca poderia utilizar a sua conjetura ou raciocínio acerca de qualquer questão de facto ou certificar-se de alguma coisa para além do que está imediatamente presente à memória e aos seus sentidos".

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.

1.  Que problema é discutido no texto?

A ideia de causalidade.

2.  O que se entende por conexão necessária entre dois objetos?

Conexão necessária significa que um acontecimento B não poderia existir sem o acontecimento A.

3. A causalidade pode, segundo Hume, ser definida como uma conexão necessária. Justifique

A experiência que é, segundo Hume, o único critério quanto ao conhecimento dos fac­tos — permite-me captar uma sucessão regular (conjunçao constante) entre dois fenómenos, mas não uma suces­são necessária ou seja, só permite ver o que acontece aqui e agora e não o que sempre acontecerá. Pela experiência, sabemos que sempre no passado a água ferveu, mas não é le­gítimo concluir que no futuro sempre ferverá. E contudo acreditamos — e é, útil que acreditemos — que o aquecimento da água é a causa necessária da sua fervura.

4.   Em que principio se baseiam as inferências causais segundo Hume?

O que acontece é que, por nos habituarmos a ver dois objectos sucederem-se um ao outro do mesmo modo (conjunçao necessária), criamos a tendência para crer que, aparecendo o primeiro, apare­cerá também o segundo (conexao necessária). Nada mais ilusório do que esta relação de dependência, porque transformou-se uma relação de mera sucessão temporal (o antes e o depois) em relação cau­sal. 

Não há, segundo Hume, qualquer fundamento objectivo na experiência que confirme esta relação

5. A crença no princípio da uniformidade da natureza está, para Hume, justificada? Porquê?

Para David Hume, o conceito de causa não tem qualquer validade objectiva nem fundamento racional. À ideia de causa não corresponde qualquer impressão sensível.

David Hume nega a origem a priori do conceito de causa e do princípio de causalidadee, deste modo, Hume rejeita um instrumento no qual a metafísica tradicional se baseava para as suas especula­ções

Como usamos a ideia de causa para compreender muito do que acontece no mundo, então como ela exprime uma conexão de que não temos experiência, o nosso conhecimento do mundo não passa de conjectura que bem pode ser uma ilusão.

 

14. Leia o texto seguinte.

Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados do nosso sentimento externo e interno. Apenas a mistura e a composição destes materiais competem à mente e à vontade. Ou, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou perceções mais fracas são cópias das nossas impressões, ou perceções mais vívidas.
[…] Se acontecer, devido a algum defeito orgânico, que uma pessoa seja incapaz de experimentar alguma espécie de sensação, verificamos sempre que ela é igualmente incapaz de conceber as ideias correspondentes. Um cego não pode ter a noção das cores, nem um surdo dos sons. Restitua se a qualquer um deles aquele sentido em que é deficiente e, ao abrir-se essa nova entrada para as suas sensações, abrir-se-á também uma entrada para as ideias, e ele deixará de ter qualquer dificuldade em conceber esses objetos.

D. Hume, 

Investigação sobre o Entendimento Humano, 
1. Explicite as razões usadas no texto para defender que a origem de todas as nossas ideias reside nas impressões dos sentidos.
1. Explicitação das razões usadas no texto:

– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, os cegos e os surdos seriam capazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente;
– os cegos e os surdos são incapazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente.
OU
– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, as pessoas com uma incapacidade que as priva de um certo tipo de sensações poderiam, ainda assim, ter as ideias correspondentes;
– as pessoas com uma incapacidade que as priva de um certo tipo de sensações não podem ter as ideias correspondentes.

2. Concordaria Descartes com a tese segundo a qual «todas as nossas ideias […] são cópias das nossas impressões»?

Justifique a sua resposta.

– Descartes não concordaria com a tese apresentada.
Justificação:

– temos ideias que não poderiam ter tido origem nos sentidos, como o cogito / «eu penso», cuja origem é a priori / só pode ser o próprio ato de pensar;

– temos ideias inatas, (como a ideia de Deus,) que possuímos desde que nascemos, sem qualquer intervenção dos sentidos





15. Distinga Relação de Ideias e Questões de Facto.

David Hume afirmou existirem dois tipos de conhecimento. O primeiro, as Relações de Ideias, corresponde ao conhecimento a priori, é resultado de intuições e deduções e rege-se pelo princípio da não contradição. Por exemplo, o triângulo tem três lados. é uma proposição analítica, porque o predicado já está contido necessariamente no sujeito. É, por isso, uma verdade necessária. 
Pelo contrário, o conhecimento do tipo Questões de Facto é um conhecimento a posteriori, derivado da experiência e resulta de processos indutivos. É contingente e corresponde a proposições sintéticas, como por exemplo os homens são inteligentes O sujeito homem não possui de modo necessário o predicado Inteligente.


