sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nelson Mandela


Nelson Rolihlahla Mandela
(1918 - 2013)

Biografia: o caminho para a liberdade 


Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de Julho de 1918, em Mvezo, aldeia próxima de Mthatha, no Transkei, um dos estados da África do Sul banhado pelo Oceano Índico. O pai, Henry Gadla Mandela, era o mais próximo conselheiro (cargo hereditário) do chefe supremo da tribu Thembu, um clã da etnia Xhosa (um dos muitos povos sul-africanos). Gadla desposou quatro mulheres, com as quais teve 13 filhos (quatro rapazes e nove raparigas). Rolihlahla nasceu de Nosekeni Nonqaphi (terceira esposa de Gadla), com quem o filho passou parte da infância. Quando o pai faleceu, em 1927, o jovem foi adoptado por Jongintaba Dalindyebo, chefe supremo da tribo, que o preparou para altas funções.

No dia 11 de Fevereiro de 1990, quando o regime sul-africano de minoria branca devolveu a liberdade a Mandela após 27 anos de prisão, Tom Mathews, editor da revista norte-americana "Newsweek" sublinhava nas primeiras linhas do resumo biográfico desta eminente personalidade: "Nelson Rolihlahla Mandela nasceu para liderar. O seu trisavô foi um famoso rei do Transkai, o seu pai um conselheiro real com quatro esposas. E esta genealogia imbuiu-o de um sentido do modo de vida próprio de tribo, e desenvolveu-lhe traços de carácter muito profícuos: a autoconfiança, a dignidade e, quando necessária, a implacabilidade".
Mandela cresceu como guardador de gado e moço de lavoura. A sua primeira política foi pastoril. Os chefes (e seus conselheiros) entre os Xhosa eram pessoas francas, democratas a seu modo. O povo Xhosa percorria livremente o território, autogovernava-se, geria o seu próprio comércio e dirigia os seus guerreiros. Por outro lado, a linhagem de Mandela proporcionou-lhe a infância de que desfrutavam os negros sul-africanos bem-nascidos.
A mãe, que era cristã, tinha baptizado o filho pela Igreja Metodista (que lhe deu o nome de "Nelson") e, quando ele completou sete anos, encaminhou-lhe os passos para o ensino rigoroso e moralista da escola dos missionários da mesma sociedade religiosa.

A iniciação na política
Na sequência da escolaridade primária, Mandela frequentou o Instituto Clarkebury e a Escola Secundária de Wesleyan, antes de ingressar na Universidade de Fort Hare. Concluiu em dois anos (em vez de três) um bacharelato em Letras. Nesta universidade, onde foi eleito para o Concelho Representativo dos Estudantes, Mandela conheceu Oliver Tambo e fez a sua iniciação na política. Em 1940, acompanhado por Tambo, participou numa greve estudantil e foi expulso.
Aos 23 anos, quando o tutor de Mandela lhe arranjou um casamento, seguindo as tradições tribais, o jovem não consentiu e refugiou-se em Joanesburgo, onde trabalhou temporariamente como polícia das minas. Em 1941, conheceu Walter Sisulu naquela cidade. Tratava-se de um jovem mestiço, autodidata, que também havia sido educado por missionários e que incentivou Mandela a estudar Direito. Aliás, foi ele quem o apresentou a um advogado branco, judeu, liberal, que lhe arranjou emprego no escritório de advogados Lazar Sidelsky. No ano seguinte, Mandela concluiu o seu bacharelato na Universidade da África do Sul (UNISA) e começou a preparar uma licenciatura em Direito na Universidade de Witwatersrand.
Já militantes do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em Inglês) - movimento fundado em 1912 com o objectivo de defender os direitos da maioria negra na África do Sul -, Nelson Mandela, Oliver Tambo e Walter Sisulu uniram-se em Setembro de 1944 a outros 60 jovens residentes na área de Witwatersrand, para, sob a liderança de Anton Lembede, fundarem a Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (ANCYL). Estavam dispostos a transformar o movimento numa organização de massas mais radical.
Estes jovens, que fundamentavam o seu nacionalismo radical africano no princípio da autodeterminação nacional, entendiam que a liderança da "velha guarda" do ANC, por estar conformada à tradição do constitucionalismo e da petição formal institucionalizada pela governação da minoria branca, dava provas de inadequação ao esforço de emancipação nacional.
Mandela depressa se destacou entre os companheiros, pela disciplina que punha no trabalho e pela consistência dos esforços que desenvolvia, e, em 1948, foi eleito secretário nacional da ANCYL. Embora se tivesse oposto, numa primeira fase, a colaborar com comunistas e outros grupos raciais, Mandela mudou de opinião em 1952 (durante a denominada "Campanha de Resistência às Leis Injustas"), e propôs acção conjunta contra o regime brutal de segregação racial do país.

