Exames Nacionais - reflexao
Os três problemas dos exames nacionais
Quase só avaliam a memória, não medem as aprendizagens
de forma fiável e estão obcecados com as médias de acesso à Universidade.
Como
podemos melhorar os exames? Um ensaio de Alexandre Homem Cristo.
Ao longo dos últimos 15 anos, o debate sobre a
avaliação externa dos alunos limitou-se ao Ensino Básico. Deve haver prova de
aferição ou prova final (i.e. um exame)? Em que anos de escolaridade se devem
realizar as provas? Que consequências devem estas ter para o percurso escolar
dos alunos? O debate é mais do que conhecido e todos os ministros da Educação
passaram por ele, sempre com alguma polémica, com destaque para os últimos a
ocupar a pasta, Nuno Crato (PSD-CDS) e Tiago Brandão Rodrigues (PS). O primeiro
porque introduziu exames no final do 4.º ano e do 6.º ano, correspondentes à
conclusão do 1.º e do 2.º ciclo do Ensino Básico – opção que, no contexto
europeu, era excepcional. O segundo porque acabou com esses exames e deixou um
vazio no final dos ciclos do Ensino Básico, interrompendo uma série estatística
de mais de uma década de avaliação (por prova de aferição ou exame) e
impossibilitando assim a futura comparação dos resultados escolares actuais com
os do passado – isto porque as provas de aferição passarão a ser realizadas a
meio dos ciclos do Ensino Básico.
É indiscutível que, nesta década e meia, as decisões
políticas sobre a avaliação do Ensino Básico levantaram (e ainda levantam)
muitas questões problemáticas de grande relevo e que justificam discussão. Mas
faça-se uma pausa nesse debate para olhar para onde há mais de uma década
ninguém olha: os exames nacionais do ensino secundário, que na arena política
parecem consensuais, face ao vazio de debates que (não) suscitam – ninguém os
contesta, ninguém os escrutina, ninguém os questiona. Nem partidos, nem
ministros, nem pais, nem escolas, nem universidades. Quer isto dizer que está
tudo bem? Muito longe disso: este silêncio esconde um dos maiores bloqueios do
actual sistema educativo.
Quando se fala de exames nacionais, fala-se do ponto
final da escolaridade obrigatória. É essa última etapa para os jovens que
completam a sua passagem pela escola. E isso atribui aos exames um papel de
enorme influência. Como elemento máximo de avaliação dos alunos (e, já agora,
de monitorização do sistema educativo), os exames nacionais definem o que os
alunos devem aprender e têm a responsabilidade de testar com fiabilidade as
aprendizagens, até porque estão directamente articulados com o acesso ao ensino
superior. Problemas? Muitos – e três em particular.
Sem
pensamento crítico ou capacidade para articular as diferentes informações,
pouco distinguirá o jovem que conhece uma determinada data histórica daquele
outro jovem que, em dois cliques, a descobriu pesquisando no Google.
Primeiro, os exames nacionais definem como objectivo
da aprendizagem a memorização de informação, pois é isso que testam – em vez de
competências que, avaliando também o conhecimento, são determinantes para o
futuro dos alunos e estão em linha com as orientações estratégias do Ministério
da Educação (pensamento crítico, criatividade, capacidades analíticas,
desenvolvimento de ideias e de articulação do conhecimento). Segundo, as
classificações dos exames nacionais suscitam dúvidas quanto à fiabilidade na
medição das aprendizagens – como se explica que algumas disciplinas tenham
sucessivamente médias e medianas negativas quando, entretanto, as avaliações
internacionais apontam para melhorias consolidadas? Terceiro, a dependência
entre o acesso ao ensino superior e o ensino secundário (e os exames nacionais
em particular) põe toda a comunidade educativa focada num modelo de “ensinar
para o exame” – assim amputando qualquer margem de autonomia ou inovação
pedagógicas nas escolas, pois o risco de prejudicar o desempenho dos alunos no
exame é demasiado elevado. Eis os três grandes problemas dos exames nacionais
que se desenvolvem neste ensaio.
