Foto André Teixeira |
O que é a Filosofia?
A filosofia é uma grande
aventura intelectual, ao mesmo tempo que o seu objecto de discussão é uma das
coisas mais importantes que podemos fazer com as nossas vidas.
Há uma anedota recorrente entre muitos filósofos
profissionais, que envolve um deles a ser encurralado durante uma festa por
alguém que ao saber que se trata de um filósofo lhe pergunta: “Bom, o que é
então a filosofia?” A piada reflecte na verdade o desconforto de muitos filósofos
e a desconfortante consciência de não serem capazes de dar uma resposta directa
e clara. Muitos filósofos recorrem ao método de responder por listas,
explicando que a filosofia é acerca de “questões fundamentais” como “a
verdade”, “o que se pode conhecer?”, “qual a natureza de uma boa acção?”, “qual
a natureza da mente e a sua relação com o corpo?”. A outra maneira de lidar com
a questão é algo evasiva e envolve afirmar o menos possível, algo como: “Bom, a
melhor maneira de compreender o que é a filosofia é fazê-la.” É provável que
ambas as respostas, embora tendo um fundo de verdade, deixem os interlocutores
perplexos, e com razão, insatisfeitos e com vontade de se afastarem para ir
buscar outra bebida — para grande alívio do filósofo.
Penso que cabe aos filósofos lidar frontalmente com
esta questão. Afinal, somos pagos para isso. A minha resposta imediata, que
mais tarde terá de ser ligeiramente aperfeiçoada, a esta questão é a seguinte:
A filosofia é o que
acontece quando se começa a pensar pela própria cabeça.
Pode-se acrescentar um
pouco mais. Assim que nos libertamos dos hábitos das crenças recebidas, as que
por acaso se adquiriu mesmo acerca de questões básicas, e começamos realmente a
pensar acerca daquilo em que devemos acreditar, à luz da razão (argumentos) e
indícios, começámos a fazer filosofia. A “tradição” de se apoiar antes em
“autoridades” e “textos sagrados” é o estado normal das coisas e não a excepção
na história — para muitos é ainda a maneira natural de viver. Além disso,
pensar por si próprio não é algo que se leve a cabo facilmente por mero
capricho, mas antes algo que é preciso reforçar como a um músculo, através de
bons hábitos mentais. A filosofia é um modo de vida, que se constrói ao longo
dos anos; o pensamento filosófico é um estado de espírito que se torna parte da
própria natureza de uma pessoa.
É comum encarar-se a filosofia como um luxo imprático,
desnecessário. Uma futilidade, lúdica na melhor das hipóteses, que se
acrescenta à vida depois de se ter tratado das coisas práticas. Mas isto é um
erro.
Longe de ser desnecessária, a filosofia é inevitável a
partir do momento em que as pessoas deixam de tomar por adquirido as crenças
que receberam e, ao invés, começam a pensar nelas com cuidado, autonomamente. A
glória da filosofia — e seguramente um dos aspectos imediatamente interessantes
para os que se sentem atraídos por ela — é nada estar interdito, nem mesmo o
valor da razão, ou, na verdade (embora isto possa parecer paradoxal), o próprio
estatuto da filosofia. Não há restrições. Só algo como argumentação e a
discussão sem limites parece constante. É uma liberdade maravilhosa. Ou somos
escravos das crenças que por acaso adquirimos através das circunstâncias
contingentes da maneira como fomos educados e do lugar em que o fomos, ou somos
até certo ponto filósofos. A filosofia é o bastião do pensamento livre e da
exploração de ideias, acima de tudo.
A filosofia por vezes trata a questão da maneira como
devemos viver. Pode-se argumentar que a própria adopção de uma atitude
filosófica é exactamente o modo como se deve viver — tudo o resto é submissão
crédula. Claro que se trata de uma questão de grau, mas na maioria dos casos é
um bilhete de ida para a liberdade de pensamento: depois de o experimentar
ninguém quer regressar à escravidão novamente.
Seria errado pensar que a filosofia nos deixa
constantemente num estado de dúvida vaga. Aceita-se as próprias crenças com
base nos melhores argumentos. Mas deixa-se a porta entreaberta à discussão
suplementar. Na verdade são os que adoptam as suas crenças como actos de
vontade e fé que se apoiam em terreno instável, onde podem ser derrubados por
acaso, com as consequências dolorosas da desilusão, do vazio e da perda. O
resultado pode ser catastrófico porque caem, se o fazem, de uma altura tal e de
um lugar onde se julgavam absolutamente seguros. Depois disso, o quê? A
filosofia não sonha tão alto. Está também preparada para viver corajosamente
com isso. Apesar de mudarmos de crenças à luz de novos argumentos, podemos
assegurar-nos que, da última vez que defendemos uma perspectiva, fizemos o
melhor para chegar realmente ao fundo da questão. A filosofia não gera a dúvida
vazia nem uma certeza inalcançável.