    16.  Caracterize a relação causal de acordo com Hume.

Para Hume, a causalidade consiste num processo de conhecer que transcende as experiências do passado e do presente. Quer isto dizer que a causalidade fundamenta-se a partir de um processo que se resume ao hábito, à contiguidade espácio-temporal e à sucessão de eventos. Apesar de ser através da experiência que adquiro a noção de relação entre fenómenos, essa relação não está necessariamente presente. Simplesmente adquiro essa noção pelo facto do mesmo fenómeno se repetir. Assim, há certas características que acompanham um fenómeno tipo A e B. Entre eles existe uma certa conjunção de acontecimentos. A antecede B e A apresenta-se sempre em conjunção com B. Do mesmo modo, eles estão próximos no espaço e no tempo e também existe uma precedência cronológica habitual. Todos estes factores são os motivos pelos quais efetuamos relações de causa e efeito. Só que esta relação não é necessária, é contigente e baseia-se numa crença na repetição dos fenómenos.

      17. Defina o problema da indução segundo Hume.

A indução consiste numa inferência que decorre da observação e das respectivas generalizações e previsões. Apesar da base da indução ser a causalidade, esta baseia-se numa mera repetição de eventos o que não significa que tal relação seja necessária e, por isso, é difícil de prever que tal ocorra no futuro. Esse é problema da indução. O simples facto de acontecer no passado não significa que os mesmos fenómenos ocorram no futuro. Simplesmente existe uma crença. A conclusão de um argumento indutivo pode sempre ser falsa mesmo que a experiência que acumulámos sobre um determinado assunto aponte em sentido contrário

     18. Explique por que razão segundo Hume a relação causal não pode justificar a indução.

Porque a relação causal que estabeleço entre dois fenómenos decorre de uma mera regularidade. A generalização efectuada pela indução não é de todo sustentada a priori, nem é necessária, decorre de uma mera crença na regularidade dos fenómenos. No passado constatámos padrões e acreditámos que eles continuariam a produzir-se no futuro e que isso sempre aconteceu. Porém, como asseverou Hume do facto de no passado o futuro se ter revelado semelhante ao passado não se pode inferir que, no futuro, o futuro seja como o passado ou, dito de outro modo, a nossa experiência apenas pode justificar as nossas crenças acerca do futuro se tivermos uma justificação independente (dela) para acreditar que o futuro será como o passado; mas, claro, isso é o que precisamente não temos.
Por outras palavras, o único modo por meio do qual se pode fazer apelo à experiência para verificar se P logo Q é o de observar se no passado se observou sempre que P logo Q. Portanto, para mostrar que P logo Q é verdadeira seria necessário mostrar que não haveria casos em que Plogo  ~Q e de termos esgotado todas as inferências do tipo P logo Q. Assim, P logo Q não podem resumir-se àqueles que foram objecto das nossas observações passadas e presentes. Se P logo Q ocorre num certo universo não posso inferir daí que ocorra em qualquer universo.
        19. Explique a que tipo de cepticismo conduz a crítica de Hume da indução.

Perante a dificuldade da indução parece haver uma só saída: o ceticismo. Efetivamente, o problema da indução veio mostrar-nos que não é possível conhecer a realidade, pois não devemos confundir a realidade com a perceção que possuímos dessa realidade. Na base do conhecimento está tão só uma crença na uniformidade da natureza. Para Hume é bom que assim seja caso contrário ficaríamos numa posição de imobilismo. Portanto, o ceticismo de Hume não é radical, antes pode ser qualificado de mitigado ou moderado.


20. De acordo com Hume, a impressão que origina a ideia de causa/efeito

(A) é a razão e o raciocínio.

(B) é uma ideia complexa fruto da imaginação.

(C) é a impressão de conexão necessária.

(D) é a conjunção constante entre dois factos

 

21. A relação causa/efeito fundamenta-se:

(A) Nas impressões sensíveis.

(B) Numa conexão necessária entre factos.

(C) Num costume ou hábito fruto da repetição.

(D) Na razão: é uma relação “a priori”.

 

22.  Hume não ultrapassa o ceticismo porque:

(A) Hume não é cético.

(B) Admite a possibilidade de uma dúvida radical.

(C) Não encontra uma forma infalível de justificar as nossas crenças sobre o mundo.

(D) Não encontra fundamentos para a existência de Deus.

 

23. Considere os seguintes enunciados relativos à comparação entre as teorias do conhecimento de Descartes e de David Hume.

1. Para o primeiro, todas as ideias são inatas; para o segundo, nenhuma ideia é inata.

2. Os dois autores defendem que há ideias que têm origem na experiência.

3. Para o primeiro, o conhecimento tem de ser indubitável; para o segundo, pode não ser indubitável.

4. Os dois autores defendem que não há conhecimento sem experiência.

Deve afirmar-se que

 (A) 2 e 3 são corretos; 1 e 4 são incorretos. (B) 1, 3 e 4 são corretos; 2 é incorreto. (C) 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos. (D)  1, 2 e 3 são corretos;4 é incorreto.

