domingo, 19 de janeiro de 2014

Publicidade - Olivier Toscani



Publicidade - Oliviero Toscani


Quem é?


Oliviero Toscani nasceu em Milão, no dia 28 de fevereiro de 1942, filho de Fedele Toscani com Dolores Cantoni, era o caçula de três filhos. Suas irmãs chamavam-se Brunella e Marirosa. Toscani passou sua infância num apartamento com varanda, na esquina da rua Como. Quando pequeno, dormia com suas irmãs, depois no sofá da sala. Seus pais tinham o quarto deles. Assim como para a maior parte das famílias italianas, a sua vida comum se passava na cozinha. Brincava muito na rua e no pátio. No verão ia à colônia de férias na praia, em Rimini. Até se tornar adulto viveu em meio a três mães, foi sempre afeiçoado as suas irmãs, que lhe tinham mais como filho do que como irmão. Sua mãe era uma clássica proletária aspirante à pequena burguesia, com um incrível senso do dever, era uma mulher que começou a trabalhar aos seis anos, desenvolveu uma atenção particular para tudo que é bem-feito. Seu pai era repórter fotográfico do Corriere Della Será. Fundou a Publiofoto, a primeira agência fotográfica italiana. Em 1928, com seu amigo Vincenzo Carrese, começou a vender, aos jornais de Milão, as fotos que vinham do exterior para a Itália. Depois do exterior começou a encomendar fotos de acontecimentos italianos. Enquanto Carrese comprava e vendia, Fedele Toscani começou a fotografar. Fotografava tudo, do concurso de Miss Itália aos homicídios, da inauguração de uma exposição às partidas de futebol. Com seu pai, Toscani conheceu desde criança todos os maiores jornalistas do Corriere della Será, de Alberto Cavallari a Indro Montanelli, de Arrigo de Benedetti a Dino Buzzati. A sua educação era voltada para torná-lo uma pessoa independente, 


“Meu pai me educou para ter grande independência. Cada um de nós era responsável por si mesmo. Não tive problemas que se tem com um pai que enche o saco; ele confiava em mim” (TOSCANI, 1996). 

Toscani acreditava que era possível formar uma família. Com seus filhos experimentou o maximo de distanciamento e o maximo de integração. Com os filhos Alexander, Olívia e Sabrina não conseguiu, com Rocco, Lola e Ali, filhos de sua mulher Kirsti Moseng, teve asensação de ter quase conseguido. Kirsti, sua ultima esposa, é uma norueguesa, professorade crianças excepcionais. Segundo Toscani, foi feita de encomenda.

“Se tivesse podido desenha-lá ou faze-la sob medida para mim, provavelmente teria omitido certos detalhes que, no entanto ela tem” (Toscani, 1996: 174)

Com sua família vive num domínio em Toscana. Seus passatempos favoritos são as culturas das vinhas e das oliveiras e a criação de cavalos Appaloosa. A fotografia para ele tem o “F” maiúsculo. O lado documentário da fotografia é o que mais o fascina

. “No fundo não existem duas fotos idênticas. Se  algumas imagens mais fortes que as outras é por que quem as faz é mais visionário que os outros.” (Toscani, 1996: 13).

Para ele, nem sempre um fotografo, com seus olhos, consegue fazer com que os outros vejam que conseguiriam ver. Quando consegue, torna-se depositário de uma grande privilegio. Quanto à máquina fotográfica deve ser sempre colocada atrás da cabeça e não adiante. Ou seja, antes de tirar a fotografia era preciso enxergar, sentir, analisar as reações e, em seguida, fotografar. 
Na escola secundária experimentou a sensação particular que une o desinteresse à consciência de estar perdendo tempo. O que acontecia fora da janela da classe era infinitamente mais interessante. Teve a primeira relação positiva com a escola aos 19 anos, quando seu cunhado, Aldo Ballo, o aconselhou a fazer matrìcula na Kunstgewerbeschule, de Zurique. Era preciso prestar exames que duravam uma semana, sobre as famosas teorizações das cores de Johannes Ittem (1888-1967). Ele tinha pouquíssima esperança de ser admitido, jamais soube desenhar. No entanto, seu pai havia lhe dito: “Se quiser exercer essa profissão, é melhor ir para a escola, em vez de fazê-lo como nós, ao acaso.” Assim, por acaso, também se tornou fotógrafo. Quando chegou a carta com o resultado o tradutor informou para o pai que seu filho fora admitido no curso de fotografia, tendo passado 
brilhantemente. Passaram cem, de quinhentos candidatos. No segundo ano, depois de outraprova, as vagas eram somente seis. Sua admissão surpreendeu a ele mesmo. Toscani mudou-se para Zurique, aprendeu alemão, permaneceu lá durante quatro anos. Esse tempo fora, segundo o próprio, importantíssimo para sua formação. Seus professores foram Walter Binder e Serge Stauffer.
Primeiros Trabalhos 

