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quinta-feira, 15 de março de 2018

Stephen Hawking






Stephen Hawking
Refexões Filosóficas


O famoso astrofísico britânico Stephen Hawking, que morreu hoje aos 76 anos, também era conhecido pelas suas observações filosóficas. Estas são algumas das suas citações ou declarações mais famosas:

Sobre o porquê da existência do universo:
"Se encontrarmos a resposta, seria o último triunfo da razão humana - nesse momento, saberemos o pensamento de Deus e conheceremos o espírito de Deus" (em "Uma Breve História do Tempo", publicada em 1988)

Sobre a sua doença:
"As minhas expectativas foram reduzidas para zero aos 21 anos. Tudo desde então é um bónus" (entrevista ao New York Times, em dezembro de 2004)

"Eu vivi cinco décadas mais do que os médicos haviam predito. Eu tentei fazer bom uso do meu tempo (...) Porque todos os dias pode ser o meu último, eu desejo tirar o máximo de cada minuto" (no documentário "Hawking", 2013)

Sobre Deus:
"Não é necessário invocar Deus para acender o pavio e colocar o universo em movimento" (em "O Grande Projeto", publicado em 2010)

Sobre a celebridade:
"A desvantagem da minha celebridade é que eu não posso ir a qualquer lugar sem ser reconhecido. Não serve de nada usar óculos de sol e uma peruca. A cadeira de rodas trai-me" (entrevista na televisão israelita, dezembro de 2006)

Sobre os intelectuais que se gabam
"As pessoas que se vangloriam do seu QI são perdedoras" (entrevista no New York Times, dezembro de 2004)

Sobre a perfeição:
"Sem imperfeição, você e eu não existiríamos" (no documentário "Into The Universe", no Discovery Channel, 2010)

Sobre a vida extraterrestre:
"Se os extraterrestres nos visitarem um dia, acho que o resultado será semelhante ao que aconteceu quando Cristóvão Colombo desembarcou na América, resultado que não é realmente positivo para os índios" (no documentário 'Into The Universe', no Discovery Channel, 2010)

Sobre a inteligência artificial:
"As formas primitivas de inteligência artificial já provaram ser muito úteis, mas acho que o desenvolvimento de uma inteligência artificial completa pode acabar com a raça humana" (em declarações à BBC, dezembro de 2014)

Sobre a morte:
"Eu vivo com a perspetiva de uma morte precoce há 49 anos, não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer, há tantas coisas que eu quero fazer primeiro" (entrevista ao The Guardian, maio de 2011)



Lola

Stephen Hawking



Stephen Hawking
 Frases para a posteridade

O físico que desafiou os limites do cosmos e da vida humana

"Um, lembre-se de olhar para as estrelas e não para baixo, para seus pés. Dois, nunca desista do trabalho. Trabalho dá significado e propósito, e a vida está vazia sem eles. Três, se você tiver sorte o suficiente para encontrar o amor, não o deixe ir embora."
Stephen William Hawking

Sobre a morte, afirmava Hawking: "Medo de morrer eu não sinto, mas também não tenho pressa. Tem muita coisa que eu quero fazer antes. Todos nós vivemos com a perspectiva de morrer no fim. Comigo é exatamente igual, a diferença é que eu esperava a morte bem mais cedo. Mas ainda estou aqui”.

 “Ao tornar livre o acesso à minha tese, espero inspirar pessoas em todo o mundo a olhar para cima, para as estrelas, e não para baixo, para os seus pés” — frase proferida quando divulgou pela primeira vez a sua tese de doutoramento, em 2017.

“O problema da minha fama é que não posso ir a lado nenhum sem ser reconhecido. Não me basta pôr uns óculos de sol e uma peruca, a cadeira de rodas denuncia-me”, Stephen Hawking em entrevista a uma televisão israelita em 2006.

“O meu objectivo é simples. É um entendimento completo do universo, a razão pela qual existe e pela qual existe sequer.”

“Se descobríssemos a resposta para isso [a razão pela qual o Universo existe], seria o triunfo derradeiro da razão humana — pois aí conheceríamos a mente de Deus.” Excerto de Uma Breve História do Tempo, 1988

“Vejo o cérebro como um computador que deixará de funcionar quando os seus componentes falharem. Não há paraíso ou vida além da morte para computadores avariados; isso é um conto de fadas para pessoas com medo da escuridão.”