Leia o seguinte texto e responda às questões:

"Todos admitirão prontamente que existe uma diferença considerável entre as perceções da mente, quando um homem sente a dor de um calor excessivo ou o prazer de um ardor moderado, e quando ele depois traz à memória a sua sensação ou a antecipa mediante a sua imaginação. “

David Hume, Investigação sobre o entendimento humano.

 

25. Diga quais são as perceções da mente de que fala o texto e a sua importância para o conhecimento.

 

1. Impressões e ideias são perceções mentais, isto é, constituem todo o conteúdo da mente que podemos conhecer. As primeiras são originais e antecedem as segundas que são cópias feitas da memória das impressões vividas. Podemos ter ideias de objetos nunca antes vividos, se associarmos ideias simples, formando assim ideias complexas como a ideia de vampiro. Podemos também antecipar o prazer ou a dor vividas pela expectativa de as voltarmos a viver. Seja pela memória ou pela imaginação as perceções pensadas, ideias, não são nunca tão fortes e intensas como as vividas, impressões,  pois o original é sempre mais forte e perfeito que a cópia. Hume conclui que as impressões são atos originais e que não existem ideias sem na origem estar a impressão interna ou externa equivalente.

 Leia o seguinte texto e responda às questões:

Todos os objetos da razão ou da investigação humanas podem ser naturalmente divididos em dois tipos, a saber, as relações de ideias e as questões de facto. [...] O contrário de toda e qualquer questão de facto continua a ser possível, porque não pode jamais implicar contradição, e a mente concebe-o com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse perfeitamente conforme à realidade. Que o Sol não vai nascer amanhã não é uma proposição menos inteligível nem implica maior contradição do que a afirmação de que ele vai nascer.

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano 

 

26. Explique qual o problema que Hume coloca no texto e distinga, com exemplos, esses dois tipos de conhecimento que são referidos.

 

Cenário de resposta A

 Resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

 Distinção entre as questões de facto e as relações de ideias: – as verdades acerca das relações de ideias são verdades necessárias ou demonstrativamente certas (OU que podem ser descobertas pela razão); (em contrapartida,) as questões de facto apenas podem ser decididas recorrendo à experiência; – o contrário de uma verdade acerca de relações de ideias implica uma contradição e, portanto, é logicamente impossível; (ao invés,) o contrário de uma verdade acerca de questões de facto não implica uma contradição e, portanto, é logicamente possível.

A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes. Apresentação do problema da indução: – a indução não está justificada, uma vez que a tentativa de a justificar por meio da experiência é circular (OU a tentativa de a justificar por meio do raciocínio indutivo se baseia, ela própria, no raciocínio indutivo, que, precisamente, necessita de justificação).Portanto, saber que o Sol vai nascer amanhã é uma previsão e como tal baseia-se no que aconteceu no passado, faz-se uma generalização indutiva, se até agora o sol sempre nasceu, amanhã irá nascer. Essa probabilidade pode não ocorrer, porque só podemos ter conhecimento por experiência, e não temos experiência do futuro a não ser que façamos um raciocínio indutivo.

 

27. “O fogo é causa do fumo, logo sempre que há fogo, há fumo” Para Hume esta afirmação não está justificada, logo não é conhecimento. Porquê?

a) Não há nenhuma impressão de conexão causal; isto é de uma conexão necessária entre dois fenómenos como o fogo e o fumo. As impressões que nos são dadas são de contiguidade no espaço, prioridade temporal e conjunção constante.

b) A impressão que temos é da repetição de fenómenos em sucessão no tempo e contiguidade no espaço: “Vemos os dois fenómenos repetidamente juntos, e quanto mais isso acontece mais forte é a crença que um não pode existir sem o outro, isto é, que um é causa do outro.

c) Esta crença a que chamamos relação de causa efeito ou conexão causal não está justificada nem empiricamente nem racionalmente, porque “ não há nada que produza qualquer impressão, e consequentemente nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou conexão necessária”, a relação é formada na mente  fruto do hábito e do costume. Não é um conhecimento mas uma crença subjetiva.

d) Se o conhecimento de causa efeito tem a sua origem na experiência e de modo nenhum é apriori (argumento do ser racional que nada soubesse do mundo, jamais poderia ter a noção de causa efeito) então é um conhecimento de facto e é contingente, todavia julgamos e pensamos como se houvesse uma conexão necessária e, portanto ultrapassamos a experiência.

Logo, para concluir, não uma justificação empírica nem racional para uma conexão necessária entre dois fenómenos, ela é apenas fruto do costume, um hábito psicológico, logo não é um conhecimento objetivo.

 

28. Relacione as teorias empirista e racionalista em relação aos seguintes tópicos:  Deus, Ideias inatas, possibilidade do conhecimento.

