A Teoria ética de Kant
A boa vontade
· A
vontade é, segundo Kant, a faculdade de escolher aquilo que a razão reconhece
como bem.
· A
única coisa que tem valor intrínseco, absoluto e incondicional é a boa vontade.
· A inteligência,
a coragem, a perseverança e outros talentos, que todos nós podemos considerar
positivos, só o serão se a vontade que deles fizer uso for uma vontade boa,
pois se não o for estes talentos podem tornar-se prejudiciais.
· A
Felicidade, no entender de Kant, não possui valor intrínseco pois só poderá ser
considerada boa se estiver associada a uma boa vontade.
· A
boa vontade é boa em si mesma e por si mesma e não pela capacidade de alcançar
certos fins.
· Mesmo
que a vontade boa estivesse incapacitada de cumprir oss seus propósitos devido
a uma condicionante externa, ela não deixaria de ter valor.
· Exemplo:
Uma rapariga que está numa cadeira de rodas, quer salvar uma criança de se
afogar- a sua vontade não deixa de ter valor, apesar da rapariga não ser capaz
de salvar a criança.
· Só
a vontade boa não poderá ser usada para o mal.
"Neste mundo e até
também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem
limitação a não ser uma só coisa: uma Boa Vontade. Discernimento,
argúcia de espírito, capacidade de julgar e como quer que possam chamar-se os
demais talentos do espírito, ou ainda coragem, decisão, constância de
propósito, como qualidades do temperamento, são sem dúvida a muitos respeitos
coisas boas a desejáveis; mas também podem tornar-se extremamente más e
prejudiciais se a Vontade, que haja de fazer uso destes dons naturais e cuja
constituição particular por isso se chama carácter não for Boa.
O mesmo acontece com os dons da fortuna. Poder, riqueza, honra, mesmo a saúde e
todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob o nome de felicidade dão
ânimo que muitas vezes por isso mesmo desanda em soberba, se não existir também
a boa vontade que corrija a sua influência sobre a alma e juntamente todo o
princípio de agir e lhe dê utilidade geral; isto sem mencionar o facto de que
um espectador razoável e imparcial, em face da prosperidade ininterrupta duma
pessoa a quem não adorna nenhum traço duma pura e boa vontade, nunca poderá
sentir satisfação, e assim a Boa Vontade parece constituir a condição
indispensável do próprio facto de sermos dignos da felicidade.
(...)
A boa vontade não é boa
por aquilo que se promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer
finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é, em si mesma, e,
considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do que tudo
o que por se intermédio possa ser alcançado em proveito de qualquer inclinação,
ou mesmo, se quiser, da soma de todas as inclinações".
Kant,
Fundamentação da
Metafísica dos Costumes
A importância da
intenção
· Designa-se
a ética kantiana como sendo deontológica porque esta defende que o valor moral
de uma acção reside em si mesma e não nas suas consequências - ou seja, na sua
intenção.
· A intenção é, para Kant, muito importante para avaliar a correcção moral
de uma acção.
· Na avaliação moral das acções, a única coisa que interessa são as
intenções do agente e não as consequências daquilo que fazemos.
· Uma pessoa de boa vontade poderá
ter uma boa intenção e daí resultarem más consequências- mas ela não é má por
isso.
· MAS....
· Uma pessoa poderá ter más intenções
e daí resultar boas consequências- mas ela não é boa pessoa, mesmo assim.
· Exemplo:
um comerciante que não engana os seus clientes por receio de poder ser multado,
não tem boa intenção e não tem uma vontade boa. Embora o comerciante tenha
agido no âmbito legal, a sua acção é moralmente reprovável, mesmo que as
consequências sejam boas para os seus clientes.
· Assim, e segundo Kant, uma
acção só é moralmente correcta se e quando resultar da intenção de cumprir o
dever.
· Defende que o valor moral das
acções depende unicamente da intenção com que são praticadas.
· Duas
acções podem ter consequências igualmente boas e uma delas não ter valor moral.
Agir por dever
· Para Kant uma acção só é moralmente correcta se for
feita por dever.
· Para Kant, só as boas intenções contam para uma acção
moralmente boa.