Os
exames nacionais (quase) só medem a memorização
É consensual ao nível da UE e da OCDE que, no futuro
próximo (2020-2030), as competências mais relevantes para uma vida activa serão
o pensamento crítico, a resolução de problemas complexos, a criatividade, a
coordenação com pessoas e a gestão de equipas. O pressuposto base é simples de
resumir: uma vez que a informação está cada vez mais acessível (via internet e
novas tecnologias), o que realmente distinguirá as pessoas no mercado de
trabalho não é tanto o conhecimento por si só, mas o que se consegue construir
com o conhecimento – e é aí que as referidas competências fazem a diferença.
Conhecer uma determinada data histórica é importante? Sem dúvida. Mas, sem
pensamento crítico ou capacidade para articular essa com outras informações,
pouco distinguirá o jovem que conhece a data daquele outro jovem que, em dois cliques,
a descobriu pesquisando no Google.
Este enfoque nas competências (que, vale a pena
repetir, é consensual ao nível das maiores organizações internacionais com
reflexão na educação) está na base do documento estratégico “Perfil dos Alunos
à Saída da Escolaridade Obrigatória” – ou, como geralmente é designado, o
“Perfil do Aluno para o século XXI”. O que este documento estipula é que, no
momento da conclusão da escolaridade obrigatória, os jovens portugueses tenham
adquirido os conhecimentos e competências-chave necessários para a sua vida
activa (pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas, capacidade de
decisão, comunicação, colaboração, literacia no uso da informação,
responsabilidade pessoal).
Ora, no final da escolaridade obrigatória, quando
realizam os exames nacionais, são essas competências de algum modo testadas?
Não, de modo algum: (quase) só se testa a memorização da informação.
=s exames
nacionais, tal como hoje estão elaborados, valorizam essencialmente a
memorização – por vezes, quase em exclusivo. Ou seja, estão desfasados das
actuais orientações estratégicas nacionais e internacionais.
Veja-se o exame nacional de História A de 2016 (Prova 1/2016, 623/1.ª Fase).
Num total de 16 questões, 9 são de escolha múltipla (ou seja, mais de metade).
Entre as restantes 7 questões, predominam as que pedem respostas curtas e
fechadas – por exemplo “III.2 – Indique o nome do «tratado de paz de 1919» a
que o documento 2 [um discurso de Hitler no Reichstag, em 1938] se refere”. No
total, apenas surge uma questão de desenvolvimento (III.5, a de cotação mais alta
– 50 pontos), que na prática não o é, uma vez que estipula como critério de
avaliação a menção de três aspectos de cada um dos três momentos históricos
indicados – o primeiro pós-guerra; a década de 1930; o segundo pós-guerra. Ou
seja, todo o exame nacional de História A está orientado para “despejar”
informação e enquadrado por critérios de avaliação fechados e apoiados na
enumeração da informação – pedem-se “três características”, “três aspectos”,
“duas transcrições”. Não há vestígio de pensamento crítico ou de argumentação.
Não acontece apenas com História A.
No exame nacional
de Filosofia (Prova 1/2016, 714/1.ª Fase),
apenas uma questão (V. item único) pede aos alunos que desenvolvam uma
argumentação própria, reflectindo sobre a problemática “Para que uma sociedade
seja justa, basta que todos tenham liberdades iguais?”. Uma questão de
desenvolvimento que, em termos de cotação, vale 30 pontos, portanto menos do que
as questões de escolha múltipla do Grupo I (50 pontos).
E até no exame nacional
de Português (Prova 1/2016, 639/1.ª Fase),
uma parte significativa da cotação (50 pontos) está atribuída ao grupo de
questões de escolha múltipla.
Resumindo: os exames nacionais, tal como hoje estão
elaborados, valorizam essencialmente a memorização – por vezes, quase em
exclusivo. Ou seja, estão desfasados das actuais orientações estratégicas
(nacionais e internacionais), que apontam para além da aquisição de
conhecimento e pedem um aprofundamento nas escolas da aprendizagem de
competências, tais como o pensamento crítico ou a resolução de problemas
complexos.
Os
exames nacionais estão a medir as aprendizagens de forma fiável?