29. Defenda uma posição pessoal em relação a este problema: Qual a origem do conhecimento? Na sua resposta tenha em conta a afirmação de uma posição e a apresentação de uma razão para justificar a posição tomada.

 

A teoria racionalista defendida por Descartes, fundamenta o conhecimento na razão e na capacidade desta retirar ideias a partir de outras ideias de forma evidente e dedutiva sem recorrer à experiência - ideias inatas.

Quanto ao Empirismo rejeita as ideias inatas da Razão, e a noção de conhecimento "a priori"  do mundo (é apenas um conhecimento racional e revela o modo com  a razão funciona) Defende a tese de que nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos, todo o conhecimento sobre o mundo tem origem na experiência é, portanto, “a posteriori”.  Fundamenta-se na noção de que qualquer conceito para ter um significado tem que se referir a uma sensação/impressão qualquer, essas sensações são simples e a mente neste primeiro momento capta apenas as sensações e depois por abstração e generalização forma os conceitos ou ideias, estas não são tão vivas como as sensações ou impressões o que quer dizer que são posteriores a estas. Os empiristas dão o exemplo das crianças que começam por ter sensações e só depois as articulam numa linguagem. O raciocínio que o entendimento faz para chegar ao conhecimento, segundo os empiristas é a indução, por acumulação de experiências que se repetem, generaliza-se para todos os casos e assim se obtém um conhecimento 

 

30. Compare as perspetivas de Descartes e de Hume acerca da origem da ideia de Deus:

‒ Descartes afirma que «o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que o eu [...] se devia a alguma natureza que fosse, efetivamente, mais perfeita», ou seja, que a ideia de perfeição não pode ter tido origem num ser imperfeito como ele (porque duvidar é uma imperfeição, e ele duvida) e que Deus é uma substância independente do pensamento (substância divina);‒ Hume, em contrapartida, afirma que as ideias, «por mais compostas e sublimes que sejam», são copiadas «de uma sensação ou sentimento precedente», ou seja, que a ideia de Deus é uma ideia composta, formada pela associação e pela ampliação de ideias simples provenientes da observação das operações da nossa mente;‒ segundo Descartes, a ideia de Deus não tem origem empírica / é inata;‒ em contrapartida, Hume considera que a ideia de Deus tem origem empírica, fruto da imaginação e não corresponde a uma entidade independente  do pensamento.

31. Qual o fundamento do conhecimento para Hume e Descartes? 

O racionalismo fundamenta as ideias claras e distintas na existência de um Deus não enganador, essas ideias são verdades evidentes e inquestionáveis , logo é possível um conhecimento do mundo com certezas (dogmatismo), enquanto para Hume todo o conhecimento do mundo sendo obtido por indução é apenas provável, não conseguindo fundamentar o conhecimento em crenças indubitáveis, e sendo crítico acerca dos limites que podemos encontrar para justificar as nossas crenças – ceticismo moderado.

 

32. Porque é a filosofia de Hume considerada um ceticismo moderado?

Porque apesar das nossas crenças sobre o mundo não terem uma justificação nem lógica nem empírica infalível, não abandonamos essas crenças porque elas são o produto do hábito que é, para Hume, o verdadeiro guia do conhecimento.

 

33. Escolha a opção correta:

1. Hume não ultrapassa o ceticismo porque:

(A) Não encontra uma forma infalível de justificar as nossas crenças sobre o mundo.

(B) Não encontra fundamentos para a existência de Deus.

(C) Admite a possibilidade de uma dúvida radical.

(D) Hume não é cético.

 

2. Considere os seguintes enunciados relativos à comparação entre as teorias do conhecimento de Descartes e de David Hume.

1. Para o primeiro, todas as ideias são inatas; para o segundo, nenhuma ideia é inata. 

2. Os dois autores defendem que há ideias que têm origem na experiência. 

3. Para o primeiro, o conhecimento tem de ser indubitável; para o segundo, pode não ser indubitável.

 4. Os dois autores defendem que não há conhecimento sem experiência.

Deve afirmar-se que

 (A) 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos.

 (B) 1, 2 e 3 são corretos; 4 é incorreto.

(C) 2 e 3 são corretos; 1 e 4 são incorretos.

(D) 1, 3 e 4 são corretos; 2 é incorreto.


5.  De acordo com Hume, a impressão que origina a ideia de causa/efeito

(A) é a sucessão constante entre dois factos

(B) é a razão e o raciocínio.

(C) é uma ideia complexa fruto da imaginação.

(D) é a impressão de conexão necessária.

 

6. A relação causa/efeito tem origem:

(A) Num costume ou hábito fruto da repetição.

(B) Numa conexão necessária entre factos.

(C) Nas impressões sensíveis.

(D) Na razão: é uma relação “a priori”. 


34. Tendo em conta que «o Sol não vai nascer amanhã não é uma proposição menos inteligível nem implica maior contradição do que a afirmação de que ele vai nascer», como explica Hume que estejamos convencidos de que o Sol vai nascer amanhã?