· A intenção geral de uma pessoa de boa vontade é
cumprir o seu dever, ou seja, agir por dever o que é muito diferente de agir conforme
ao dever.
· Exemplo: um comerciante que não engana os seus
clientes por receio de poder ser multado, não agui por dever, mas em
conformidade ao dever pois a sua intenção era não ser multado e não ajudar os
clientes.
· Uma acção é moralmente correcta se resultar da
intenção de cumprir o dever.
· Para Kant, só o agir por dever é o único agir com
valor moral.
· Porquê? Porque é o único agir que respeita de forma
incondicional as ordens da nossa razão, que não age submetido a qualquer tipo
de interesse ou inclinação.
· É esse tipo de acção possível? Sim, temos como exemplo
mais evidente o do juiz que decide de forma objectiva e imparcial um
determinado caso.
· No
exemplo: O Gabriel ajudou uma senhora de idade a atravessar a rua.
· O Gabriel praticou esta acção, porque sabe que é
seu dever ajudar pessoas idosas. Neste caso, o Gabriel cumpriu o dever (ajudar
a senhora de idade) pelo próprio dever (pela própria obrigação moral de ajudar
pessoas de idade).
· Kant defendia que o valor moral das acções depende
unicamente da intenção com que são praticadas.
· PORQUÊ?
· Porque sem conhecermos as intenções dos agentes não
podemos determinar o valor moral das acções. Na verdade, uma acção pode não ter
valor moral apesar de ter boas consequências.
· Quando é que a intenção tem valor moral ou é boa?
Quando o propósito do agente é cumprir o dever pelo dever.
· O cumprimento do dever é o único motivo em que a acção
se baseia. Ex: Não roubar porque esse acto é errado e não porque posso ser
castigado.
· O que é uma acção com valor moral? É uma acção que
cumpre o dever por dever. Cumpre o dever sem «segundas intenções».
· Deveres como não matar inocentes indefesos, não roubar
ou não mentir devem ser cumpridos porque não os respeitar é absolutamente errado.
Tipos de Acções
Segundo Kant, há três
tipos de acções:
· Acções por dever: Uma acção é moralmente correcta
se resultar da intenção de cumprir o dever.
· Só
o agir por dever é o único agir com valor moral.
· São legais e morais.
· Acções em conformidade com o dever: Ações
conformes ao dever são ações que têm como única motivação o cumprimento do
dever, mas um interesse pessoal.
· São ações que cumprem o dever
com a intenção de evitar uma má consequência – perder dinheiro, reputação – ou
porque daí resulta uma boa consequência – a satisfação de um interesse.
· O comerciante que pratica
preços justos para criar boa reputação e aumentar a clientela, cumpre o dever
por interesse mas não cumpre o dever por dever.
· São legais e imorais
· Acções contra o dever: Ações contrárias ao dever
são ações que violam o dever.
· Por exemplo, matar, roubar,
mentir.
· São ilegais e imorais.
NOTA:
· Uma ação
pode ser conforme ao dever e não ser por dever.
O que determina se uma
ação é realizada por dever ou em conformidade ao dever é a sua intenção. Duas
ações podem ter as mesmas consequências, mas só a que é realizada com a
intenção de cumprir o dever pelo dever é uma ação por dever.
· Kant distingue ações por dever e ações em conformidade com
o dever. Porquê?
A razão de ser ou o objetivo da distinção é duplo:
1. Defender que o valor moral das ações depende unicamente da intenção com
que são praticadas.
2. Mostrar que duas ações podem ter consequências igualmente boas e uma
delas não ter valor moral.
Mas
como é que podemos saber qual o nosso dever em cada situação da Vida?
A Lei Moral
· Segundo
Kant, uma acção só é moralmente correcta se resultar da intenção de cumprir o
dever.
· A lei moral é uma lei da nossa
consciência racional que exige que se cumpra o dever por dever.
· A lei moral exige respeito
absoluto pelo dever, pelo cumprimento de certas normas como não matar, não
roubar e não mentir.
· Obedeço à lei moral quando
respeito absolutamente o dever, quando não preciso de mais nenhum motivo – a
não ser a honestidade – para cumprir o dever (para ser honesto).
