Discurso de vitória de Barack Obama - 2008
Boa noite, Chicago.
Se ainda houver alguém que duvida
que a América é o lugar onde todas as coisas são possíveis, que questiona se o
sonho dos nossos fundadores ainda está vivo, que ainda duvida do poder da nossa
democracia, teve esta noite a sua resposta.
É a resposta dada pelas filas de voto que se estendiam
em torno de escolas e igrejas em números que esta nação jamais vira, por
pessoas que esperaram três e quatro horas, muitas pela primeira vez na sua
vida, porque acreditavam que desta vez tinha de ser diferente, que as suas
vozes poderiam fazer essa diferença.
É a resposta dada por jovens e velhos, ricos e pobres,
democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, nativos
americanos, homossexuais, heterossexuais, pessoas com deficiências e pessoas
saudáveis. Americanos que enviaram uma mensagem ao mundo, a de que nunca fomos
apenas um conjunto de indivíduos ou um conjunto de Estados vermelhos e azuis.
Somos e sempre seremos os Estados Unidos da América.
É a resposta que levou aqueles, a quem foi dito
durante tanto tempo e por tantos para serem cínicos, temerosos e hesitantes
quanto àquilo que podemos alcançar, a porem as suas mãos no arco da História e
a dobrá-lo uma vez mais em direcção à esperança num novo dia.
Há muito que isto se anunciava mas esta noite, devido
àquilo que fizemos neste dia, nesta eleição, neste momento definidor, a mudança
chegou à América.
Há pouco recebi um telefonema extraordinariamente
amável do Senador McCain.
O Senador McCain lutou longa e arduamente nesta
campanha. E lutou ainda mais longa e arduamente pelo país que ama. Fez
sacrifícios pela América que muitos de nós não conseguimos sequer imaginar.
Estamos hoje melhor devido aos serviços prestados por este líder corajoso e
altruísta.
Felicito-o e felicito a governadora Palin por tudo
aquilo que alcançaram. Espero vir a trabalhar com eles para renovar a promessa
desta nação nos próximos meses.
Quero agradecer ao meu parceiro neste percurso, um homem
que fez campanha com o seu coração e falou pelos homens e mulheres que
cresceram com ele nas ruas de Scranton e viajaram com ele no comboio para
Delaware, o vice-presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden.
E eu não estaria aqui hoje sem o inabalável apoio da
minha melhor amiga dos últimos 16 anos, a pedra angular da nossa família, o
amor da minha vida, a próxima Primeira Dama do país, Michelle Obama.
Sasha e Malia, amo-vos mais do que poderão imaginar. E
merecem o novo cachorro que virá connosco para a nova Casa Branca.
E embora ela já não esteja entre nós, sei que a minha
avó está a observar-me, juntamente com a família que fez de mim aquilo que sou.
Tenho saudades deles esta noite. Reconheço que a minha dívida para com eles não
tem limites.
Para a minha irmã Maya, a minha irmã Alma, todos os
meus outros irmãos e irmãs, desejo agradecer-vos todo o apoio que me deram.
Estou-vos muito grato.
E ao meu director de campanha, David Plouffe, o
discreto herói desta campanha, que, na minha opinião, concebeu a melhor
campanha política da história dos Estados Unidos da América.
E ao meu director de estratégia, David Axelrod, que me
tem acompanhado em todas as fases do meu percurso.
Para a melhor equipa alguma vez reunida na história da
política: tornaram isto possível e estou-vos eternamente gratos por aquilo que
sacrificaram para o conseguir.
Mas acima de tudo nunca esquecerei a quem pertence
verdadeiramente esta vitória. Ela pertence-vos a vós. Pertence-vos a vós.
Nunca fui o candidato mais provável para este cargo.
Não começámos com muito dinheiro nem muitos apoios. A nossa campanha não foi
delineada nos salões de Washington. Começou nos pátios de Des Moines, em salas
de estar de Concord e nos alpendres de Charleston. Foi construída por homens e
mulheres trabalhadores que, das suas magras economias, retiraram 5 e 10 e 20
dólares para a causa.