“As minhas expectativas foram reduzidas a zero quando tinha 21 anos [altura em que lhe foi diagnosticada a esclerose lateral amiotrófica]. Desde aí, tudo tem sido um bónus” – em entrevista ao New York Times, em Dezembro de 2004

“A vida seria trágica se não fosse engraçada.”

“Sem imperfeição, eu e tu não existiríamos” – dito na mini-série televisiva Into the Universe with Stephen Hawking, transmitido na National Geographic

“Vivi sob o espectro de uma morte precoce durante os últimos 49 anos. Não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Há tanta coisa que quero fazer primeiro.” — em entrevista ao Guardian, em Maio de 2011

“Ainda que não me consiga mexer e mesmo tendo de falar através de um computador, sou livre na minha mente.”

“A inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança.”

“Penso que os vírus informáticos deviam ser considerados vida… Penso que diz algo sobre a natureza humana que a única forma de vida que criámos até agora é meramente destrutiva. Construímos vida à nossa imagem.”


Stephen William Hawking
Obrigado!


                                            Lola

Stephen Hawking



Stephen Hawking morre aos 76 anos

Contribuições do físico e cosmólogo britânico marcaram a

 ciência do século XX

14/03/2018 - 01H03/ ATUALIZADO 11H0303 / POR REDAÇÃO GALIL

O cientista britânico Stephen Hawking morreu nesta quarta-feira (14) aos 76 anos em sua residência, na cidade inglesa de Cambridge. Sua família enviou uma declaração oficial à imprensa confirmando a morte do físico e cosmólogo. Lucy, Robert e Tim, seus filhos, afirmaram que Hawking era "um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos".
Considerada uma das mentes mais brilhantes da história da ciência, ele fez grandes contribuições à comunidade científica, com teorias como a do espaço-tempo e do funcionamento dos buracos negros, a partir das quais conseguiu aproximar o público de temas que poderiam parecer complexos para muitos.
Há décadas convivia com esclerose lateral amiotrófica, doença responsável por paralisar os músculos do corpo, mas que não comprometeu suas funções cerebrais.

Nascido em 1942, no aniversário de 300 anos da morte de Galileu, Hawking realizou seu trabalho acadêmico nas universidades britânicas de Oxford e Cambridge. Autor de best-sellers como Uma Breve História do Tempo e O Universo numa Casca de Noz, o cientista foi responsável por popularizar a física teórica para um público leigo.

Separamos oito reflexões a partir das quais é possível ter uma visão mais profunda da linha de pensamento — e das contribuições científicas do cosmólogo:
“Deus pode existir, mas a ciência consegue explicar o universo sem a necessidade de um criador.” 
Em múltiplas ocasiões, Hawking afirmou ser ateu. Neste caso, Deus seria uma espécie de limitação, ou seja, as pessoas só saberiam aquilo que Ele sabe. A diferença entre a religião e a ciência, de acordo com Hawking, é que a primeira é baseada em uma autoridade, enquanto a segunda funciona a partir da observação e da razão.
 “Eu acredito que o universo é regido pelas leis da ciência”, explicava. “A ciência triunfará porque ela funciona.”

“Acredito que a vida se desenvolve de forma espontânea na Terra, então deve ser possível para ela se desenvolver em outros planetas.”
 
Hawking acreditava que formas inteligentes, não apenas microbianas, de vida existem em outros lugares do universo. Tanto que lançou um programa de 100 milhões de dólares cujo objetivo era buscar uma civilização extraterrestre.
A segunda parte da missão consistiria em compilar uma mensagem para ser enviada para essas formas de vida. “Não há questão maior. Está na hora de nos comprometermos a achar a resposta, a procurar vida fora da Terra. Estamos vivos. Somos inteligentes. Precisamos saber”, disse o físico.

 “O desenvolvimento da inteligência artificial pode ser o fim da raça humana.”
Por sofrer de esclerose lateral amiotrófica, que compromete o funcionamento do sistema nervoso, o cosmólogo contava com a tecnologia para se comunicar. Especialistas da Intel e da Swiftkey criaram um sistema que, por meio do teclado de um aplicativo no smartphone, aprendia como Hawking pensava e sugeria palavras que ele queria usar em seguida. O desenvolvimento dessa tecnologia envolveu inteligência artificial, o que impressionava e assustava o cientista ao mesmo tempo.