· Características da Lei
Moral: racional, universal e formal.
Por que razão, Segundo Kant, a lei moral
tem um caráter formal?
· Porque me diz a forma como é
correto cumprir o dever. Não é uma regra concreta como «Não matarás!» mas um
princípio geral que deve ser seguido quando cumpro essas regras concretas que proíbem
o roubo, o assassinato, a mentira, etc.
· Pense em normas morais como «Não
deves mentir»; «Não deves matar»; «Não deves roubar». A lei moral, segundo
Kant, diz-nos como cumprir esses deveres, qual a forma correta de os
cumprir.
· Assim sendo, é uma lei
puramente racional e puramente formal.
· Por
que razão, segundo Kant, a lei moral tem a forma de um imperativo categórico?
· A lei moral exige respeito
absoluto pelo dever, pelo cumprimento de certas normas como não matar, não
roubar e não mentir. A palavra imperativo designa dever, ordem, obrigação. A
palavra categórico significa absoluto, incondicional.
· Assim, respeitar a lei moral ou o
que ela ordena é uma obrigação absoluta.
· O que a lei moral
ordena – cumprir o dever por puro e simples respeito pelo dever – é, para Kant,
uma exigência que tem a forma de um imperativo categórico.
· Ordena que uma ação boa
seja realizada pelo seu valor intrínseco, que seja querida por ser boa em si e
não por causa dos seus efeitos ou consequências. O cumprimento de deveres como
não roubar ou não mentir é uma obrigação absoluta.
· O que são deveres
absolutos?
· Deveres absolutos, ou perfeitos,
são deveres que não admitem exceções.
· Os deveres absolutos são
deveres incondicionais (não dependem de condições ou interesses).
· Os deveres morais
propriamente ditos são deveres absolutos.
· A lei moral enquanto imperativo
categórico diz – nos que deveres é obrigatório respeitar de forma absoluta.
· Por
que razão o cumprimento do dever é uma obrigação absoluta ou categórica?
· Se cumprir o
dever dependesse dos nossos interesses ou sentimentos, teríamos a obrigação,
por exemplo, de cumprir a palavra dada apenas em certas condições, mas não
sempre.
· Esta obrigação
dependeria, digamos, do desejo de ficarmos bem vistos aos olhos de Deus ou aos
olhos dos outros, do desejo de agradar a alguém, etc. Se agradar a Deus ou aos
outros deixasse de nos preocupar, a obrigação de cumprir a palavra dada
simplesmente desapareceria.
· Ora, não é isso
que deve acontecer, segundo Kant. Continuamos a ter o dever de cumprir a
palavra dada quer isso nos agrade quer não.
· Como
é que a fórmula da lei universal determina se uma máxima expressa um dever
moral?
· A
primeira formulação do imperativo categórico determina se uma máxima expressa
um dever moral verificando se ela é universalizável, isto é, se é possível que
todos ajam segundo essa máxima.
· Se
for possível universalizar a máxima, ela expressa um dever moral. Se não for
possível, não expressa.
Os imperativos
O imperativo hipotético é
uma ordem condicionada, na medida em que se submete a condições para que
cumpramos o dever, dizendo-me o seguinte: “Tu deves fazer isto, se queres obter
aquilo”. Por exemplo, eu devo dizer a verdade, se quero ficar bem visto perante
os vizinhos do meu bairro. Ora, a expressão que temos aqui tem a seguinte
forma: Eu digo a verdade (cumpro o dever) para não ficar mal visto perante os
outros (não pelo próprio dever, mas por interesse). Cumpro o dever, não pelo
próprio dever, como um fim em si mesmo, mas como um meio para obter um fim. (O
imperativo hipotético é o princípio que norteia a acção do indivíduo que age
apenas em conformidade com o dever.)
Pelo contrário, o imperativo
categórico é uma ordem incondicionada, na medida em que não se submete
a qualquer condição para que realizemos uma certa acção, anunciando o seguinte:
“Tu não deves mentir aos teus pais, porque esse é teu dever”. Não devo mentir
aos meus pais, porque é meu dever não mentir em todas as circunstâncias
possíveis e não por causa de qualquer outro interesse ou inclinação. Neste
caso, estou a cumprir o dever pelo próprio dever, não minto porque é meu dever
não mentir. Para Kant, mentir é sempre incorrecto, sejam quais forem as
circunstâncias em que me encontro, porque para Kant as regras morais são
absolutas, não existem excepções para um eventual incumprimento dessas mesmas
regras.