Foi sendo fortalecida pelos jovens que rejeitavam o
mito da apatia da sua geração e deixaram as suas casas e famílias em troca de
empregos que ofereciam pouco dinheiro e ainda menos sono.
Foi sendo fortalecida por pessoas menos jovens, que
enfrentaram um frio terrível e um calor sufocante para irem bater às portas de
perfeitos estranhos, e pelos milhões de americanos que se ofereceram como
voluntários, se organizaram e provaram que mais de dois séculos depois, um
governo do povo, pelo povo e para o povo não desaparecera da Terra.
Esta vitória é vossa.
E sei que não fizeram isto apenas para vencer uma
eleição. E sei que não o fizeram por mim.
Fizeram-no porque compreendem a enormidade da tarefa
que nos espera. Porque enquanto estamos aqui a comemorar, sabemos que os
desafios que o amanhã trará são os maiores da nossa vida – duas guerras, uma
planeta ameaçado, a pior crise financeira desde há um século.
Enquanto estamos aqui esta noite, sabemos que há
americanos corajosos a acordarem nos desertos do Iraque e nas montanhas do
Afeganistão para arriscarem as suas vidas por nós.
Há mães e pais que se mantêm acordados depois de os
seus filhos adormecerem a interrogarem-se sobre como irão amortizar a hipoteca,
pagar as contas do médico ou poupar o suficiente para pagar os estudos
universitários dos filhos.
Há novas energias para aproveitar, novos empregos para
serem criados, novas escolas para construir, ameaças para enfrentar e alianças
para reparar.
O caminho à nossa frente vai ser longo. A subida vai
ser íngreme. Podemos não chegar lá num ano ou mesmo numa legislatura. Mas
América, nunca estive tão esperançoso como nesta noite em como chegaremos lá.
Prometo-vos. Nós, enquanto povo, chegaremos lá.
Haverá reveses e falsas partidas. Há muitos que não
concordarão com todas as decisões ou políticas que eu tomar como presidente. E
sabemos que o governo não consegue solucionar todos os problemas.
Mas serei sempre honesto para convosco sobre os
desafios que enfrentarmos. Ouvir-vos-ei, especialmente quando discordarmos. E,
acima de tudo, pedir-vos-ei que adiram à tarefa de refazer esta nação da única
forma como tem sido feita na América desde há 221 anos – pedaço a pedaço,
tijolo a tijolo, e com mãos calejadas.
Aquilo que começou há 21 meses no rigor do Inverno não
pode acabar nesta noite de Outono.
Somente a vitória não constitui a mudança que
pretendemos. É apenas a nossa oportunidade de efectuar essa mudança. E isso não
poderá acontecer se voltarmos à forma como as coisas estavam.
Não poderá acontecer sem vós, sem um novo espírito de
empenho, um novo espírito de sacrifício.
Convoquemos então um novo espírito de patriotismo, de
responsabilidade, em que cada um de nós resolve deitar as mãos à obra e
trabalhar mais esforçadamente, cuidando não só de nós mas de todos.
Recordemos que, se esta crise financeira nos ensinou
alguma coisa, é que não podemos ter uma Wall Street florescente quando as Main
Street sofrem.
Neste país, erguemo-nos ou caímos como uma nação, como
um povo. Resistamos à tentação de retomar o partidarismo, a mesquinhez e a
imaturidade que há tanto tempo envenenam a nossa política.
Recordemos que foi um homem deste Estado que, pela
primeira vez, transportou o estandarte do Partido Republicano até à Casa
Branca, um partido fundado em valores de independência, liberdade individual e
unidade nacional.
São valores que todos nós partilhamos. E embora o
Partido Democrata tenha alcançado uma grande vitória esta noite, fazemo-lo com
humildade e determinação para sarar as divergências que têm atrasado o nosso
progresso.
Como Lincoln disse a uma nação muito mais dividida do
que a nossa, nós não somos inimigos mas amigos. Embora as relações possam estar
tensas, não devem quebrar os nossos laços afectivos.
E àqueles americanos cujo apoio ainda terei de
merecer, posso não ter conquistado o vosso voto esta noite, mas ouço as vossas
vozes. Preciso da vossa ajuda. E serei igualmente o vosso Presidente.
