Os Valores
O que
são?
Os valores definem-se como sendo entidades virtuais; não existem na realidade, não são propriedade
dos objectos, são atribuídos às coisas, pessoas e situações por um sujeito. Valor implica sempre uma
relação de um sujeito com um objecto, pessoa ou situação ao qual este atribui um determinado valor.
Também se apresentam como entidades
ideais que representam a perfeição e o seu oposto. Na perseguição de
valores, o Homem vai-se aperfeiçoando.
Como se caracterizam?
As características
fundamentais dos valores são a hierarquia e a polaridade. Primeiro,
os valores apresentam-se sempre numa escala que vai do menos para o mais. A
esta ordenação qualitativa dos valores dá-se o nome de hierarquização e varia
de pessoa para pessoa; cada um tem a sua escala de valores que vai influenciar
as suas escolhas.
Por outro lado, os valores aparecem sempre com uma dupla face:
positiva e negativa. A um pólo positivo (por exemplo: bonito) opõe-se sempre um
pólo negativo (no exemplo: feio).
Juízos de Facto e Juízos de Valor
Existem juízos de facto e juízos de valor. Pelos
juízos de facto entendemos os que são descritivos ou de existência. Descrevem e
informam acerca da realidade concreta sem emitir preferências e apreciações.
Podem ser facilmente considerados verdadeiros ou falsos, conforme se adequam ou
não à realidade, e podem ser objecto de verificação empírica. Isto é, em
relação ao juízo: "A árvore deu frutos.", que é um juízo de facto, eu
posso olhar e verificar se é verdade ou não verdade.
Os juízos valorativos julgam factos e realidades em função de
preferências axiológicas.Estes juízos não são verificáveis empiricamente e não
são, normalmente, alvo de consensos. Podem ser de apreciação moral, estética,
religiosa, vital, de utilidade, entre outros.
Valores e Acção Humana
Os valores são guias de acção, aquilo que “põe em movimento” os comportamentos, as condutas das
pessoas. Na nossa vida estamos sempre a fazer juízos de valor e a guiarmo-nos
por eles. Eles orientam a vida e marcam a personalidade; uma pessoa define-se,
diz quem é, em função dos valores que tem.
Os valores orientam as nossas preferências; eu prefiro isto ou
aquilo em função dos valores que tenho. Por exemplo, se a igualdade de
direitos é um valor importante para mim, eu vou optar por não discriminar
as pessoas pela sua raça.
Por causa dos valores as coisas apresentam-se-me de forma
diferenciada. Ou seja, o mundo não é todo igual para mim, há coisas de que eu
gosto e coisas de que eu não gosto; há coisas que eu admiro e coisas que não;
há coisas que eu respeito e outras que não respeito. É em função deste colorido
que os valores conferem ao mundo, que o Homem escolhe e age.
Assim, é o valor que confere sentido à vida, serve para a nossa
orientação pessoal.
Serão os valores históricos ou
perenes?
Em relação à axiologia, teoria dos valores, podemos observar a tese da subjectividade, que se opõe à
da objectividade dos valores e a da historicidade, que se opõe à perenidade dos valores.
A tese da perenidade defende que o valor não depende da
época histórica. A perenidade é do valor e não dos objectos em que ele
se manifesta. Por exemplo, a honestidade e amizade sempre foram
considerados valores ao longo do tempo, as suas manifestações, exemplos
e realizações é que podem sofrer alterações.
A tese da historicidade defende que os valores mudam
conforme a época histórica. Isto está ligado a uma ideia de relativismo
axiológico que defende que o que é ou não valor é completamente relativo. Tudo
muda e os valores também!
Como conciliar historicidade e
perenidade dos valores?
Podemos afirmar, como tese intermédia, que apesar dos
valores sofrerem obviamente uma influência do tempo, até surgem novos valores,
há algo de perene nos valores; amizade será sempre um valor importante, embora
o seu conceito sofra inevitavelmente alterações.