A primeira ida a julgamento
Em Dezembro de 1952, foi detido por infringir a Lei de Repressão do Comunismo. Embora a condenação a nove meses de prisão tivesse ficado suspensa, Mandela foi proibido de participar em reuniões e de sair do distrito de Joanesburgo. Esta interdição foi-lhe consecutivamente renovada durante os nove anos seguintes. Foi nessa época que ele se submeteu a provas para exercer advocacia, tendo sido admitido na profissão.
Biografia: o caminho para a liberdade
Mandela no escritório de advogados
Em Agosto de 1952, abriu cartório em Joanesbugo e, em Dezembro seguinte, em sociedade com Oliver Tambo, constituiu na mesma cidade o primeiro escritório de advogados dirigido por negros na África do Sul. No entanto, o estatuto profissional não lhes conferiu qualquer imunidade contra as leis brutais do "apartheid". Nesse contexto, como infringiam a legislação de segregação relativamente à ocupação de terra, as autoridades exigiram que se transferissem para outro local. Foram obrigados, conforme Mandela descreveria mais tarde, a deslocarem-se para "quilómetros de distância, para lugar onde os clientes não conseguiam chegar durante as horas de expediente".
Biografia: o caminho para a liberdade
Em 1961, na clandestinidade
Aqueles que então conviveram com Nelson Mandela decreviam-no como um homem irascível, elegante até ao coquetismo (mandava fazer os fatos por medida), um advogado dedicado à defesa dos seus clientes (alguma teatralidade nas salas de audiência), militante pouco dado ao debate, cioso de si e da sua compleição de boxista.






Os três casamentos
Tinha sido também em casa de Walter Sisulu que Nelson Mandela conhecera Evelyn Mase, que desposou alguns meses depois e com quem teve quatro filhos. Continuando a trabalhar como dirigente do ANC, Mandela veio a ser detido, com outras 155 pessoas, em Dezembro de 1956. Foram todos acusados de traição. O julgamento prolongou-se até 1961 e terminou com a absolvição dos arguidos.
Entretanto, Mandela e Mase tinham-se divorciado em 1958, ano em que ele conheceu e desposou Winnie Mandikzela, de quem se divorciou em 1996. Voltou a casar-se no dia em que completou 80 anos, em 1998, com Graça Machel, viúva de Samora Machel, o primeiro presidente do primeiro Governo de Moçambique, ex-colónia portuguesa.
Na sequência do massacre de Sharpeville - assassínio, em 21 de Março de 1960, de 69 pacíficos manifestantes negros, mortos pelas forças de segurança sul-africanas, quando protestavam contra leis do "apartheid" -, o ANC e o Congresso Pan-africano (PAC) foram proibidos na África do Sul. E em Março de 1961, para escapar a nova detenção e a novas penas que o privassem de direitos para o exercício de determinadas actividades, Mandela passou à clandestinidade. Acompanhado por Sisulu, percorreu o país para organizar uma greve de três dias.

