Nietzsche e a lógica
Nietzsche inaugurou um tipo peculiar de crítica à lógica que foi
assimilada e reproduzida por parte dos filósofos marxistas, existencialistas e
alguns dos chamados "pós-modernos". Em "Além do Bem e do
Mal", por exemplo, Nietzsche diz que, apesar dos filósofos acreditarem que
seus pensamentos são guiados pela lógica, suas ideias na verdade respeitam
apenas "exigências fisiológicas". Outras críticas seguem na mesma
linha, contudo a filosofia nietzschiana, casada ao estilo de escrita bem próprio e característico do filósofo, não oferece uma clara
noção do que Nietzsche está criticando de fato. Percebe-se a crítica mas é
difícil identificar precisamente onde Nietzsche quer chegar, qual é o alvo.
Nietzsche sobre a lógica
Steven D. Hales
Tradução de Desidério Murcho
“Todos os filósofos são tiranizados pela lógica”.
(Humano, Demasiado Humano §6)
(Humano, Demasiado Humano §6)
As críticas
de Nietzsche à lógica ocupam um lugar muitíssimo peculiar na história da
filosofia. Nos mais de cem anos desde que ficou louco, o conhecimento da lógica
e a sensibilidade a ela tornou-se para muitos um sine qua non do
filosofar. Este facto, juntamente com o renascimento dos estudos sobre
Nietzsche, leva-nos a esperar que a bibliografia secundária contenha várias
avaliações cuidadosas das suas críticas. Contudo, entre as 1912 entradas
de Nietzsche Scholarship in English: A Bibliography 1968-1992, de
Hilliard, não há um só artigo dedicado ao tratamento da lógica por parte de
Nietzsche, e também nada se encontra entre as 4566 entradas de International
Nietzsche Bibliography (1968), de Reichert e Schlecta!1Mesmo
nos textos canónicos sobre Nietzsche há pouquíssimo no que respeita à
lógica. Nietzsche: Philosopher, Psychologist, Antichrist, de
Kaufmann, faz silêncio sobre a questão, e Nietzsche: Life as Literature,
de Nehamas, faz quase o mesmo.2 Nos livros de Clark, Danto e
Schacht há apenas umas poucas páginas que dizem respeito às preocupações de
Nietzsche.3
A pobreza da
bibliografia secundária é suficientemente estranha, mas o próprio conhecimento
de Nietzsche da lógica parece um pouco excêntrico. Como filólogo clássico,
Nietzsche estava certamente ciente da lógica aristotélica tradicional, chegando
até a lançar-se numa reductio ad absurdum contra um oponente
(BGE 15).4 E é claro que Nietzsche leu Kant e Hegel, acusando
os seus seguidores de serem “operários filosóficos” por empurrarem os dados do
passado para fórmulas lógicas rígidas (BGE 211). Contudo, Nietzsche parece
ignorar completamente as estrelas da lógica do século XIX. Por exemplo, em 1847
os pais da lógica moderna, Augustus De Morgan e George Boole, publicaram Formal
Logic e Mathematical Analysis of Logic, respectivamente.
Gottlob Frege, o inventor da lógica de predicados quantificada, publicou o seu
seminal Begriffsschrift em 1879 e Die Grunlagen der
Arithmetikem 1884. Apesar de estas obras estarem disponíveis no decurso da
sua vida produtiva, não há qualquer indício de que Nietzsche tenha lido qualquer
delas, ou sequer estivesse ciente delas. Além disso, Nietzsche não menciona em
lugar algum John Venn ou C. S. Peirce, e o seu conhecimento de John Stuart Mill
parece restringir-se ao pensamento ético. Há também algumas peripécias
curiosas: Nietzsche refere-se ao hoje esquecido Afrikan Spir — uma espécie de
fenomenalista neo-kantiano que defendia o princípio da identidade como uma
verdade sintética a priori — como um “excelente lógico” (HATH
18).5
Dado a sua
compreensão imprecisa e idiossincrática da lógica, o que está Nietzsche
exactamente a criticar quando ataca a lógica? Esta é a pergunta inicial a que
este ensaio procura responder. Nos seus textos, encontramos uma baralhada de
passagens superficialmente contraditórias e aparentes vacilações com respeito à
lógica. Como é habitual, isto exemplifica o estilo retórico favorito de
Nietzsche — uma obliteração aparente de uma posição, seguida de um recuo para a
abraçar parcialmente. Exemplos desta táctica incluem a sua denúncia da vontade
(BGE 19) e depois uma defesa da vontade de poder; a rejeição da causalidade (WP
551) e depois uma forte dependência do “poder”, uma noção aparentemente causal;
a sua malevolência perante o cristianismo, seguida de uma admissão de que Jesus
(com algumas reservas) foi um espírito livre (AC 32); e a sua declaração de que
não há quaisquer factos morais (BGE 108, TI VII 1), juntamente com fórmulas
para a grandiosidade e receitas para a virtude (EH II 10, AC 11).6 A
linguagem de Nietzsche é muitas vezes poderosa e é fácil ficarmos enleados na
primeira parte da sua táctica e perder de vista a segunda. Assim, temos de ser
cuidadosos ao considerar a sua invectiva contra a lógica.
Em HATH 11
Nietzsche declara: “A lógica [...] repousa sobre pressupostos que não
correspondem a algo de real no mundo, e.g., no pressuposto da igualdade das
coisas, a identidade da mesma coisa em diferentes pontos do tempo”. Em TI III 3
encontramos o seguinte: “[...] ciência de fórmulas, sistemas de signos: tal
como a lógica e essa lógica aplicada, a matemática. Nestas, a realidade não
aparece sequer, nem sequer como problema; tão pouco quanto a questão de que
valor poderá possivelmente ter um sistema de signos convencionais como o que
constitui a lógica”. A Vontade de Poder contém muito desta
crítica; e.g., §512: “A vontade de verdade lógica pode ser levada a cabo apenas
depois de se pressupor uma falsificação fundamental de todos
os acontecimentos [...] a lógica não emerge da vontade de
verdade”. WP 516: “A lógica (como a geometria e a matemática) aplica-se apenas
a entidades fictícias que criámos. A lógica é a tentativa de compreender o
mundo efectivo por meio de um esquema de ser postulado por nós mesmos; mais
correctamente, de o tornar formalizável e calculável para nós”. WP 521: “O
mundo parece-nos lógico porque o tornámos lógico”. Finalmente, uma nota do
início da década de 1870: “a lógica é apenas escravidão nos grilhões da
linguagem”.7
Sem dúvida
que a sua linguagem é forte, e não é surpreendente que Ofelia Schutte conclua
de passagens tais que Nietzsche via a lógica mais como uma inimiga do que como
uma amiga (p. 28), tendo considerado silenciar a lógica (p. 29), tendendo a
eliminar a necessidade da lógica (p. 31), apresentando a lógica e a vida como
adversárias (p. 36), e pretendendo que os seus ensinamentos fossem além da
lógica (p. 34).8 Nem é chocante que Michel Haar infira que
Nietzsche encoraja a descrença nas leis da lógica (p. 6), visando destruir a
lógica (pp. 6-7), repudiando os princípios lógicos (p. 34), e oferecendo uma
filosofia que foge da lógica conceptual (p. 6).9 No mesmo
campo, Alan Schrift sustenta que Nietzsche considera a lógica um aborto
intelectual do qual não podemos senão retirar conclusões ilusórias, e que a
lógica não combina com os preceitos mais básicos de Nietzsche.10 Contudo,
estes filósofos estão profundamente enganados quanto às perspectivas finais de
Nietzsche, arriscando-se muito ao ignorar variadíssimas passagens cruciais.