E a todos os que nos observam esta noite para lá das
nossas costas, em parlamentos e palácios, àqueles que estão reunidos em torno
de rádios em cantos esquecidos do mundo, as nossas histórias são únicas mas o
nosso destino é comum, e uma nova era de liderança americana está prestes a
começar.
Aos que querem destruir o mundo: derrotar-vos-emos.
Aos que procuram a paz e a segurança: apoiar-vos-emos. E a todos aqueles que se
interrogavam sobre se o farol da América ainda brilha com a mesma intensidade:
esta noite provámos novamente que a verdadeira força da nossa nação não provém
do poder das nossas armas ou da escala da nossa riqueza, mas da força duradoura
dos nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e uma esperança
inabalável.
É este o verdadeiro génio da América: que a América
pode mudar. A nossa união pode ser aperfeiçoada. O que já alcançámos dá-nos
esperança para aquilo que podemos e devemos alcançar amanhã.
Esta eleição contou com muitas estreias e histórias de
que se irá falar durante várias gerações. Mas aquela em que estou a pensar esta
noite é sobre uma mulher que depositou o seu voto em Atlanta. Ela é muito
parecida com os milhões de pessoas que aguardaram a sua vez para fazer ouvir a
sua voz nestas eleições à excepção de uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.
Ela nasceu apenas uma geração depois da escravatura,
numa época em que não havia automóveis nas estradas nem aviões no céu; em que
uma pessoa como ela não podia votar por duas razões – porque era mulher e por
causa da cor da sua pele.
E esta noite penso em tudo o que ela viu ao longo do
seu século de vida na América – a angústia e a esperança; a luta e o progresso;
as alturas em que nos foi dito que não podíamos e as pessoas que não desistiram
do credo americano: Sim, podemos.
Numa época em que as vozes das mulheres eram silenciadas
e as suas esperanças destruídas, ela viveu o suficiente para se erguer, falar e
votar. Sim, podemos.
Quando havia desespero e depressão em todo o país, ela
viu uma nação vencer o seu próprio medo com um New Deal, novos empregos, e um
novo sentimento de um objectivo em comum. Sim, podemos.
Quando as bombas caíam no nosso porto e a tirania
ameaçava o mundo, ela esteve ali para testemunhar uma geração que alcançou a
grandeza e salvou uma democracia. Sim, podemos.
Ela viu os autocarros em Montgomery, as mangueiras em
Birmingham, uma ponte em Selma, e um pregador de Atlanta que dizia às pessoas
que elas conseguiriam triunfar. Sim, podemos.
Um homem pisou a Lua, um muro caiu em Berlim, um mundo
ficou ligado pela nossa ciência e imaginação.
E este ano, nestas eleições, ela tocou com o seu dedo
num ecrã e votou, porque ao fim de 106 anos na América, tendo atravessado as
horas mais felizes e as horas mais sombrias, ela sabe como a América pode
mudar.
Sim, podemos.
América, percorremos um longo caminho. Vimos tanto.
Mas ainda há muito mais para fazer. Por isso, esta noite, perguntemos a nós
próprios – se os nossos filhos viverem até ao próximo século, se as minhas
filhas tiverem a sorte de viver tantos anos como Ann Nixon Cooper, que mudança
é que verão? Que progressos teremos nós feito?
Esta é a nossa oportunidade de responder a essa
chamada. Este é o nosso momento.
Este é o nosso tempo para pôr o nosso povo de novo a
trabalhar e abrir portas de oportunidade para as nossas crianças; para
restaurar a prosperidade e promover a causa da paz; para recuperar o sonho
americano e reafirmar aquela verdade fundamental de que somos um só feito de
muitos e que, enquanto respirarmos, temos esperança. E quando nos confrontarmos
com cinismo e dúvidas e com aqueles que nos dizem que não podemos,
responderemos com o credo intemporal que condensa o espírito de um povo: Sim,
podemos.
Muito obrigado. Deus vos abençoe. E Deus abençoe os
Estados Unidos da América!
Sem comentários:
Enviar um comentário