· A
lei moral exprime-se sob a forma de imperativo categórico.
· Kant
distingue dois tipos de imperativos: imperativos
hipotéticos e imperativos categóricos.
· Os imperativos
hipotéticos são ordens que expressam deveres relativos, isto é,
deveres que devemos cumprir na condição de querermos ou desejarmos uma dada
coisa.
· Os imperativos
hipotéticos existem quando impõem uma condição (fruto de um desejo).
· Exemplo:
“Se eu estudar, vou para a Universidade”.
· Será
que, segundo Kant, a nossa obrigação moral se apoia no imperativo hipotético?
· Não. Se a moralidade, em Kant, se baseasse no imperativo hipotético, por exemplo, nós só teriamos obrigação de ajudar os outros em certas circunstâncias e não em todas.
· Segundo
Kant é nosso dever ou obrigação ajudar o outro em todas as circunstâncias.
· Kant
considera que mentir, roubar ou matar não são acções morais pois estas não são
universalizáveis.
· A
nossa obrigação moral assenta no seguinte: as nossas máximas (lado
subjectivo do querer) devem ser possíveis de se tornarem universais –
temos de cumprir a lei moral que se exprime no imperativo categórico.
· Os
imperativos hipotéticos expressam acções conformes ao dever.
Exemplos:
· "Deves
cumprir o Código da Estrada se não queres ser multado”;
· “Se
queres ser admirado pelos teus concidadãos, deves fazer apenas acções que a
comunidade aprove".
· Uma
obrigação (ou imperativo) é hipotética quando existe apenas em certas
condições, mas não noutras.
· Tenho
a obrigação de estudar para os exames de acesso a Medicina apenas na condição
de querer ser médico.
· Esta
obrigação apenas existe em função de o agente ter um certo desejo.
· Se
o agente abandonar o desejo relevante, a obrigação desaparece também.
· Serão
as nossas obrigações morais apenas hipotéticas?
· Se
a moral fosse seguir regras hipotéticas, só teríamos, por exemplo, a obrigação
de ajudar os outros em certas condições, não em todas.
·Mas
temos o dever de ajudar quem precisa em todas as circunstâncias, quaisquer que
sejam os nossos desejos.
· A
obrigação de ajudar os outros não deixa de existir porque deixámos, por
exemplo, de querer agradar. Continua a existir mesmo nesse caso.
· Kant
conclui que a obrigação de não mentir (como todas as outras obrigações morais),
não são hipotéticas.
· Mentir,
roubar ou matar pessoas inocentes, não é permissível pois as máximas destas
acções não são universalizáveis:
· As
Obrigações morais particulares como não mentir, não roubar ou não matar pessoas
inocentes, têm em comum o facto de as suas máximas (A regra/norma que é
proposta pela acção) serem universalizáveis.
· Esta
característica comum reflecte a nossa obrigação moral básica: agir segundo
máximas que todos possam também seguir.
·Esta
obrigação moral é o fundamento de todas as nossas obrigações morais
particulares.
· Trata-se
do IMPERATIVO CATEGÓRICO ou lei moral.
· Cumpro
o dever como um fim em si mesmo e não como um meio para obter outro fim.
Imperativo Categórico
· Uma acção é moralmente correcta
quando cumprimos/seguimos o Imperativo categórico.
· O Imperativo categórico é uma ordem
ou obrigação absoluta e incondicional.
· Podemos não obedecer ao Imperativo
Categórico como podemos não obedecer às regras do nosso país – mas quem
desobedece a essa ordem não age correctamente, ou seja, não age de acordo com
as suas obrigações morais.
· O Imperativo categórico é acessível
a qualquer ser racional, basta usar a razão para o descobrir – são imposições
da própria razão e não imposições exteriores a ela (Exemplo: os mandamentos da
igreja), ou seja, o homem obedece à sua própria lei.