Apesar das
suas óbvias reservas sobre aspectos da lógica, Nietzsche está certamente ciente
também dos seus aspectos positivos. Em HATH 256 escreve: “A escola não tem
tarefa mais importante do que ensinar o pensamento rigoroso, o juízo cuidadoso,
as conclusões lógicas”; e em HATH 271: “O maior progresso realizado pelos
homens repousa em aprender a tirar conclusões correctas.” (Itálico
de Nietzsche.) TI VIII 7 faz eco disto, denegrecendo as universidades alemãs
porque “mesmo entre os próprios estudantes de filosofia, a teoria, a prática,
a vocação da lógica começa a morrer”. Em GS 191, reconhece
claramente a diferença entre bons e maus argumentos, e critica veementemente os
últimos; e em GS 348 elogia profusamente os judeus por argumentarem
logicamente, afirmando que a Europa muito lhes deve por terem promovido
“hábitos intelectuais mais limpos”. Em BGE 21 critica a ideia de causa
sui por ser uma “violentação e perversão da lógica”. Dificilmente
estas serão afirmações de alguém que se dispôs a entregar-se à destruição por
atacado da lógica. Quanto à afirmação de Schutte de que Nietzsche tencionava
estabelecer a vida e a lógica como adversárias — a unicidade fluida livre
dionisíaca em contraste com a rígida razão logocêntrica — Nietzsche afirma
muitas vezes exactamente o oposto! Por exemplo, numa nota inicial escreve que
“Ninguém pode viver no seio de tal negação da razão […] Isto
demonstra que a crença na lógica e a crença em si são necessárias para a vida”.
(“Drafts” 177). Treze anos depois estava ainda disposto a afirmar
aproximadamente o mesmo: “Sem aceitar as ficções da lógica [...] o homem não
poderia viver” (BGE 4). Compare-se a sua afirmação em WP 522 de que “O
pensamento racional é interpretar segundo um esquema que não podemos deitar
fora” (itálico de Nietzsche). Assim, não apenas a lógica não se opõe à
vida, mas de facto a lógica e o pensamento lógico são condições necessárias
para viver.
Não pretendo
sugerir que Nietzsche é inequívoco neste aspecto. Nas passagens acabadas de
citar Nietzsche afirma que a lógica e a racionalidade são necessárias para a
vida, e isto é, aparentemente, a sua posição habitual. Por vezes, em especial
no seu precoce ensaio não publicado “Sobre a Verdade e as Mentiras num Sentido
Não Moral”, enfraquece a sua afirmação de que são apenas necessárias para pensar, e
que a vida poderia ser possível sem elas (cf. TI VIII 7). Em
OTL p. 84, Nietzsche escreve que “tudo o que distingue o homem dos animais
depende da sua capacidade para volatilizar as metáforas perceptivas num
esquema, dissolvendo assim uma imagem num conceito”. Assim, os seres humanos
entregam-se a um processo que abstrai das impressões sensoriais para formar
conceitos e demarcar objectos. Na expressão feliz de Magnus, “a razão
cronofóbica ossifica o fluxo irrestrito”.11 Em última análise,
esta conceptualização dá origem ao “grande edifico dos conceitos” (OTL p. 85)
que “exala [...] lógica”. No §2 de OTL Nietzsche discute o “homem de intuição”
que estilhaça o edifício conceptual existente com novas metáforas, mitos e
arte. Apesar de o homem de intuição parecer viver ilogicamente,
pode na realidade não pensar de todo em todo. Nietzsche afirma
que quando a “teia de conceitos é rasgada pela arte” (OTL p. 89), o homem está
apenas a sonhar. Passa então a caracterizar as pessoas miticamente inspiradas,
como os antigos gregos, afirmando que vivem num sonho. Assim, o argumento de
OTL é, ao que parece, que o pensamento propriamente dito apoia-se
essencialmente na estrutura conceptual, e por isso na aceitação da lei lógica.
Mesmo que a vida seja possível sem pensamento racional ou categorias lógicas, o
pensamento não o é. Compare-se com o seu comentário em WP 522 de que “paramos
de pensar quando nos recusamos a fazê-lo sob as restrições da linguagem”. Como
se verá, Nietzsche considera a lógica nada mais do que a estrutura profunda da
linguagem. Tendo isto em vista, a restrição da linguagem não é mais do que a
restrição da sua lógica subjacente, e uma vez mais vemos que abandonar a lógica
significa parar de pensar.
É evidente
que Nietzsche faz afirmações bastante substanciais no que respeita à lógica e à
razão: hesita entre considerá-las essenciais para a própria vida ou
considerá-las apenas essenciais para o pensamento. De um modo ou do outro, está
muito longe de encorajar a destruição da lógica, ou do repúdio dos princípios
lógicos, ao contrário do que Haar afirma. Mas talvez Haar, Schutte e Schrift
possam responder como se segue. Nas passagens críticas (TI III 3, e.g.),
Nietzsche parece centrar-se na lógica como uma “ciência de fórmulas” ou
“sistema de signos”. Por outras palavras, é a lógica formal propriamente
dita que Nietzsche ataca. Nas passagens aparentemente favoráveis à lógica,
Nietzsche não está a elogiar a lógica formal, mas antes a defender a
argumentação clara, a racionalidade e o pensamento sem estar poluído pela
superstição. De modo que se separarmos a lógica enquanto ciência formal, por um
lado, e o pensamento racional, por outro, Nietzsche pode ser interpretado como
um crítico da primeira, ainda que seja respeitoso quanto à segunda. Haar et al.
têm assim razão quanto ao lado crítico de Nietzsche, ainda que sejam algo
insensíveis aos seus comentários positivos.
Apesar de
esta ser uma postura interpretativa possível, esta proposta não é, em última
análise, sustentável. Há pelo menos duas razões para isto. A primeira é que
Nietzsche não separa claramente as questões de lógica formal e do pensamento
racional. Apesar de ser verdade que por vezes Nietzsche parece ter a lógica
formal em mente (e.g. TI III 3) e noutras parece centrar-se na racionalidade
(e.g. WP 522), a maior parte do tempo as duas coisas estão fundidas. Veja-se
HATH 265 e 271, onde canta hinos à actividade de retirar conclusões lógicas. É
este processo de retirara conclusões lógicas apenas o resultado do pensamento
rigoroso e não dogmático, ou há uma conexão com a lógica enquanto ciência do
raciocínio correcto? É difícil dizer. E quanto a TI VIII 7, onde Nietzsche
lamenta o desaparecimento da lógica como vocação nas universidades alemãs?