Quando Oliviero Toscani ganhou sua primeira maquina fotográfica de seu pai devia ter cerca de seis anos. Foi uma da marca Rondine da Ferrania. Em seguida fotografou sua mãe e seus bichos de pelúcia que tinha na sua casa. Com aquela máquina também fotografava tudo, na escola, nas excursões. A primeira emoção de ver sua foto publicada foi aos 14 anos, em julho de 1957, quando seu pai o tinha levado para uma viagem a Rimini, para fotografar o concurso da Miss Itália. Durante a viagem, o telefonaram da agência Corriere della Sera dizendo que, 
naquele dia, levariam os restos mortais de Mussoline para a Romagne em Predappio, próximo de Rimini, onde ele seria definitivamente sepultado. Era um furo,  ninguém sabia o destino do corpo de Mussolini, roubado pelos fascistas em 1945. O pai de Toscani  contou -lhe que havia fotografado Mussoline vivo e morto. Quando finalmente chegaram ao cemitério seu pai deu-lhe uma maquina da marca Leica e lhe disse: “Se vir alguma coisa interessante, fotografe”. Segundo Toscani (1995), naquele dia havia uma grande confusão, agitação. Num certo instante, uma mulher esceu de um carro negro que chegara derrepente, tinha o rosto coberto por um véu, estava vestida de preto. Dois policiais seguravam - lá pelo braço e a encaminharam para a sepultura. Toscani se aproximou do grupo, ficando atrás de uma grade. Alguns policiais perceberam que ele tinha uma maquina fotográfica, aproximaram-se e empurraram-no para longe da mulher, caindo em direção em que ela vinha Toscani disparou sua maquina numa fração de segundos, antes que a mulher desaparecesse dentro da capela. Enquanto ele fotografava seu pai também fotografava a cena do alto do tumulo. Num carro a toda velocidade partirão os dois rumo a Milão, para revelar os filmes. Para contentar o filho, o Sr. Fedele também revelou o filme de Toscani, e se interessou pela ultima foto, olhou a em silencio e em seguida disse: “Eis a foto de hoje é sua” e foi assim que a foto de Raquel Mussoline deu a volta ao mundo. 




Citações acerca...


... do seu pai


Acordavam-no de noite: o encontro de um corpo, um avião que caiu”. Ele 
fazia a foto que no dia seguinte saia no jornal, Quando de manhã, na 
escola, o professor abria o jornal, eu já conhecia a foto impressa na primeira 
página. Talvez seja disso que derive a minha presunção: desde pequeno, 
me sentia “na frente (TOSCANI, 1996). 


...dos publicitarios

Os publicitários que pretendem possuir a “nova ciência da comunicação” 
declaram-se há trinta anos capazes de transformar a gigantesca mina de 
ouro dos investidores numa magnífica arte de vender. Na verdade, 
largamente ludibriados, eles continuam a abarrotar o planeta inteiro com o 
mesmo mundo de imagens bestificantes. Vejam, por exemplo, na Europa os 
últimos filmes da Peugeot, com seus modelos 605 de lataria cromada e 
reluzente, dirigidos por executivos jovens e conquistadores. Todos já vimos 
pelo menos umas cem vezes em dez anos, qualquer que fosse a marca, 
esses automóveis deslizando ao sol poente. Que lugar comum! Nenhuma 
criatividade (TOSCANI, 2005: 23). 


...da publicidade 

[...] cobre atualmente cada esquina de rua, as praças históricas, os jardins, 
públicos, os pontos de ônibus, o mêtro, os aeroportos, as estações de trem, 
os jornais, os cafés, as farmácias, as tabacarias, os isqueiros, os cartões 
magnéticos de telefone. Interrompe os filmes na televisão, invade as praias, 
os esportes, as roupas, acha-se impressa até nas solas dos nossos 
sapatos, ocupa todo o nosso universo, todo o planeta! É impossível esboçar 
um passo, ligar o rádio, abrir uma correspondência, ler um jornal sem dar de 
cara com a mamãe publicidade. Ela está por toda parte. É o irmãozinho, 
sempre sorridente! (TOSCANI, 2005:22). 