Como modo de vida, a filosofia e o pensamento
filosófico não prometem a felicidade, mas penso que realçam o que há de melhor
nos seres humanos. A filosofia dá corpo àquilo que há de mais nobre na nossa
espécie.
A casa que os filósofos
construíram
A filosofia assemelha-se
muito a uma casa que se constrói sobre estacas num rio. Nessa casa podemos
fazer todo o género de coisas — construir coisas, movê-las de um lado para o
outro — mas estamos sempre cientes de que a estrutura é suportada por pilares
assentes em algo potencialmente e, amiúde, realmente inconstante. A filosofia
desce repetidamente para ver como estão as coisas perto da base dos pilares e
na verdade inspecciona os próprios pilares. As coisas podem precisar de mudança
lá em baixo. Para os filósofos isto não é apenas a natureza da filosofia mas a
condição intelectual genuína da humanidade. É a filosofia que presta uma
atenção detalhada a essa condição e a leva a sério. Isto em vez de a ignorar ou
resolvê-la de um modo sofístico.
As áreas da filosofia
O âmbito da filosofia é
vasto e basicamente unificado. Contudo, para clarificar questões e desenvolver
competências, divide as suas energias em áreas de especialização. Estas áreas
têm duas características. Por um lado, algumas áreas têm um objecto de estudo
que parece sustentar grande parte daquilo que pensamos e fazemos. Por outro,
outras áreas sustentam preocupações mais particulares. As áreas alimentam-se
entre si e estão inter-relacionadas. A filosofia não se constrói como outras
disciplinas, verticalmente, a partir de fundamentos básicos inquestionados. Não
consiste em parcelas fáceis que todos podemos pressupor, a partir das quais se
faz as parcelas mais complexas.
Não há, como se diz, águas pouco profundas em
filosofia — quando se começa, todas as questões profundas entram de imediato em
jogo.
No que diz respeito aos capítulos deste livro, pode-se
dividir a filosofia em três grupos.
Grupo 1
Lógica
Epistemologia
Metafísica
Lógica
Epistemologia
Metafísica
Grupo 2
Ética
Filosofia da mente
Filosofia da linguagem
Filosofia da ciência
Ética
Filosofia da mente
Filosofia da linguagem
Filosofia da ciência
Grupo 3
Filosofia antiga
Filosofia medieval
Filosofia moderna: séculos XVII e XVIII
Filosofia política
Estética
Filosofia continental
Filosofia da religião
Filosofia antiga
Filosofia medieval
Filosofia moderna: séculos XVII e XVIII
Filosofia política
Estética
Filosofia continental
Filosofia da religião
A relação entre estas
subdivisões da filosofia não se caracteriza pela dificuldade mas pela
generalidade, havendo um decréscimo de generalidade à medida que nos afastamos
do centro. Isto não significa que os temas das áreas exteriores são menos
importantes. Ao invés, o que acontece é que os temas do Grupo 1 sustentam os
problemas considerados no Grupo 2 e têm consequências para as conclusões a que
se chega no Grupo 2 — este grupo encontra-se em constante referência ao Grupo
1. Os temas no Grupo 3 não levantam considerações filosóficas fundamentais
novas que não sejam tratadas nos grupos 1 e 2, mas, ao invés, aplicam a áreas
específicas todos os problemas que se encontra nesses grupos. Eis alguns
exemplos: a metafísica pode lidar com a questão de que categorias de entidades
fundamentalmente existem; a estética preocupa-se em saber como existem as obras
de arte; que género de entidades são? A ética examina em que consiste afirmar
que devemos fazer algo, em que consiste algo ser moral ou imoral; a filosofia
política estuda a forma correcta de organizar a sociedade, se é que esta deve
ser organizada de todo em todo.
Os capítulos históricos aqui listados, como a
filosofia antiga e a filosofia medieval lidam evidentemente com todos os
problemas centrais da filosofia, tal como são tratados num determinado período
ou escola de pensamento.