Talvez aqui a queixa de Nietzsche seja apenas que os estudantes universitários
são mentalmente moles e pouco dados ao pensamento. Contudo, é difícil sustentar
esta interpretação, dado que na mesma passagem Nietzsche refere-se
especificamente à teoria da lógica como uma das coisas que
receia estar a desaparecer. Além disso, Nietzsche meter a razão e a lógica no
mesmo saco, dedicando um capítulo inteiro em TI — ““Razão” na Filosofia” — a
essa crítica. É claro que a própria falta de clareza de Nietzsche não é em si
suficiente para impedir que um comentador imponha um esquema interpretativo que
desambigúe os textos. A segunda razão contra a dicotomia entre o pensamento
racional e a lógica formal é mais fundamental. Vimos que Nietzsche considera
que a restrição da linguagem é essencial para pensar e portanto para o
pensamento racional. Argumentarei depois que Nietzsche encara também a lógica como
a infra-estrutura da linguagem. Assim, a lógica, enquanto semântica formal da
linguagem natural, e o pensamento estão inextrincavelmente ligados para
Nietzsche. Sejam quais forem as suas perspectivas finais quanto à lógica formal
e quanto ao pensamento racional, estão no mesmo barco.
Qual é
exactamente, afinal, a sua queixa contra a lógica? Precisamos de examinar as
suas afirmações de modo mais preciso para determinar precisamente quais são as
características da lógica que Nietzsche promove, e quais são as que considera
problemáticas. Duas características fulcrais da lógica que Nietzsche põe em
causa são uma suposta dependência da identidade, e um postular ilusório de
objectos. No citado HATH 11, Nietzsche afirma que a lógica pressupõe a
identidade persistente das coisas ao longo do tempo, e em BGE 4 afirma que o
auto-idêntico é parte de um “mundo totalmente inventado”. Em GS 111 e WP 510
sugere que a origem da própria lógica se enraíza num desejo de postular coisas
diferentes como idênticas. Além disso, declara que todos os conceitos (OTL p.
83), incluindo o de substância (GS 111), emergem da igualização de coisas
desiguais. Isto considera Nietzsche um “artigo de fé” erróneo (GS 110).
Considere-se também o seu ataque à coisidade — “a nossa crença em coisas é a
condição prévia da nossa crença na lógica” (WP 516). WP 558 faz eco disto ao
afirmar que “a coisidade só foi inventada por nós devido às exigências da
lógica”. Contudo, não há coisas, pelo menos realmente, e portanto a lógica só
se aplica a “entidades fictícias” (WP 516).
Está muita
coisa em causa nestas passagens, o que obriga a considerá-las cuidadosamente.
Eis algumas das afirmações que Nietzsche parece estar a fazer:
- A lógica pressupõe a existência de coisas;
- as coisas são apenas ficções inventadas pelos
seres humanos;
- a lógica pressupõe a identidade persistente das
coisas ao longo do tempo;
- a lógica pressupõe a identidade das coisas num
instante;
- não há identidade ao longo do tempo; e
- nada é auto-idêntico, ou só as “ficções” o são.
Examinemos a
primeira afirmação. É verdade que a lógica pressupõe a existência de coisas?
Uma resposta adequada a esta pergunta exige a introdução de alguns dos
instrumentos adquiridos no último século de desenvolvimento lógico. Dada a
compreensão imprecisa e rudimentar que Nietzsche tinha da lógica, poder-se-á
considerar que esta é uma metodologia inapropriada. Há duas boas razões para
não o pensar. Primeiro, estamos interessados em saber se as posições em que
Nietzsche aposta são verdadeiras ou, se o não forem, se pelo menos fazem
sentido e são consistentes. Ignorar o que se aprendeu sobre a lógica desde o
tempo de Nietzsche é simplesmente uma abordagem retrógrada a uma questão
técnica. Segundo, os conceitos e a clareza do vocabulário moderno podem
iluminar problemas a que Nietzsche só confusamente podia aludir.
A
interpretação de Nietzsche proposta por Clark, por exemplo, padece de não
subscrever completamente esta metodologia. Clark argumenta que nas suas obras
iniciais Nietzsche sustenta que a lógica falsifica a realidade (a lógica
pressupõe que há coisas reais “lá fora” quando só há ficções, que há coisas
idênticas, etc.), ao passo que na sua obra tardia Nietzsche aborda a lógica
como uma ciência formal que nada diz sobre a realidade.12 Em
defesa desta última afirmação, Clark refere a citada passagem TI III 3, na qual
Nietzsche afirma que nos sistemas de signos como a lógica a realidade não surge
sequer como um problema. Assim, Clark atribui a Nietzsche uma mudança no seu
pensamento sobre a lógica. Contudo, há uma explicação alternativa dos dados. A
lógica moderna divide-se em sintaxe e semântica, e quando se insere as
afirmações de Nietzsche neste quadro de referência, a explicação de Clark é
desnecessária. É o aspecto sintáctico da lógica que se mantém à distância do
mundo; fornece regras para a manipulação de operadores, conectivas,
quantificadores, letras predicativas, variáveis e constantes do sistema formal,
para mudar símbolos de lugar e para demonstrar teoremas a partir de axiomas. A
sintaxe e a teoria da demonstração nada dizem sobre o mundo e nada pressupõem
quanto à aplicabilidade dos símbolos da nossa linguagem formal a seja o que
for. Com respeito à sintaxe, TI III 3 está perfeitamente correcta — a realidade
não surge sequer como problema. Contudo, dado que não compete à sintaxe
preocupar-se com a realidade, ou saber se a lógica e a matemática podem
aplicar-se a algo, isto não deveria ser surpreendente.
A
interpretação das fórmulas da lógica compete à semântica. A semântica
especifica domínios não vazios de entidades, ou universos de discurso,
juntamente com uma função de interpretação que nos leva dos símbolos fornecidos
pela sintaxe para as entidades no domínio. Ou seja, a semântica ocupa-se do
significado dos nossos símbolos lógicos. A função de interpretação atribui um
só objecto no domínio a cada constante, diz-nos a que coisas as variáveis se
aplicam, e fornece uma extensão no domínio para cada letra predicativa. Com
respeito à semântica, WP 516 e 558 estão correctas — a coisidade é uma
exigência da lógica. Isto é, para que os símbolos e fórmulas da lógica tenham
significado ou para que tenham aplicabilidade, precisamos de conjuntos de
coisas que os símbolos e fórmulas possam referir. A natureza destas coisas é
uma questão complementar que, estritamente falando, está para lá do alcance da
lógica, sendo mais apropriadamente objecto da metafísica ou da ontologia. Em
qualquer caso, é perfeitamente consistente que Nietzsche sustente
simultaneamente que a lógica pressupõe a existência de coisas, e que a lógica
nada diz sobre a realidade. A primeira é verdadeira se for interpretada como
uma afirmação sobre a semântica, e a segunda se for interpretada como uma
afirmação sobre a sintaxe. Assim, não estamos obrigados a concluir, como Clark,
que ao longo do tempo Nietzsche mudou de ideias quanto à lógica. Nem temos
sequer de concluir que Nietzsche compreendia bem a distinção aqui traçada entre
sintaxe e semântica. Sugiro apenas que é plausível que no seu pensamento sobre
sistemas de símbolos, Nietzsche se sentia atraído igualmente pelas duas ideias
superficialmente conflituantes de que a lógica tem e não tem pressupostos sobre
a realidade. Ao aplicar a distinção entre sintaxe e semântica da lógica moderna
podemos explicar de maneira consistente estes dois impulsos, de um modo que
ambos se revelam verdadeiros.