... da ilusão

A publicidade não vende produtos nem idéias, mas um modelo falsificado e 
hipnótico da felicidade. Essa ambiência ociosa e agradável não é mais o 
que o prazer de viver segundo as normas idealizadas dos consumidores 
ricos. É preciso seduzir o grande publico com um modelo de existência cujo 
padrão exige uma renovação constante do guarda roupa, dos moveis, 
televisão, carro, eletrodomésticos, brinquedos das crianças, todos os 
objetos do dia a dia. Mesmo que não sejam verdadeiramente úteis. A 
publicidade não para de repetir nas suas musiquinhas e slogans: usem 
estes novos relógios de pulso das atrizes de cinema, utilizem este 
desodorante de aroma silvestre e vocês farão parte da elite social, 
conhecerão a “verdadeira vida”, descobrirão o “gosto do essencial” e 
permanecerão jovens, ricos e belos. Ela repete tais simplismos até a 
exaustão (TOSCANI, 2005:26). 


... do dinheiro 

A publicidade raramente ensina alguma coisa. Ela é somente um 
martelamento infinito, destinado a girar capitais. Cada um de nos paga uma 
taxa de publicidade, incluída no preço do produto propagandeiro. Deveria 
ser uma espécie de imperativo moral procurar utilizar este dinheiro em 
alguma coisa útil. Por exemplo, é um paradoxo a existência da UPA, a 
União dos Publicitários Associados, presidida por Giulio Malgara, que 
administra o nosso dinheiro, o que nós pagamos como taxa sobre o produto 
propagandeado. O que Malgara faz com esse dinheiro? Utiliza-o talvez para 
uma ação beneficente? Não, a União dos Publicitários Associados protege 
os que fazem publicidade, fingindo controla-los através de um organismo: o 
júri de Audisciplina, cuja função é simplesmente garantir a sobrevivência do 
sistema (TOSCANI, 1996:49). 

...da beleza

Aleluia! Entremos no melhor dos mundos, o paraíso sobre a terra, o reino da 
felicidade, do êxito assegurado e da juventude eterna. Nesta região mágica 
de céu sempre azul, nenhuma poluição macula o verde viçoso das 
folhagens, nenhuma marquinha estraga a pele vivamente rosada das 
meninas, nenhum arranhão desfigura a lataria rebrilhante dos veículos, Nas 
estradas desertas, mulheres jovens, de belas pernas bronzeadas, dirigem 
carrões rutilantes que mal acabaram de sair da lavagem automática. Elas 
ignoram os acidentes, a cerração, os controladores de velocidade, a 
possibilidade de furar o pneu. Deslizam pelos engarrafamentos das grandes 
cidades como verdadeiras enguias, não atravessam nunca os bairros 
sinistros, evitam todos os lavadores de para – brisas morenos dos 
cruzamentos e, silenciosas, dirigen-se para apartamentos de mobília 
caríssima ou para suntuosas casas de veraneio (TOSCANI, 2005:13). 



...da comunicação

Os publicitários não cumprem a sua função: comunicar. Carecem de 
ousadia e de senso moral. Não refletem sobre o papel social, publico e 
educativo da empresa que lhes confia um orçamento. Preferem depender 
centenas de milhares de dólares para colocar alguns cavalos galopando 
atrás de um Citroem, sem se preocuparem com todos aqueles que são 
obrigados a praticar rodeio nas estradas. Não querem pensar nem informar 
o publico, com medo de perder anunciantes (TOSCANI, 2005: 25). 


...do mal


A publicidade contemporânea é sem duvida preocupante, por que não é 
criada e utilizada para o benefício da sociedade e sim para o incentivo do 

consumismo desenfreado. Vejamos agora a descrição de cada crime segundo 
Toscani. O crime de malversação colossal citado pelo autor faz referência ao fato da 
publicidade ser armada de um colossal financiamento que após 30 anos continua 
sem produzir uma comunicação realmente de qualidade.