· Para Kant, agir moralmente bem é
agir racionalmente e não em função das inclinações sensíveis (Exemplo: pena,
compaixão ou medo), as nossas acções se agimos motivados pelas inclinações
sensíveis não são moralmente correctas pois não são racionais.
· Agir em função dos mandamentos da
igreja é, para Kant, fruto da heteronomia da vontade já
que esta é determinada por algo exterior.
· O Imperativo Categórico é a
expressão da autonomia da vontade: O conceito de autonomia quer
dizer “lei que se dá a si mesmo” e é o oposto de heteronomia da
vontade que é uma lei que os outros nos fazem cumprir.
Quais as formulações do
Imperativo categórico?
· As duas formulações do imperativo a que Kant dá mais importância são a fórmula
da lei universal e a fórmula da Humanidade.
· A
primeira diz que devemos agir apenas segundo uma máxima tal que possamos querer
ao mesmo tempo que se torne uma lei universal;
· a
segunda afirma que devemos agir de tal maneira que usemos a humanidade, tanto
na nossa pessoa como na pessoa de outrem, sempre e simultaneamente como fim e
nunca apenas como meio.
· Qual é a função destas duas fórmulas? Para que servem?
· Para
sabermos, em cada circunstância da vida, se a ação que queremos praticar está,
ou não, de acordo com a moral, temos de perguntar se aquilo que nos propomos
fazer poderia servir de modelo para todos os outros e se não os transforma em
simples meios ao serviço dos nossos interesses.
· Se
faltar a uma promessa, não é algo que todos possam imitar e viola os direitos
dos outros, então temos a obrigação de não o fazer, por muito que isso nos
possa custar; se mentir não serve de modelo para os outros e os reduz a meios
que usamos para satisfazer o nosso egoísmo, então não temos o direito de abrir
uma exceção apenas para nós.
A - Uma das formulações
do Imperativo categórico é a fórmula
da lei universal e a formulação é a seguinte:
“Age apenas segundo uma
máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal”.
(agir de um modo tal que
eu queira que o princípio que determina
a minha acção seja também ele seguido por todos os
indivíduos)
· Cumpro
o imperativo categórico (equivalente a obedecer à lei moral ou a agir por
dever) quando a minha máxima pode ser universalizada sem contradição.
· uma máxima é uma regra ou
principio de acordo com o qual agimos- se a máxima não puder ser universalizável,
a acção não é moralmente correcta.
· Como é que a fórmula da lei universal determina se uma máxima expressa
um dever moral?
· A primeira formulação do
imperativo categórico determina se uma máxima expressa um dever moral
verificando se ela é universalizável, isto é, se é possível que todos ajam
segundo essa máxima.
· Se for possível universalizar
a máxima, ela expressa um dever moral. Se não for possível, não expressa.
· Exemplo:
· Eva precisava de dinheiro. Pediu algum dinheiro emprestado a Bernardo
com a promessa de lho devolver. No entanto, já tinha a intenção de não lhe
devolver o dinheiro.
Eva agiu de acordo com a seguinte máxima:
“Sempre que precisar de dinheiro, peço o dinheiro emprestado, mas com a
intenção de não o devolver”. Em termos mais gerais a regra que orienta a ação
de Eva é esta: “Mente sempre que isso for do teu interesse”.
· A
máxima da acção da Eva (“Mente sempre que isso se tornar vantajoso para ti”
)não pode ser universalizada, logo, a sua acção não decorre de um imperativo
categórico (A Eva não gostaria que todos lhe mentissem) mas sim de um
imperativo hipotético.
· A
Eva agirá incorrectamente sempre que mentir.
·Poderá esta máxima ser
universalizada? Não será contraditória? O que aconteceria se esta regra fosse
universalizada, se funcionasse como modelo para todos, se todos a seguissem?
Ninguém confiaria em ninguém.
· Ora, a mentira só é eficaz se
as pessoas confiarem umas nas outras. É preciso que Bernardo confie em Eva,
para poder ser enganado por ela. Mas se eu souber que todos mentem sempre que
isso lhes convém, deixarei de confiar nos outros e por isso Bernardo não
confiará em Eva.
