quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Filosofia e Ensino Secundário






Filosofia e Ensino Secundário




O ENSINO DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA


A IDADE DO QUESTIONAMENTO


Introdução 

Os diferentes aspectos da filosofia na educação secundária 

Não é objetivo deste capítulo oferecer um repertório para o currículo de filosofia em todo mundo. Tal projeto seria completamente inútil.
O ensino de filosofia, hoje, não pode se reduzir a uma série de currículos, programas oficiais, ou instruções anuais. Como o ensino de filosofia é um assunto considerável na maioria dos sistemas educacionais, parece prudente abordar a questão a partir do ângulo dos problemas que ela levanta; às vezes soluções temporárias, às vezes soluções de longo prazo para cada problema, e as adaptações que estas geram.
Os diferentes aspectos de ensinar filosofia para adolescentes refletem as dificuldades colocadas por esta disciplina, e as preocupações que suscitam entre administradores, professores e alunos também. Diversos estudos de casos recentes são apresentados aqui. Pretende-se que funcionem mais como situações particularmente representativas dos problemas do que como exemplos a serem seguidos. 
Mas pode uma pesquisa geral da posição da educação filosófica no nível secundário estar livre de tal tarefa? Às vezes o lugar da filosofia parece estar a evoluir para as universidades; às vezes parece estar ganhando terreno novo dentro dos sistemas escolares. 
Convém observar que a filosofia mostra-se mais e mais como uma disciplina técnica, e tende a ser ensinada de forma especializada ou mesmo dentro de cursos vocacionais, embora ela geralmente seja subordinada a outras matérias, tais como a educação cívica ou a instrução de diferentes formas religiosas – quando ela é ensinada a estudantes mais jovens. Há uma forte tendência de atribuir um aspecto funcional de modo crescente à educação secundária em geral. Esta direção é visível não somente na proliferação de assuntos técnicos nas escolas secundárias; até mesmo as ciências humanas tendem a emprestar um aumento para a funcionalidade dos assuntos. Nos níveis mais altos da escola secundária, em que o ensino de filosofia sempre teve um lugar histórico, a formação da mente é, por vezes, delegada para disciplinas orientadas para a ação, tais como as ciências sociais e políticas. Não há nada em si mesmo que possa ser lamentado nesta tendência, mesmo que ela pareça estar baseada numa ilusão (encontrada também no nível universitário), de que uma melhor formação da mente pode ser obtida focalizando um conteúdo substantivo, ao invés de desenvolver nos estudantes habilidades críticas.
É como se uma estrutura baseada na educação com o desenvolvimento das faculdades lógicas dos estudantes – seu julgamento livre, seu pensamento crítico – tivesse sido substituído por um conceito de ensino concebido para persuadir – uma educação servindo como vetor de idéias-chave supondo dos estudantes absorvê-las de forma não crítica.
No entanto, a capacidade para criticar todas idéias - mesmo aquelas mais simples de serem praticadas, ou seja, a capacidade de se rebelar – é um elemento essencial para a formação intelectual dos jovens. Um cidadão obediente pode ser um bom cidadão, mas ele ou ela também será capaz de ser manipulado, e também é provável que algum dia eles assumam
outras posições que não aquelas da sua formação.
Outros elementos proporcionam espaço para o otimismo. Por todo o mundo, comunidades de professores e especialistas pedagógicos estão desempenhando um papel cada vez mais ativo na promoção do ensino de filosofia e na abertura de grandes redes de debates sobre os métodos de ensino e as práticas que se colocam de uma forma ou de outra quase diariamente. 
Neste capítulo vamos olhar para exemplos de associações de professores que juntos protestam contra o corte de tempo das aulas de filosofia, ou discutir o ensino de ética em seu país, e com sucesso propor reformar curriculares. Estas contribuições são de enorme valor, e elas têm um lugar chave entre as preocupações da UNESCO com relação à educação secundária e o lugar da filosofia dentro desta.

