quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Teorias cientificas




Teorias cientificas


  Não é por uma teoria cientifica cair que deixa de ser científica. Pelo contrário, só as teorias científicas podem cair, por poderem estar erradas, isto é, por serem passíveis de negação, pela lógica, pela observação e pela experiência. Por exemplo, o sistema geocêntrico foi substituído pelo sistema heliocêntrico, no século XVI, por ser mais lógico e estar mais de acordo com as observações. Foi Galileu, no século seguinte, quem fez vingar a visão de Copérnico. Por outro lado, no mesmo século, a teoria de movimento de Aristóteles foi substituída pela mecânica de Galileu e Newton, que tinha, ao contrário das antigas ideias gregas, não só sustentação matemática como também um enorme poder preditivo na descrição de acontecimentos reais. Em tempos mais recentes, ao longo do século XIX, o energicismo, que teve em Ostwald e Mach dois dos seus últimos defensores, deu lugar ao atomismo, de Maxwell, Boltzmann e outros, por os átomos terem inequivocamente, num extenso rol de experiências, dado provas da sua existência.

Avançando no tempo, esses dois grandes pilares da física moderna que são a teoria quântica, proposta por Planck, Bohr e outros, e a teoria da relatividade, tanto restrita como geral, proposta por Einstein, ainda não foram substituídos desde que ascenderam há cerca de um século. Tal não ocorreu por falta de investidas do engenho humano em imaginar situações e criar dispositivos que permitam verificar a respectiva validade, mesmo em situações extremas, mas sim e tão só porque os resultados de todas as experiências realizadas até agora eram resultados que podem ser encaixados por elas. Alguns físicos, como foi o caso de Einstein, acham que a teoria quântica é insatisfatória do ponto de vista conceptual. Mas isso não basta para a arredar: é preciso que alguma observação ou experiência a ponha em causa, o que não aconteceu até agora. A electrodinâmica quântica - que resulta do “casamento” da teoria quântica com a teoria da relatividade - tem sido testada com uma precisão incrível, dando sempre boa conta de si. Por seu lado, a teoria da relatividade restrita acaba de vencer um ataque, perpretado pelos defensores dos pretensos neutrinos superluminais, que afinal não passavam de um mero erro experimental. Finalmente, a teoria da relatividade geral tem englobado um número cada vez maior de observações astronómicas e cosmológicas, embora permaneça o sentimento de insatisfação, bem patente nos cultivadores de teorias de grande unificação, de não ter ainda sido celebrado o seu “casamento” com a teoria quântica. Podemos dizer que as duas grandes teorias da física moderna – a teoria quântica e a teoria da relatividade - continuam em ascensão. Não há sinais de decadência.

A história da ciência ensina-nos, porém, que um dia, cedo ou tarde, as nossas melhores teorias físicas acabarão por dar lugar a outras quando for revelada uma sua pequena ou grande falha. Não quer isto dizer que tenham de ser largadas e esquecidas. A sua consistência interna e a forte acumulação até agora de observações e experiências em seu abono indica-nos que as teorias seguintes as incluirão de alguma maneira. Planck, Bohr e outros nada tiveram a opor à mecânica de Galileu e Newton aplicável à escala macroscópica, ao desenvolver uma nova mecânica que descreve uma multidão de fenómenos microscópicos, , à escala dos átomos, e que dá lugar à velha mecânica quando se amplia a escala de observação (a ligação da nova com a velha mecânica pode fazer-se de várias maneiras). De modo semelhante, Einstein não derrubou Galileu e Newton, mas antes forneceu uma teoria mais abrangente, pois consegue descrever não apenas fenómenos do nosso dia-a-dia mas também fenómenos que envolvem velocidades próximas das da luz. Assim, é razoável prever que as teorias físicas futuras tenham de incluir os ensinamentos de Planck, Bohr, Einstein, etc. 
 Não poderemos deitar fora o bebé com a água do banho. De certa forma, as grandes teorias científicas nunca caem. As novas teorias prolongam as anteriores de um modo que não é de modo nenhum trivial. É por isso que as mudanças  não são fáceis: elas desafiam as mentes mais imaginativas. Em ciência a imaginação nunca é livre. 
 Feynman, que trabalhou com grande sucesso na electrodinâmica quântica, disse que a "imaginação está contida numa camisa de forças"


Texto Carlos Fiolhais





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