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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O Deus grego




Yanis Varoufakis. #varoufucker, o Deus grego

Varoufakis emigrou de Atenas para os Estados Unidos por causa da crise, que lhe rebentou com o ordenado e os seus projectos na universidade de Atenas. A família recebeu ameaças de morte por causa dos seus discursos contra os banqueiros gregos. Regressa a Atenas só agora, convidado por Tsipras para ser candidato pelo Syriza.Varoufakis já sabe há muito tempo que, comparado com o que espera o Syriza na Europa, a Odisseia

O ministro das Finanças grego é sexy, porra.” O espanto da deputada socialista Isabel Moreira publicado no Facebook foi parar ao circunspecto “Financial Times”, com o “porra” suavemente traduzido por “damn”. Afinal, Isabel Moreira tinha verbalizado aquilo que, mais do que a proposta grega de renegociação da dívida, estava a arrebatar a Europa – o desmesurado sex-appeal de Yanis Varoufakis, o homem das Finanças do novo governo grego. O “Financial Times” não podia falhar a notícia porque, antes e depois da crise financeira de 2008, da iminência da queda do euro, do resgate dos bancos, da troika instalada na Grécia, na Irlanda e em Portugal, da recessão, nunca um corpo governativo da zona euro tinha provocado tal excitação colectiva. A mudança política na Grécia é drástica a todos os níveis – que seja um símbolo sexual  a confrontar a Europa com uma mudança radical de políticas torna os dias que correm ainda mais espectaculares. No twitter, foi criada a hashtag “#varoufucker” – se os detractores do grego se deleitam com a possibilidade de comparação negativa com a expressão “motherfucker”, os outros invocam na hashtag um entusiasmo global. E, sim, dava a ideia de que a directora do FMI, Christine Lagarde, depois da reunião com Varoufakis, parecia deleitada. É ver as fotos.
A escritora espanhola Elvira Lindo, numa crónica no “El Pais”, comparou Varoufakis a uma estátua grega e suspirou que só de ver a chegada do ministro a Downing Street para o encontro com George Osborne, “a semana já tinha valido a pena”. Sim, Elvira Lindo deleita-se nos “crânios privilegiados dos gregos”, no caso “no sentido estético”. “É certo que o físico dos gregos tem qualquer coisa de alarmante. Cada cabeça é uma escultura e a de Varoufakis, que não podia ser menos, parece que foi esculpida há séculos e se, quando está sério, apresenta um tom marmóreo que intimida, ao sorrir faz-nos gostar da proximidade, cosmopolitismo e mundanidade.”
Yanis Varoufakis não é um político e nem sequer é um militante clássico do Syriza. Foi conselheiro económico de Georges Papandreou, o primeiro--ministro socialista que chamou a troika a Atenas, distanciando-se do PASOK em 2006. Em Junho de 2013, escreve um texto no “New York Times” em conjunto com o economista James K. Galbraith, em que declara o seu apoio ao Syriza: “Só o Syriza pode salvar a Grécia” era o título. Justificação: “Neste momento o Syriza é a melhor esperança da Europa. Os gregos não querem abandonar o euro nem assistir à desintegração da zona euro, que poderia rebentar com a União Europeia. Mas eles também sabem que a política da Europa face à crise, envolvendo austeridade cada vez mais violenta e maiores empréstimos, falhou miseravelmente. Se estas políticas não mudam, o colapso total da economia grega é iminente. Os requisitos básicos para uma reforma podem ser encontrados nos tratados existentes.”
Varoufakis é um moderadíssimo irritado com a maneira como a Europa está a lidar com a crise. Um comunista radical nunca teria aconselhado o PASOK e o próprio diário inglês conservador “The Telegraph” anuncia: “O ministro grego das Finanças não é nenhum extremista.” E acrescenta: “Não é o socialista ferrabrás de que se poderia estar à espera.”
Quando foi convidado por Alexis Tsipras para as listas de deputados do Syriza, Varoufakis anunciou no seu blogue que iria aceitar – todos os que o liam estavam familiarizados “com os seus esforços para encontrar uma proposta modesta para resolver a crise do euro” – formulada em livro. “Estas propostas não terão qualquer hipótese, percebi agora, até, e a menos que, sejam negociadas no Eurogrupo, no Ecofin e no Conselho Europeu.” “É por isto que quando Alexis Tsipras me convidou para me candidatar ao parlamento de Atenas, com o objectivo de desempenhar um papel nas negociações gregas  com Berlim, Frankfurt e Bruxelas, não podia deixar de aceitar.”

