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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Discurso da República






O MEU DISCURSO DA REPÚBLICA



Homens e Mulheres da República!
O Tempo, esta categoria do humano, passa, a Natureza desenvolve-se, o Homem vive e descobre o que o rodeia num movimento incessante. Mas, como em qualquer ser vivo, a vida tem um fim que, inevitavelmente, nos envolve. Tudo se transforma em momentos fugidios que jamais serão vividos. A História, a História tão sentidamente vivida, permanece, apesar de tudo,  na memória das gerações vindouras.
Nos últimos cem anos, o Homem desenvolveu-se como nunca os seus antepassados imaginaram, questionando os limites daquilo que poderia ser alcançado. Com cem anos escreve-se a História, transforma-se uma Nação, criam-se condições para estarmos aqui hoje, como povo livre, igual e fraterno, comemorando o 5 de Outubro de 1910.
É que ao comemorar, hoje, o centenário da República, estamos, também, a fazer a História de uma Nação inovadora que, permanentemente, vive em nós com o nome de Portugal.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Olhar o passado das nossas gentes é algo de que nos devemos orgulhar! Cedo, os portugueses se assumiram como povo determinado em viajar para além do horizonte sensorialmente apreendido,  numa ambição desmedida, numa vontade ousada,  com um esforço inigualável  e uma inteligência sublime, lutando pela sua independência conquistando territórios longínquos e descobrindo mundos desconhecidos, repletos de mistérios a explorar.
A História de um país, tal como a vida de cada um de nós, é feita de desalento e de esperanças continuamente repensadas e prementemente desejadas. Assim, o período monárquico trouxe consigo muitas insatisfações e um grande descontentamento da população, pelas dificuldades sofridas  na disparidade entre operários, agricultores e  trabalhadores rurais e os muito ricos que conseguiam aumentar a sua fortuna numa desigualdade de oportunidades demasiadamente imoral porque exageradamente desumana.
Três décadas de grande revolta e propaganda republicana geraram uma crescente instabilidade no Regime Monárquico. No dia 1 de Fevereiro de 1908, D. Carlos morre num atentado em Lisboa, sucedendo-lhe D. Manuel II. Passados dois anos, iniciar-se-ía  a primeira grande revolução portuguesa do século XX.
 O movimento revolucionário partiu de pequenos grupos de conspiradores: membros do exército e da marinha, alguns dirigentes civis e grande número de populares armados. Apesar de alguma resistência e alguns confrontos militares, o exército fiel à monarquia não conseguiu organizar-se de modo a derrotar os revoltosos. A revolução saiu vitoriosa.
É então que na  manhã de 5 de Outubro de 1910, José Relvas e outros membros do Directório do Partido Republicano Português, à varanda da Câmara Municipal de Lisboa e perante milhares de pessoas, proclamaram a República que terminava um período monárquico em Portugal: em lugar do rei que, por mero critério  hereditário, ocupa o poder desenha-se a alvorada da República, em que o presidente, eleito livremente pelos Portugueses, pode governar o  País.
Numa Europa marcadamente conservadora e predominantemente monárquica, Portugal desenha um quadro de alterações: da bandeira à moeda, do hino à reforma ortográfica, de um centralismo à participação livre dos cidadãos na vida do seu país.
O regime republicano, implantado em 1910, inspirou-se nos ideais da Revolução Fancesa: liberdade igualdade e fraternidade.  A república reforçou o parlamentarismo e a afirmação dos direitos, liberdades e garantias individuais. O poder republicano consagrou os princípios constitucionais do novo regime num texto elaborado por uma Assembleia Nacional eleita no ano seguinte: a Constituição de 1911.
E porque a história dos povos também se constrói nas adversidades sentidas, não esquecemos o período de grande instabilidade governativa que durante a 1ª República, entre 1910 e 1926, Portugal viveu e as  sequelas da 1ª Guerra Mundial que acentuaram a crise do parlamentarismo da 1ª República, levando-a a  sucumbir a um golpe militar em 1926, estabelecendo-se o Estado Novo.
A República viveria doravante, e por cerca de cinco décadas, o seu lado lunar: De Salazar a Marcello Caetano, da existência de um partido político oficial, a União Nacional, que transmitia o “espírito da Nação” a uma oposição  duramente reprimida. Da censura dos media que impedia a contestação ao regime, à tristemente memorável e temida polícia política que perseguia todo e qualquer opositor ao regime.
