terça-feira, 6 de junho de 2017

Kant: o belo e o sublime


The Yeatman- A noite é sublime...

Kant: o belo e o sublime

Kant distinguiu o belo do sublime. Embora considere que ambos geram comoção e que esta se torna  aprazivel, considera, porém que essa comoçao tem uma natureza completamente diferente! 

O sublime comove e o belo encanta! 

Dentro do sublime, Kant distinguiu três modalidades: 
  • sublime terrível que mistura a admiração da grandiosidade com o temor ou o horror (exemplo:a solidao profunda),
  • sublime nobre em que a admiração da grandiosidade se mistura com a nobreza assente na simplicidade, (exemplo: uma catedral gótica, sem decorações interiores) 
  • sublime magnífico (exemplo: um palácio residencial recoberto a oiro e pedras preciosas). ( pp. 33 e 34)


Na obra, "Observaçoes sobre o entendimento do belo e do sublime", ediçoes 70, Kant diz:

"Os carvalhos altos e a sombra solitária no bosque sagrado são sublimes, as plantações de flores, sebes baixas, e árvores recortadas, formando figuras, são belos. A noite é sublime, o dia é belo. Os temperamentos que possuem o sentimento do sublime, quando a tremulante luz das estrelas rasga a parda sombra da noite e a lua solitária está no horizonte, são atraídos pouco a pouco pela calma silenciosa de uma noite de verão, a sensações supremas de amizade, de desprezo do mundo, de eternidade. O resplendor do dia infunde afãs de actividade e um sentimento de regozijo. O sublime comove, o belo encanta. O semblante do homem que se encontra em pleno sentimento do sublime é sério, às vezes rígido e ensombrado. Pelo contrário, a viva sensação do belo declara-se no olhar pela sua esplendorosa serenidade, por sorrisos rasgados e por um claro regozijo. " pag.33)

"O sublime há-de ser sempre grande, o belo pode também ser pequeno. O sublime há-de ser simples, o belo há-de ser limpo e adornado. Uma grande altura é sublime do mesmo modo que uma grande profundidade, só que esta vai acompanhada da sensação de estremecimento e aquela de admiração. Pelo que esta sensação pode ser sublime-terrível, e aquela nobre. A basílica de São Pedro em Roma é magnífica. Porque no seu desenho, que é grandioso e simples, está a beleza de tal maneira expandida, como o oiro, os mosaicos, etc, que, sem embargo, a sensação de sublime actua maximamente nele, dando um resultado magnífico. Um arsenal há-de ser nobre e simples, um palácio residencial magnífico, e um palácio de recreio belo e ornamentado.
Um longo período é sublime. Se se trata de um tempo passado é nobre; se se prevê para um futuro incalculável, tem então em si algo de terrível. Um edifício da mais remota antiguidade é venerável."  (pp. 34-35)

"A Amizade contém, em particular, o caracter de sublime; o amor sexual o do belo" (p.38)


"O entendimento é sublime, o engenho é belo. A audácia é sublime e grandiosa, a astúcia é pequena mas bela. Cromwell dizia que a precaução é virtude de alcaides. A veracidade e a sinceridade são simples e nobres, a piada e a lisonja complacente são delicadas e belas. (..)

A amizade guarda em si principalmente o carácter do sublime, mas o amor sexual é do belo. (..) A tragédia distingue-se, em meu entender, da comédia principalmente porque na primeira desperta o sentimento do sublime, e na segunda o do belo.» ,  (pag 37-38)

"Com uma grande estatura ganha-se prestígio e respeito, com uma pequena gana-se melhor a confiança. Até a cor morena e os olhos negros estão mais vinculados ao sublime, e os olhos azuis e a cor loira ao belo. Uma idade um tanto avançada avém-se antes com as características do sublime, mas a juventude com as do belo. (...)"  (p. 39)

Se os velhos são, potencialmente, sublimes, devido à sua sabedoria, à profundidade da sua reflexão alicerçada em experiência de vida, há que ter presentes que neles o belo esbate-se, degrada-se, e uma certa fealdade física os caracteriza. Kant não parece ter sublinhado explicitamente esta relação inversamente proporcional entre a sublimidade e a beleza física, ou seja, a proporcionalidade directa entre a sublimidade e a fealdade, no caso dos seres humanos.

"O Homem, moreno, de olhos negros e idade avançada é sublime; a mulher, loira, de olhos azuis e jovem é bela" (pp.


"A representação matemática da magnitude imensa do universo, as considerações da metafísica acerca da eternidade, da providência, da imortalidade da alma contêm certa sublimidade e dignidade. Ao contrário, a filosofia também se desfigura, em subtilezas muito vazias, e a aparência de solidez não impede que as quatro figuras de silogismo merecessem ser referidas como deformações grotescas de escola."
 "Entre as qualidades morais só é sublime a virtude verdadeira. (...) Certo sentimentalismo, que com facilidade se junta a um sentimento de compaixão, é belo e amável, pois manifesta uma benévola participação na sorte de outros homens, à qual levam igualmente os princípios da virtude. Só que esta paixão de bem natural é, sem embargo, débil e sempre cega."  ( pp. 43-44)
A mulher é associada ao belo - basta pensar na maquilhagem, nos brincos, nos colares e pulseiras, nos cuidados do cabelo, na exuberância da roupa feminina - e o homem ao sublime - pense-se no homem de barba por fazer, desalinhado na roupa, mas com o pensamento em altos ideias abstractos.


"A mulher tem um sentimento inato mais intenso para tudo o que é belo, lindo e adornado. Já na sua infância, as meninas desfrutam ao ataviar-se e comprazem-se a embelezar-se. São muito limpas e muito sensíveis a respeito de tudo o que dá repugnancia. (...) O belo sexo tem sem dúvida tanta inteligência quanto o masculino, só que é uma inteligência bela; a nossa deve ser uma inteligência profunda, como expressão para significar o mesmo que sublime . (pp. 68-69)


The Yeatman- O dia é belo.
                                               Lola

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