O Sol vai nascer amanhã é uma previsão e representa um conhecimento de facto. A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes. Apresentação do problema da indução: – a indução não está justificada, uma vez que a tentativa de a justificar por meio da experiência é circular (OU a tentativa de a justificar por meio do raciocínio indutivo se baseia, ela própria, no raciocínio indutivo, que, precisamente, necessita de justificação).Portanto, saber que o Sol vai nascer amanhã é uma previsão e como tal baseia-se no que aconteceu no passado, faz-se uma generalização indutiva, se até agora o sol sempre nasceu, amanhã irá nascer. Essa probabilidade pode não ocorrer, porque só podemos ter conhecimento por experiência, e não temos experiência do futuro a não ser que façamos um raciocínio indutivo.

Este problema ficou conhecido como o problema da indução. Consiste em demonstrar que a crença na indução não está justificada porque ultrapassa a experiência e a razão, isto é, não pode ser justificada nem empiricamente nem racionalmente. Acreditamos que a natureza é uniforme e, por isso acreditamos que aquilo que aconteceu de uma determinada maneira irá acontecer do mesmo modo no futuro. Esse é o pressuposto que garante as nossas generalizações futuras, mas esse pressuposto já resulta ele próprio de uma generalização e de uma previsão, isto é, aquilo que garante a validade de uma indução é conseguido através da indução, utiliza-se o mesmo processo para validar algo que devia ser validado por um outro conhecimento onde se pudesse fundar.  Há assim um raciocínio falacioso, uma petição de princípio.

 

35. “Onde há fumo há sempre fogo” Para Hume esta afirmação não está justificada, logo não é conhecimento. Porquê? (Explicite o problema da relação de causa-efeito).

 

Não há nenhuma impressão de conexão causal; isto é de uma conexão necessária entre dois fenómenos como o fogo e o fumo. As impressões que nos são dadas são de contiguidade no espaço, prioridade temporal e conjunção constante.

A impressão que temos é da repetição de fenómenos em sucessão no tempo e contiguidade no espaço: “Vemos os dois fenómenos repetidamente juntos, e quanto mais isso acontece mais forte é a crença que um não pode existir sem o outro, isto é, que um é causa do outro.

Esta crença a que chamamos relação de causa efeito ou conexão causal não está justificada nem empiricamente nem racionalmente, porque “ não há nada que produza qualquer impressão, e consequentemente nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou conexão necessária”, a relação é formada na mente  fruto do hábito e do costume. Não é um conhecimento mas uma crença subjetiva. 

Se o conhecimento de causa efeito tem a sua origem na experiência e de modo nenhum é apriori (argumento do ser racional que nada soubesse do mundo, jamais poderia ter a noção de causa efeito) então é um conhecimento de facto e é contingente, todavia julgamos e pensamos como se houvesse uma conexão necessária e, portanto ultrapassamos a experiência.

Logo, para concluir, não uma justificação empírica nem racional para uma conexão necessária entre dois fenómenos, ela é apenas fruto do costume, um hábito psicológico, logo não é um conhecimento objetivo.

 


Comparação entre as filosofias de Descartes e David Hume

1. Considere os seguintes enunciados relativos à comparação entre as teorias do conhecimento de Descartes e de David Hume. 
1. Para o primeiro, todas as ideias são inatas; para o segundo, nenhuma ideia é inata. 
2. Os dois autores defendem que há ideias que têm origem na experiência. 
3. Para o primeiro, o conhecimento tem de ser indubitável; para o segundo, pode não ser indubitável.
 4. Os dois autores defendem que não há conhecimento sem experiência. 

Deve afirmar-se que
(A) 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos. 
(B) 1, 2 e 3 são corretos; 4 é incorreto. 
(C) 2 e 3 são corretos; 1 e 4 são incorretos.
 (D) 1, 3 e 4 são corretos; 2 é incorreto.

Leia o texto A

Existe uma espécie de ceticismo, anterior a qualquer estudo ou filosofia, muito recomendado por Descartes e outros como sendo a soberana salvaguarda contra os erros e os juízos precipitados.
Este ceticismo recomenda uma dúvida universal, não apenas quanto aos nossos princípios e opiniões anteriores, mas também quanto às nossas próprias faculdades, de cuja veracidade, diz ele, nos devemos assegurar por meio de uma cadeia argumentativa deduzida de algum princípio original que seja totalmente impossível tornar-se enganador ou falacioso. Mas nem existe qualquer princípio original como esse, […] nem, se existisse, poderíamos avançar um passo além dele, a não ser pelo uso daquelas mesmas faculdades das quais se supõe que já suspeitamos.

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano,
 Lisboa, IN-CM, 2002, pp. 161-162

1. Explicite a crítica de Hume, apresentada no texto, ao ceticismo «recomendado por Descartes».
2. Distinga, no que respeita à fundamentação do conhecimento, a perspetiva racionalista de Descartes da perspetiva empirista de Hume.

