segunda-feira, 17 de março de 2014

Descartes




A duvida Cartesiana

Acerca da Duvida cartesiana, algumas questões podemos formular:


  • O que é a Duvida?
  • Que razões levam Descartes a duvidar?
  • Qual a utilidade da duvida?
  • Quais as caracteristicas da duvida cartesiana?
  • Qual a consequência da duvida?


A DÚVIDA


 Para atingir um conhecimento absoluto, tem que se eliminar tudo o que seja susceptível de dúvida. Nesse sentido, começa por suspender todos os conhecimentos susceptíveis de serem postos em causa. 

 Descartes defende pois que, para chegar à verdade, temos de duvidar de tudo. Todas as coisas em que aparecer a menor dúvida devem ser tomadas por falsas. 

Assim temos que duvidar das coisas sensíveis, pois os sentidos muitas vezes erram. Além disso, quando sonhamos, passamos por diversas sensações ou imaginamos coisas que, apesar de parecerem reais, não têm realidade fora de nós. Devemos ainda duvidar daquilo que antes tínhamos tomado como certo, mesmo das demonstrações matemáticas. Ao pôr tudo em dúvida, e enquanto o faz, descobre que a única coisa que resiste à própria duvida é a razão. Esta seria a primeira verdade absoluta da filosofia.
Recusando tudo que possa suscitar incerteza, a dúvida afirma-se como um modo de evitar o erro.
A dúvida é um instrumento da razão na busca da verdade - uma suspensão do juízo (ao duvidar evitam-se os erros e os enganos);
A dúvida procura impedir a razão de considerar verdadeiros conhecimentos que não merecem esse nome.


NÍVEIS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA

-Descartes vai aplicar a dúvida a tudo que possa causar incerteza, nomeadamente:

as informações dos sentidos;
as nossas opiniões, crenças e juízos precipitados;
as realidades físicas e corpóreas e, duma maneira geral, tudo que julgamos real;
os conhecimentos matemáticos;
também Deus é submetido à prova rigorosa da dúvida, uma vez que Descartes coloca a hipótese de Deus poder ser enganador ou um génio maligno cuja função seria enganar-nos..


Se o método é,  o caminho para atingir a verdade, é preciso começar pela aplicação da sua primeira regra, isto é, nada admitir que não seja absolutamente certo, ou, noutros termos, é preciso duvidar de tudo o que não é dotado de uma certeza absoluta,  excluir tudo o que é impregnado por essa dúvida. Daí aparecer uma  necessidade:
·  de duvidar, de nada excluir da dúvida  de tratar provisoriamente como falsas as coisas impregnadas do menor motivo de dúvida. 




CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA

  •  metódica (faz parte de um método que procura o conhecimento verdadeiro,é um instrumento de conhecimento cuja meta é atingir a verdade- não é um estado, é um caminho );
  • provisória (é temporária, isto é, pretende-se ultrapassá-la e chegar à verdade, ou seja,desaparece sempre quando a primeira verdade lhe resistir; é um ponto de partida e não uma conclusão);
  • hiperbólica (exagerada propositadamente, para que nada lhe escape, excessiva); No Discurso do Método atinge as fontes do conhecimento; nas Meditações sobre a  Filosofia Primeira atinge as Matematicas, e a razão tornando-se "mais" universal
  • universal (aplica-se a todo o conhecimento em geral porque no processo do conhecimento, nada deve ser imune à aplicação do critério da dúvida;);
  • radical (incide sobre os fundamentos, as bases de todo o conhecimento);
  • catártica (purifica e liberta a mente de falsos conhecimentos);
  •  voluntária (fingida, é um acto de vontade, deliberada)
  •  autónoma (não é imposta, é uma iniciativa pessoal);
  • rigorosa (nada será aceite como verdadeiro sem ser posto em dúvida);
  • gnoseológica ( limita-se ao conhecimento e não atinge a acção)
  • especulativateórica)

 A dúvida hiperbólica e radical e a possibilidade de Deus ser enganador parecem levar à questão de saber se poderemos acreditar que a razão humana poderà alcançar conhecimentos verdadeiros.



    Vejamos o que escreve Descartes acerca do tema:

