Avaliação e excel
Este fim de semana tem início uma das tarefas
mais difíceis para qualquer professor – avaliar. E avaliar em quantidade… entre
150 a 300 alunos. Pouca coisa…
Podemos compreender a avaliação como um ato
de validar um determinado saber. Avaliar é como um juízo, resulta de uma
série de variáveis para depois deduzir uma conclusão, falível ou não. Na escola
também temos essas variáveis, quantificadas por critérios de avaliação e
que posteriormente são plasmadas em grelhas e escalas avaliativas. Avaliar é
difícil, muito difícil e implica rigor, alguma experiência e muito
bom senso.
O processo avaliativo em Portugal é caracterizado pela
intitulada avaliação contínua, na qual constam 3 momentos em que essa
avaliação é publicada. Aqui reside o primeiro problema, pois não é caso virgem
encontrar colegas que apesar de terem conhecimento que a avaliação é contínua,
restringem a sua avaliação ao período em si, não tendo em consideração o
trabalho realizado em períodos anteriores. Também temos os colegas que baseiam
a sua avaliação apenas nos testes e até podem argumentar que a matéria que
consta nos ditos inclui os períodos anteriores, mas a avaliação não se
restringe aos testes de avaliação e este é um dos erros mais comuns no corpo
docente. A prática de somar o valor dos testes, dividir pelo seu número e
“chapar” a nota na pauta, revela um amadorismo que não se coaduna com nobreza
da profissão, além de não contemplar as diferentes valências do aluno.
Se acrescentarmos a isso a política de ciclo, que
muitas vezes é ignorada nos finais dos anos letivos, mais os exames nacionais e
a pressão dos rankings escolares – que obrigam indiretamente professores a
“selecionar” alunos para que a média interna não seja divergente da média
externa-, torna todo o processo avaliativo, algo extremamente complexo e que
ultrapassa as simples paredes da sala de aula.
Mas até que ponto é que somos escravos das grelhas de
excel?
A grelha de excel, é fantástica, veio facilitar a vida
a milhares de professores e encostou a máquina de
calcular, eliminando alguns lapsos matemáticos. A grelha de excel, em
situações normais, reflete os critérios de avaliação que foram aprovados em
sede de departamento e validados pelo conselho pedagógico. Qualquer professor
que se restrinja à grelha de excel está “safo”, venha a reclamação que vier que
2+2 ainda são 4. E a matemática nisso é excelente, um 49% não é um 50%, e
um 69% não é um 70%, e se um professor quiser atribuir um 2 ou um 3 respetivamente,
podem acusá-lo de muita coisa, mas de não cumprir com os critérios de
avaliação, isso é que não.
Mas existem colegas que simplesmente alteram as
escalas. Por exemplo, a positiva começa nos 45 % e um excelente começa nos
85 %. Mas esses mesmos colegas quando confrontados com o problema dos
colegas que não as alteram, ou seja, do aluno que tira um 44% ou 84%, ficando a
um mísero 1% do limite mínimo, o que é que dizem? “Não, não, aí já não mudo!”.
Isto só prova que as escalas existem por uma razão e por muito que se estique
as ditas, elas têm sempre um início e um fim… por isso meus caros, não adianta
fugirem com o dito cujo à seringa, que mais cedo ou mais tarde ela vem para nos
picar…
A minha posição é simples e assumo-a publicamente. Eu
tenho umas grelhas de excel que só faltam calcular a velocidade do vento e se
vai chover no polo norte no próximo… hum… milénio. E fui eu que as fiz, por
isso estou a gozar comigo próprio. Mas depois da “notinha” sair do forno, faço
aquilo que, espero eu, milhares de colegas também o fazem. Voltam atrás no
filme, procuram nas entranhas das memórias criadas em dezenas de aulas e
ouvem as suas sensações. Aqui meus caros, surge o momento que distingue o
professor pedagógico, do professor “sacana”. O professor “sacana” vai
aproveitar para entalar o dito cujo de metro e meio que lhe deu cabo da cabeça
em tantas e tantas aulas, só porque sim, porque merece ser castigado. O outro,
o professor pedagógico irá atribuir a sua classificação com uma mensagem, mas
uma mensagem positiva. Essa mensagem é explicada ao aluno, para que este a
entenda e se motive com a classificação obtida, enquanto o professor “sacana”
explica a sua nota com um audível “só tens aquilo que mereceste!”
Ser professor é ler nas entrelinhas, “sentir” para onde
vai o aluno e calibrar o dito com todos os recursos pedagógicos que tem ao seu
dispor. Não confundir estas palavras com falta de rigor cientifico. A avaliação
é e terá de ser sempre um mecanismo pedagógico, algo que exames e rankings não
o são… Por estes motivos é que eu não gosto de exames e de rankings, eles
validam sistemas educativos, politicas educativas, mas não validam o trabalho
do professor, pois o professor não é um robô nem uma grelha de
excel.
Afinal, somos escravos ou professores?
Nota: após ler
vários comentários nas redes sociais, atualizei o número de alunos de “100 a
150” para “150 a 300”. Espero que chegue
Lola
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