Assim, a
primeira afirmação de Nietzsche sobre a lógica, de que pressupõe a existência
de coisas, é verdadeira com algumas reservas. A reserva principal é que só as
fórmulas lógicas interpretadas pressupõem a existência de coisas. As fórmulas
não interpretadas nada pressupõem sobre as coisas e são, na expressão de
Nietzsche em OTL p. 81, “cascas ocas” que nada dizem sobre a realidade. Até
aqui, Nietzsche ainda não fez grandes críticas à lógica, e a sua primeira
afirmação é facilmente integrável na teoria lógica moderna. Que dizer, contudo,
da segunda afirmação, segundo a qual as coisas são apenas ficções intentadas
pelos seres humanos? Neste caso, trata-se de um exemplo do seu anti-realismo
consumado. O realismo e o anti-realismo estão no centro de uma parte importante
do debate actual, e são termos notavelmente escorregadios.13 Putnam
caracteriza bem o género de realismo a que Nietzsche se opõe:
Nesta
perspectiva, o mundo consiste numa totalidade fixa de objectos independentes da
mente. Há exactamente uma descrição verdadeira e completa “do modo como o mundo
é” [...] Chamarei externista a esta perspectiva, pois o seu
ponto de vista favorito é um ponto de vista de Deus.14
Que Nietzsche
rejeita um ponto de vista de Deus dificilmente é novidade. Na verdade,
Nietzsche considera a ideia de tal perspectiva uma das “sombras de Deus” que
ainda precisam de ser conquistadas e que subsistem depois da morte de Deus (GS
108).15 Este facto serve para explicar o seu comentário em TI
III 5: ““Razão” na linguagem: oh, que velha enganadora! Receio que não
estejamos a livrar-nos de Deus porque ainda acreditamos na gramática..”. Um dos
legados da deificação da natureza é a ideia de que há objectos reais, bem
individuados, e verdades no mundo que podem ser conhecidas por Deus. Mesmo
depois da morte de Deus permanecemos com esta ontologia realista e com o ponto
de vista de Deus que inventámos para se adequar à nossa religião. A afirmação
de Nietzsche acima (e compare-se os seus comentários em BGE 34) é que a lógica
inscrita na nossa linguagem tem os mesmos tipos de compromissos ontológicos que
tinha a nossa religião. A nossa fé na gramática origina uma fé na lógica, que
não é muito melhor do que a fé no velho Deus — ambos nos conduzem aos mesmos
erros metafísicos. Assim, não nos livrámos de Deus, ou, mais precisamente, da
sua sombra, ao persistir na nossa fé na gramática.16
O que
Nietzsche defende é então que a estrutura da nossa linguagem codifica uma
metafísica errada. Logo, não é de esperar que a metodologia da análise
linguística nos forneça uma interpretação aceitável do mundo. Dado que
Nietzsche encara a lógica como a estrutura profunda da linguagem, e como já
vimos que a lógica realmente se compromete com entidades, segue-se que temos
razões para suspeitar dessas entidades. O que urge fazer é investigar a
semântica da linguagem natural e o género de entidades que esta requer, e
portanto, inicialmente, uma investigação da própria linguagem. Há uma
intersecção interessante entre a posição de Nietzsche sobre a linguagem e a
semiótica de Rudolf Carnap. Um breve olhar sobre a posição de Carnap permitirá
tornar mais nítida a crítica de Nietzsche da semântica e mostrar como Carnap
peca em não atender às preocupações de Nietzsche.17
Carnap
oferece os seguintes exemplos de frases destituídas de significado (cf. pp.
67-68):
- César é e.
- César é um número primo.
É fácil ver o
que há de errado na primeira frase; viola as regras da sintaxe. Mas a segunda é
diferente: parece apenas falsa, dado não se dar o caso de César ser um número
primo. Por que é destituída de significado e não falsa? A resposta de Carnap
apoia-se numa distinção entre a sintaxe gramatical e a sintaxe lógica. As
regras sintácticas efectivas da linguagem natural incluem a sintaxe gramatical.
Carnap pensa que a sintaxe gramatical é inadequada e enganadora porque não
distingue tipos de palavras de um modo suficientemente subtil. Permite assim a
construção gramaticalmente correcta de frases que na realidade são destituídas
de sentido, como 2. A sintaxe gramatical distingue entre substantivos,
adjectivos, verbos, etc., mas não distingue (o que Carnap pensa que deveria
fazer) entre substantivos que denotam propriedades físicas e os que denotam
números. Se a sintaxe comum fizesse tal distinção, então 2 seria tão
agramatical quanto 1. É esta imprecisão da sintaxe gramatical que permite o que
Carnap considera a quintessência da verborreia destituída de significado (pp.
69-71): a passagem de Heidegger “E quanto a este Nada? — O Nada em si
nadifica”.
Assim, a
sintaxe gramatical comum é logicamente deficiente e a cura apropriada é uma
sintaxe melhorada que faça todas as distinções subtis entre “categorias
sintácticas” que Carnap exige. A isto chama Carnap “sintaxe lógica”. Uma
linguagem perfeita para Carnap seria uma linguagem com uma sintaxe lógica, na
qual a metafísica não pudesse sequer ser expressa. Carnap chama à construção
desta linguagem a grande tarefa filosófica que os lógicos enfrentam.
Há muita concordância
entre Carnap e Nietzsche. Ambos estão interessados em corroer a metafísica,
ambos pensam que há algo de errado na linguagem comum que nos engana, ambos
consideram que a metafísica é uma “ainda não ciência” (TI III 3), e ambos
preferem análises históricas e empíricas à especulação metafísica. O comentário
de Carnap de que os “metafísicos são músicos sem capacidade musical” (p. 80)
quase soa a aforismo nietzschiano. Na verdade, Carnap leu Nietzsche e elogia-o
(p. 80). Contudo, Carnap parece não estar ciente das críticas de Nietzsche à
linguagem, ou de como estas se poderiam aplicar ao seu próprio programa.
Nietzsche dificilmente pensaria que o advento da sintaxe lógica constituiria
uma melhoria relativamente à sintaxe gramatical, e consideraria sem dúvida que
nada mais seria do que a substituição de um conjunto de erros por outro. O modo
como a linguagem é agora pode conduzir-nos à verborreia heideggeriana, mas a
almejada sintaxe lógica de Carnap integraria na própria estrutura da linguagem
vários pressupostos sobre o mundo e sobre a efectiva natureza das coisas. As
categorias sintácticas subtis que distinguiriam entre palavras para coisas,
para propriedades e para números são na realidade apenas categorias ontológicas
com uma coloração linguística. Claro que Carnap tem razão ao pensar que a
metafísica não se poderia exprimir numa linguagem com uma sintaxe lógica, mas
isso seria apenas porque os pressupostos e divisões metafísicos estariam
previamente integrados na linguagem. As perguntas metafísicas “Há diferença
entre coisas e propriedades?” ou “São os números redutíveis a propriedades?”
tornar-se-iam incompreensíveis uma vez solidificadas e canonizadas na sintaxe
as divisões entre coisas, números e propriedades.