· Não vale a pena Eva prometer
porque Bernardo não irá acreditar em nada que ela diga. Logo, Bernardo não lhe
iria emprestar o dinheiro se a máxima de Eva fosse uma lei universal. Por
estranho que pareça, ao exigir que todos mintam, estou a tornar a mentira
impossível.
· O imperativo categórico
promove a ideia de imparcialidade na medida em que só podemos universalizar a
máxima da nossa ação se não nos deixarmos influenciar pelos nossos interesses e
pelo egoísmo.
B - Segunda formulação do
imperativo categórico.
A fórmula é:
Age de tal maneira que uses a
humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente como fim e nunca apenas como meio.
(agir de um modo tal
que, ao agir, encare o outro como o fim da minha acção e não simplesmente como
um meio para visar algo)
· Segundo
esta fórmula, cada ser humano é um fim em si e não um simples meio.
· Será
moralmente errado instrumentalizar um ser humano, usá-lo como simples meio
para alcançar um objetivo.
· Os
seres humanos têm valor intrínseco, absoluto, isto é, dignidade.
· Neste
sentido, a vida de um ser humano não vale mais do que a de outro.
· Quem
pede dinheiro emprestado sem intenção de o devolver está a tratar a pessoa que
lhe empresta dinheiro sem respeito pela sua dignidade.
· A pessoa que pede dinheiro
emprestado e não o devolve está a encarar a pessoa a quem pede dinheiro como um
meio para obter um outro fim, está a colocar a pessoa ao serviço dos seus
interesses.
· É
evidente que está a tratá-la como um meio para resolver um problema e não como
alguém que merece respeito, consideração. Pensa unicamente em utilizá-la para
resolver uma situação financeira grave sem ter qualquer consideração pelos
interesses próprios de quem se dispõe a ajudá-lo.
· Para Kant, a pessoa tem de
ser tratada sempre como um fim em si mesma e nunca como um meio, porque é o
único ser de entre as várias espécies de seres vivos que pode agir moralmente.
· Se não existissem os seres
humanos, não poderia haver bondade moral no mundo e, nesse sentido, o valor da
pessoa é absoluto.
NOTA:
· Para Kant, os dois critérios sem os
quais não podemos atribuir moralidade às nossas acções são:
· o agirmos de acordo com uma máxima
universal e
· o agirmos encarando os outros como
fins em si mesmos e não simplesmente como meios, critérios esses que se
permutam entre si.
· (ao agir segundo uma máxima
universal, estou a encarar o outro como um fim em si mesmo e, por sua vez, ao
encarar o outro como um fim em si mesmo, estou a agir segundo uma máxima
universal).
· A segunda formulação do
imperativo categórico impede-nos de tratar os outros como meios?
· Não. Se impedisse, poria em
causa a própria existência da sociedade e de muitas relações entre os seres
humanos, que dependem de que nos tratemos uns aos outros como meios para os
nossos fins.
· O que a segunda formulação do
imperativo categórico proíbe é que tratemos os outros apenas como meios para os
nossos fins, sem qualquer respeito pela sua dignidade e racionalidade.
· O principal objetivo de Kant ao
apresentar as duas formulações do imperativo categórico, sobretudo a segunda
fórmula é mostrar que a sua é uma ética do respeito absoluto pelos
direitos da pessoa humana e não simplesmente uma ética do dever.
· Para Kant, a pessoa tem de ser
tratada sempre como um fim em si mesma e nunca somente como um meio, porque é o
único ser de entre as várias espécies de seres vivos que pode agir moralmente.
Se não existissem os seres humanos, não poderia haver bondade moral no mundo e,
nesse sentido, o valor da pessoa é absoluto.
· Assim, a fórmula da humanidade,
também conhecida por fórmula do respeito pelas pessoas, exprime a obrigação
moral básica da ética kantiana.
· Como pessoa o ser humano tem
direitos que, em circunstância alguma podem ser violados ou infringidos. A
ética kantiana parece a ética de um fanático do dever mas mais do que isso é a
ética dos direitos da pessoa humana.
· Nas duas fórmulas do imperativo
categórico está presente a máxima que deve orientar a nossa ação para que
ela tenha valor moral.