O início da luta armada
O ANC endureceu o discurso e, em meados de 1961, Nelson Mandela - que era admirador de Gandhi e um fervoroso defensor do combate político sem violência - passou a admitir a luta armada contra o regime do "apartheid". Fundou com os companheiros o Umkhonto we Sizwe ("A lança da nação"), braço armado do ANC. Trocou os fatos bem talhados por vestuário largo, semelhante a fardamento e, em Janeiro de 1962, partiu para Addis-Abeba, na Etiópia, para participar no PAC. A partir dali - com passaporte concedido pelo imperador Haile Salassie, e utilizando o nome "David Motsamayi" -, Nelson Mandela deslocou-se em África defendendo a sua causa; na Argélia, recebeu instrução para a luta de guerrilha, e visitou a Grã-Bretanha, onde se reuniu com os líderes da Oposição no exílio.
Biografia: o caminho para a liberdade
Os acusados de Rivonia
Regressado à África do Sul, pôde exercer actividades clandestinamente durante 15 meses mas, traído por informadores, voltou a ser detido em 1962 e foi condenado a cinco anos de prisão e trabalhos forçados. Um ano depois, com outros dirigentes de "A lança da nação", foi constituído arguido por planear o derrube do Governo por meios violentos.
Em 26 de Novembro de 1963, começou aquele que ficou conhecido como o Julgamento da Traição de Rivónia, que se prolongou-se até Junho de 1964. Mandela encarregou-se da sua própria defesa assim como a dos outros acusados. Ele e sete companheiros de luta foram condenados a prisão perpétua.

Duas décadas na prisão
Nelson Mandela foi encarcerado na Prisão de Robben Island, onde esteve 18 anos, até ser transferido para o presídio de Pollsmoor, na Cidade do Cabo, em 1982, ano em que foi iniciada uma campanha internacional a favor da sua libertação.
Biografia: o caminho para a liberdade
Mandela e Walter Sisulu na prisão
Em 1988, foi transferido para a prisão de Victor Vester, de onde saiu em 1990. Era o recluso nº. 466 do ano de 1964. Daí o nº. 46664, que tem sido o logótipo e nome da sua campanha contra a sida e de outras causas humanitárias pelas quais sempre se bateu. Durante o tempo de prisão, o Governo da África do Sul autorizou o aumento da frequência de contactos entre Nelson Mandela, a mulher (Winnie Mandikzela-Mandela) e duas filhas.
Mandela começou a negociar a sua libertação com o Governo da África do Sul, quando estava detido em Pollsmoor, na Cidade do Cabo. As negociações prosseguiram em Victor Vester. Os representantes do Governo preferiam negociar só com ele, tendo rejeitado o seu pedido de preparar a primeira reunião com os companheiros do ANC. Mandela disse então que as questões em negociação eram "a luta armada, a aliança do ANC com o Partido Comunista, o objectivo de Governo de maioria, e a ideia de reconciliação racial".
O ANC, o PAC e o Partido Comunista da África do Sul (SACP) foram legalizados em 2 de Fevereiro de 1990 e Nelson Mandela foi libertado nove dias depois.