 Leia o texto B

Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados do nosso sentimento externo e interno. Apenas a mistura e a composição destes materiais competem à mente e à vontade. Ou, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou perceções mais fracas são cópias das nossas impressões, ou perceções mais vívidas.

[…] Se acontecer, devido a algum defeito orgânico, que uma pessoa seja incapaz de experimentar alguma espécie de sensação, verificamos sempre que ela é igualmente incapaz de conceber as ideias correspondentes. Um cego não pode ter a noção das cores, nem um surdo dos sons. Restitua se a qualquer um deles aquele sentido em que é deficiente e, ao abrir-se essa nova entrada para as suas sensações, abrir-se-á também uma entrada para as ideias, e ele deixará de ter qualquer dificuldade em conceber esses objetos.

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, pp. 35-36 (adaptado)

1. Explicite as razões usadas no texto para defender que a origem de todas as nossas ideias reside nas impressões dos sentidos.

2. Concordaria Descartes com a tese segundo a qual «todas as nossas ideias […] são cópias das nossas impressões»?
Justifique a sua resposta

4. Explicitação das razões usadas no texto:
– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, os cegos e os surdos seriam capazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente;
– os cegos e os surdos são incapazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente.

OU

– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, as pessoas com uma incapacidade que as priva de um certo tipo de sensações poderiam, ainda assim, ter as ideias correspondentes;
– as pessoas com uma incapacidade que as priva de um certo tipo de sensações não podem ter as ideias correspondentes.

5. Identificação da posição de Descartes:
– Descartes não concordaria com a tese apresentada.
Justificação:
– temos ideias que não poderiam ter tido origem nos sentidos, como o cogito / «eu penso», cuja origem é a priori / só pode ser o próprio ato de pensar;
– temos ideias inatas, (como a ideia de Deus,) que possuímos desde que nascemos, sem qualquer intervenção dos sentidos

Leia o texto C  de Hume e o texto D  de Descartes

A geometria ajuda-nos a aplicar leis do movimento, oferecendo-nos as dimensões corretas de todas as partes e grandezas que podem participar em qualquer espécie de máquina, mas apesar disso a descoberta das próprias leis continua a dever-se simplesmente à experiência […]. Quando raciocinamos a priori, considerando um objeto ou causa apenas tal como aparece à mente, independentemente de qualquer observação, ele jamais poderá sugerir-nos a ideia de qualquer objeto distinto, tal como o seu efeito, e muito menos mostrar-nos a conexão inseparável e inviolável que existe entre eles. 

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, IN-CM, 2002, pp. 46-47 (texto adaptado). 

As coisas corpóreas podem não existir de um modo que corresponda exatamente ao que delas percebo pelos sentidos, porque, em muitos casos, a perceção dos sentidos é muito obscura e confusa; mas, pelo menos, existem nelas todas as propriedades que entendo clara e distintamente, isto é, todas aquelas que, vistas em termos gerais, estão compreendidas no objeto da matemática pura. 

R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, p. 210 (texto adaptado).

1. Haverá conhecimento a priori do mundo? Confronte as respostas de Hume e de Descartes a esta questão

Leia o texto E

“[…] Quando analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou sublimes que possam ser, sempre constatamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de alguma sensação ou sentimento precedente. Mesmo quanto àquelas ideias que, à primeira vista, parecem mais distantes dessa origem, constata-se, após um exame mais apurado, que dela são derivadas.

 A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso, deriva da reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites aquelas qualidades de bondade e de sabedoria.”


David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», 
in Tratados Filosóficos I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002


1. Nomeie os tipos de percepção da mente, segundo Hume.

2. Explicite, a partir do texto, a origem da ideia de Deus na filosofia de Hume.

3. Confronte as ideias expressas no texto de Hume com o racionalismo de Descartes.

4. Segundo David Hume podemos considerar o cogito um conhecimento a priori? Justifique. 


Leia o texto F

Todas as ideias são copiadas de impressões ou de sentimentos precedentes e, onde não pudermos encontrar impressão alguma, podemos ter a certeza de que não há qualquer ideia. Em todos os exemplos singulares das operações de corpos ou mentes, não há nada que produza qualquer impressão e, consequentemente, nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou conexão necessária. Mas quando aparecem muitos casos uniformes, e o mesmo objeto é sempre seguido pelo mesmo evento, começamos a ter a noção de causa e de conexão.

 Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano 

 

1. A partir do texto, exponha a tese empirista de Hume sobre a origem da ideia de conexão causal. Na sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.


Comente as seguintes afirmações:


A. "Hume aceita a perspectiva de que o nosso sistema de convicções precisa de um tipo qualquer de fundamento. No entanto, nega que esse fundamento possa ter o tipo de estatuto racional que Descartes queria". 

