quarta-feira, 4 de março de 2015

Stuart Mill e Kant






O utilitarismo de Mill e a teoria

 deontológica de Kant


Tal como em Kant, também em Mill há um princípio básico a partir do qual as nossas acções devem regular-se para terem valor moral. Enquanto em Kant esse princípio era o do “cumprimento do dever pelo próprio dever”, em Mill esse princípio é o de “produzir a máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas”. Mas em relação a este mesmo princípio, existem diferenças entre a teoria ética de Kant e a de Mill.  

Enquanto em Kant averiguar a moralidade das nossas acções era perguntar pela razão por que agimos de uma determinada forma, pela intenção com que fazemos aquilo que fazemos (sendo a acção moral em Kant, aquela que cumpre ou respeita o dever pelo próprio dever), em Mill perguntar pelo valor moral da acção é perguntar pelas consequências que resultaram da acção.

A teoria utilitarista veio deste modo permitir solucionar algumas das principais críticas que eram dirigidas à teoria ética de Kant, em concreto, dando-nos uma resposta para o problema das regras morais absolutas e para o problema dos casos conflito, assim como para o problema da ausência de compaixão ou afectividade na realização de algumas das nossas acções.

Em relação ao problema das regras morais absolutas, a que a teoria ética de Kant não soube dar uma resposta satisfatória quando confrontada com a situação de ter de mentir para salvar a vida de uma pessoa, a teoria utilitarista diria que nos é permitido mentir desde que essa nossa decisão promova a felicidade sobre o maior número de pessoas possível do que em relação à decisão de não mentir ou de dizer a verdade.

Uma pessoa que foi colocada perante o dilema de ter de mentir e salvar a vida de uma pessoa e dizer a verdade e pôr em causa a vida de uma pessoa, o utilitarista resolvia esta situação optando por mentir e provavelmente salvar a vida de uma pessoa. Mentir e provavelmente salvar a vida de uma pessoa causa menor dor ou sofrimento (neste caso, sobre a pessoa em fuga) do que dizer a verdade e pôr em causa a vida de uma pessoa.

Assim, confrontado com esta situação, o utilitarista mentiria, obedecendo desse modo ao princípio da sua teoria que diz: “Deves procurar agir de modo a promover a felicidade sobre o maior número de pessoas.”

A grande diferença na resolução desta situação entre a teoria ética de Kant e a de Mill é que em Kant as regras morais são absolutas (são para ser cumpridas em todas as circunstâncias da nossa existência), enquanto em Mill não existem regras morais absolutas.

Em relação ao problema dos casos - conflito, dos casos em que estamos perante uma situação em que temos duas possibilidades de acção e qualquer uma dessas duas alternativas é moralmente incorrecta, o utilitarista escolheria aquela que promovesse a máxima felicidade para o maior número possível de pessoas.
Se bem se lembra da situação que foi apresentada, os pescadores holandeses apenas tinham duas opções: ou mentiam ao chefe do barco patrulha nazi e salvavam a vida dos tripulantes judeus e as deles mesmos ou diziam a verdade e originavam a morte dos tripulantes judeus e até a sua própria morte. Perante esta situação, o defensor da teoria ética de Kant não sabia por qual das duas possibilidades de acção se decidir, porque qualquer uma das duas opções, “mentir” ou “matar” (ainda que de forma indirecta), é moralmente incorrecta. Concretamente da perspectiva ética de Kant, são acções que desrespeitam as ordens da nossa razão.  

O utilitarista resolvia este imbróglio ou enredo em que tinha caído o defensor da ética kantiana, optando por mentir ao chefe do barco patrulha nazi. Entre mentir e salvar a vida dos tripulantes judeus e dizer a verdade e causar a mais do que certa morte de todos os tripulantes do barco, a opção que causa uma menor dor ou sofrimento ao maior número de pessoas é certamente a primeira, a de mentir e salvar a vida dos tripulantes.  

Em relação à situação de ajudar os outros por um sentimento de piedade ou compaixão, acção que o defensor da ética kantiana considerava sem valor moral, o utilitarista diria que a acção teria valor moral desde que promovesse a felicidade nas pessoas que nós ajudamos, independentemente de ter sido ou não provocada por um sentimento de compaixão.


                                                                                                    In Plátano Editora






                                                Lola







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