Os anos da reconciliação
Como presidente do ANC, chefiou então uma série de negociações com o Governo sul-africano de minoria branca. A Convenção para uma África do Sul Democrática (CODESA), um fórum multirracial estabelecido por F. W. de Klerk e Nelson Mandela, começou a negociar a mudança para um regime sem segregação racial. E em Março de 1992, um referendo entre a população branca sul-africana aprovou a reforma da Constituição do país.
Houve confrontos envolvendo forças de segurança e grupos contrários às transformações políticas, mas o processo prosseguiu. Em 1993, a Constituição Provisória da nova África do Sul foi concluída, pondo fim a quase três séculos de segregação racial oficial. Foi formado um Governo de transição e, pela primeira vez no país, os negros estavam em maioria no poder. Nesse mesmo ano, Mandela e F. W. de Klerk foram distinguidos com o Prémio Nobel da Paz.
Biografia: o caminho para a liberdade
O Nobel da Paz, em 1993
Em Abril de 1994, nas primeiras eleições multirraciais do país, Nelson Mandela foi eleito presidente e a África do Sul voltou a integrar-se na Comunidade Britânica (Commonwealth). Os últimos resquícios do "apartheid" oficial desapareceram nos dois primeiros anos de Governo de Mandela. Em 1996, a nova África do Sul aprovava uma nova Constituição definitiva e concluía o seu processo de transformação política.
Nelson Mandela terminou o mandato em 1999, um ano depois de ter completado 80 anos. Até finais da década de 1990, muitos negros sul-africanos ascenderam à classe média, na maioria das vezes através de empregos oferecidos pelo novo Governo multirracial. Apesar disso, os problemas do país (elevada taxa de desemprego, violência e conflitos sindicais) persistiram.
Biografia: o caminho para a liberdade
Tomada de posse, em 1994
Em Março de 2003 - uma década depois do fim oficial do "apartheid" - um estudo realizado por uma universidade sul-africana revelou que os negros do país estavam cada vez mais pobres e os brancos ainda mais ricos. De acordo com os autores desse estudo, a libertação política e o fim da segregação racial significaram muito para os negros, de forma simbólica e psicológica. Todavia, na vida prática, eles continuavam marginalizados das principais actividades e centros económicos da África do Sul.
O jornalista britânico, Gary Younge, que em 1999 fez a cobertura das primeiras eleições multiraciais sul-africanas para o diário britânico "The Guardian", escrevia na edição de 27 de Abril desse ano que Nelson Mandela, "tendo sido um combatente pela liberdade, não fora nunca um revolucionário no sentido em que assim é entendido. Nos primeiros anos da década de 1960, quando o resto dos combatentes pela libertação da África adoptavam o socialismo ou desenvolviam as suas próprias variantes de pan-africanismo, Mandela tecia louvores à antiga potência colonial".
Biografia: o caminho para a liberdade
Em 2010, no Mundial de Futebol
Nesse contexto, Gary Younge recordava então as seguintes palavras de Mandela perante o Tribunal Supremo de Pretória, em 1964, aquando do Julgamento da Traição de Rivónia: "Tenho o máximo respeito pelas instituições políticas britânicas e pelo sistema de Justiça do país. Considero o Parlamento britânico como o mais democrático do Mundo"                   In JN






Frases famosas de Nelson Mandela

Publicado às 00.48

Frases famosas de Nelson Mandela
    foto DYLAN MARTINEZ/REUTERS


Algumas das frases mais famosas ditas pelo líder sul-africano, Nelson Mandela, que morreu esta quinta-feira, 5 de Dezembro, aos 95 anos.




Em 1964, no julgamento em que arriscou a pena de morte:

"Durante a minha vida me dediquei a esta luta dos povos africanos. Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra  acalentado o ideal de uma sociedade democrática e livre em que todas as pessoas viverão juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer."

Em 1990, logo após ter sido libertado, depois de 27 anos na prisão.

"Saúdo-vos a todos em nome da paz, da democracia e da liberdade para todos. Estou aqui não como um profeta mas para humildemente vos servir a vós, o povo. Os vossos incansáveis e heróicos esforços tornaram isto possível. Por isso, entrego nas vossas mãos os dias que me restam."

Sobre o racismo, retirado da sua autobiografia.

"Ninguém nasce a odiar outra pessoa pela cor de sua pele, ou pelo seu passado, ou pela sua religião. As pessoas aprendem a odiar, e se eles podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto."

Sobre a liberdade, retirado da sua autobiografia

"Ser livre não é apenas libertarmo-nos das correntes que nos aprisionam, mas também viver de uma forma que respeite e valorize a liberdade dos outros."

Sobre a solidariedade

"Diz-se que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro das suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pela forma como trata seus cidadãos mais elevados, mas como trata os mais rebaixados."

Sobre a morte, numa entrevista em 1996

"A morte é inevitável. Quando um homem fez aquilo que considera ser o seu dever para com o seu povo e o seu país, poderá descansar em paz. Eu acredito que fiz esse esforço e, por isso, irei dormir até à eternidade".     In JN

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Ou veja o Filme!





Até sempre, Madiba!



Lola

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