Nietzsche
considera que a linguagem natural é defeituosa, em grande parte tal como a
linguagem “logicamente perfeita” de Carnap. É fácil ver como os compromissos
ontológicos fazem parte da sintaxe lógica de Carnap. Menos evidente, mas ainda
presente segundo Nietzsche, são os compromissos ontológicos das nossas
linguagens naturais. “São os números redutíveis a propriedades?” é um pergunta
destituída de significado para a linguagem logicamente perfeita de Carnap. De
modo semelhante, a pergunta “Existem coisas?” é uma pergunta destituída de
significado na linguagem natural comum. Para ver porquê considere-se uma
resposta negativa — não, as coisas não existem, ou pelo menos algumas coisas
não existem. Isto é, há (existe) um x tal que x não existe! Um corolário disto
é que tudo existe (dado que não se dar o caso de haver um x tal que x não
existe, segue-se que para todo o x, x existe). Como perspicácia filosófica,
isto é evidentemente tolo. A posição de Nietzsche é que tal tolice nada é senão
o resultado de certos pressupostos existenciais codificados na nossa linguagem.
Claro que isto não é, por si, uma crítica. Precisamos de razão para pensar que
estes pressupostos existenciais são maus. É aqui que entra o anti-realismo de
Nietzsche quanto a objectos.
O que
Nietzsche defende é que não há uma descrição única e privilegiada do mundo, e
não há objectos já feitos nos quais possamos tropeçar. Isto não significa que
nada exista, ou que fiquemos reduzidos ao idealismo; ao invés, categorizamos os
nossos fenómenos sensoriais de um modo que se adequa aos nossos fins e
propósitos. Por exemplo, Roderick Chisholm refere-se ao “han”, um termo
introduzido pelo exército britânico na primeira guerra mundial.18Um
han é o objecto que consiste num cavaleiro e o seu cavalo, e os hans eram
contabilizados juntamente com armas, mantimentos e outros aprestos de guerra.
Um han é um género estranho de objecto, contudo. Não parece correcto dizer que
um dia o exército britânico descobriu a existência de hans, tendo prontamente
notificado a Fleet Street. Numa certa medida, um han é um objecto inteiramente
inventado, uma fabricação, uma ficção.19Compare-se com os
comentários semelhantes de Nietzsche em OTL (p. 85):
Se eu
inventar a definição de um mamífero, e depois, após inspeccionar um camelo,
declaro “Olha, um mamífero”, trouxe realmente à luz uma verdade, mas é uma
verdade de limitado valor. O que é dizer que é uma verdade completamente
antropomórfica que não contém um só ponto que seria “verdadeira em si” e
universalmente válida separadamente do homem.
Nietzsche não
distingue entre objectos que existem realmente por si, e os que inventamos,
como os hans. Para ele, tudo é uma invenção ou ficção, e tudo é o resultado do
modo como impomos categorias e formamos conceitos a partir do caos sensorial.
Assim, “o mundo “aparente” é o único: o mundo “real” não foi senão mentirosamente
acrescentado” (TI III 2). Há um número infinito de maneiras de o caos cru
da experiência poder ser talhado em objectos; os seres humanos têm simplesmente
de escolher aquelas interpretações que lhes permitem viver e promover os seus
interesses. Foi assim que tornámos o mundo lógico (WP 521), formalizável e
calculável para nós (WP 516).20
Suponha-se
que concedíamos o anti-realismo esboçado em traços largos de Nietzsche. Em que
medida afecta isto a lógica? Já estabelecemos que a lógica pressupõe de facto a
existência de coisas, dado a semântica exigir domínios não vazios de entidades.
Exige a semântica entidades realistas, ou poderia safar-se
tranquilamente com entidades “fictícias” inventadas pelos seres humanos? Não
parece haver razão para a lógica exigir uma ontologia realista. As variáveis
abrangem com igual facilidade objectos construídos ou “reais”; pares de cavalos
e cavaleiros pode estar na extensão de “han” sem qualquer dificuldade, e os
camelos podem estar na extensão de “mamífero”. A semântica exige domínios, mas
os domínios podem ser igualmente populados com coisas realistas ou
anti-realistas; a lógica pode ser aplicada seja qual for a metafísica das
coisas que se adopte. Dificilmente podemos imaginar um anti-realista
contemporâneo como Goodman a aconselhar o abandono da lógica. Assim, parece que
mesmo que aceitemos as afirmações de Nietzsche de que a lógica pressupõe
coisas, e que as coisas não passam de ficções, isto não põe a lógica
minimamente em causa.
Talvez
Nietzsche tenha pensado que não tenha sido apenas uma questão contingente,
histórica o facto de a lógica ter pressuposto o realismo metafísico. Talvez
tenha acreditado que seja necessário que a lógica tenha uma semântica realista.21 Tal
postura conduziria certamente a uma reductio directa da
lógica, se o anti-realismo de Nietzsche estiver correcto. Se a sua perspectiva
era que há uma conexão necessária, então estava enganado, como argumentei no
parágrafo anterior. É claro que é completamente consistente da sua parte estar
enganado quanto à relação entre a lógica e o realismo e ter razão nas suas
críticas de outros aspectos da lógica ou da metafísica realista.
Talvez a
verdadeira queixa de Nietzsche seja que a lógica é enganadora, isto
é, ainda que a lógica não insista formalmente no realismo, ao apoiarmo-nos na
lógica subjacente à nossa gramática conduz as pessoas à aceitação do realismo.
Talvez seja isto que Nietzsche tem em mente em TI III 5: “damos connosco no
seio de um fetichismo grosseiro quando invocamos os pressupostos básicos da
metafísica da linguagem — o que é dizer, da razão”; e em WP 516,
onde escreve: “[se] fizermos da lógica um critério do verdadeiro ser, estamos
prestes a postular como realidades todas essas hipóteses: substância, atributo,
objecto, acção, etc.; isto é, estamos a um passo da concepção de um mundo
metafísico [...] um “mundo real””. Contudo, o suposto facto no qual os lógicos
se apoiam por fé (GS 110), ou em relação ao qual são “supersticiosos” (BGE 17),
é um facto sobre lógicos, e não sobre a lógica em si.
Claro que
isto não impede uma combinação de ambos. Um exemplo vívido é BGE 34, onde
Nietzsche declara que “que a verdade é mais do que mera aparência não passa de
um preconceito moral”, passando de seguida a pôr em causa vários elementos
desta fé até agora inquestionada, incluindo a fé na gramática, discutida acima.
Um objecto do seu escrutínio é a bivalência, a tese de que toda a proposição
tem um valor de verdade, e que este valor de verdade é o verdadeiro ou o falso.
Nietzsche examina isto perguntando: “Efectivamente, o que nos força a supor que
há uma oposição essencial entre “verdadeiro” e “falso”? Não será suficiente
admitir graus de aparência e, digamos, sombras mais ou menos escuras e matizes de
aparência — diferentes “valores”, para usar a linguagem dos pintores?”
Nietzsche sustenta que a bivalência é um pressuposto não demonstrado dos
lógicos, e especula sobre os vários matizes de valores como uma alternativa,
para mostrar como a bivalência não é a única opção concebível. É um pequeno
passo, ainda que precipitado, passar desta crítica da fé dos lógicos para uma
rejeição genuína da própria bivalência, e daí é apenas um salto (ainda que
errado) para a rejeição da própria lógica. Clark, por exemplo, parece pensar
que a rejeição da bivalência implica a rejeição de toda a lógica, assim como
Derrida.22 Isto está completamente errado, contudo. A rejeição
da bivalência não significa uma rejeição da lógica — sobram ainda várias
lógicas completamente multivalentes.
