Ética e Moral
“A palavra «moral» tem que ver etimologicamente
com os costumes, pois é precisamente «costumes» que significa a
palavra latina mores, e também com as ordens, mas a maior parte dos
preceitos morais dizem qualquer coisa como «deves fazer isto» ou «não
te lembres sequer de fazer aquilo». Todavia, há costumes e ordens – como já
vimos – que podem ser maus, ou seja, «imorais», por muito ordenados e
costumeiros que se nos apresentem.
Se quisermos aprofundar deveras a
moral, se quisermos aprender a sério como empregar bem a liberdade que temos (e
nessa aprendizagem consiste justamente a «moral» ou «ética» de que estamos aqui
a falar), o melhor será deixarmo-nos de ordens, costumes e caprichos.
O primeiro aspecto que devemos deixar claro é que a ética de um homem livre
nada tem a ver com os castigos ou os prémios distribuídos por
qualquer autoridade que seja – autoridade humana ou divina, para o
caso tanto faz. Aquele que se limita a fugir do castigo e a procurar a
recompensa que outros dispensam, segundo normas por eles estabelecidas,
não goza de condição melhor do que a de um pobre escravo. (...)
Mas é
aqui necessário um certo esclarecimento de termos. Embora eu use as palavras
«moral» e «ética» como equivalentes, de um ponto de vista técnico (...) elas
não significam o mesmo.
«Moral» é o conjunto de condutas e
normas que tu, eu e alguns dos que nos rodeiam costumemos aceitar como válidas;
«ética» é a reflexão sobre o porquê de as considerarmos válidas,
bem como a sua comparação com as outras «morais», assumidas por pessoas
diferentes.”
Fernando Savater,
Ética para um Jovem,
Ed. Presença, pag.46
Lola
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