Para ele, era necessário ter cautela para não criar uma espécie de Skynet que ultrapassaria a inteligência humana e substituiria as pessoas. Essa preocupação se estendia principalmente ao desenvolvimento de armas autônomas. Em carta aberta, Hawking e centenas de outros cientistas se posicionaram em relação às consequência desse tipo de tecnologia.
“A tecnologia relacionada a inteligência artificial chegou a um ponto no qual a disposição desses sistemas é possível em questão de anos, não décadas, e as expectativas são altas: as armas autônomas foram descritas como a terceira revolução para as guerras, após a pólvora e as armas nucleares”, diz o documento.
“A pergunta chave para a humanidade hoje é se devemos dar início a uma corrida de armas feitas com inteligência artificial ou se devemos prevenir que ela sequer comece. É só uma questão de tempo até que elas apareçam no mercado negro ou nas mãos de terroristas e ditadores que querem controlar suas populações, ou déspotas que desejam fazer ‘uma limpeza’ étnica em seus territórios.”
“A ideia de viagem no tempo não é tão louca quanto parece.” 

Em artigo escrito para o Daily Mail em 2010, Hawking revelou que, por muito tempo, evitou falar sobre viagem no tempo por receio de ser rotulado de louco. Mas com o passar dos anos, deixou essa abordagem de lado.
“Eu sou obcecado com o tempo. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu visitaria Marilyn Monroe em seus dias de glória ou iria atrás de Galileu enquanto ele construia seu telescópio. Talvez eu até viajasse para o fim do universo para descobrir como a nossa histórica cósmica termina”, escreveu.

O físico seguia a ideia proposta por Einstein de que o tempo era uma das quatro dimensões que conseguimos perceber no Universo — como a largura, a profundidade e o comprimento. “Tudo tem um comprimento no tempo, bem como no espaço”, explicou. Logo, viajar no tempo seria viajar pela quarta dimensão, uma espécie de portal com o nome de “buraco de minhoca”.
“Os buracos de minhoca estão por toda parte do nosso redor, mas eles são muito pequenos para que consigamos vê-los. Eles ocorrem em fendas e cantos do espaço e do tempo. Alguns cientistas acreditam que talvez seja possível aumentá-los o suficiente para que humanos ou naves espaciais possam utilizá-los.”
"As coisas podem escapar de um buraco negro, tanto para o lado de fora, como também possivelmente em um outro universo." 

Em 1974, Hawking argumentou que os buracos negros, supostamente campos gravitacionais impossíveis de se escapar, emitem um tipo de radiação térmica por conta de efeitos quânticos. Chamada de radiação Hawking, quando emitida em grande quantidade, teoricamente, pode fazer com que o buraco negro desapareça e que, com isso, a informação sobre o estado físico de um objeto que cai no buraco negro seja destruída.
Isso aconteceria de acordo com a relatividade geral. Já sob o ponto de vista da mecânica quântica, essa mesma informação não poderia se perder. Esse paradoxo tem perdurado pelos últimos 40 anos.
Em 2004, o cientista mudou de ideia, afirmando que a informação poderia sobreviver. No fim de agosto de 2015, ao falar da radiação Hawking, o cosmólogo sugeriu uma nova abordagem que pode mudar para sempre a forma como buracos negros são vistos e discutidos. “Eu proponho que a informação não é armazenada no interior do buraco negro, como é de se esperar, mas sim em seu limite, o horizonte de eventos”, disse o cientista.
Basicamente, ao ser sugada pelo buraco negro, a informação passaria por um processo de tradução, criando um holograma da informação que sobreveviria e escaparia pelo horizonte de eventos. “Os buracos negros não são tão negros como os fizemos parecer. Eles não são as prisões eternas que já foram considerados uma vez”, explicou Hawking.

“Você tem que ter uma atitude positiva e tirar o melhor da situação na qual se encontra.” 
O cosmólogo foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica quando tinha 21 anos. Na época, a previsão dos médicos era de que Hawking teria apenas mais três anos de vida. Ele lidava com a doença se focando em atividades relacionadas com a física teórica, que não exigiam seu esforço físico. “A ciência é uma área boa para pessoas deficientes porque ela precisa principalmente da mente”, afirmou.

"Manter alguém vivo contra a sua vontade é uma grande indignidade."