Na véspera de se candidatar a deputado, o “maior medo” de Varoufakis era “transformar-se num político”: “Como antídoto para esse vírus decidi escrever a minha carta de demissão e trazê-la sempre no bolso, pronta para ser entregue se sentir sinais de que estou a falhar o compromisso de falar a verdade.”

A Odisseia, em comparação, é um passeio no parque

A quantidade de material já escrito sobre o sexy “Syriza man” – os próprios jornais alemães estão cheios de lancinantes apoios, não à causa grega, mas ao corpo e ao estilo de Varoufakis – não tem colocado a questão que o próprio ministro das Finanças já colocou a si próprio há bastante tempo. A vitória do Syriza pode ser destruída pelo próprio Syriza. “Que efeito pode ter uma vitória no próprio Syriza? Pode um partido radical de esquerda manter a sua coesão perante os banqueiros centrais e os seus homólogos neoliberais conservadores na Alemanha, na Holanda, na Finlândia, em França ou Espanha?” Varoufakis admite o risco de as circunstâncias favorecerem uma curta vida a qualquer governo de esquerda. “O Syriza pode ter a oportunidade de transformar a Grécia e mudar o curso da história europeia, mas isto é uma tarefa que faz parecer a viagem da Odisseia um passeio no parque. Não será fácil exercer o poder e manter-se fiel a uma agenda radical, enquanto se mantém a coesão interna. Ainda se está para ver como é que os líderes do Syriza vão atingir este milagre. Eu penso que é possível, não fazendo promessas tolas antes das eleições e apresentando uma agenda verdadeiramente radical, com o objectivo de transformar a Europa, propondo aos cidadãos da Alemanha, da Espanha, da Holanda, uma agenda europeia que restaure o sonho europeu da partilha da prosperidade.” Como se vê, Varoufakis antecipa a possibilidade de que qualquer cedência grega possa fazer os mais radicais militantes do Syriza revoltarem-se enquanto o governo luta contra Hércules. Sim, há imensa literatura grega para ser utilizada neste contexto mas a ideia de que a “Odisseia” de Homero, comparado com o que se está a passar na Europa, é um passeio no parque, é suficientemente clara.
Yanis Varoufakis vai fazer em Março 54 anos. Nasceu em Atenas, mas tem nacionalidade australiana, onde viveu vários anos. No fundo, enquanto nacional da Commonwealth, o homem que se apresentou de casaco de cabedal e camisa azul eléctrica em Downing Street, para o encontro com Osborne, o chanceler do Tesouro, era também um súbdito de Sua Majestade. Os jornais têm enchido páginas de comentários sobre a roupa de Varoufakis, criticada por um estilo “boxer”, elogiada pelo casual-chique que contrasta com a farda maldita e feiosa do fato oficial de governante, ou até posta em questão por outra coisa: como é que um homem que se apresenta na Europa como ministro de “um país falido” pode – ou deve – gastar tanto dinheiro num cachecol Burberry? A foto de Varoufakis no fim do encontro com a directora do FMI, Christine Lagarde, incendiou mais uma vez jornais e redes sociais. Na melhor das hipóteses para o estatuto de pobrezinho-mas-honrado, o cachecol seria uma imitação. Varoufakis não esclareceu.


Varoufakis explica que cachecol da Burberry foi um presente da mulher



Varoufakis ontem à chegada à reunião do EurogrupoFotografia © EPA/JULIEN WARNAND
O ministro das Finanças grego, conhecido pelo seu visual descontraído, fez sensação esta quarta-feira ao aparecer na reunião do Eurogrupo com um cachecol da marca de luxo Burberry.

