domingo, 16 de março de 2014

Descartes, Hume e Kant






Descartes, Hume e Kant


Como vê Descartes o conhecimento?


Será o conhecimento certo ou não? Será que podemos ter a certeza absoluta de algo? De facto o ser humano temnecessidade de certeza em muitas das situações do dia a dia. 
Descartes, tomou a posição de que o conhecimento é uma certeza indubitável.
Para atingir o conhecimento, Descartes desenvolveu o seu próprio método baseado no rigor das Matamaticas, para ele ciências indubitaveis.
Toma, então uma atitude de duvida que se deve caracterizar comometódica, ou seja, é um caminho, e coloca-se sempre no início de um processo epistemológico de reflexão e nunca num fim. 
No Discurso do Método, afirma que para se chegar ao conhecimento é necessário que se negue “como absolutamente falso” tudo aquilo em possamos imaginar a menor dúvida desde a existência de um mundo ou de dois mais três serem cinco. 
Verificamos então que elabora o seu método para chegar ao conhecimento e que é  através deste método que Descartes chega às suas três intuições: a existência do ser pensante ou cogito -  “Penso, logo existo”, a existência de Deus (apresenta  três provas racionais) e o conhecimento do mundo.
Descartes, dá também grande importância à dimensão metafísica , pois, é esta que sustenta toda a ciência -  Deus é o fundamento e garante de toda a verdade. 
A razão não opera com base nos sentidos, que  apenas conduzem a erros e confusões permanentes mas em operações que conduzem à verdade e à certeza: a intuição e a dedução. O que as distingue?

Por intuição entendo não a confiança flutuante que dão os sentidos ou o juízo enganador de uma imaginação de más construções, mas o conceito que a inteligência pura e atenta forma com tanta facilidade e distinção que não resta absolutamente nenhuma dúvida sobre aquilo que compreendemos; (…)
Descartes, Regras para a Direcção do Espírito
Segundo Descartes, a intuição é então o acto puro  através do qual o Homem aprende noções imediatas das quais não tem a mínima dúvida.
Já a dedução é o encadeamento das intuições que o Homem relaciona e assim consegue chegar a novas relações e a novas conclusões.


Como vê Hume o conhecimento?


Aqui está colocada, de maneira sintética, a forma como Hume apresenta seu ponto de vista sobre as percepções da mente humana, separadas em dois géneros: impressões e ideias. A diferença entre as percepções e idéias são o grau de força e a vivacidade que impactam na mente. As imagens mais fortes e violentas são as impressões. As mais fracas são as idéias. Tanto as idéias como as impressões podem ser classificadas em complexas ou simples: se pode ser distinta em varias partes é complexa; se é indissolúvel: simples. Conforme PEREIRA:



“Há grande semelhança entre nossas impressões e idéias em todos os pontos, exceto em seus graus de força e vividez, de forma que as idéias pareçam ser os reflexos das impressões. É através das percepções de simples e complexas que poderemos limitar a conclusão da semelhança entre as impressões e as idéias. As idéias complexas não necessitam possuir impressões que lhes correspondam inteiramente, ou seja, posso possuir a idéia de um lugar conhecido com muros de ouro e pedras de rubi, utilizando assim duas idéias para formar uma só coisa; e nossas impressões complexas nunca são copiadas de maneira exata: mesmo que tenhamos visto uma cidade, somos incapazes de guardar todas as suas ruas e aspectos, nitidamente. Não há, portanto, uma regra universalmente verdadeira de que nossas impressões sejam cópias exatas das nossas idéias complexas.Quanto às percepções simples, Hume afirma que “a regra não comporta exceção, e que toda idéia simples tem uma impressão simples que se assemelha a ela; e toda impressão simples tem uma idéia correspondente” (HUME in PEREIRA)”


Dada esta tese, Hume crê que é a partir da experiência que se formam as idéias  
Neste ponto precisamos trazer o conceito de idéia em Hume:

Se tomarmos inato por “natural”, então, segundo o autor, todas as percepções da mente serão inatas ou naturais. Porém, se admitirmos os termos “inato” e “impressões” tais como definidos por ele, “todas as nossas percepções são inatas e nenhuma de nossas idéias o é” (HUME in PEREIRA).


Como vê Kant o conhecimento?



Kant apresenta na sua dissertação a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível, ali estão expostos diversos conceitos que serão apresentados posteriormente na sua primeira Critica. 

Segue alguns destes conceitos por PEREIRA:

Ele começa por apresentar os conceitos de simples e mundo, o primeiro sendo uma parte, o segundo um todo. Uma vez dadas as partes, torna-se necessário conceber a composição do todo por meio de uma noção abstrata do conhecimento. Em seguida, tratasse de elaborar essa noção geral, mediante a faculdade de conhecer sensitiva, como um certo problema da razão, ou seja, trata-se de representá-lo concretamente para si por meio de uma intuição distinta.

A representação é feita mediante o conceito de composição em geral, à medida que várias coisas estão contidas nele, ou seja, mediante as idéias universais do entendimento; a representação é fundada nas condições do tempo: somando-se sucessivamente uma parte a outra, o conceito de composto é primeiramente possível mediante a síntese.

