terça-feira, 13 de maio de 2014

Estrelas do Mar

Estrela-do-mar da espécie Ophidiaster ophidianus, que vive nos Açores e na Madeira JOANA MICAEL

As estrelas-do-mar estão a morrer e ninguém sabe porquê

Na América do Norte, ao longo de toda a costa, alguma coisa as está a dizimar, ainda sem explicação científica. Por outro lado, na Austrália há uma espécie que está a ser abatida para proteger a Grande Barreira Coral.

Sejam azuis, cor de laranja ou vermelhas, tenham cinco, sete, dez ou 50 braços, as estrelas-do-mar costumam captar a atenção de todos. Porém, estes animais estão debaixo de uma ameaça — de origem ainda desconhecida — nas costas da América do Norte, no lado do Atlântico e principalmente no Pacífico. Desde 2013 que milhões de estrelas-do-mar estão a aparecer mortas.
Apesar do trabalho desenvolvido por vários cientistas, a origem destas mortes é um mistério, como relatou no início deste mês Maio a revista Science num artigo noticioso. Comparando com os registos de surtos idênticos em 1978 e em 1997, ocorridos na Califórnia, agora a dimensão da devastação é muito maior. O problema apareceu em 2013: primeiro atingiu a estrela-do-mar-púrpura (Pisaster ochraceus) e a estrela-do-mar-sol (Pycnopodia helianthoides), depois foi a estrela-do-mar-morcego (Asterina miniata). Mas, ao longo de milhares de quilómetros da costa, estão a ser afectadas cerca de 20 espécies, como a estrela-de-espinhos-gigantes (Pisaster giganteus).
“Nas últimas décadas, tem-se observado, em diversos grupos marinhos, um aumento do número e da intensidade de surtos de doenças. A grande novidade desta morte maciça de estrelas-do-mar nas zonas costeiras do Norte do Pacífico está relacionada com a extensão geográfica do fenómeno”, explica Joana Micael, doutorada em ciências do mar e investigadora no pólo dos Açores, em Ponta Delgada, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-Açores).
“Não há registos de uma área tão extensa — desde o Alasca até ao Sul da Califórnia — e que tenha sido afectada em simultâneo. Na costa Leste, uma versão menos acentuada do fenómeno já tinha ocorrido em 2010”, acrescenta a cientista portuguesa. “Se o número de mortes continuar a aumentar, pode falar-se em extinção local. Estas espécies têm uma ampla distribuição geográfica, pelo que falar em espécies em vias de extinção é muito prematuro.”
Quando são afectadas por este problema enigmático, as estrelas-do-mar têm lesões brancas à superfície do corpo. Os tecidos tornam-se moles, os animais ficam sem braços, o corpo rompe-se e os órgãos internos saem. “Com esta síndrome, o epitélio das estrelas, a camada de tecido que está em contacto com o ambiente, desintegra-se”, explica Joana Micael.
Até agora, desconhece-se a causa desta mortandade. Persiste a dúvida se é uma bactéria, um vírus, se são factores ambientais da água (como níveis baixos de oxigénio), se são as alterações climáticas, se é algo que vem das aves marinhas ou de outros animais. Apenas uma certeza: nos indivíduos já afectados, temperaturas mais elevadas da água aceleram a progressão desta síndrome.
Por exemplo, uma veterinária do aquário de Seattle, nos EUA, começou a ver estrelas-do-mar num canal à volta das instalações do aquário a morrer repentinamente em Outubro do ano passado. Em Novembro, Lesanna Lahner já não via nenhuma das três espécies que costumavam andar por ali, relatou a revista Science.
Pouco depois, também as estrelas-do-mar nos tanques do aquário estavam afectadas e a veterinária isolou as mais doentes. Para encontrar uma solução, pediu ajuda a Gregory Lewbart, autor do manual Invertebrate Medicine, que tem um só parágrafo sobre como tratar estrelas-do-mar e outros equinodermes como elas. E a resposta dele foi: “Lamento.”
Em Portugal, não há registo do problema, onde quer no Continente quer nos Açores e na Madeira vivem dezenas de espécies de estrelas-do-mar (nos Açores, a nível costeiro, existem cerca de 12). “Há espécies que se encontram tanto no Continente como nas ilhas e outras que se encontram só nas ilhas ou só no Continente”, diz Joana Micael.
“Seria fundamental que decorressem monitorizações específicas [em Portugal], nomeadamente com a colaboração das empresas de mergulho, que poderiam enviar os seus registos fotográficos de indivíduos potencialmente afectados para cientistas, para que estes possam intervir de forma antecipada e tentar contribuir para a solução de um problema mundial”, defende a investigadora.

Na Austrália, o abate

Enquanto na América do Norte as estrelas-do-mar estão a morrer e ninguém sabe porquê, na Austrália a sua morte é propositada. Nos últimos dois anos, o Governo australiano supervisionou o abate de 250.000 coroas-de-espinhos (Acanthaster planci), uma estrela-do-mar nativa da Austrália, anunciou o ministro do Ambiente Greg Hunt em Abril, segundo noticiou a revista Nature.


MARTA LOURENÇO 
:In Publico , Ciência de 13 de Maio de 2014


  Lola

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