John Rawls e o Véu de Ignorância
Suponhamos
que, num futuro não muito distante, deixa de haver oferta de árbitros de
futebol. (…) Para muitos jogos, torna-se impossível descobrir um árbitro
neutro. Suponhamos que foi isto que se passou no jogo entre o Futebol
Clube do Porto e o Benfica e suponhamos também que o único árbitro qualificado
a assistir ao desafio é o presidente do Futebol Clube do Porto.
Compreensivelmente, o Benfica não aceita a proposta de
que seja ele a arbitrar o jogo. Contudo, a Liga de Futebol sabe que este
problema surge de tempos a tempos e, por isso, inventou um fármaco. Quando
tomamos esta substância, a nossa conduta é perfeitamente normal, com excepção
de um aspecto: temos uma perda muito seletiva de memória. Deixamos de ser
capazes de dizer qual o clube de futebol de que somos presidentes (…). Tendo
tomado o fármaco em questão, como iria o presidente do Futebol Clube do Porto
arbitrar o jogo?
A
resposta é: poderia ser imparcial. Sabe que é presidente de um dos dois clubes,
mas não qual. Assim, se escolher favorecer aleatoriamente uma equipa, pode vir
a descobrir que prejudicou o seu próprio clube. Se presumirmos que ele não quer
correr o risco de malograr injustamente as perspectivas do seu clube, só lhe
restará agir tão justamente quanto lhe seja possível e deixar o jogo
desenrolar-se de acordo com as regras. A ignorância gera imparcialidade.
Com isto
em mente, podemos analisar a concepção de Rawls da posição original. As pessoas
na posição original – os contratantes hipotéticos – têm à sua frente um «véu de
ignorância» que não lhes permite aperceberem-se das suas circunstâncias
particulares. Devido a esta ignorância, não sabem como ser parciais a seu favor
e, assim, vêem-se obrigadas a agir imparcialmente.
Wolf, Introdução à Filosofia
Política
Gradiva, pp. 223 e 224 (adaptado)
Lola
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