quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Relativismo Moral






Relativismo Moral



É uma verdade incontroversa que pessoas de sociedades diferentes têm costumes diferentes e diferentes ideias acerca do bem e do mal morais. Não há consenso mundial sobre a questão de saber que as acções são moralmente boas e moralmente más, apesar de existir uma convergência considerável sobre estas matérias.
Se tivermos em consideração o quanto as ideias morais mudaram, quer de lugar para lugar, quer ao longo do tempo, pode ser tentador pensar que não existem factos morais absolutos e que, pelo contrário, a moral relativa à sociedade na qual fomos educados. Segundo esta perspetiva, uma vez que a escravatura era moralmente aceite para a maioria dos Gregos antigos, apesar de o não para a maioria dos Europeus de hoje em dia, a escravatura seria moralmente boa para os Gregos antigos, apesar de ser moralmente má para os Europeus contemporâneos. Esta perspetiva, conhecida como relativismo moral, faz com que a moral seja apenas a descrição dos valores adotados por uma sociedade em particular, num certo momento do tempo. Trata-se de uma perspetiva metaética acerca da natureza dos juízos morais. Os juízos morais só podem ser avaliados como verdadeiros ou falsos relativamente a uma sociedade particular. Não há juízos morais absolutos: são todos relativos. O relativismo moral contrasta fortemente com a perspetiva de que algumas ações são absolutamente boas ou más – uma perspetiva defendida, por exemplo, por muitas pessoas que acreditam que a moralidade é constituída pelos Mandamentos prescritos por Deus à humanidade.

            Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia



Poderemos criticar o relativismo moral?


Os relativistas morais são por vezes acusados de inconsistência, uma vez que defendem que todos os juízos morais são relativos, ao mesmo tempo que querem que acreditemos que a própria teoria do relativismo moral éabsolutamente verdadeira.
Isto só é um problema sério para um relativista moral que seja também um relativista acerca da verdade, isto é, alguém que acha que a verdade absoluta é coisa que não existe: só existem verdades relativas a sociedades particulares. Este tipo de relativismo não pode defender nenhuma teoria como absolutamente verdadeira.

No entanto, os relativistas normativos estão certamente sujeitos à acusação de inconsistência. Eles acreditam simultaneamente que todos os juízos morais são relativos à nossa sociedade e que as sociedades não devem interferir umas com as outras. Mas esta segunda crença é certamente um exemplo de um juízo moral absoluto, um juízo completamente incompatível com a premissa básica do relativismo normativo. Esta é uma crítica desvastadora para o relativismo normativo.
(...)



Não haverá crítica moral dos valores de uma sociedade?


O relativismo moral não parece dar a possibilidade de crítica moral aos valores centrais de uma sociedade. Se os juízos morais se definem em termos dos valores centrais dessa mesma sociedade, nenhum crítico destes valores centrais pode usar argumentos morais contra ela. Numa sociedade na qual a perspetiva dominante seja a de que as mulheres não devem poder votar, qualquer pessoa que sugerisse o direito de voto para as mulheres estaria a sugerir algo imoral relativamente aos valores dessa sociedade.
                                                                
                                                             Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia


O que poderemos aceitar no relativismo?


Penso, na verdade, que há alguma coisa correta no relativismo cultural e quero agora passar a dizer o que é. Há duas lições que podemos aprender com a teoria, ainda que acabemos por rejeitá-la.

Primeiro, o relativismo cultural alerta-nos, de maneira correta, para os perigos de pressupor que todas as nossas preferências estão fundadas numa espécie de padrão racional absoluto. Não estão. Muitas das nossas práticas (mas não todas) são particularidades exclusivas da nossa sociedade. (…) O relativismo cultural começa com a preciosa observação de que muitas das nossas práticas são apenas isto; produtos culturais.

(…) A segunda lição relaciona-se com a necessidade de manter o espírito aberto. No processo de crescimento, cada um de nós adquiriu algumas convicções fortes; (…) podemos, ocasionalmente, ver essas convicções postas á prova. (…) O relativismo cultural, ao sublinhar que as nossas perspetivas morais podem refletir preconceitos da nossa sociedade, fornece um antídoto para este tipo de dogmatismo.

(…) Perceber isto pode levar-nos a uma maior abertura de espírito. Podemos compreender que os nossos sentimentos não são necessariamente percepções da verdade – podem não ser mais do que o resultado do condicionamento cultural. (…) Podemos ficar mais abertos à descoberta da verdade, seja ela qual for.

                                                                             J. Rachels, Elementos de Filosofia Moral







                                                Lola


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