Nada disto é
dizer que a psicologia dos lógicos é desinteressante ou sem importância, mas é
puramente ad hominem inferir que a lógica é defeituosa ou tem
problemas partindo da observação de que os lógicos são supersticiosos e têm
preconceitos (é como desconsiderar a obra tardia de Nietzsche em virtude da sua
loucura). Se os lógicos tendem a comprometer-se com uma metafísica realista
isso não é culpa da lógica, que é neutra na matéria. Se os lógicos pressupõem a
bivalência sem defesa, isto não é devido a uma qualquer característica
essencial da lógica, pois esta pode ser modificada para acomodar a
multivalência, mas antes porque eles pressupõem a bivalência por outras razões.
Estas razões considerava Nietzsche que eram psicológicas, e constituem certamente
um tópico que lhe interessava, como parte integrante do seu projecto geral de
pôr a nu a genealogia das ideias. Assim, podemos conceder a Nietzsche as suas
duas afirmações (que a lógica pressupõe a existência de coisas e que as coisas
são meras ficções inventadas pelos seres humanos) sem com isso termos de
abjurar ou modificar qualquer parte da lógica contemporânea.
Consideremos
então a terceira afirmação de Nietzsche: que a lógica pressupõe a identidade
persistente das coisas ao longo do tempo. À primeira vista, isto parece
claramente falso, dado que as fórmulas lógicas não se comprometem com o tempo
nem com a flexão temporal. Talvez a lógica temporal insista na mesma coisa em
diferentes momentos do tempo, mas é muitíssimo improvável que Nietzsche tivesse
este esotérico ramo da lógica em mente (que no seu tempo nem sequer existia), e
os géneros comuns de lógica — e.g., lógica aristotélica, proposicional e de
predicados — nada dizem sobre a identidade ao longo do tempo. É mais provável
que o verdadeiro interesse de Nietzsche seja o raciocínio prudencial, que
depende efectivamente da persistência ao longo do tempo. A sua discussão da
dicotomia entre o devedor e o credor no ensaio II da Genealogia é
um dos exemplos. É esta relação que Nietzsche pensa ser responsável por
instilar memória na humanidade. O devedor tem de se lembrar que deve ao credor,
e este tem de se lembrar que o outro lhe deve. Não só o devedor tem de se
recordar que deve algo a alguém, como tem de acreditar que ele mesmo é uma
coisa que persiste ao longo do tempo. O devedor tem de acordar amanhã dando-se
conta de que é a mesma pessoa do que a que contraiu a dívida, não nasce de novo
todos os dias, sendo assim um objecto que persiste ao longo do tempo. Uma das
funções do castigo é encorajar esta crença na identidade diacrónica. O medo do
castigo conduz depois ao raciocínio prudencial da parte do devedor — se eu
pagar a dívida (no futuro, e eu existirei nesse futuro) segundo os termos do
empréstimo, então evitarei o castigo; logo, pagarei. Assim, este tipo de
raciocínio conduz a uma crença num ego ou eu contínuo, uma crença (afirma
Nietzsche em TI III 5) que é deslocada para outros objectos, criando assim o
conceito de “coisa”.
Suponha-se
que a análise de Nietzsche está correcta quanto a isto, e que o raciocínio
prudencial depende realmente de um compromisso com a identidade diacrónica; em
que medida exactamente é isto um erro? Nietzsche não está interessado em pôr em
causa o raciocínio lógico dado que, como vimos, considera-o pelo menos necessário
para o pensamento, e muito provavelmente também para a própria vida. Além
disso, sem um tipo qualquer de raciocínio meios-fins, é extremamente difícil
ver como se poderia desenvolver intencionalmente a nossa vontade de poder, ou
entregarmo-nos à superação de nós, ou a qualquer outra das coisas que Nietzsche
elogia. É mais provável que Nietzsche não queira ver-se livre do conceito de
identidade ao longo do tempo, nem queira fazer as pessoas parar de acreditar em
seres persistentes, mas antes que esteja a lembrar que, como os objectos, a
identidade diacrónica é uma ficção. A crítica da identidade é outra
manifestação do seu anti-realismo quanto às coisas.
Além disso,
este aspecto do seu anti-realismo é curiosamente implicado pela teoria dos
feixes que apresenta em A Vontade de Poder.23 Em WP
557 escreve: “As propriedades de uma coisa são efeitos de outras “coisas”: se
removermos as outras “coisas”, então uma coisa não tem propriedades, i.e., não
há uma coisa sem outras coisas, i.e., não há a “coisa em si””. Aqui, Nietzsche
está a fornecer uma definição de “propriedade”; uma propriedade é um certo
género de relação, talvez causal, entre “coisas”. Note-se, é claro, o seu uso
das aspas: Nietzsche tem o cuidado de evitar comprometer-se com qualquer
posição normal quanto às coisas enquanto substâncias imutáveis, coisas em si,
etc. Contudo, do modo como interpretamos realmente o mundo, este tem mesas e
cães e árvores. O que são estes objectos? Nietzsche deve-nos uma explicação
destas “coisas”; usar apenas aspas não lhe permite escarpar-se. Nietzsche
afirma depois: “Se removermos todas as relações, todas as “propriedades”, todas
as “actividades” de uma coisa, a coisa não permanece” (WP 558). E em WP 551:
“Uma “coisa” é a soma dos seus efeitos”. Ou seja, as coisas quotidianas comuns
são feixes de propriedades, aglutinadas por nós para satisfazer os requisitos
da lógica e para facilitar a comunicação (WP 558). O que não reconhecemos,
afirma Nietzsche, é que “a “coisa” em que acreditamos só foi inventada como
fundamento dos vários atributos” (WP 561). É devido a este erro que acabamos
por aceitar o realismo da substância e acreditamos que há um pequeno âmago
inflexível sob todas as propriedades, uma coisa em si ou particular nu ou algo.
Nietzsche é
membro de uma esplêndida tradição filosófica no que respeita a esta teoria dos
feixes, prefigurada em Berkeley e Hume, e pósfigurada em Russell. Recorde-se
esta famosa passagem do Tratado de Hume:
Pela minha
parte, quando entro do modo mais íntimo no que chamo eu, tropeço
sempre numa ou noutra percepção particular, de calor ou frio, de luz ou sombra,
de amor ou ódio, dor ou prazer. Nunca consigo apanhar-me, a qualquer
momento que seja, sem uma percepção, e nunca consigo observar seja o que for a
não ser a percepção. Quando as minhas percepções são removidas por qualquer
período de tempo, como quando durmo profundamente, desde que não tenha qualquer
sensibilidade de mim, pode-se verdadeiramente dizer que não existo. E fossem
todas as minhas percepções removidas com a minha morte, não pudesse eu pensar,
sentir ou ver, nem amar ou odiar, depois da dissolução do meu corpo, eu seria
totalmente aniquilado, nem concebo que outro requisito mais seja necessário
para me fazer uma perfeita não entidade.24
Compare-se
com Berkeley: “Tendo-se observado que uma certa cor, gosto, cheiro,
configuração e consistência andam juntas, sendo consideradas uma coisa
distinta, sendo o significado do substantivo maçã; outras colecções
de ideias constituem uma pedra, uma árvore, um livro e coisas sensíveis semelhantes”.25 Considere-se
também os comentários de Russell: “O nosso propósito é, se possível, construir
a partir das qualidades feixes tendo as propriedades espácio-temporais que a
física exige das “coisas””.26 E também “Quero sugerir que “isto
é vermelho” não é uma proposição sujeito-predicado, sendo antes da forma “o
vermelho está aqui”; que “vermelho” é um substantivo, e não um predicado; e que
o que comummente se chamaria “coisa” nada é senão um feixe de qualidades
coexistentes, como a vermelhidão, rigidez, etc”.27 Como estas
afirmações soam a Nietzsche!