    "Notei, há alguns anos já, que, tendo recebido desde a mais tenra idade tantas coisas falsas por verdadeiras, e sendo tão duvidoso tudo o que depois sobre elas fundei, tinha de deitar abaixo tudo, inteiramente, por uma vez na minha vida, e começar, de novo, desde os primeiros fundamentos, se quisesse estabelecer algo de seguro e duradouro nas ciências. Então, hoje, (…) vou dedicar-me, por fim, com seriedade e livremente, a destruir em geral as minhas opiniões.
     Para isso não será necessário mostrar que todas são falsas, o que possivelmente eu nunca iria conseguir. (…) Não tenho de percorrê-las cada uma em particular, trabalho que seria sem fim: porque uma vez minados os fundamentos, cai por si tudo o que está sobre eles edificado, atacarei imediatamente aqueles princípios em que se apoiava tudo o que anteriormente acreditei.
      Sem dúvida, tudo aquilo que até ao presente admiti como maximamente verdadeiro foi dos sentidos ou por meio dos sentidos que o recebi. Porém, descobri que eles por vezes nos enganam, e é de prudência nunca confiar naqueles que, mesmo uma só vez, nos enganaram.
   Mas ainda que os sentidos nos enganem algumas vezes sobre coisas pequenas e afastadas, há todavia muitas outras de que não podemos duvidar, embora as recebamos por eles: como, por exemplo, que estou aqui, sentado junto à lareira, vestido com um roupão de Inverno, que toco este papel com as mãos, e outros factos semelhantes. E ainda, qual a razão por que se poderia negar que estas próprias mãos e todo este meu corpo são meus? (…)
     Ora muito bem, como se eu não fosse um homem que costuma dormir de noite e consentir em sonhos (…) [muitas coisas irreais]. Com efeito, quantas vezes me acontece que, durante o repouso nocturno, me deixo persuadir de coisas tão habituais como que estou aqui, com o roupão vestido, sentado à lareira, quando todavia estou estendido na cama e despido! Mas agora, observo este papel seguramente com os olhos abertos, esta cabeça que movo não está a dormir, voluntária e conscientemente estendo esta mão e sinto-a: o que acontece quando se dorme não parece tão distinto. Como se não me recordasse de já ter sido enganado em sonhos por pensamentos semelhantes! Por isso, se reflicto mais atentamente, vejo com clareza que vigília e sonho nunca se podem distinguir por sinais seguros, o que me espanta (…).
   A Aritmética, a Geometria e outras ciências desta natureza, que só tratam de coisas extremamente simples e gerais e não se preocupam em saber se elas existem ou não na natureza real, contêm algo de certo e indubitável. Porque, quer eu esteja acordado quer durma, dois e três somados são sempre cinco e o quadrado nunca tem mais do que quatro lados e parece impossível que verdades tão evidentes possam incorrer na suspeita de falsidade.
    Todavia, está gravada no meu espírito uma velha crença, segundo a qual existe um Deus que pode tudo e pelo qual fui criado tal como existo. Mas quem me garante que ele não procedeu de modo que não houvesse nem terra, nem céu (...), nem grandeza, nem lugar, e que, no entanto, tudo isto me parecesse existir tal como agora? E mais ainda, assim como concluo que os outros se enganam algumas vezes naquilo que pensam saber com absoluta perfeição, também eu me podia enganar todas as vezes que somasse dois e três ou contasse os lados de um quadrado, ou em algo de mais fácil ainda, se é possível imaginá-lo. (...) Vejo-me constrangido a reconhecer que não existe nada, naquilo que outrora reputei como verdadeiro, de que não seja lícito duvidar. (...)
     Imaginemos que há um Deus enganador (…) sumamente poderoso e astuto, que me engana sempre com a sua indústria. No entanto, não há dúvida de que existo, se me engana; que me engane quanto possa, não conseguirá nunca que eu seja nada enquanto eu pensar que sou alguma coisa. 
    De maneira que (...) deve por último concluir-se que esta proposição Eu sou, eu existo, sempre que proferida por mim ou concebida pelo meu espírito, é necessariamente verdadeira."
Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, trad. de Gustavo de Fraga, Livraria Almedina, Coimbra, 1985, pp. 105-119.



Sintese:

     A dúvida metódica é um instrumento metodológico com que o filósofo francês Descartes procurou chegar à prova da existência de verdades absolutas, logicamente necessárias e de reconhecimento universal, tal como exige a defesa do Dogmatismo por ele preconizada e defendida, na questão da possibilidade do conhecimento.

     Este método consistia da filtragem de todas as suas ideias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e fossem dúbias, e apenas retendo as ideias que não suscitavam qualquer tipo de dúvida. 

     Descartes para dar seguimento a este processo isolou-se no seu quarto durante vários dias em profunda reflexão.

     Descartes sendo dogmático ou seja, acreditando na possibilidade de conhecer a realidade e apreender mentalmente as suas características, apenas usou o processo da dúvida, enquanto método para atingir o fim da descoberta de verdades absolutas, não se podendo associar-lhe ou conceder-lhe o estatuto de céptico, ou seja da corrente oposta que nega a possibilidade de conhecer qualquer parte integrante da realidade. 

     Com a dúvida a ser utilizada apenas temporariamente como método, a máxima associação que podemos fazer a Descartes com o cepticismo é considerando-lhe um céptico moderado durante esta fase despoletada pelo seu processo de reflexão. 

    Descartes afirmava que, para conhecer a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida. 

     É necessário questionar tudo e analisar criteriosamente se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza. 


      Qual o resultado positivo da duvida?



     A primeira grande consequência da duvida é a certeza da sua existencia como ser pensante - o cogito!



Lola


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