Os problemas da filosofia
Eis uma lista de alguns dos
problemas filosóficos mais básicos e mais comummente tratados. Não se preocupe
demasiado com a maneira como tais questões seriam tratadas por um filósofo —
basta dar-lhes uma olhada e considerar como poderia responder-lhes, de uma
maneira intuitiva e imediata — quase aposto que em breve o leitor dará por si
em águas mais profundas do que espera, águas realmente filosóficas. Na verdade,
não se sinta pressionado para encontrar uma resposta, mas
pense em diversas maneiras possíveis de responder e que razões se tem para
pensar que essas respostas são correctas. As respostas, ou apenas a maneira por
que se deve começar sequer a responder-lhes, são muito menos directas do que
poderíamos supor.
Qual é a natureza da filosofia?
Há problemas filosóficos?
Qual é o método correcto para resolver problemas filosóficos?
Quando temos boas inferências?
Qual é a natureza da racionalidade?
O que é a verdade?
O que é conhecer algo?
O que percepcionamos quando afirmamos percepcionar o mundo?
Podemos saber que o mundo exterior existe?
O que é a realidade?
Em que consiste algo existir?
Que géneros de coisas existem?
O que é uma causa?
Em que consiste algo ser moralmente bom?
O que é a vida boa?
Poderá justificar-se os juízos éticos?
Qual é a natureza da mente?
O que é a consciência?
O que é o eu?
O que é isso de as expressões de uma língua terem significado?
O que é compreender o significado de uma palavra?
Poderá justificar-se a indução?
O que é uma lei científica?
Qual é a melhor maneira de organizar a sociedade?
O que justifica o poder do estado?
O que são os direitos humanos?
O que é uma obra de arte?
Poderemos justificar as avaliações que fazemos das obras de arte?
O que determina o significado de uma obra de arte?
Em que consiste justificar a existência de Deus?
Qual é a natureza de Deus?
Como devemos viver?
Há problemas filosóficos?
Qual é o método correcto para resolver problemas filosóficos?
Quando temos boas inferências?
Qual é a natureza da racionalidade?
O que é a verdade?
O que é conhecer algo?
O que percepcionamos quando afirmamos percepcionar o mundo?
Podemos saber que o mundo exterior existe?
O que é a realidade?
Em que consiste algo existir?
Que géneros de coisas existem?
O que é uma causa?
Em que consiste algo ser moralmente bom?
O que é a vida boa?
Poderá justificar-se os juízos éticos?
Qual é a natureza da mente?
O que é a consciência?
O que é o eu?
O que é isso de as expressões de uma língua terem significado?
O que é compreender o significado de uma palavra?
Poderá justificar-se a indução?
O que é uma lei científica?
Qual é a melhor maneira de organizar a sociedade?
O que justifica o poder do estado?
O que são os direitos humanos?
O que é uma obra de arte?
Poderemos justificar as avaliações que fazemos das obras de arte?
O que determina o significado de uma obra de arte?
Em que consiste justificar a existência de Deus?
Qual é a natureza de Deus?
Como devemos viver?
Intemporalidade
Não é controverso afirmar
que os problemas filosóficos são intemporais. Para alguns parece uma desculpa
para examinar problemas que de facto podem não ter resposta alguma porque à
partida há algo errado em considerá-los “problemas”. Contudo, o objecto de
estudo da filosofia comporta-se seguramente como se os problemas filosóficos
fossem intemporais. Determinados tópicos podem ser uma preocupação mais central
em dada altura, mas isso é sobretudo função da moda. Os tópicos e questões
centrais surgem repetidamente. Raramente se dá o caso de um assunto considerado
pela filosofia ser inteiramente dispensado, ou desvalorizar-se a maneira como anteriormente
foi tratado. Muito pelo contrário. Os filósofos dão consigo a regressar aos
filósofos do passado, pelo menos para usar as suas ideias sobre determinados
tópicos como ponto de partida, mas normalmente é mais do que isso. Um livro que
considera a natureza da justiça irá naturalmente averiguar o que Platão tinha
para dizer. Os problemas da indução e da causalidade envolvem normalmente uma
discussão aprofundada de Hume. Descartes é muitas vezes o ponto de partida para
se considerar a natureza da mente.
Não é de todo em todo claro que se progrida em
filosofia como se faz noutras áreas. Neste sentido a filosofia é muito
diferente da ciência — um químico raramente acharia interessante averiguar o
que outro químico afirmou acerca de algo há cem anos.