Simon Blackburn

B. "Descartes parece dizer que o melhor das ideias claras e distintas é que, quando as temos, não podemos duvidar delas. Isto não é, propriamente, uma certificação pela razão, mas antes o mesmo tipo de poder natural que Hume atribui às convicções empíricas básicas".

                                                                                                          Simon Blackburn

O modelo de conhecimento verdadeiro para os racionalistas é o modelo matemático porque tem necessidade lógica e validade universal. Os filósofos racionalistas defendem a possibilidade de um conhecimento substancial sobre o mundo completamente “a priori”.

Quanto ao Empirismo rejeita as ideias inatas da Razão, e a noção de conhecimento "a priori"  do mundo (é apenas um conhecimento racional e revela o modo com  a razão funciona) Defende a tese de que nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos, todo o conhecimento sobre o mundo tem origem na experiência é, portanto, “a posteriori”.  Fundamenta-se na noção de que qualquer conceito para ter um significado tem que se referir a uma sensação/impressão qualquer, essas sensações são simples e a mente neste primeiro momento capta apenas as sensações e depois por abstração e generalização forma os conceitos ou ideias, estas não são tão vivas como as sensações ou impressões o que quer dizer que são posteriores a estas. Os empiristas dão o exemplo das crianças que começam por ter sensações e só depois as articulam numa linguagem. O raciocínio que o entendimento faz para chegar ao conhecimento, segundo os empiristas é a indução, por acumulação de experiências que se repetem, generaliza-se para todos os casos e assim se obtém um conhecimento.

 34. Leia o seguinte texto e responda às questões:

“A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso, deriva da reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites aquelas qualidades de bondade e de sabedoria.” Significa que a ideia de Deus é uma ideia complexa fruto da imaginação que associa ideias simples e com elas origina uma nova ideia, ideia complexa que por estar afastada das impressões é obscura e não corresponde a algo do qual possamos ter uma impressão, nesse aspeto Deus resulta da composição e liberdade do nosso pensamento e não a algo que possamos atribuir uma existência de facto(conteúdo factual).

1. Explicite, a partir do texto, a origem da ideia de Deus na filosofia de Hume.

2. Confronte as ideias expressas no texto de Hume com o racionalismo de Descartes. Na sua resposta, deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes aspetos:−−inatismo;−−valor da ideia de Deus.

35. Comparação das posições de Descartes e de Hume sobre a importância do conhecimento a priori 

Hume defende que o conhecimento a priori estabelece relações de ideias (ou relações entre conceitos), ao passo que Descartes defende que algum conhecimento a priori é acerca do mundo;

Hume considera que o conhecimento a priori não tem importância como meio para descobrir o mundo – com esse tipo de conhecimento, «não aprendemos nada de substancial acerca do mundo» –, ao passo que Descartes defende que o conhecimento do mundo mais importante é a priori e parte de ideias inatas à razão,  fundamentais para sabermos a verdade, servem-nos de guia para poder distinguir o verdadeiro do falso e são o fundamento de todo o conhecimento. Hume como empirista, rejeita a existência de ideias inatas pois faz depender a origem das ideias das impressões sensíveis resultantes da experiência.

Os empiristas, como Hume, consideram que as verdades conhecidas a priori são «não-instrutivas», ou seja, não são informativas (ou não têm conteúdo factual), "jamais poderá sugerir-nos a ideia de qualquer objeto distinto", ao passo que os racionalistas, como Descartes, consideram que as verdades conhecidas a priori são certas (ou evidentes, ou claras e distintas), são aspetos fundamentais do mundo e delas se deduzem outras verdades acerca do mundo.

36. Comparação das perspetivas de Descartes e de Hume acerca da origem da ideia de Deus:

‒ Descartes afirma que «o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que o eu [...] se devia a alguma natureza que fosse, efetivamente, mais perfeita», ou seja, que a ideia de perfeição não pode ter tido origem num ser imperfeito como ele (porque duvidar é uma imperfeição, e ele duvida) e que Deus é uma substância independente do pensamento (substância divina);‒ Hume, em contrapartida, afirma que as ideias, «por mais compostas e sublimes que sejam», são copiadas «de uma sensação ou sentimento precedente», ou seja, que a ideia de Deus é uma ideia composta, formada pela associação e pela ampliação de ideias simples provenientes da observação das operações da nossa mente;‒ segundo Descartes, a ideia de Deus não tem origem empírica / é inata;‒ em contrapartida, Hume considera que a ideia de Deus tem origem empírica, fruto da imaginação e não corresponde a uma entidade independente  do pensamento.

B - O apriorismo de Kant 


Leia os seguintes textos e responda às questões:


TEXTO A

" O nosso conhecimento provém de duas fontes fundamentais do espírito, das quais a primeira consiste em receber as representações (a receptividade das impressões) e a segunda é a capacidade de conhecer um objecto mediante estas representações (espontaneidade dos conceitos); pela primeira é-nos dado um objecto; pela segunda é pensado em relação com aquela representação (como simples determinação do espírito). Intuição e conceitos constituem, pois os elementos de todo o nosso conhecimento, de tal modo que nem conceitos sem intuição que de qualquer modo lhes corresponda, nem uma intuição sem conceitos podem dar conhecimento.