Hoje um dos seguidores de Yanis Varoufakis no Twitter resolveu perguntar ao ministro grego sobre a origem do cachecol. E a surpresa chegou quando o governante respondeu à curiosidade geral: "Já que perguntou, é um presente de há 12 anos da minha mulher. Satisfeito?"
In DN Globo, por A. M.12 fevereiro 2015


Danae salva Yanis depois do choque da partida de Xenia

Quando Varoufakis se divorciou da primeira mulher, a sua filha Xenia era muito pequenina. A mãe quis levá-la para Sydney e o economista lidou pessimamente com a situação. Hoje, compreende-a, admitindo que na altura não levou a coisa a bem. Em 2011, num post no seu blogue com o título “De uma calamidade pessoal à esperança restaurada”, Yanis Varoufakis conta a história da separação da filha, um choque de que só se curou depois de conhecer a artista plástica Danae Stratou, de 50 anos, com quem hoje vive.
“Pessoalmente, a minha vida sofreu uma reviravolta má, ainda antes da crise financeira global. Nesse Agosto de 2005, a minha filha muito pequena, Xenia, foi levada para a Austrália. Por razões que hoje reconheço como legítimas, a mãe de Xenia decidiu levá-la para Sydney e passar a viver lá permanentemente. A perda de Xenia deixou-me num estado de choque (desde então ela vive em Sydney, o que garante a minha ligação com Sydney para toda a vida).”
Varoufakis reconhece que “teve sorte” porque poucos meses depois foi “salvo” por Danae Stratou, a mulher com quem partilha hoje “a vida, o trabalho e uma miríade de projectos”. Os anos foram passando. “Xenia cresce como uma pessoa autónoma e as peças da minha vida que foram tão violentamente separadas em 2005 estão a recompor-se.”
A crise apanha Yanis Varoufakis na Universidade de Atenas e tem um forte impacto na sua vida pessoal. “Tudo o que eu tinha criado na Universidade de Atenas colapsou, tanto os programas de licenciatura como de pós-graduação”, escreveu no seu blogue. O seu rendimento baixou consideravelmente, “o que é de enorme importância tendo em conta as minhas obrigações para com a Xenia, que vive num país cuja moeda estava em constante valorização ao mesmo tempo que o meu salário ia descendo”. Mas para a decisão de abandonar Atenas, contribuíram também “as ameaças de mortes a membros da família” por causa da sua insistência em discutir publicamente os escândalos dos banqueiros gregos. “Em conjunto, estes três factores fizeram-me achar que era tempo de abandonar outra vez a Grécia.” Em 2012, Varoufakis e Danae vão viver para Austin, nos Estados Unidos. Yanis dá aulas na Universidade do Texas, na escola de Políticas Públicas Lyndon B. Johnson. Danae dedica-se aos seus projectos de artista plástica, principalmente às instalações. “Temos as antenas constantemente viradas para a pátria que deixámos para trás. Temporariamente, esperamos.”
Varoufakis está habituado a viver fora do país. Estudou em Essex, no Reino Unido, deu aulas na Escócia, na Austrália e nos Estados Unidos. Mas o tempo de emigração por causa da crise só terminará quando ouve o “chamamento” de Alexis Tsipras para se candidatar a deputado pelo Syriza. O homem que já no início do ano 2000 começou a prever o risco da zona euro (“escrevi muitos artigos mas ninguém ligava nenhuma”) abandonou o seu cargo na Universidade de Texas porque “não podia recusar” juntar-se ao Syriza. Danae continua em Austin, fazendo e desfazendo tapeçarias-instalações enquanto o marido faz de Ulisses e corre a Europa em busca de uma solução que nem ele próprio sabe se será possível. Não, Ulisses é pouco. Foi Yanis Varoufakis que disse que, comparado com o que o espera, a Odisseia de Ulisses é um passeio no parque.

In ionline.pt
Por Ana Sá Lopes
publicado em 16 Fev 2015 - 20:06




Chegando a Downing Street n. 10


Quer conhecer melhor este economista 

que tem medo de ser político?



blog yanisvaroufakis.eu


                                               Lola

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