Se a posição
de Nietzsche é que uma “coisa” é um feixe de propriedades num instante, então
segue-se aproximadamente que a mudança é coisa que não existe. Ou seja, dadas
as perspectivas normais de que os conjuntos têm os seus membros essencialmente
e que as somas mereológicas têm as suas partes essencialmente, se uma coisa é
identificada como um conjunto de propriedades ou uma soma mereológica de
propriedades, então não poderia mudar uma só dessas propriedades sem cessar de
existir. Dado que as coisas mudam efectivamente, isto é uma objecção recorrente
às teorias dos feixes.28 Contudo, Nietzsche enfrenta sem
vacilar este resultado. Não tem problemas em aceitar que as coisas não mudam
ou, visto de outro modo, que só há mudança, não havendo coisas persistentes sob
a mudança. Razão: os feixes são formados e individuados originalmente por meio
de perspectivas sobre percepções. À medida que estas perspectivas revêm os feixes,
dissolvendo basicamente os feixes antigos e juntando novos grupos de
propriedades, as coisas estão constantemente a deixar de existir e a passar a
existir. De modo que à medida que as interpretações mudam, mudam os feixes.
Assim, não há identidade diacrónica genuína; a duração do feixe (i.e., uma
coisa) é efémera. A identidade ao longo do tempo é uma história conveniente
para contar sobre feixes sucessores, mas não há verdadeira persistência.
O que dizer
então destes feixes sucessores, ou feixes que persistem o tempo? Por que não
poderia uma perspectiva agrupar feixes em diferentes instantes, juntando-os num
feixe transtemporal? Tal feixe transtemporal teria direito a reivindicar
constituir uma coisa que persiste ao longo do tempo. Sim, diz Nietzsche, tal
feixe seria, para todos os efeitos e propósitos, uma coisa com identidade
diacrónica. O que há a notar é que um feixe transtemporal não é
fundamentalmente diferente de um feixe num dado instante. Tal como um feixe num
instante é apenas um molho de propriedades agrupadas entre si para promover os
interesses de uma perspectiva, não tendo qualquer natureza intrínseca em si,
nenhum pequeno cerne rígido subjacente, nenhuma ecceidade emergente, o mesmo
acontece com os feixes transtemporais. Juntamos de facto feixes transtemporais
para satisfazer os nossos interesses (e baseamo-nos neles no nosso raciocínio
prudencial), mas trata-se de ficções convenientes, exactamente como os feixes
num instante são ficções. As “coisas” são ficcionais em todas as dimensões.
Há uma
história semelhante para contar quanto à crítica final de Nietzsche da lógica,
a ideia de que não há coisas auto-idênticas, ou não há identidade sincrónica.
Em si, uma passagem como WP 516 é difícil de engolir, se é que não é
completamente burlesca:
Supondo que
não há qualquer “A” auto-idêntico, ao contrário do que se pressupõe em toda a
proposição da lógica (e da matemática), e o “A” fosse já mera aparência, então
a lógica teria um mundo meramente aparente como sua condição [...] o “A” da
lógica é, como o átomo, a reconstrução da coisa.
O que poderia
ser mais louco do que a rejeição de que A = A? Contudo, quando uma afirmação
deste tipo é reinserida no contexto do anti-realismo de Nietzsche sobre as
coisas, começa a fazer sentido. Uma vez mais, a crítica de Nietzsche tem menos
a ver com o conceito de identidade sincrónica do que com uma crítica da ideia
de que há coisas reais que possam ser auto-idênticas. Se não há coisas
genuínas, então não há coisas que sejam auto-idênticas. Os objectos ficcionais,
agrupados em feixes por via das perspectivas adoptadas quanto às propriedades,
podem ser auto-idênticos, mas tal identidade é por isso perspectívica. O
argumento de Nietzsche é que não há qualquer identidade an sich, tal
como não há coisas em si. Uma vez mais vemos que a crítica de Nietzsche é de
facto sobre a aplicabilidade da lógica e sobre o realismo dos objectos, e não
sobre a lógica em si.
Em que
ficamos então? A crítica de Nietzsche da lógica é fundamentalmente sobre a
semântica, e centra-se na sua equação da semântica existente com uma semântica
realista. Argumenta contra a metafísica realista com a sua afirmação de que os
objectos são ficções convenientes, construídos a partir de propriedades
agrupados em feixes que satisfazem os interesses de uma dada perspectiva. Os
objectos são deste modo perspectívicos, tal como afirma que a verdade é
perspectívica. Nietzsche afirma ainda que a lógica é a estrutura escondida da
linguagem, e tal como a lógica pode ser enganadora devido à semântica realista,
sustenta também que a linguagem engana as pessoas, fazendo-as aceitar o
realismo dos objectos. Vimos que a lógica pode acomodar todas estas queixas.
Uma semântica realista não é a única possível, e os universos de discursos
tanto podem ser preenchidos com ficções nietzschianas como com coisas em si. A
crítica de Nietzsche da lógica visa libertar a razão dos grilhões
königsbergianos. A acusação de que a lógica ou a linguagem são enganadoras é em
última análise uma crítica dos que se deixam enganar desse modo, não sendo uma
objecção que destrua a lógica como ciência do pensamento ou como representação
formal da linguagem natural. Assim, as questões aparentemente sobre a lógica
tornam-se questões sobre as origens dos nossos conceitos metafísicos, um tema
muitíssimo apropriado à abordagem genealógica de Nietzsche. As preocupações
fundamentais de Nietzsche são afinal de contas a metafísica e a fé dos lógicos,
alvos legítimos que lhe permitem sustentar de modo consistente o papel crucial
de preservação do pensamento e da vida que estabelece para a lógica e a
racionalidade.29
Steven D. Hales
Retirado de Philosophy and Phenomenological Research, Vol.
LVI, N.º 4, Dezembro 1996, pp. 819-835.
Notas
- Nietzsche Scholarship in English: A Bibliography 1968-1992 (with
supplement), org. B. Bryan Hilliard (Urbana, Illinois: North American Nietzsche
Society, ed. rev. 1993); International Nietzsche
Bibliography, org. Herbert W. Reichert e Karl Schlecta (Chapel
Hill: University of North Carolina, ed. rev. 1968).
- Walter Kaufmann, Nietzsche: Philosopher, Psychologist,
Antichrist (Princeton: Princeton University Press, 4.ª ed. 1974);
Alexander Nehamas, Nietzsche: Life as Literature (Cambridge:
Harvard University Press, 1985).
