segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Teeteto







Teeteto


(...) Sócrates - Então, para começar, que diremos, mais uma vez, que seja conhecimento? Pois estou certo de que não vamos parar aqui.
Teeteto - De jeito nenhum; salvo se desanimares.
Sócrates - Então, dize qual é a melhor maneira de defini-lo sem nos contradizermos muito.
Teeteto - Precisamente a que tentamos há pouco, e Sócrates; não vejo outra saída.
 Sócrates - Qual é?
Teeteto - Opinião verdadeira é conhecimento. O pensamento certo está isento de erro, e tudo o que sai dele é belo e bom.
Sócrates - O guia para passar o rio a vau, Teeteto, costuma dizer: É o que ele mesmo vai demonstrar daqui há pouco. Assim estamos nós; se levarmos adiante nosso estudo, talvez iremos bater com os pés no que procuramos; aqui, parados, é que nada se esclarecerá.
Teeteto - Tens razão; prossigamos e investiguemos.
Sócrates - Não vai ser longa essa investigação. Uma arte inteirinha está a indicar que conhecimento não é isso.
 Teeteto - De que forma? E que arte é essa?
Sócrates - A dos grandes mestres de sabedoria, que denominamos oradores e advogados. Não é com sua arte e ensinando que eles convencem os outros, mas levando-os, por meio da sugestão, a admitir tudo o que eles querem. Acreditas, mesmo, que haja profissionais tão habilidosos, a  ponto de demonstrarem a verdade do fito; para quem não foi testemunha ocular de alguma violência ou roubo de dinheiro, no pouquinho de tempo que a água corre na clepsidra?
Teeteto - De jeito nenhum posso acreditar nisso; o que eles fazem é persuadir. 
Sócrates - E persuadir, no teu modo de pensar, não é levar alguém a admitir alguma opinião?
Teeteto - Sem dúvida.
Sócrates - Nesse caso, quando os Juízes são persuadidos por maneira  justa, com relação a fatos presenciados por uma única testemunha, ninguém mais julgam por ouvir dizer, após formarem opinião verdadeira; é um juízo sem conhecimento; porém ficaram bem persuadidos, pois sentenciaram com acerto.
Teeteto - Isso mesmo.
 Sócrates - No entanto, amigo, se conhecimento e opinião verdadeira nos tribunais fossem a mesma coisa, nunca o melhor juiz julgaria sem conhecimento. Mas agora parece que são coisas diferentes.
 Teeteto - Sobre isso, Sócrates, esquecera-me o que vi alguém dizer; porém agora volto a recordar-me. Disse essa pessoa que conhecimento é opinião verdadeira  acompanhada da explicação racional, e que sem esta deixava de ser conhecimento. As coisas que não encontram explicações não podem ser conhecidas - era como ele se expressava - sendo, ao revés disso, objeto do conhecimento todas as que podem ser explicadas.
Sócrates - Falas muito bem. Porém dize-me como ele distingue as conhecidas das que não são, para vermos se eu e tu ouvimos a mesma cantiga.
 Teeteto - Não sei se poderei recordar-me; porém se alguém fizer essa exposição, penso que me será fácil acompanhá-lo.
Sócrates - Então, que vá um sonho em troca de outro. Eu também, parece-me ter ouvido de e certa pessoa que os denominados elementos primitivos de que somos compostos, como tudo o mais, não admitem explicação. A cada um só poderás dar nome, sem nada mais acrescentar, nem que é nem que não é, pois isso já implicaria atribuir-lhe existência ou não existência, o que não seria··ucito, se quiseres falar dele, apenas dele. Como também não devemos determiná-los com expressões como: Mesmo, Aquilo, Cada um, ou: Só, Isto e muitas outras do mesmo tipo. Porque semelhantes determinações circulam por tudo e em tudo aderem, sendo diferentes das coisas a que se juntam, quando o importante para aqueles elementos, no caso de nos ser possível defini-los e de comportar cada um sua explicação particular, seria serem enunciados à parte de tudo, sem acréscimo de qualquer natureza. A verdade, em suma, é que nenhum desses elementos admite explicação; só podem ser nomeados; é só o que têm: nome. Diferentemente se passa com os compostos desses elementos: por serem complexos, são expressos por uma combinação de nomes, pois a essência da definição consiste numa combinação de nomes. A esse modo, as letras são inexplicáveis e desconhecidas, porém percebidas pelos sentidos, ao passo que as sílabas são conhecíveis, explicáveis e podem ser objeto da opinião verdadeira. Por isso, quando alguém formà opinião verdadeira de qualquer c objeto, sem a racional explicação, fica sua alma de posse da verdade a respeito desse objeto, porém sem conhecê-lo, pois quem não sabe nem dar nem receber explicação de alguma coisa, carece do conhecimento dessa coisa; porém se a essa opinião acrescentar a explicação racional, então ficará perfeito em matéria de conhecimento. Foi isso que ouviste em sonhos, ou foi coisa diferente?
Teeteto - Foi exatamente isso.
Sócrates - Semelhante explicação te satisfaz, e admites agora que a opinião verdadeira, acompanhada da razão seja conhecimento?
Teeteto - Sem dúvida.
 Sócrates - Dar-se-á o caso, Teeteto, de termos conseguido encontrar hoje o que de muito tantos sábios procuravam e envelheceram sem encontrar?
 Teeteto - Quer parecer-me, Sócrates, que a presente explicação foi muito bem conduzida.
 Sócrates - É provável que seja assim mesmo; pois como poderia haver conhecimento sem explicação racional e opinião verdadeira? Só uma coisa não me agrada em tudo o que ficou dito.
Teeteto - Que é?
Sócrates - Justamente o que dá a impressão de ser mais engenhoso, a saber: que os elementos não podem e ser conhecidos, o que não se dá com suas combinações.
Teeteto - E não estará certo?
Sócrates - É o que precisamos verificar. Como reféns dessa proposição, temos os próprios modelos usados pelo autor da tese.
Teeteto - Que modelos?
Sócrates- Os elementos da escrita e suas combinações, ou seja, as letras e as sílabas. Ou achas que tinha outra coisa em vista quem formulou o que acabamos de expor?
 Teeteto - Não; era isso mesmo!


     Platão, Teeteto
200d-202 d
  1. O que é o saber ou o conhecimento?
  2. Apresente a primeira definição de conhecimento?
  3. Qual a objecção de Sócrates?
  4. Apresente a segunda definição de conhecimento?
  5. Qual o critério para que uma crença ou opinião seja verdadeira?
  6. Qual a conclusão?




Lola



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