Com uma ideologia marcadamente conservadora, o Estado Novo orientava-se segundo os princípios consagrados pela tradição: Deus, Pátria, Família, Autoridade, Hierarquia, Moralidade, Paz Social e Austeridade.
Usou como instrumentos de eternização a criação de milícias, uma para defesa do regime e combate ao comunismo, a Legião Portuguesa; outra destinada a inculcar nos jovens os valores do regime, a Mocidade Portuguesa.
Toda a vida económica e social do país foi organizada em corporações. O corporativismo estabelecia um maior controlo do Estado sobre as actividades económicas  dificultando a existência de sindicatos.
Uma política teimosamente colonialista, que afirmava Portugal como um Estado pluricontinental e multirracial, originaria a partir de 1961, já com muitas pressões internacionais para que o país concedesse  a independência às suas colónias, uma das páginas mais negras da nossa história: a Guerra Colonial.
Portugal condescendia a uma política nacionalista alargada a vários níveis e, sobretudo,  marcada pela máxima: “ Estamos orgulhosamente sós”.
Este país, que é nosso, viveu mergulhado na pobreza incompreensível, na tristeza inexplicável e no medo perturbador. Durante mais de 40 anos, a ditadura escureceu a esperança de um povo que se exilava, que ansiava por  eleições livres e exigia alternativas de pensar a vida colectiva. Pessoas sedentas de liberdade para expressar  pensamentos  sobre um país que sentiam poder afirmar-se com dignidade. Muitos se sentiram vigiados, alguns foram presos simplesmente por acreditarem na utopia, uns tantos viveram a experiência amarga da  tortura em espaços dolorosamente relembrados.
Até que, por entre o adormecer inconformado da ditadura e os primeiros raiares de Sol, amanhece Abril! De cravos vestidos de vermelho e cuidadosamente colocados em espingardas de contestação apontadas a futuros de liberdade, milhares de vozes abraçam uma revolução que acorda ao som de uma canção pintada de liberdade.
Um grupo de navegadores  parte, mais uma vez,  em busca de um Portugal diferente. Salgueiro Maia e os capitães de Abril, sonham um país de liberdade, de desenvolvimento, de igualdade de oportunidades – um país de um novo Abril de esperança.
De novo se proclama a Republica!
Não vivi Abril!  Sinto-o, no entanto, nas expressões de mudança deste Portugal que se quer uma construção contínua pela participação de todos que o constituem. Sou um adolescente que acredita na força dos jovens deste país capaz de potenciar novas oportunidades de desenvolvimento nas letras, nas artes e nas ciências. A juventude entrelaça o Passado no Futuro que continuadamente projecta, assumindo-se como  alicerce fundamental da sociedade a construir e que pede uma regeneração ética, estética e axiológica!
Novos desafios se nos apresentam: a responsabilidade pelo planeta, o desenvolvimento sustentável, a luta contra a pobreza, o cuidado e o respeito pelo outro, o progresso social e a aposta na cultura, na educação, na investigação e no empreendedorismo. Saibamos, por isso, acreditar!
Cidadãos da República,
Se a constuição de 1822 definia a Nação Portuguesa como “A união de todos os portugueses de ambos os hemisférios”, hoje podemos afirmar que este é o país que se abre à Europa e ao mundo, que acredita nas potencialidades dos seu povo, um país que se afirma como um espaço de convivência multicultural, de respeito pelos diferentes credos religiosos e por  novas formas de relacionamento interpessoal.
Estes são tempos que exigem atitudes de debate e reflexão pelas opções políticas, pessoais e sociais face a desafios de uma  sociedade que nos envolve. Façamos da tolerância um princípio e do respeito uma exigência!
Urge reconhecer a importância da aposta na formação académica e na educação dos jovens que, preparando o seu futuro, contribuem e desenvolvem o país que os abraça em valores republicanos num respeito exigido pelo legado dos nossos antepassados.
Saibamos, por isso, merecer e perpetuar a grandiosidade de um  Portugal ido, de Camões, de Eça e de Pessoa  construindo um país de esperança, neste que é um Portugal moderno de Oliveira, de Pomar e de Saramago.
Enfrentamos Adamastores! Não tememos o desconhecido confirmando a brava ambição de guerreiros lusitanos! Nós que nos sentimos povo livre, de força desmedida, de coragem inquebravel, seremos, com certeza, uma Nação de futuro, um povo solidário, sedento de aventura e utopia.
Herdeiros de bravos navegadores quinhentistas destemidos face a obstáculos temerosos, afirmemo-nos como povo de esperança continuada – um país com SAUDADE do futuro. Esta Saudade que é só nossa!


Viva a República! Viva Portugal!


Tiago Fontes Mendes e Rosa Sousa




Lola

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