- Maudemarie Clark, Nietzsche on Truth and Philosophy (Cambridge:
Cambridge University Press, 1990); Arthur C. Danto, Nietzsche as
Philosopher (Nova Iorque: Columbia University Press, 1965);
Richard Schacht, Nietzsche (Londres: Routledge and Kegan
Paul, 1983).
- Abreviaturas dos textos de Nietzsche:
HATH — Human, All Too Human, ed. e trad. Marion Faber e Stephen Lehmann (Lincoln: University of Nebrasca Press, 1984; edição original: 1878).
OTL — “On Truth and Lies in a Nomoral Sense” in Philosophy and Truth: Selections From Nietzsche's Notebooks of the Early 1870's, ed. e trad. Daniel Breazeale (Londres: Humanities Press International, 1979).
GS — The Gay Science, ed. e trad. Walter Kaufmann (Nova Iorque: Vintage Books, 1974; edição original: 1882).
BGE — Beyond Good and Evil, ed. e trad. Walter Kaufmann (Nova Iorque: Vintage Books, 1966; edição original: 1886).
GM — On the Genealogy of Morals, ed. e trad. Walter Kaufmann (Nova Iorque: Vintage Books, 1967; edição original: 1887).
AC — The Antichrist, ed. e trad. R. J. Hollingdale (Nova Iorque: Viking Penguin, 1968; edição original: 1895).
TI — The Twilight of the Idols, ed. e trad. R. J. Hollingdale (Nova Iorque: Viking Penguin, 1968; edição original: 1889).
EH — Ecce Homo, ed. e trad. Walter Kaufmann (Nova Iorque: Vintage Books, 1967; edição original: 1908).
WP — The Will to Power, ed. e trad. Walter Kaufmann e R. J. Hollingdale (Nova Iorque: Vintage Books, 1968). - O artigo de Mary-Barbara Zeldin's, “Afrikan Alexandrovich Spir”,
in The Encyclopedia of Philosophy, dir. P. Edwards (Nova Iorque: Macmillan, 1967) vol. 7,
p. 554, é útil.
- Para mais informação sobre a sua teoria moral
positiva veja-se Steven D. Hales, “Was Nietzsche a Consequentialist?”,International
Studies in Philosophy (vol. 27, n.º 3, Verão 1995), pp. 25-34.
- Trata-se de um excerto de “Drafts” §177 in Philosophy and
Truth: Selections From Nietzsche's Notebooks of the Early 1870's, ed.
e trad. Daniel Breazeale (Londres: Humanities Press
International, 1979).
- Os números citados das páginas são de Ofelia
Schutte, Beyond Nihilism: Nietzsche Without Masks (Chicago:
University of Chicago Press, 1984).
- Os números citados das páginas são de Michel
Haar, “Nietzsche and Metaphysical Language”, in D. B. Allison, org., The
New Nietzsche (Nova Iorque: Dell Publishing, 1977), pp. 5-36.
- Alan D. Schrift, Nietzsche and the Question of Interpretation (Nova
Iorque: Routledge, 1990), p. 134.
- Bern Magnus, Nietzsche's Existential Imperative (Bloomington:
Indiana University Press, 1978), p. 196.
- Clark, Nietzsche on Truth and Philosophy, p. 105.
- Para alguma discussão sobre como Nietzsche é anterior ao anti-realismo
contemporâneo, veja-se Cornel West, “Nietzsche's Prefiguration of
Postmodern American Philosophy”, in Why Nietzsche Now?, org. Daniel O'Hara (Bloomington: Indiana University
Press, 1985), pp. 241-269.
- Hilary Putnam, Reason, Truth and History (Cambridge:
Cambridge University Press, 1981), p. 49. Veja-se também o seu Realism
With a Human Face (Cambridge: Harvard University press, 1990)
e Midwest Studies in Philosophy: Realism and Antirealism (Vol.
12, 1988).
- Para um prolongamento deste tema, veja-se Christoph Cox, “Nietzsche,
Naturalism, and Interpretation”, International Studies in
Philosophy (vol. 27, n.º 3, 1995), pp. 3-18.
- Schutte é desnecessariamente literal quanto a TI
III 5. Veja-se Beyond
Nihilism: Nietzsche Without Masks, p. 27.
- O que se segue é uma apresentação da teoria que Carnap formula em “The
Elimination of Metaphysics Through the Logical Analysis of Language”, in
A. J. Ayer, org. Logical Positivism(Nova Iorque: Macmillan, 1959), pp. 60-81. Os
números seguintes das páginas referem-se a este artigo.
- Chisholm discutiu os hans em vários seminários de
pós-graduação na Universidade de Brown. Veja-se também a sua discussão
de entia per alio nas suas lições Carus, publicadas como Person
and Object (La Salle, Illinois: Open Court, 1976).
- Sartre também acusa o antropomorfismo do modo
como conceptualizamos. Afirma que “o homem é o único ser pelo qual uma
destruição pode ocorrer”. Ou seja, os terremotos e tempestades não destroem por
si mesmos, apenas mudam tralha graúda de um lugar para outro. Somos nós
que classificamos isto como destruição; não há qualquer destruição
objectiva no mundo para lá dos nossos interesses. Veja-se Jean-Paul
Sartre, Being and Nothingness, trad. Hazel E. Barnes
(Nova Iorque: Simon and Shuster, 1956), cap. 1, §2.
- Se certas interpretações são necessárias para que
os seres humanos vivam, então não serão estas de algum modo
necessidades reais, verdadeiras vidas humanas, ou algum
género de verdades absolutas? Como se harmoniza isto com o anti-realismo
radical e o perspectivismo de Nietzsche? Os conhecidos enigmas da
auto-referência espreitam. Tratei destas questões em Steven D. Hales e
Robert C. Welshon, “Truth, Paradox, and Nietzschean Perspectivism”, History
of Philosophy Quarterly (Vol. 11, n.º 1, Janeiro 1994), pp.
101-119.
- Um consultor anónimo desta revista sugeriu que
Nietzsche o afirma em HATH 18.
- Clark, Nietzsche on Truth and Philosophy, p. 66. Para alguma discussão de perspectiva de Derrida
veja-se John M. Ellis, Against Deconstruction (Princeton:
Princeton University Press, 1989), cap. 1.
- Nehamas também interpreta Nietzsche no sentido de
estar a oferecer uma teoria dos feixes em Nietzsche: Life as
Literature, cap. 3, apesar de não usar esta terminologia.
- David Hume, Tratado do Conhecimento
Humano, livro 1, §6.
- George Berkeley, Of the Principles of Human Knowledge, parte
I, §1.
- Bertrand Russell, An Inquiry Into Meaning and Truth (Londres:
Allen and Unwin, 1950), p. 100.
- Russell, An Inquiry Into Meaning and Truth, p. 97.
- Veja-se, por exemplo, o excelente artigo de James Van Cleve, “Three
Versions of the Bundle Theory”, Philosophical Studies (vol.
47, 1985), pp. 95-107. Nietzsche não é citado
como um defensor da teoria dos feixes.
- Agradeço a Robert Welshon críticas a uma versão anterior, e a três consultores anónimos de Philosophy and Phenomenological Research.
In Blog Criticanarede
Lola
Sem comentários:
Enviar um comentário