A cada ano lectivo, quando são anunciados os
resultados dos exames nacionais, as análises lançam-se sobre as comparações
entre anos – subiu ou desceu – e o impacto que a oscilação terá nas médias de
acesso ao ensino superior. O exercício tem escassa utilidade. Mas há duas
outras questões úteis e fundamentais a fazer acerca da fiabilidade dos exames
nacionais quanto à medição das aprendizagens. Primeiro: como é que a média e
mediana do exame nacional de uma disciplina pode, ano após ano, ser negativa –
informando-nos que, em termos médios, os alunos que sucessivamente concluem o
ensino secundário não estão devidamente formados sobre essa área do
conhecimento? Segundo: como encaixar que as várias avaliações internacionais
(como o PISA ou o TIMMS) apontem para melhorias significativas e consolidadas
nos desempenhos dos nossos alunos nos últimos 10 anos e que tal não se reflicta
nos exames nacionais?
Comecemos pelas médias dos exames nacionais (gráfico
1). Por exemplo, na disciplina de Física/ Química, as médias nacionais são
geralmente negativas, tal como, entre outras disciplinas, acontece em
Matemática A. E, para mencionar apenas uma outra disciplina estruturante,
Português fica quase sempre no limite da positiva. É mau? Sim, mas piora. Se se
olhar também para as medianas das classificações (gráfico 2), o retrato fica
ainda mais alarmante: são muitas as disciplinas centrais do currículo em que
mais de metade dos alunos tem classificação negativa. Ou seja, a acreditar no
quadro negro pintado pelos exames nacionais, os nossos alunos terminam a
escolaridade obrigatória com uma aquisição de conhecimentos muito deficiente e
abaixo do necessário.
O confronto com esta constatação levanta, no mínimo,
um problema. Das quatro, uma: ou os alunos são realmente muito fracos, ou as
escolas não estão a cumprir o seu trabalho, ou os programas das disciplinas
estão desajustados, ou os exames nacionais não estão a medir adequadamente as
aprendizagens. Qual delas é? Opiniões não faltam, mas o cruzamento com as
avaliações internacionais ajuda a dar uma resposta focada.
Olhando aos desempenhos dos alunos portugueses no
PISA, nomeadamente desde 2006, constatamos que estes melhoraram de forma
sustentada em Leitura, Matemática e Ciências. Não foi uma coisa pontual ou uma
coincidência. Foram quatro relatórios PISA consecutivos a consolidar as
melhorias dos resultados dos alunos portugueses, que elevaram Portugal a caso
de estudo quanto a medidas de promoção do sucesso escolar. Ora, estas melhorias
– que comprovadamente existem – não aparecem em lado nenhum na análise das
classificações dos exames nacionais, que se mantêm relativamente baixas embora
com sucessivas oscilações de ano para ano (algumas das quais inexplicavelmente
acentuadas). Ou seja, não há nos exames nacionais qualquer vestígio da
tendência de melhoria identificada nas avaliações internacionais. O que
concluir daqui? Que os alunos não são assim tão fracos, que as escolas estão a
cumprir o seu trabalho e que, à partida, o currículo estará adequado às
necessidades dos alunos, pois serviu de base para a melhoria espelhada nas
avaliações internacionais. Assim sendo, sobra uma hipótese: há algo na
adequação dos exames nacionais que impõe reflexão.
Vamos por partes. Por um lado, é óbvio que as
avaliações internacionais e os exames nacionais, pelas suas naturezas, medem
coisas distintas e que, como tal, a comparação dos seus resultados tem limites
metodológicos. Mas, por outro lado, esses limites metodológicos não explicam
tudo. Afinal, estas avaliações (internacionais e nacionais) estão ambas a
testar os conhecimentos dos alunos em determinadas áreas científicas, mesmo que
recorrendo a abordagens diferentes. E o facto de os seus resultados serem tão
diferentes, por vezes até contraditórios, tem de nos fazer pensar: se calhar,
estamos perante a necessidade de rever a construção dos exames nacionais.
O
problema não é haver exame nacional, mas que o exame nacional seja parte do
acesso ao ensino superior. Porque isso introduz várias implicações negativas
para o sistema educativo e para os próprios exames nacionais.
