terça-feira, 1 de outubro de 2013

Validade e Verdade




 Validade e Verdade

Os princípios lógicos da razão dizem-nos como pensar e não o que pensar. Eles referem-se à estrutura formal do pensamento e não ao seu conteúdo, a que podemos chamar a matéria do pensamento.
Assim, quer pensemos acerca de faquires, borboletas, idas ao cinema, ou qualquer outra coisa, por mais mirabolante que seja, temos que pensar de forma consistente, temos que seguir os princípios lógicos da razão, ou seja, o nosso pensamento tem que estar bem estruturado. Isto, como é óbvio, independentemente do conteúdo do pensamento.

Dizer que o João é bom e mau aluno, sem mais, é um pensamento inválido, porque viola o princípio da não-contradição; o mesmo acontece se dissermos que "agora é de dia e de noite", ou "os xptos são extraterrestres e terrestres”.

Ora, chamamos validade formal à consistência dos nossos pensamentos, eles são válidos se estiverem bem construídos, de acordo com os princípios lógicos da razão, caso contrário são inválidos em termos formais.

Para além da sua estrutura formal os nossos pensamentos têm um conteúdo, têm uma matéria. Se o conteúdo do nosso pensamento for incongruente com os dados da experiência sensível (da realidade), então o nosso pensamento é inválido em termos materiais, ou seja, é falso (mesmo que seja formalmente válido).

Sendo assim, podemos dizer que o nosso pensamento é verdadeiro quando está adequado à realidade. A verdade (validade material) pode ser definida como a adequação do pensamento à realidade.

Mas, para poder ser verdadeiro, para estar adequado à realidade, o pensamento tem que ser válido em termos formais, tem que estar bem estruturado. Assim: os pensamentos só podem ser verdadeiros se forem válidos em termos formais e, também, se estiverem adequados à realidade. Daqui se depreende que um pensamento inválido em termos formais não pode ser verdadeiro (se está mal construído não pode corresponder à realidade).

 Para além de uma estrutura formal, os nossos pensamentos têm que ter um conteúdo (caso contrário seriam vazios). Ora, o conteúdo dos nossos pensamentos também tem que estar correctamente estabelecido. Aquilo que determina a correcção do conteúdo do pensamento não é um conjunto de princípios ou regras de carácter formal, mas a sua adequação à realidade. Assim a validade material (ou verdade), corresponde, de acordo com a definição aristotélica, à adequação do pensamento à realidade. Sendo assim, a validade material (ou verdade) do pensamento está fora do âmbito da Lógica Clássica, que tem como objecto o estudo dos princípios e das regras que permitem a coerência formal do pensamento e não a sua adequação à realidade.

O problema da adequação à realidade não depende da Lógica Clássica, mas da Gnoseologia (Filosofia do conhecimento) e da Epistemologia (Filosofia das ciências). Sendo assim, a partir deste momento não nos iremos preocupar com o conteúdo dos enunciados com os quais iremos trabalhar, mas apenas com a sua estruturação formal, com a sua conformidade com os princípios e regras que regem a sua coerência formal.
Mas com isto não se pense que a Lógica ( a partir deste momento sempre que nos referirmos à Lógica, estamos a referir-nos à Lógica Clássica) não se preocupa com a verdade (validade material), antes pelo contrário: é que o pensamento só pode ser verdadeiro se estiver correctamente estruturado.

 Podemos, então, concluir o seguinte:

A validade formal é uma condição necessária da validade material, quer dizer: os enunciados só podem ser válidos em termos materiais (verdadeiros) se forem válidos em termos formais. Mas um enunciado pode ser válido em termos formais, sem que seja verdadeiro (válido em termos materiais). Simplificando: os enunciados inválidos em termos formais são necessariamente falsos (Ex.; os enunciados verdadeiros não podem ser inválidos em termos formais; os enunciados válidos em termos formais podem ser  verdadeiros ou falsos, consoante a sua adequação ou não adequação à realidade 


Tarefa:

  1. O que distingue a validade material e a validade formal?
  2. Explique a seguinte afirmação: “A validade formal é uma condição necessária da verdade material”.

A quem interessar...


«A Lógica é o estudo dos raciocínios, dos argumentos formalmente válidos. Um argumento é formalmente válido quando a verdade das premissas garante a conclu­são pela forma, e apenas pela forma.
(...) Se dissermos “Todos os homens são mortais, Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal” (…) Podemos proceder do mesmo modo para todos os termos do raciocínio, e simbolizar o mesmo escrevendo, ”Todos os X são Y, A é X, logo A é Y”, e substituir o X, o Y e o A pelo que quisermos, se bem que os valores devam ser diferentes pois X, Y e A são-no, e se as premissas forem verdadeiras, então a conclusão deve sê-lo igualmente, inde­pendentemente de qualquer consideração de conteúdo. Se dissermos “Todos os homens têm asas, Sócrates é homem”, teríamos o direito de deduzir daí que “Sócrates tem asas”. A conclusão, material­mente falsa porque uma das premissas o é, é formalmente verdadeira

M. Meyer, Lógica, Linguagem e Argumentação, Lisboa, Edições Teorema, p. 85



                                                                                                            LOLA



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