· A máxima dá – nos a conhecer a intenção
ou o motivo que está na base da ação do agente.
· Kant atribui a estas duas formulações do imperativo categórico a função de critérios para determinar se uma máxima expressa ou não um dever moral.
Autonomia e Heteronomia da vontade
· Agir em função dos mandamentos da
igreja é, para Kant, fruto da heteronomia da vontade já
que esta é determinada por algo exterior.
· O Imperativo Categórico é a
expressão da autonomia da vontade: O conceito de autonomia quer
dizer “lei que se dá a si mesmo” e é o oposto de heteronomia da
vontade que é uma lei que os outros nos fazem cumprir.
Vontade Autónoma
· É a vontade que age com a
intenção de cumprir o dever pelo dever. Por isso é também dita uma boa vontade
ou uma vontade que respeita a lei moral.
· A autonomia da vontade
designa a capacidade de a vontade decidir respeitar uma lei – a lei moral – que
exige o respeito absoluto pela dignidade e autonomia da pessoa humana.
· A autonomia da vontade não é
fazer o que apetece.
· O agente autónomo aceita a
lei moral porque essa lei é criada por ele mesmo, quando faz escolhas morais
imparciais e desinteressadas determinadas pela sua razão.
· Uma vontade autónoma é uma
vontade puramente racional, que faz sua uma lei da razão, que diz a si mesma
«Eu quero o que a lei moral exige”.
· Ao agir por dever
obedeço à voz da minha razão e nada mais.
Vontade Heterónoma
· É a vontade que não cumpre o
dever pelo dever.
· Não é uma boa vontade.
· O cumprimento do dever não é
razão suficiente para agir tendo de se invocar razões externas como o receio
das consequências, o temor a Deus, etc.
· A vontade submete-se a
autoridades que não a razão.
· É a vontade que é incapaz de
vencer o conflito entre o dever e os interesses e inclinações sensíveis.
· Nestas circunstâncias, a
vontade não tem a razão como fonte da obrigação e rege-se pelo que a religião
ou a sociedade em geral pensam, o que é um sinal de menoridade moral.
Assim….
· À
capacidade do indivíduo agir de acordo com a lei moral denomina Kant de
autonomia da vontade. Autonomia da vontade porque o indivíduo não está a agir
condicionado pelos seus interesses ou inclinações sensíveis, mas num puro
respeito pela lei da sua própria consciência racional. Ao obedecer à lei moral,
estou a obedecer a uma lei da minha própria razão.
· Kant denomina
esta vontade que cumpre o dever pelo próprio dever de boa vontade.
(Nota: A autonomia da vontade identifica-se em Kant com o agir que cumpre o
dever pelo próprio dever.)
· Por sua vez, à
incapacidade do indivíduo determinar a sua conduta pela lei moral chama Kant
vontade heterónoma.
· A vontade heterónoma é aquela
que cumpre o dever, não por dever, mas por interesse, mas também a vontade que
simplesmente não cumpre o dever.
Ex.:
Cumprir o dever porque a sociedade o exige, porque Deus o requer ou porque os
meus pais querem é, para Kant, aquilo que é próprio de uma vontade heterónoma,
porque cumpro o dever, não por dever, mas por interesse (nos vários casos do
exemplo apresentado, porque alguém – sociedade, Deus ou pais – me diz que devo
cumprir o dever). [Nota: A vontade heterónoma em Kant identifica-se com o agir
apenas em conformidade com o dever.]
Mas por que razão
haveremos nós de obedecer à lei moral?
· Kant diria que a lei moral é uma
lei da nossa razão e é a racionalidade que nos constitui como seres humanos e
nos distingue das outras espécies.
· Ora, como nós não queremos agir
como agem os animais das outras espécies, então o nosso dever enquanto seres
humanos é o de agir de acordo com a lei moral.
· Agir de acordo com a lei
moral é aquilo que nos constitui como seres livres, porque não ajo condicionado
por qualquer interesse ou inclinação, mas num respeito puro e incondicional à
lei da minha própria razão.
· É este agir livre, enquanto pura
obediência às ordens da nossa razão, que nos constitui igualmente como pessoas,
seres com a capacidade de agir moralmente.
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