O suicídio assistido deveria ser um direito dos pacientes de doenças terminais, de acordo com Hawking. O cientista afirmou, durante um programa da BBC, em junho de 2015, que consideraria dar um fim à própria vida se sentisse ser um fardo para outras pessoas e não tivesse mais contribuições a fazer. No entanto, ele admitiu que ainda tinha muito a oferecer à sociedade. “Nem pensem que eu vou morrer antes de desvendar mais segredos do universo”, declarou.

“Nós somos uma espécie avançada de macacos em um planeta menor de uma estrela mediana. Mas nós conseguimos entender o Universo. E isso nos torna muito especiais.”

O objetivo de Hawking era obter a compreensão total do Universo, como os motivos de ele ser como é e a razão de ele existir. A dica do cientista para as pessoas era olhar para as estrelas e não para baixo, para os próprios pés. “Tente encontrar sentido no que você vê, e se pergunte sobre o que faz o Universo existir”, dizia. “Seja curioso.”

In Revista Galileu



                                            Lola

domingo, 23 de outubro de 2016

Stephen Hawking




Jane Hawking nasceu perto de Londres, há 70 anos                      foto Pedro Catarino




Stephen Hawking: o génio em família





Vinte e cinco anos de vida em comum e três filhos não foram os únicos resultados do casamento de Jane Hawking com Stephen Hawking, o físico britânico que escreveu ‘Uma Breve História do Tempo’. 










                  












O livro de memórias da sua ex-mulher, ‘Viagem ao Infinito’, agora publicado em Portugal, e que deu origem ao filme ‘A Teoria de Tudo’, conta a história de um casal muito invulgar. 

Concorda que a maior parte daqueles que admiram Stephen Hawking não o admiram pelo seu trabalho científico mas sim devido à luta contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA)?
 Julgo que o admiram por ambas as coisas. O trabalho dele é muito importante, mas claro que o facto de a doença o ter incapacitado tanto é um fator importante. 

Considera escandaloso ou compreensível que muitas dessas pessoas não façam a menor ideia de quais são as teorias que ele formulou? 
Poucos conseguem entender ‘Uma Breve História do Tempo’, por exemplo. Não é surpreendente que grande parte da população não perceba nada daquilo que ele escreve. Mas gostam da ideia de haver alguém deficiente que conseguiu fazer coisas espantosas. Quando deixou de ser capaz de escrever, tinha de memorizar tudo. Fazer o seu trabalho era como escrever uma sinfonia de Mozart. Isso é apelativo para as pessoas. 



‘Viagem ao Infinito’ é muito honesto ao descrever os vossos problemas de casal. Alguma vez teve hesitações ao escrever o livro? 
Não. O Stephen é tão famoso que toda a família foi arrastada. Sabia que, caso não escrevesse uma versão definitiva daquilo que foi a nossa vida, outra pessoa qualquer apareceria e faria um relato menos honesto, inventando histórias. Além disso, quis assegurar-me de que o público em geral, políticos, governantes, profissionais de saúde e assistentes sociais ficariam a saber como é difícil para um deficiente ter êxito e para a sua família sobreviver, na sociedade em que vivemos. Não tenho quaisquer remorsos. 




Escreve várias vezes que se casou numa altura em que o Mundo estava à beira da guerra atómica e era possível que todos tivessem apenas mais alguns anos de vida. Tomaria a mesma decisão noutro contexto? 
Era muito nova, cheia de otimismo e tinha a certeza de que eu e o Stephen podíamos derrotar a doença. Amava-o, e por isso não tinha escolha, mas a ameaça de extinção tornou a decisão mais fácil. 

O livro é uma versão muito invulgar das histórias ‘rapariga encontra rapaz’… 
De facto.  

O que explica que o cinema se tenha interessado.
 Anthony McCarten, um argumentista neozelandês, visitou-me em 2004. Lera a primeira versão das minhas memórias e pensou que poderia transformá-las em filme. Na altura não estava preparada. Continuou a insistir, a tentar persuadir-me, sempre comigo a recusar. Em maio de 2013 apresentou-me à equipa da Working Title e fiquei tão lisonjeada por a maior produtora do Reino Unido querer adaptar o livro que disse sim. Foi a decisão correta: fizeram um filme belo e cheio de sentimento. 

Em que consistiu a sua colaboração com a produção de ‘A Teoria de Tudo’? 
O Anthony enviou-me o argumento e autorizou-me a sugerir alterações. Ele não ligou muito, mas consegui tirar todos os palavrões que lá estavam. Os cientistas nunca os usavam – ainda hoje não os usam –, tal como os estudantes dos anos 60.