Resumindo: os exames nacionais apontam para um cenário
muito negativo em termos de aquisição de conhecimentos dos alunos. E esse
cenário é implausível, levantando dois problemas. Primeiro: não se compreende
que, sucessivamente, haja médias e medianas negativas nas mesmas disciplinas
nos exames nacionais – isto sugere que, todos os anos, a maioria dos alunos
acaba a escolaridade obrigatória sem saber os mínimos a várias disciplinas e,
consequentemente, que o sistema educativo está a falhar. Segundo: não se
compreende como é que a evolução das classificações dos exames nacionais está
tão desligada das conclusões das avaliações internacionais, que apontam para
melhorias sustentadas dos alunos portugueses nos últimos 10 anos. Ou seja,
estes dois problemas sugerem que algo nos exames nacionais está a falhar.
O acesso
ao ensino superior está a estrangular os exames e o ensino secundário
O fenómeno vê-se ao longo de todo o ano, mas
acentua-se nas semanas que antecedem os exames nacionais: todo o ensino secundário
está orientado para o exame. Desde o primeiro dia do 10.º ano de escolaridade,
tudo na escola é pensado à medida dos exames nacionais – o que se ensina, o que
se aprende, como se testa, o que os pais exigem. Aos alunos só interessa o que
sai no exame, aos professores só importa ensinar o que sai no exame, aos pais
só toca perguntar pelo que sai nos exames. Estranho seria se assim não fosse.
Uma vez que os exames nacionais são peça central no acesso ao ensino superior,
assumem uma importância nuclear no percurso de vida futura dos jovens – ter
melhor ou pior nota num exame nacional (às vezes basta meio valor) pode ser
decisivo para ingressar no curso que se ambiciona.
Com o futuro não se brinca e, portanto, não há volta
a dar: todo o ensino secundário está condicionado pelo exame, pela
forma como este mede os conhecimentos, pelo tipo de questões que coloca, pelos
conteúdos mais prováveis de testar, na medida em que é o exame que fixa os critérios
de sucesso para o acesso ao ensino superior. O problema não é haver exame
nacional, mas que o exame nacional seja parte do acesso ao ensino superior.
Porquê? Porque isso introduz várias implicações negativas para o sistema
educativo e para os próprios exames nacionais. E algumas destas estão na raiz
dos problemas desenvolvidos acima – os exames medirem (quase só) a memorização
e o desfasamento entre as classificações médias dos exames nacionais e outras
avaliações internacionais.
A solução
não é prescindir dos exames no final do ensino secundário, mas sim ter exames
adequados para o que se pretende que os alunos aprendam. Neste momento, isso
não existe.
Primeiro: a relação com o
acesso ao ensino superior impõe exames com respostas directas e curtas, para
que a correcção seja o mais objectiva possível e as classificações sejam
comparáveis. É a lógica competitiva que assim decreta. Uma vez que meio valor
pode fazer a diferença para um aluno nas suas ambições de frequentar o curso
pretendido, o modelo de exames tem de ser elaborado de forma a garantir uma
correcção tão fiável quanto possível, com critérios apertados e verificáveis.
Daí que os exames nacionais dêem privilégio a questões de escolha múltipla, a
questões fechadas (datas, enumeração de características, nomes de tratados) e
reduzam ao máximo o espaço para questões de desenvolvimento – estas últimas são
mais difíceis de corrigir de modo objectivo, enquanto as anteriores são
lineares e seguem critérios explícitos (se a informação está na resposta, tem a
pontuação, se não está lá, não tem a pontuação). Ou seja, a opção por exames
nacionais que valorizam sobretudo a memorização (em detrimento do pensamento
crítico e de outras competências) tem uma relação directa com o acesso ao
ensino superior.
Segundo: a relação com o
acesso ao ensino superior torna muito mais difícil alterar o modelo dos exames.
Mexer na estrutura dos exames significa introduzir areia na engrenagem do
acesso ao ensino superior, o que nenhum ministro arriscará e nenhum pai/mãe
defenderá. Assim, na opinião pública, as classificações dos exames nacionais
são avaliadas em vista ao ensino superior (o modo como interferem nas médias de
acesso de cada curso), e não em função do que informam sobre o ensino
secundário. Daí que se conviva tão bem, no debate público, com classificações
médias sucessivamente negativas e com o desfasamento destes resultados com as
avaliações internacionais do PISA – toda a gente receia mexer nos exames
nacionais, mesmo que reconhecendo os seus problemas.