Serão os valores objectivos ou
subjectivos?
As teses da subjectividade ou objectividade
diferem porque uma defende que se gosta das coisas porque elas têm valor, o
valor existe como algo de absoluto,independentemente das coisas e dos homens,
que apenas os descobrem,
enquanto a outra afirma que as coisas assumem valor porque um
sujeito gosta delas; assim o valor é sempre uma criação do Homem, sendo
dependente da apreciação do sujeito. Está presente no ditado popular:
"Quem feio ama, bonito lhe parece."
Como conciliar subjectividade e
objectividade dos valores?
A tese que concilia as duas posições defende que os valores não
existem independentemente das coisas, eles apenas valem, não têm existência independente.
Mas são propriedade real das coisas que despertam os valores. No entanto, as
coisas só são valiosas potencialmente, apenas adquirem realmente valor quando
entram em interacção com o Homem. Só nesta relação é que os valores fazem
sentido.
Haverá, hoje, uma crise de valores?
Finalmente, hoje em dia fala-se muito da crise de valores e
da emergência de novas polarizações.
Vivemos uma época de grandes mudanças a todos os níveis. Por esse
motivo, há também a emergência de novas polarizações de valores. Assim, numa
fase de revisão daquilo que era considerado valor, a que muitos autores chamam Época
de Crise, porque há questionamento, alterações drásticas, há enormes
mudanças, e na mudança há sempre algo de instabilidade, o que é normal e
salutar (crise em grego significa questionamento e decisão; não é um termo
negativo). Surge a consciência de que aspectos que não faziam parte das nossas
preocupações passam a fazer. Deste modo, não
há apenas diferenças na hierarquia dos valores clássicos, mas há mesmo valores
que não existiam e passam a existir. Estamos a referir-nos, por exemplo, à
ecologia. Se o planeta não estava em risco é óbvio que as pessoas não andavam
preocupadas com o assumir deste valor. Hoje, os riscos inerentes à tomada de
atitudes pouco correctas são tais que há a necessidade de sensibilizar todo o
mundo para esta questão. Assim, a
ecologia apresenta-se como um valor contemporâneo.
Alguns exemplos
de conflitos de valores na sociedade
contemporânea:
Ø Defende-se o progresso industrial ou
o ambiente?
Ø Defende-se o ideal internacionalista ou o
nacionalismo (patriotismo)’
Ø Defende-se o valor da vida humana ou a
interrupção voluntária da gravidez?
Ø Como entender as sociedades descrentes e a
proliferação de seitas religiosas?
Ø União dos países ou diferença entre os países?
Ø Progresso da Ciência e Técnica ou a fuga para
sociedades paradisiacas (Caraíbas, Ilhas Fidgi, Cuba)?
Ø Virgindade ou sexo antes do casamento?
Reflexões finais:
Poderemos interrogar se a denominada Crise de Valores é negativa e a
resposta será NÃO. E porquê? A alteração de valores reflecte uma transformação social e
cultural pois iniciam-se novos valores e novas orientações. Nenhum valor em
crise leva a um vazio pois é superado por um novo valor.
Todo o valor é dialéctico – se se recusa um valor, afirma-se outro!
...e um texto
“Em verdade, os homens deram a si próprios todo o bem e todo o mal. Em
verdade, eles não o encontraram, não lhes caiu como uma voz do céu.
Foi o Homem que deu às coisas o seu valor, a fim de se pôr em
segurança; foi ele que lhes deu um sentido, um sentido humano. Por isso, ele é
chamado homem – o medidor das coisas.
Avaliar é criar – escutai, ó criadores! São as vossas avaliações que
transformam as coisas avaliadas em tesouros e em jóias.
Avaliar é criar valores: sem tal avaliação, a existência seria uma noz
oca.”
F. Nietzsche, Assim falou Zaratustra.
Lola
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