Quão estranho é ver Felicity Jones nomeada para o Óscar de Melhor Atriz por desempenhar o seu papel?
Estou entusiasmada por ela. É uma atriz maravilhosa e uma pessoa adorável. A Felicity e o Eddie [Redmayne, que faz de Stephen Hawking, e foi nomeado para o Óscar de Melhor Ator] jantaram connosco diversas vezes, e ela aprendeu a forma como eu falo e os meus gestos. Quando vi o filme, fiquei estupefacta com a cena da festa em que nos conhecemos. "Estou aqui sentada, mas também estou na tela", pensei. Fiquei muito feliz com a nomeação e espero que ela receba o Óscar. 

Tanto no livro como no filme, Stephen aparece como estando imerso nos seus pensamentos e desprezando crenças e ações dos outros. Alguma vez ele reconheceu isto? 
Tenho de explicar que havia quatro parceiros no nosso casamento: Stephen, eu, a  ELA e a deusa da Física. Quando ele percebeu que teria futuro na ciência, ficou tão obcecado com a  Física que se tornou como qualquer outro génio. Por vezes, quando os nossos filhos eram pequenos, ficava sentado assim [inclina-se e apoia o queixo na mão]. 





Como a estátua do ‘Pensador’, de Rodin? 
Precisamente. O fim de semana inteiro, enquanto os filhos brincavam e eu pensava no que estava a acontecer. Estariam as crianças a fazer demasiado barulho? Estaria o Stephen desconfortável? Estaria a sentir-se mal? Teria eu feito algo que lhe desagradara? Mas ele não dizia nada até à manhã de segunda-feira, quando sorria e anunciava que tinha resolvido um problema de Física [risos]. Penso, portanto, que ele não se apercebia das suas obsessões. 

Acredita que ele se teria barricado tanto na mente se não tivesse a doença? 
É algo que ele tem em comum com outros génios. Einstein era capaz de sair de casa sem meias, outro génio excêntrico que tivemos em Cambridge ia para o trabalho de pijama. Penso que o Stephen se insere nessa categoria. Consigo entendê-lo agora. Era mais difícil quando  dava tudo por ele, enquanto tinha crianças pequenas para cuidar, e tinha de ser o homem da casa, pois não havia mais ninguém. 

É justo dizer que ele não valorizou o seu trabalho académico no campo da literatura medieval ibérica? 
Chegou a dizer ao meu orientador que isso tinha tanto valor quanto apanhar pedras na praia. Mas quando finalmente fiz o doutoramento comprou-me o mais belo dos trajes académicos para a cerimónia. Suponho que isso traduziu a sua satisfação de que eu tivesse alcançado algo. 

Tendo estudado as cantigas de amigo e visitado algumas cidades, consegue entender português?
 Que pergunta tão embaraçosa! Falo espanhol, mas entender as palavras é tão complicado que digo [num português hesitante, mas de pronúncia irrepreensível]: "Sinto muito. Não falo português." Um dia talvez consiga . 

Se tivesse de apontar o pior momento da sua vida com Stephen, seria aquele em que os seus sogros questionaram a paternidade do vosso terceiro filho?
 Foi terrível, sobretudo após cuidar dele durante tanto tempo, mas não o pior. Esse sucedeu quando o meu filho mais velho, com 18 meses, encontrou remédios e engoliu-os todos. Esteve quase a morrer. Foi o pior momento. Houve outros que me magoaram, mas este foi potencialmente trágico. 

Surpreendeu-se  ao reencontrar a felicidade com aquele que veio a ser o seu segundo marido? 
Foi a maior bênção imaginável. Encontrei a felicidade com o Stephen, no início do casamento, e senti felicidade tremenda graças aos nossos filhos. Tenho agora a fortuna de uma imensa felicidade. 





Agora é amiga de Stephen? 
Comunicamos. Ele vive a cinco minutos de nós, e desde que se divorciou posso visitá-lo de duas em duas semanas. Continuo a sentir que o devo proteger, e amo-o, de certa forma, pois é o pai dos meus filhos. No Natal e aniversários fazemos uma refeição todos juntos, o que é agradável. 

Portanto, qualquer ressentimento desapareceu? 
Da minha parte, sim, a não ser que escave muito o nosso passado. Espero que da parte do Stephen também.

In Correio da Manhã,
 23 de Outubro de 2016





Lola

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