Terceiro: a relação com o
acesso ao ensino superior faz dos exames o guião do ensino secundário,
impedindo qualquer tipo de inovação pedagógica e a adequação das abordagens pedagógicas
às necessidades dos alunos. É, neste momento, uma profunda contradição com a
estratégia definida pelo Ministério da Educação (que defende mais autonomia
escolar e mais inovação nas salas de aula) e com os objectivos delineados no
documento “Perfil do Aluno para o Século XXI”, no qual se aponta para a
aprendizagem de competências-chave, para além da aquisição do conhecimento. A
existência de exames nacionais elaborados como acima se descreveu faz
tábua-rasa de tudo isso. O que equivale a dizer que, à conta desta ligação ao
acesso ao ensino superior, quem faz os exames nacionais (o Instituto
de Avaliação Educativa – IAVE) está, na prática, a definir o
rumo da política educativa.
So what? Cinco ideias a reter sobre os exames
nacionais
Ideia um: os exames nacionais
valorizam essencialmente a memorização – por vezes, só valorizam a memorização.
Nesse sentido, estão desfasados das orientações estratégicas (nacionais e
internacionais), que apontam para além da aquisição de conhecimento e pedem um
aprofundamento nas escolas da aprendizagem de competências, tais como o
pensamento crítico ou a resolução de problemas complexos.
Ideia dois: algo na concepção dos
exames nacionais parece estar a falhar. Por um lado, não se compreende que,
sucessivamente, haja médias e medianas negativas nas mesmas disciplinas nos
exames nacionais – como se, todos os anos, o sistema educativo falhasse e os
alunos fossem para a universidade sem saber os mínimos. Por outro lado, não se
percebe como é que a evolução das classificações dos exames nacionais está tão
desligada das avaliações internacionais, que apontam para melhorias sustentadas
dos alunos portugueses nos últimos 10 anos – o que não aparece nos exames
nacionais.
Ideia três: a relação dos exames
nacionais com o acesso ao ensino superior está a ter efeitos perversos no
sistema educativo. Desde logo, porque orienta todo o ensino para o exame, já
que são os resultados no exame que definem o sucesso – só se ensina e aprende
em função do que sai no exame. Depois, porque limita qualquer forma de inovação
pedagógica – ninguém arrisca inovar porque treinar alunos para o exame é a
opção mais segura. Por fim, porque bloqueia qualquer reflexão acerca da sua
eficácia – ninguém quer mexer nos exames nacionais porque, ao fazê-lo, está a
mexer no acesso ao ensino superior.
Ideia quatro: nenhum dos problemas
descritos é resolúvel enquanto os exames nacionais forem peça central do acesso
ao ensino superior. É essa articulação que, indirectamente, impõe as condições
do comportamento do sistema educativo. É, por exemplo, por causa do acesso ao
ensino superior que os exames têm de testar a memorização – torna as respostas
e a correcção das provas mais objectiva. É, por exemplo, por causa do acesso ao
ensino superior que os exames assumem tamanha importância e forçam que o ensino
secundário seja todo ele orientado para o exame – matando qualquer
possibilidade de inovação pedagógica. Se se quiser cumprir as orientações
nacionais e internacionais quanto ao futuro da Educação, a libertação do ensino
secundário (e dos exames nacionais) do acesso ao ensino superior é condição
imprescindível. E por que razão não se faz? Entre outras razões, porque as
universidades não têm interesse nisso.
Ideia cinco: a solução não é
prescindir dos exames no final do secundário, mas sim ter exames adequados para
o que se pretende que os alunos aprendam. Nem oito, nem oitenta. Ao contrário
das habituais discussões sobre se deve ou não haver exames, o que está aqui em
causa é, fundamentalmente, rever o modelo de exames nacionais, para que estes
correspondam às estratégias nacionais para a Educação. Neste momento, não
correspondem. Pior ainda, esse desfasamento impede o cumprimento das
estratégias nacionais.
in Observador
30 Maio 2017561
Alexandre Homem Cristo foi Conselheiro Nacional de
Educação e, entre 2012 e 2015, foi assessor parlamentar do CDS na Assembleia da
República, no âmbito da Comissão de Educação, Ciência e Cultura. É autor do
estudo “Escolas para o Século XXI”, publicado pela Fundação Francisco Manuel
dos Santos, em 2013.
Lola
Sem comentários:
Enviar um comentário