Acho apavorante que todo esse imenso espaço de expressão, de exposição 
e de afixação de cartazes, o maior museu vivo de arte moderna cem mil 
vezes o Beaubourg e o Museu de arte Contemporâneo de Nova York 
reunidos, esses milhares de quilômetros quadrados de cartazes mostrados 
no mundo inteiro, esses painéis gigantes, esses slogans pintado, essas 
centenas de milhares de paginas de jornal impressas, esses milhões de 
horas de televisão, de mensagens radiofônicas, fiquem reservados a esses 
paradisíaco mundo de imagens imbecil, irreal e mentiroso. Uma 
comunicação sem qualquer utilidade social. Sem força, Sem Impacto. Sem 
sentido (TOSCANI, 2005: 23).


...da agonia

Durante a agonia dos acidentados nas estradas, a venda deve continuar. 
Durante a agonia dos que sofrem de câncer do pulmão, da língua, do 
esôfago, daqueles que experimentam as conseqüências de uma vida inteira 
dedicada aos cigarros de faroeste, a propaganda tabagista deve continuar. 
Durante a agonia de milhões de alcoólicos americanos e europeus, que 
arruinaram o sistema de saúde, de seus países, invadem os leitos de 
hospital, abarrotam as prisões, a venda deve continuar, e a publicidade nos 
excita com belas garotas abraçando garrafas (TOSCANI, 1995: 25). 


...da Televisão


Sou pela eliminação total da televisão (...). Sou contrario até a posse do 

aparelho, por que sei que perderia muito tempo sem nenhum resultado. 
Quando há uma televisão ligada, fico bloqueado e sou capturado è esta a 
influencia negativa que a televisão exerce sobre todos. A TV interrompe as 
ações, cria á ilusão de que olhando para ela se aprende alguma coisa. No 
entanto, só se perde tempo, o tempo do fazer que é fundamental e é a única
maneira de se aprender. Acho que a televisão entre todos os aparatos 
tecnológicos deste século, é o que menos serviu ao homem... (TOSCANI, 
1996:154).


Para Toscani a publicidade é uma forma de arte, que deve ser apreciada 
não apenas em lugares fechados. 
No que se referi a mim não teria sentido expor numa galeria ou num museu 
se, contemporaneamente, o que se pode ver nesses lugares fechados, 
“deputados” a arte, não pudesse ser visto nos jornais, nas ruas e nas praças 
(TOSCANI, 1996:98). 



Pode se chegar até mesmo matar por causa da publicidade. 

Pietro Maso, que matou os pais para receber o dinheiro da herança e assim 
possuir todos os símbolos que o universo da televisão lhe oferecia. Conhece 
37 marcas de perfumes masculinos. E há toda uma patologia da vida social 
ligada as agencias que cedo ou tarde será exposta no processo de 
Nurembergue da publicidade (TOSCANI, 1996: 48). 


Para Toscani as campanhas da Benetton são: 

...examinadas, crivadas, despidas, investigadas, saqueadas, Cada pessoa 
encontra os motivos mais validos para insistir nas suas posições, para 
formular juízos definitivos. Mas as fotos não têm o que esconder, são 
explicitas e claras. A Benetton sobrepõe sua marca por que optou por 
comunicar e não convencer. A Benetton não se apresenta como paladino 
das “boas causas”, mas busca muito mais estimular uma discussão critica 
no interior da comunicação publicitária; introduzir imagens de realidade num 
sistema que tem, ou teve, o imperativo categórico de desnaturar a realidade, 
falsificando-a, tornando-a mais bela. Eliminando os conflitos existentes 
(TOSCANI, 1996: 59). 


[...] A imagem que exponho na Bienal não tem sentido se não estiver 
simultaneamente “planificada” como uma foto publicitária normal. Todo o 
meu trabalho sempre foi ligado à comunicação. È claro que não deixarei de 
ser fotografo por causa do convite para a Bienal, que me gratifica e  me 
“enobrece” como artista. Não tenho nenhuma necessidade de “promoção 
social”. A moldura prestigiosa da Bienal não passa de uma circunstancia, 
um lugar diferente para falar a mesma língua que sempre falei nas ruas e 
praças de todo o mundo. O sentido desta imagem está no uso publicitário 
que se fará dela. Em todo o “transversalismo” que domina a arte 
contemporânea, eis uma foto absolutamente “reta” e em “equilíbrio”; eis a 
imagem límpida de uma parte importante do que nós somos. A 
nacionalidade, a cor da pele e o sexo não podem ser uma opção. Nasce-se 
sem poder ser artífice do próprio destino. Cada um é único e irrepetível. 
Quis retratar, como em tantas fotos para documentos, o elemento através 
do qual não podemos ser reconhecidos e até colocados socialmente. Pelo 
sexo não[...] (TOSCANI, 1996:102).