Pode-se portanto perguntar qual é o sentido da
filosofia, neste caso, dado que não resolve definitivamente os problemas. Como
foi já sugerido, os problemas filosóficos surgem quando começamos a pensar
profundamente acerca das nossas crenças mais fundamentais. Quando o fazemos
descobrimos amiúde que nem compreendemos inteiramente o conteúdo dessas
crenças, nem temos qualquer justificação clara para as defender. Para um
determinado tipo de mente isto é desconcertante e os problemas não desaparecem
através da aceitação de respostas palavrosas ou em resposta a um quadro mental
depreciativo. Talvez não sejamos capazes de apresentar soluções finais, mas,
ainda assim, podemos chegar a uma conclusão que resulte do melhor pensamento
disponível sobre um dado assunto.
Concluiria que os problemas filosóficos são
intemporais em virtude da sua profundidade, generalidade e, em consequência, da
incerteza que rodeia os próprios métodos pelos quais podemos abordá-los da
melhor maneira. O resultado é que os problemas não morrem, nem as maneiras de
tentar resolvê-los ou pelo menos lidar com eles.
Uma coisa é bastante certa: a questão de os problemas
filosóficos serem ou não intemporais é em si própria um problema filosófico.
Além do factual
A filosofia não se preocupa
normalmente com a recolha de factos. Pode-se deixar isso para outras
disciplinas, como a ciência, a história, a psicologia ou a antropologia. Há uma
razão dupla para isto.
- Em primeiro lugar, a filosofia lida normalmente com assuntos que têm de estar pressupostos na recolha de factos — questões acerca da verdade e cognoscibilidade da realidade, por exemplo. Qualquer tentativa de resolver os problemas filosóficos por referência aos factos cairá portanto muito provavelmente em petição de princípio. Não podemos, por exemplo, referir-nos aos indícios reunidos através da percepção para resolver o problema filosófico acerca do que se pode conhecer sobre o mundo através da percepção, se é que podemos conhecer algo.
- Em segundo lugar, os factos são normalmente insuficientes para lidar com o problema filosófico. Isto é particularmente óbvio em ética. Argumenta-se em geral que nenhuma referência a como as pessoas são e o que realmente fazem pode responder à questão acerca do que elas devem fazer. Isto não significa que se ignora os factos, apenas que os factos são insuficientes para nos permitir chegar a conclusões acerca dos assuntos com que a filosofia lida.
Os objectos de estudo da
filosofia
Esta secção oferece um
esboço conciso dos objectos de estudo da filosofia discutidos neste livro. O
livro não trata exaustivamente de tudo na filosofia, mas pode-se afirmar com
justiça que todas as áreas centrais estão aqui representadas.
Epistemologia
Aqui o objecto de estudo é
a natureza do conhecimento e, dada essa natureza, o que se pode afirmar com
verdade que podemos conhecer, por contraste a ter apenas crenças e opiniões
acerca disso. Será que podemos rebater as perspectivas de cépticos que afirmam
que, estritamente falando, não podemos conhecer tudo aquilo que afirmamos poder
conhecer, se é que podemos conhecer alguma coisa?
Metafísica
Que categorias de coisas em
última análise existem, que conexões há entre elas e como nos surgem? Será que
todas as coisas que nos aparecem são reais, ou será que derivam de algo mais
fundamental? E o que dizer acerca da existência de coisas que não “existem” no
sentido usual do termo mas às quais, não obstante, nos referimos, tais como
unicórnios e números?
Lógica
Aqui trata-se da natureza e
identificação das boas inferências: as circunstâncias em que se diz que uma
afirmação se segue de outra. Procura-se compreender e classificar os casos em
que as afirmações, se são verdadeiras, justificam em alguma medida a verdade de
outras afirmações.
Ética
Aqui trata-se de valores
(normativos, por contraste com questões de facto) no que respeita as acções
humanas. Em que consiste considerar algo que fazemos como bom ou mau? Em que
consiste afirmar que devemos fazer ou não fazer algo? Não basta discutir o que
fazemos, temos de discutir o que devemos fazer e o que significa afirmar isto.
Filosofia antiga
Consiste no estudo dos
filósofos do mundo grego e romano. Normalmente concentramo-nos na filosofia
grega a partir de c. 624 a.C., que assinala o nascimento do pré-socrático
Tales, até 322 a.C., a morte de Aristóteles. As figuras mais importantes são
indubitavelmente Platão e Aristóteles. É frequente alargar-se este período para
incluir o mundo romano. É impossível exagerar a importância do pensamento no
mundo antigo. Aqui encontramos quase tudo, desenvolvido em graus diversos, o
que caracteriza a perspectiva ocidental. Na verdade representa um ponto de
viragem na história humana, onde pela primeira vez se aplica a todos os níveis
na resolução dos problemas mais profundos, em vez de apelar à mera autoridade
ou à longevidade de uma ideia.