METODOLOGIA

Na elaboração de um relatório sobre o ensino de filosofia acerca do nível secundário no mundo, é útil perguntar qual é o lugar destinado a este produto acabado entre a massa de informações disponíveis através de publicações especializadas, redes de peritos, documentos oficiais, e, claro, a internet.
Na elaboração deste estudo, tornou-se rapidamente evidente que não se poderia concebê-lo como simplesmente um manual de práticas em uso em diferentes países. Ao escolher um relatório a partir da compilação das contribuições, como foi o caso do Ensino e Pesquisa em Filosofia pelo Mundo, nas séries de 1980, temos, no entanto, indicado que o principal objetivo deste estudo é identificação sistemática das práticas existentes. Mas a nossa intenção não é simplesmente o estudo, país por país, do ensino de filosofia nas escolas secundárias, mas isolar e comparar as principais formas e modos em que o presente ensino é realizado a nível mundial. Para ter sucesso nesse esforço, foi proposta uma hipótese básica a partir do início: no nível secundário, a direção que a educação filosófica toma deriva muito dos conteúdos filosóficos ensinados, bem como da inclusão de algumas idéias filosóficas ou habilidades dentro das outras disciplinas no currículo da escola. Dito de outra maneira, a presença global da filosofia nas escolas deve ser considerada. Um relatório como este é um trabalho de síntese, e como tal deve fornecer uma base sólida para desenvolver futuras ações. Desde o início, foram levantadas diversas questões-chave na construção deste relatório. Primeiro, a questão da filosofia nas escolas.
Uma crise da filosofia deve ser considerada a esse respeito, pela tendência geral, hoje, que é inquestionavelmente no sentido de declínio, e há múltiplas razões para isto. Não haverá, neste capítulo, nenhuma questão que tente esconder a imagem um pouco manchada da filosofia. Mesmo porque, no contexto em que as escolas são pressupostas, de uma conexão mais íntima com a realidade atual do mundo, a filosofia nem sempre é vista como particularmente relevante. Este mal-estar da filosofia, que vai além da sua presença apenas nas escolas, é somado ao frágil status dos professores do ensino médio e dos professores de filosofia em particular. Dificuldades em face dos sistemas de formação de professores, acrescidas à relação continuamente debilitada entre educação secundária, universidades e pesquisa, considerando que estes três níveis deveriam estar mutuamente se reforçando.
Outra questão essencial para se entender o mal-estar da filosofia é o

confronto ilustrado pela variedade de práticas que são postas sob o guarda-chuva “o ensino de filosofia”. Os dados recebidos durante o curso deste estudo sugerem que há uma dicotomia entre a presença da filosofia como uma matéria ensinada e a inclusão de conceitos filosóficos ou idéias
através de outros assuntos. É muito comum movimentos de reforma com o objetivo de reduzir as horas- aula em filosofia para outros temas propostos como aulas de ética, educação cívica ou religiosa. Inversamente, é muito freqüente que outros assuntos associados com doutrinas mais políticas ou sectárias sejam revelados como filosofia. Este capítulo contém também uma visão geral do que pode ser agrupado entre as principais formas dos sistemas de ensino médio no mundo. Isto indica que a filosofia tem seus espaços privilegiados – os níveis mais altos da escola secundária – mas que está longe de restringir-se a eles.
Para este fim, demos uma olhada em vários exemplos que parecem particularmente representativos das principais questões ligadas ao ensino de filosofia no nível secundário, e os desafios com que elas se confrontam.
Estes exemplos da vida real nos trazem a questão da relação entre o ensino de filosofia e as tradições das culturas locais, bem como as escolhas que devem ser feitas entre os diferentes paradigmas pedagógicos. Além de questionar a pertinência destas práticas, este capítulo propõe diversas vias de reflexão. A relação entre a escola secundária e a universidade - um assunto candente para a contemporaneidade do ensino de filosofia – também é levantado. Isto é apoiado por várias sugestões especificamente pedagógicas.

Em primeiro lugar, aparecem duas abordagens principais para o ensino de filosofia nas escolas secundárias, que correspondem, historicamente,  à natureza bilateral da pesquisa filosófica. Por outro lado, existe a abordagem teórica e lógica para os problemas filosóficos, que põe ênfase sobre a análise racional e o desenvolvimento lógico e intelectual das faculdades dos estudantes, através dos exercícios de pensamento e o trabalho prático sobre o teórico. Por outro lado, há a abordagem histórica para o ensino de filosofia – em que esta é entendida como apresentação e reflexão sobre os conteúdos da “tradição filosófica” ou cânon.
Em segundo plano, parece apropriado não olhar apenas para os benefícios, mas também para as limitações do ensino de filosofia nas escolas. Na medida em que o ensino é marcado por transformações, seria muito simples cantar os louvores da filosofia sem olhar para a questão da sua utilidade pedagógica, sua função, e os limites sobre este ensino. Há, ainda, aqui, uma séria falta de estudos e dados recentes.
O presente estudo e as respostas ao questionário da UNESCO usadas para coletar dados a ele preenchem uma importante lacuna, dados avaliáveis sobre o ensino de filosofia no mundo todo. O questionário não apenas forneceu uma análise do ensino de filosofia país por país, mas através dos comentários e sugestões respondidas foi possível visualizar como a evolução do sistema educacional está sendo vivida por seus participantes. Como respondeu um dos participantes da Espanha: “fazer qualquer hipótese com a realidade de trabalho do professor de filosofia em sala de aula só pode vir das impressões obtidas
pelo contato com outros colegas”. Assim, as respostas dadas ao questionário de 2007 da UNESCO representam uma contribuição essencial a série de estudos neste campo, e que têm sido levado a cabo desde 1950 pela entidade.
Diotime – L’Agorà (publicação somente em formato eletrônico – Edição nº 19 – novembro 2003 – presidida por Michel Tozzi, professor da Universidade de Montpellier III – França – www.crdp-montpellier.fr/ressources/agora) é uma análise internacional da didática da filosofia que tem também fornecido uma rica informação de pesquisa para este projeto, particularmente no que se refere aos estudos de casos à volta do mundo. Por fim, temos explorado os objetivos e impactos das reformas mais notáveis nesta área.



                                          Lola

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