Bélgica legaliza eutanásia para
menores
Os deputados belgas aprovaram,
esta quinta-feira, em definitivo uma lei que alarga o campo legal da eutanásia
a menores atingidos por uma doença incurável, sem fixar uma idade mínima.
foto LAURENT DUBRULE / REUTERS
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A lei, que tinha sido votada pelo
Senado em dezembro, foi aprovada pelos deputados por 86 votos a favor, 44
contra e 12 abstenções e deverá entrar em vigor nas próximas semanas. A Bélgica
torna-se no primeiro país no mundo a permitir a decisão a uma criança.
O debate tomou conta da opinião
pública, com a troca de argumentos entre partidos, a Igreja Católica,
profissionais da saúde, organizações e associações de pais e juristas.
Quarta-feira, durante o último debate no parlamento, cerca de uma centena de
manifestantes protestaram, à chuva e ao frio, frente ao Parlamento, contra a
medida.
Na véspera da votação, 160
pediatras questionaram, numa carta aberta, a capacidade de juízo de crianças e
jovens, opondo-se à legislação e pedindo o adiamento da votação. Argumentam os
clínicos que a evolução da ciência responde já ao sofrimento de crianças com
doenças terminais com várias soluções para "atenuar a dor",
nomeadamente a sedação paliativa.
O projeto-lei já foi aprovada no
Senado, em dezembro, com 50 votos a favor, 17 contra e quatro abstenções. Esta
quinta-feira, a proposta de emenda foi aprovada.
"Não se trata de impor a
eutanásia a alguma criança ou família, mas de permitir que criança escolha não
eternizar o sofrimento", afirmou a deputada socialista Karine Lalieux.
"O direito de abordar a vida
e a morte não pode ser reservado aos adultos", considera o deputado
liberal Daniel Bacquelaine.
Há 12 anos que a eutanásia de
adultos está autorizada na Bélgica, mas "na prática, ela já existe também
para as crianças", revelou o mesmo parlamentar, citado pela AFP.
O projeto-lei prevê a eutanásia
nos casos de doença terminal, depois de terem sido tentados todos os
tratamentos médicos disponíveis, quando o menor estiver na fase final da
doença, em sofrimento físico insuportável e para o qual já não exista uma
terapêutica capaz de aliviar a dor.
Os menores de idade precisam de
ter o consentimento dos pais, o acordo da equipa médica responsável pelo
tratamento e um atestado que comprove que está consciente, que tem capacidade
de discernimento e é capaz de formular autonomamente a sua decisão.
O legislador belga optou por não
estabelecer uma idade mínima, contrariamente à Holanda, onde a prática é
possível a partir dos 12 anos de idade.
"Uma criança de sete, oito
ou nove anos pode verdadeiramente pedir uma eutanásia de forma autónoma?",
interroga a deputada democrata-cristã Sonja Becq. A parlamentar denuncia
"as lacunas de uma lei preparada de forma precipitada" e que não
precisa em detalhe a noção de "capacidade de discernimento" ou que
não prevê o caso de pais que não estejam de acordo entre eles.
O debate, desde há cerca de um
ano, tem decorrido com serenidade, apesar da oposição da Igreja católica e da
divergência entre grandes vultos do mundo médico.
In JN de 13 de Fevereiro 2014
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