TOSCANI, O. A publicidade é um cadáver que nos faz sorrir. Rio de Janeiro: 

Ediouro, 2005. 
TOSCANI, O. Tchau, mãe. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1996. 



O Livro


 "A publicidade é um cadáver que nos sorri" 
 Oliviero Toscani



O livro “A publicidade é um cadáver que nos sorri”, foi escrito pelo fotógrafo italiano, Oliviero Toscani, em 1995. O autor conta no livro histórias de suas ousadas e polêmicas campanhas publicitárias que repercutiram no mundo. Sua paixão por fotografia começou quando ele ganhou a primeira câmera fotográfica do pai, que era repórter fotográfico do jornal italiano “Corriere della Sera”.

No início do livro, Toscani começa a descrever a publicidade como um “crime contra a inteligência” e cita inúmeros casos e exemplos de fracasso dos anúncios publicitários, como: a falta de criatividade; a inutilidade social; as mentiras; a exclusão e o racismo; a persuasão.

Assim como o jornalismo tem seu papel social, por quê a publicidade não pode fazer o mesmo? Do começo ao fim da obra, o autor propõe uma reflexão sobre o papel da publicidade. A maioria dos seus anúncios foram criados para a Benetton, sempre indo além da lógica da maioria dos publicitários da época, muitas vezes contrariando os padrões e quebrando tabus.

A guerra, o racismo e a SIDA sempre estiveram presentes nos seus anúncios. Para Oliviero Toscani, a publicidade é mais do que estimular a venda e o capitalismo, é mostrar assuntos que são de interesse da população que estão além do falso glamour e falsa felicidade abordadas nas propagandas.

Apesar do livro ter sido lançado há 14 anos, observa-se que pouca coisa mudou no ramo publicitário. Os publicitários parecem seguir a mesma “fórmula de sucesso”, mostrar algo que seja agradável e que não provoque a reflexão, sendo o lucro e a satisfação dos clientes prioridades. 

O que é mais importante para você, ajudar as pessoas a enfrentar a realidade ou fazer com que elas vivam no mundo perfeito e utópico mostrado nas propagandas?





 "A publicidade é um cadáver que nos sorri" 
 Oliviero Toscani

No seu livro  Oliviero Toscani apresenta o que seriam os 11 crimes da Publicidade Contemporânea contra a sociedade.
Quero abrir o processo de Nuremberg da publicidade. Sob que acusações? 

CRIME DE MALVERSAÇÃO DE SOMAS COLOSSAIS.
CRIME DE INUTILIDADE SOCIAL. 
CRIME DE MENTIRA. 
CRIME CONTRA INTELIGENCIA. 
CRIME DE PERSUASÃO OCULTA. 
CRIME DE ADORAÇÃO ÀS BOBAGENS. 
CRIME DE EXCLUSÃO E DE RACISMO. 
CRIME CONTRA A PAZ CIVIL. 
CRIME CONTRA A LINGUAGEM.  
CRIME CONTRA A CRIATIVIDADE. 
CRIME DE PILAHAGEM. 
(TOSCANI, 2005: 21). 



Toscani foi o primeiro a ter coragem de denunciar, tão bravamente.Observou  o excesso de vaidade no vazio da publicidade e optou por um choque.


- SIDA: “As reações do grande público mais exacerbadas... com o cartaz da Benetton do outono de 1993, mostrando uma pele tatuada com a inscrição HIV POSITIVO”. P. 79


- GUERRA DO GOLFO: “Concebi a foto de uma criança que acabava de nascer, nua, coberta de placenta... Via nisso, em plena guerra do Golfo..., uma imagem de esperança”. P. 55

- RACISMO E EXCLUSÃO: “O primeiro cartaz que despertou uma polêmica mundial foi o de um bebê branco nos braços de uma mulher negra”. P. 47

- RELIGIÃO: “Cartaz de um padre beijando uma freira, para a coleção outono/inverno 1991-1992”. 

Isso gerou propaganda ideal, boca-a-boca. Quando que por um mecanismo de destaque psicológico obriga os comentadores a expor-se, a opinar, a projetar da foto seus grandes medos, inconscientes. Quando cada um do seu público-alvo interpreta o significado que tirou da foto, projeta suas fobias de forma a sentir-se grande cúmplice de Toscani, co-autor da construção do sentido; um tipo de interatividade rara até mesmo nas artes atuais.