Quanto a esta, Kant a apresenta por meio de duas definições: qualitativa e quantitativa. A primeira indica uma progressão da condição para o condicionado na série dos subordinados; a segunda é uma progressão da parte dada para o todo, através dos complementos daquela, na série dos coordenados.

Apresentados os conceitos de simples/todo e contínuo/infinito com a finalidade de ilustrar a profundidade do pensamento kantiano, temos ainda as formas como o contato com o conhecimento é possível. Kant crê que o conhecimento divino é um e o humano é outro, pois o conhecimento humano está estabelecido dentro dos limites de tempo e espaço. Aqui ele apresenta a diferença entre o que é irrepresentável e o que é ininteligível. Para o prussiano, o que é irrepresentável para o homem pode ser inteligível para um poder que exceda o homem. (PEREIRA).

Kant concede ao mundo uma forma essencial, pois somente isso explicaria o porquê de o mundo permanecer o mesmo sem ser corrompido pelos estados mutáveis, pois qualquer mudança suporia a identidade do sujeito, cujas determinações sucedem umas às outras. (PEREIRA)

Este ponto já é suficiente para que possamos perceber, ao menos um ponto da crítica de Kant a Hume. Mas avancemos mais um pouco para o conceito que Kant faz do tempo e do espaço:


“estas noções não são absolutamente racionais, nem são idéias objetivas de qualquer nexo, mas fenômenos [...] elas dão testemunho de algum princípio comum no nexo universal, mas não o explicam” (KANT, 1985, p. 39). (PEREIRA)



A idéia de tempo, segundo Kant, não nasce dos sentidos, mas é por eles suposta. As coisas que são dadas nos sentidos não poderiam ser representadas, senão mediante a idéia de tempo. A idéia de tempo é uma intuição pura, pois é concebida antes de toda a sensação. O conceito de tempo se funda numa lei interna da mente e não numa intuição inata, e, desse modo, só pelo poder dos sentidos se provoca aquele ato do espírito que coordena as suas sensações. (PEREIRA)

Também quanto ao espaço o prussiano se coloca da mesma forma que em relação ao tempo. Colocando o espaço como algo independente da experiência, subjetivo e ideal.

O espaço não é algo objetivo e real, nem substância nem acidente, nem relação; mas algo subjetivo e ideal, saído da natureza da mente por uma lei estável, à maneira de um esquema mediante o qual ela coordena para si absolutamente todas as coisas que são externamente sentidas (KANT, 1985, p. 64 in PEREIRA).

Com relação ao espaço, Kant afirma ainda que as coisas não poderiam aparecer ao espírito, a não ser “por intermédio de uma capacidade do espírito que coordena todas as sensações segundo uma lei estável inerente à sua natureza” (KANT, 1985, p.65 – , dada de modo originário à mente. (PEREIRA)

Para Kant, a aparência  transforma-se em experiência através da reflexão, usando o entendimento lógico. O entendimento tem um uso real e um uso lógico. O real tem inteligibilidade em mecanismos internos e inatos da alma. O Lógico está submetido a uma construção hierárquica, logo “conceitos intelectuais, dados pelo uso real do entendimento, são dados por sua própria natureza, não contendo forma alguma e nenhuma relação com o conhecimento sensitivo como tal.” (PEREIRA). Daí Kant concilia através da operação coordenadora da sensibilidade que requer “tanto a afecção externa (a impressão através do objeto dado) quanto a determinação transcendental (a afecção interna através da síntese categorial). O lado intelectual situa-se na índole sintético-originária da mente humana; já o sensível, na empírica do objeto que é “dado”. (PEREIRA)

Kant crê que o conhecimento começa com a experiência, embora ele defenda que não se limita à experiência. Daí o seu apriorismo: “uma espécie de conhecimento que é independe nte da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos”


CONCLUSÃO

Kant estabelece criticas a Hume principalmente por sua forma de posicionar-se em relação ao conhecimento. Para o prussiano, não era possível que o conhecimento se limitasse, unicamente, à experiência. Kant não descartava a importância do empírico para a formação do conhecimento, apenas não sustentava que o conhecimento terminasse aí.

Kant desenvolveu aprofundados trabalhos procurando a estrutura em que se processa o conhecimento. Está claro em Kant uma necessidade de remeter o ser humano para uma explicação dogmática, onde existe um mundo posto e inalterável. Conseqüentemente é necessária a recorrência a uma divindade para que se possa justificar este posicionamento.

Hume, enquanto ateu, não podia recorrer a este tipo de explicação. 



David Hume procurou manter a discussão no nível empírico, escapando assim de explicações que estivessem fora do ser humano e de uma realidade pré existente.



BIBLIOGRAFIA
PEREIRA, Adriana. Hume e Kant a Respeito do Inato. Revista de Iniciação Cientifica da FFC, vol. 4, nº 3. 2004
CHAVES, Eduardo O. C. David Hume e a Questão Básica da Crítica a Razão Pura. Outubro/2005. Disponível emhttp://www.cfh.ufsc.br/~wfil/hume2.htm
WIKIPEDIA, A enciclopédia livre. Emanuel Kant. Outubro/2005. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Kant,
ZUBIRI, Xavier. La crisis filosófica de la causalidad. Novembro/2005. Disponível emhttp://www.zubiri.org/outlines_syllabi/causality/lecture5.htm
Lola

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