Ambos estes elementos são puros ou empíricos. Empíricos, quando a sensação (que pressupõe a presença real do objecto) está neles contida; puros, quando nenhuma sensação se mistura à representação. A sensação pode chamar-se matéria do conhecimento sensível. Daí que a intuição pura contenha unicamente a forma sob a qual algo é intuído e o conceito puro somente a forma do pensamento de um objecto em geral.

Se chamamos sensibilidade à receptividade do nosso espírito em receber representações na medida em que de algum modo é afectado, o entendimento é, em contrapartida, a capacidade de produzir representações ou a espontaneidade do conhecimento."

 

Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, Edição Fundação Calouste Gulbenkian,Lisboa 1985

TEXTO B

"Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência? No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela. Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns há, no entanto, que não têm essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (estimulada somente pelas impressões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos." 

Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, Edição Fundação Calouste Gulbenkian,Lisboa 1985


  1.  Quais as fontes do conhecimento para Kant?
  2.   Defina as suas funções.
  3.   De que é resultado o conhecimento em Kant?
  4.   Distinga matéria e forma do conhecimento.
  5.   Porque concorda Kant com os empiristas?
  6.   Porque concorda Kant com os racionalistas?
  7. Qual o papel da razão em Kant?
  8. Quais as ideias da Razão?
  9.   O que se pode conhecer, segundo Kant?
  10.   Porque é o númeno incognoscível?

Defina os seguintes conceitos:

1. Sensibilidade
2. Entendimento
3. Matéria
4. Forma
5. Fenómeno
6. Númeno
7. Formas a priori da sensibilidade
8. Conceitos do entendimento
9. Conhecer e Pensar
10. Apriorismo.



C - O estatuto do conhecimento cientifico


  1. Será o senso comum o ponto de partida da ciência?

• Karl Popper admite que o senso comum é um ponto de partida, ainda que inseguro, para a ciência e para a filosofia. Sendo a crítica o grande instrumento para progredir do senso comum para um conhecimento mais profundo do real.


"A ciência, a filosofia, o pensamento racional, todos devem partir do senso comum.
Não, talvez, por ser o senso comum um ponto de partida seguro: a expressão "senso comum" que estou aqui a usar é muito vaga, simplesmente porque denota uma coisa vaga e mutável - os instintos, ou opiniões de muitas pessoas, às vezes adequados ou verdadeiros e às vezes inadequados ou falsos.
Como nos pode fornecer um ponto de partida uma coisa tão vaga e insegura como o senso comum? A minha resposta é: porque não pretendemos nem tentamos construir (...) um sistema seguro sobre esses "alicerces". Qualquer das nossas muitas suposições de senso comum (...) da qual partamos pode ser contestada e criticada a qualquer tempo; frequentemente, tal suposição é criticada com êxito e rejeitada (por exemplo, a teoria de que a Terra é plana). Em tal caso, o senso comum é modificado pela correcção, ou é transcendido e substituído por uma teoria que, por menor ou maior período de tempo, pode parecer a certas pessoas como mais ou menos "maluca" (...). Toda a ciência e toda a filosofia são senso comum esclarecido. (...)
A minha primeira tese é, pois, que o nosso ponto de partida é o senso comum e que o nosso grande instrumento para progredir é a crítica".

 

K. Popper (1975), Conhecimento Objectivo, Belo Horizonte, Editora da Universidade de S. Paulo e Itatiaia Limitada, p. 42.

 

• Gaston Bachelard, pelo contrário, considera o senso comum um obstáculo epistemológico, algo que impede a produção de conhecimento científico e com o qual é necessário fazer um corte epistemológico.

 

"A ciência, na sua necessidade de realização como no seu princípio, opõe-se absolutamente à opinião. Se lhe acontece, num aspecto particular, legitimar a opinião, é por outras razões que não aquelas que fundamentam a opinião; de tal maneira que a opinião não tem de direito qualquer razão. A opinião pensa mal; ela não pensa: ela traduz necessidades em conhecimentos. Designando os objectos pela sua utilidade, ela interdiz-se de os conhecer. Nada se pode fundar sobre a opinião: é necessário primeiro destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a superar. Não bastará, por exemplo, rectificá-la em pontos particulares, mantendo, como uma espécie de moral provisória, um conhecimento vulgar provisório. O espírito científico interdiz-nos de ter uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que nós não sabemos formular claramente".


G. Bachelard (1996), La Formation de l'Esprit Scientifique, Paris, J. Vrin, p. 14.



                                                 Lola

1 comentário:

  1. peço por favor que partilhe as respostas das perguntas sobre o primeiro texto, muito obrigada!

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...