Filosofia medieval
Esta área abrange, há que
assinalar, o estudo de filósofos ao longo de um vasto período de cerca de mil
anos, desde Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) e Guilherme de Occam (c.
1285-1349 d.C.) e se prolonga pelo menos até à renascença. O fio condutor é a
ascensão e predomínio do cristianismo, que permeia a filosofia que se faz
durante este período. O outro elo mais importante ao longo deste período é a
interpretação e adaptação da metafísica de Aristóteles.
Filosofia moderna: os
séculos XVII e XVIII
Pode parecer estranho
chamar “filosofia moderna” à filosofia que se faz nos séculos XVII e XVIII.
Indica o período de surpreendente fecundidade no pensamento filosófico e uma
nova maneira de fazer filosofia que foi uma ruptura significativa em relação ao
que ocorria antes. Além disso, muitas das maneiras pelas quais
contemporaneamente se faz filosofia ainda derivam do pensamento deste período.
As figuras centrais são Descartes, Espinosa, Leibniz, Locke, Berkeley e Hume.
Filosofia da mente
A que tipo de entidade nos
referimos quando falamos acerca da “mente”? Como se relaciona o discurso acerca
da mente com o discurso acerca daquilo a que normalmente chamamos os nossos
“corpos”? Serão a mente e o corpo um só, ou será que a mente é afísica? Como
pode a apercepção consciente e o entendimento pelas quais nos referimos às
coisas surgir da matéria inerte? O que significa afirmar que alguém é a mesma
pessoa ao longo da sua vida e em que medida é que isso justifica a afirmação?
Filosofia da linguagem
Em que consiste uma
expressão, oral ou escrita, ter significado e capacidade de referir coisas? O
que constitui a compreensão que uma pessoa tem de uma palavra, quando sabe como
deve ser usada correctamente?
Filosofia da ciência
O que define uma lei da
natureza? Como difere de outras afirmações acerca do mundo? De que maneira as
teorias científicas se justificam pelos indícios, caso se justifiquem? Como
podemos saber que as nossas leis da natureza descrevem características do mundo
que persistirão da próxima vez que o examinarmos?
Filosofia política
Como se deve organizar a
sociedade? O que justifica a existência de um estado que pode legitimamente
usurpar o poder às pessoas? Como se deve controlar o estado? O que justifica a
propriedade privada, se é que se justifica? Como adquirem as pessoas direitos
que não podem ser violados senão em circunstâncias especiais, se é que os
adquirem?
Filosofia das artes
Pode-se definir o que é uma
obra de arte? O que queremos dizer quando afirmamos que uma obra tem uma certa
qualidade estética, como a beleza? O que determina o significado de uma obra de
arte? O que justifica as diferenças entre avaliações de obras de arte, se algo
o faz?
Filosofia da religião
Até que ponto os argumentos
que justificam a existência de Deus são bons? Será que precisamos de argumentos
a favor da existência de Deus, ou será a fé suficiente? Qual é a natureza de
Deus e como se relaciona com o género de criaturas que somos?
Filosofia continental
É controverso afirmar que o
grupo de filósofos que amiúde se agrupa sob esta designação se presta a tal
classificação de uma maneira coerente, e este capítulo trata sobretudo dessa
questão. Negativamente, a designação pode indicar uma divergência de métodos e
preocupações filosóficas entre filósofos da Europa continental e filósofos de
expressão inglesa no Reino Unido, América do Norte, Nova Zelândia e Austrália.
Positivamente há talvez um fio condutor que parte do filósofo Immanuel Kant
(1724-1804) até ao presente, passando por pensadores como Jacques Derrida, e
pode-se encarar isto como diversas maneiras de responder à perspectiva
filosófica do idealismo transcendental. Os filósofos recentes encontram-se aqui
marcados pelo questionamento mais fundamental da natureza e na verdade da existência
da própria filosofia.
O futuro da filosofia
A filosofia continuará
enquanto algumas pessoas mantiverem a perspectiva de que pensar cuidadosamente
por si próprias é importante. É difícil determinar que preocupações filosóficas
estarão no centro das atenções das pessoas no futuro. Mas parece que haverá
sempre alguém a tentar debater-se com as questões mais profundas, indisposto a
aceitar sem questionar as respostas que por acaso estejam à mão.
John Shand
Retirado de Fundamentals
of Philosophy,
org. John Shand (Londres: Routledge, 2003).
Tradução de Vítor Guerreiro
Foto Joel Fonseca |
Lola
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