sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ensaio Filosófico - Exemplo



Será que temos a obrigação moral de ajudar
quem vive na pobreza absoluta?


Nem todos os países têm o mesmo nível de desenvolvimento económico e social. Por isso, é frequente considerar-se que o mundo está dividido em dois grupos de países: os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Entre estes países existem acentuadas desigualdades na distribuição da população e da riqueza, nos cuidados de saúde e educação, no acesso à alimentação e água potável, na qualidade da habitação, etc. Este desequilíbrio entre países faz com que uns sejam consideravelmente ricos enquanto que outros permaneçam num estado de pobreza absoluta. Esta consiste na falta de rendimentos para satisfazer as necessidades biológicas básicas a que a restante população tem acesso.
Quem nada faz para ajudar as pessoas que se encontram nesta situação não merece ser criticado dado que em nada interfere na vida das mesmas. Por outro lado, o acto de ajudar as pessoas necessitadas é algo louvável já que faz com que possamos dar-lhes uma vida melhor e proporcionar-lhes um futuro mais auspicioso. Mas será que temos o dever de ajudar quem vive na miséria? Se considerarmos que sim, devemos não só permitir que isso aconteça como também encorajar outros a fazê-lo; se considerarmos que não, devemos desde já descartar essa ideia, sem impedir que outros o façam.
Peter Singer é um dos filósofos que defende que é nosso dever ajudar as pessoas que se encontram em situação de pobreza absoluta.
O filósofo afirma que se pudermos evitar que um mal ocorra sem sacrificarmos nada de importância moral comparável, devemos fazê-lo, uma vez que a pobreza absoluta representa um grande mal e está ao nosso alcance minorar este problema sem sacrificar nada de importante para o nosso bem-estar.
Como utilitarista que é, Singer defende que a distinção entre actos e omissões não é moralmente relevante, logo, defende que ao não fazermos nada ou quase nada para amenizar a pobreza absoluta, cometemos uma grave falha moral, visto que temos o dever de nos dedicarmos inteiramente à melhoria de vida daqueles que vivem em grande miséria.
Contrariamente a esta visão utilitarista, os deontologistas encaram a diferença entre actos e omissões como sendo moralmente relevante.
Além disso, sustentam a ideia de que se não somos nós que causamos a pobreza absoluta, não pudemos ser culpados pelos males que dela têm origem. De modo contrário, os utilitaristas dizem que somos eticamente responsáveis por todos os acontecimentos calamitosos que poderíamos ter impedido, mas não o fizemos.
Os deontologistas também declaram que ninguém nos obriga a resignar dos rendimentos que obtemos de forma justa e que temos o direito de usufruir deles.
Eu considero que não temos a obrigação de ajudar os pobres, logo, apoio o deontologismo, uma vez que encaro o acto de ajudar os pobres como um acto supererrogatório, pois estamos a realizar algo que é bom mas ultrapassa o nosso dever.

Há que esclarecer o significado do argumento que Singer defende.
Segundo ele devemos maximizar o bem-estar da população em geral. Mas será que ao agirmos pressupondo a perspectiva de Singer estamos a agir bem para connosco? Eu acho que não, visto que, se pensarmos que o nosso principal dever é aumentar o bem-estar de forma neutra, teremos de fazer sacrifícios pessoais muito consideráveis. Visto de forma imparcial, a nossa obrigação moral é ajudar até a um ponto em que, ao nos sacrificarmos mais pelos outros iríamos prejudicar mais o nosso bem-estar do que favorecer aqueles que realmente precisam. Este resultado ameaça a nossa integridade, uma vez que, ao abdicarmos dos nossos rendimentos estamos a abdicar também de grande parte dos projectos e compromissos que têm um grande valor na nossa vida. Daí termos de fazer sacrifícios muito consideráveis.
Outro panorama daquilo que pensam acerca do argumento de Singer é o do biólogo Garrett Hardin. Este possui uma teoria, «a ética do bote salva-vidas», na qual questiona se deveremos seguir os nossos ímpetos humanitários tentando com isso ajudar os pobres. Segundo ele, seguir esses impulsos acabará por ter consequências globalmente más, tanto a nível económico como ecológico. O que leva uma pessoa a aceitar a ideia de Hardin é a de que a ajuda fornecida aos países pobres levará a que os seus governantes se tornem irresponsáveis, isto é, fará com que eles não se preocupem em colaborar para o desenvolvimento do seu país e em auxiliá-lo a encarar dificuldades pelas quais possam passar.
Na minha opinião, a ajuda internacional ou mesmo de particulares é muitas vezes irreal. O que eu quero dizer com isto é que, independentemente de quem envia o donativo, não podemos acreditar que essa ajuda irá auxiliar os pobres, pois não sabemos qual é o seu destino exacto, e se, na verdade, esse donativo vai ser usado para os fins pelo qual foi enviado.
Para concluir, acho que não é nossa obrigação ajudar as pessoas em situação de pobreza absoluta já que isso nos levaria a uma situação muito semelhante àqueles que receberiam a nossa ajuda.

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