Toscani insinua a questão de que se Da Vinci fosse vivo hoje, se pintaria quadros a óleo ou se colocaria sua obra na mídia, para ser democraticamente usufruído por milhares de pessoas. Conhecendo o caráter público de diversas obras dele, a conclusão é favorável a Toscani enquanto artista, que distribui sua obra gratuitamente ao público no outdoors das cidades.
Oliviero Toscani não é inocente, nem ingênuo, longe disso. Toscani tem plena consciência do seu projeto em andamento, de seus efeitos excelentes, utilizava reportagens jornalísticas em sua criações.

O outdoor das roupas do soldado da guerra da Bósnia foi condenado pelo júri de autodisciplina publicitária da Itália, pois o soldado croata Marinko Gagro faleceu de um estilhaço de granada na cabeça, e a foto de Toscani das roupas dele mostra claramente furos de bala no peito e manchas de sangue fresco que não são indícios verdadeiros da real “causa mortis” de Marinko Gagro, além da disposição das roupas remeterem à expressão de Cristo crucificado. O furo de bala localiza-se exatamente no peito indicando a quinta chaga de Cristo. Gojko Grago, pai de Marinko, que doou as roupas do filho à Cruz Vermelha, afirma nunca ter visto as roupas com as quais ele faleceu e condenou a foto de Toscani, que se defendeu alegando ter colocado as roupas que recebeu na posição da foto, mas que estas já estavam manchadas e com o furo no peito.

Toscani é um marco histórico que não pode ser ignorado, pois sua obra navega nas fronteiras entre a arte e a mídia e estimula as pessoas. Talvez, como artista, tivesse conscientemente a proposta da não padronização que tanto pregou em suas críticas à publicidade e à mídia... A meu ver, o outdoor de Toscani tira o consumidor deste “estado massa” para provocá-lo a pensar e questionar como público ou cidadão maduro.
Desta forma, Toscani apresenta-se como um artista engajado nas causas contemporâneas, um cara que propaga conceitos, idéias, forçando a tomada de atitudes e a construção de opiniões próprias, muito mais que um mero publicitário, como um artista em sintonia com sua mídia global, intuitivo para criar obras abertas repletas de conteúdos e propagar a marca de seu cliente, Luciano Benetton.

Percebi ao final da leitura que, na verdade, Toscani não reinventou a publicidade coisa nenhuma como ele deixa transparecer em seu texto; ele simplesmente encontrou outra das inúmeras formas de se fazer publicidade. É um consenso geral que sua maneira de anunciar não é usual, deste ponto para dizermos que sua fórmula é a ideal e a melhor entre todas as outras como ele mesmo prega, é um pulo enorme. Defino sua fórmula como uma publicidade carregada de forte conteúdo gerador de notícia, que mistura publicidade e imprensa. Todas as suas campanhas iniciais viraram debates entre jornalistas, publicitários e formadores de opinião em geral. Estes debates logo caíram a público, evidenciados em artigos escritos em jornais, revistas, etc. Todas essas linhas escritas ou ditas foram acompanhadas do nome de Toscani e ao mesmo tempo da Benetton, ou seja, publicidade gratuita para ambos. Toscani disse: “não vendo pulôveres da Benetton, o que estou realmente procurando é defender uma nova concepção da arte fotográfica e publicitária”. Mas instituiu uma imagem muito forte da Benetton e de seu conceito “United Colors”.

Oliviero Toscani teve uma grande idéia ao atribuir responsabilidades à propaganda. Concordo que por estar à publicidade presente em nossa vida de tal maneira, ela deva informar e servir a certas causas. Toscani conseguiu adaptar este conceito em sua campanha “United Colors of Benetton” com sucesso, sem esquecer que mesmo assim, ele serviu a máxima publicitária, concluída pela venda e pelo negócio.
Devemos, com cada cliente, pensar a melhor maneira de resolver seus problemas de comunicação, visando os objetivos reais dos mesmos. Para alcançarmos os resultados esperados, podemos utilizar desde os conceitos mais crus da propaganda até as novidades propostas por Toscani. Reinventar, inovar: não é isso que se espera de cada agência e seus profissionais?
















































Para ver mais..


 ...fotos de Oliviero Toscani, consultar, no site o fotógrafo 


http://www.olivierotoscanistudio.com/


Lola


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