sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Vamos argumentar?


Vamos argumentar?
Uma situação actual

1. A notícia
“Adeus, abusador”: o mundo repudia Harvey Weinstein
Várias estrelas do cinema e o ex-presidente Obama disseram na mídia e nas redes sociais estarem “enojados” e expressaram “repulsa” pelo comportamento do produtor

A indústria de Hollywood  viu-se sacudida pelo escândalo de assédio sexual contra numerosas mulheres por parte do poderoso produtor Harvey Weinstein. Acusado de abusar de seu poder para obrigar as atrizes, modelos e outras empregadas de suas empresas a manter encontros sexuais com ele, Weinstein recebeu críticas de diversas personalidades do cinema por seu comportamento. O produtor foi acusado de violar três mulheres e de abusar de mais de uma dezena durante os últimos 20 anos. Esta é uma síntese do que opinaram contra ele várias personalidades da política e do cinema.

2. As reações

Barack Obama. O ex-presidente dos Estados Unidos disse que tanto ele como sua esposa, Michelle Obama, estão “enojados” com as recentes revelações sobre o produtor de cinema. “Qualquer homem que menospreze e humilhe uma mulher dessa maneira tem que ser condenado e responsabilizado, independentemente de sua riqueza ou situação”, enfatizou. 
Ben Affleck. Nas redes sociais, o protagonista de Argo publicou uma mensagem em que diz sentir-se “triste e enojado” pelo comportamento de Weinstein. Affleck lamentou que um homem com quem trabalhou “usasse sua posição de poder para intimidar, assediar sexualmente e manipular tantas mulheres durante décadas”. E acrescentou: “Temos de proteger melhor nossas irmãs, amigas, companheiras e filhas. Temos de apoiar quem denuncia, condenar esse tipo de comportamento quando o virmos e ajudar para que mais mulheres ocupem posições de poder”.
Michael Eisner. O ex-diretor da Walt Disney declarou em um tuíte que a empresa demitiu os irmãos Harvey e Bob Weinstein “porque eram irresponsáveis e Harvey é um abusador incorrigível”. No entanto, afirmou que desconhecia as histórias de assédio sexual: “Não tinha ideia de que fosse capaz de cometer essas ações terríveis”.
Jessica Chastain. A atriz de filmes como Perdido em Marte revelou em vários tuítes que foi “alertada desde o começo” sobre os abusos de Weinstein. “Ouviam-se as histórias por todos os lados. Negar isso é criar um ambiente para que aconteça de novo.” Ela criticou a atitude de seus colegas homens nesta crise de Hollywood: “Fico doente ao ver que a mídia só pede que as mulheres falem. O que se passa com os homens? Provavelmente muitos têm medo de admitir o próprio comportamento”.
Kate Winslet. A protagonista de Titanic escreveu um comunicado de apoio a suas colegas e de repúdio contra o produtor. “Abraço e saúdo sua grande coragem [de denunciá-lo], e apoio incondicionalmente este tipo de exposição necessária de alguém que se comportou de modo reprovável e desagradável”, expressou. Winslet qualificou o comportamento de Weinstein de “escandaloso, espantoso e muito, muito errado”. Também admitiu que todos os que mantiveram silêncio foram “ingênuos”. “Não devemos tolerar essas humilhações, esse tratamento vil com as mulheres em nenhum local de trabalho de nenhum lugar do mundo”, concluiu.
Emma Thompson. A protagonista de Razão e Sensibilidade recordou uma história que lhe contou a colega Hayley Atwell. Em um almoço com Weinstein, este pediu a Atwell que se concentrasse no que estava comendo, pois acabara de vê-la em um filme, e a repreendeu: “Na tela você parece um porco gordo. Pare de comer tanto”. Por isso, o produtor lhe ordenou que iniciasse uma dieta. De acordo com Thompson, ela advertiu pessoalmente o produtor, dizendo que renunciaria a uma filmagem na qual estava trabalhando com ele se obrigasse Atwell ou qualquer outra mulher a fazer dieta.
Jeffrey Katzenberg. “Você fez coisas terríveis a muitas mulheres durante anos”, apontou o produtor a Weinstein em um correio eletrônico que o próprio Katzenberg tornou público. “Estou enojado, irado e incrivelmente desapontado com você”, acrescentou. “Como alguém que te conhece há 30 anos, posso te aconselhar que pelo menos tente reparar isso e, se possível, que tente compensar a quem você fez mal e que dentro do possível encontre um caminho para se curar e redimir”, escreveu Katzenberg ao colega.
Heather Graham. Outra história de abuso de poder por parte de Weinstein foi contada pela atriz de Austin Powers: O Agente Bond Cama. “No início dos anos 2000, Weinstein me chamou em seu escritório. Disse que tinha um acordo com sua esposa: podia dormir com quem quisesse quando estivesse fora da cidade. Saí da reunião sentindo-me inquieta”, lembrou. Semanas depois, o produtor a chamou em um hotel. “Telefonei para uma das minhas amigas atrizes, expliquei-lhe meu inconformismo com a situação e ela se ofereceu para me acompanhar. Mas mais tarde disse que não poderia ir comigo. Assim, dei um pretexto para não ter de ir sozinha”, continua Graham. “Harvey me disse que minha amiga já estava no hotel e que ambos ficariam desapontados se eu não fosse. Sabia que ele estava mentindo, por isso voltei a dar uma desculpa para não ir. Esse foi o fim desse encontro, Nunca fui demitida de nenhum de seus filmes nem contei minha experiência.” No entanto, agora que sua amiga Ashley Judd decidiu levantar a voz, admitiu que se sente envergonhada por não ter contado isso há tantos anos”.
Jennifer Lawrence. “Sinto-me profundamente desconcertada. O comportamento de Weinstein é injustificável e absolutamente decepcionante”, sentenciou a protagonista da saga Jogos Vorazes. Ela trabalhou com o produtor em O Lado Bom da Vida (2012), mas afirma que nunca foi “assediada pessoalmente” nem teve conhecimento dessas acusações. “Me parte o coração por todas as mulheres afetadas por esses atos desagradáveis. E quero lhes agradecer por sua coragem em denunciar”, acrescentou.
Matt Damon. O ator da saga Bourne explicou em um comunicado que não havia notado nenhum comportamento abusivo do produtor nos filmes que fez com ele. “Acho que muitos atores saíram dizendo que todos sabíamos. Isso é mentira”, reiterou. “Esse tipo de depreciação ocorria atrás de uma porta fechada, e fora da vista de todos”. Além disso, afirmou que se tivesse visto, “teria que detê-lo”. Também disse que se sente “terrível por todas essas mulheres, e é maravilhoso que tenham esta incrível coragem e estejam protestando agora”. Como Affleck, sugeriu que os homens precisam se envolver na mudança desses maus hábitos. “Somos uma parte muito importante da mudança, e temos que estar atentos e ajudar a proteger e denunciar estas coisas, porque temos filhas, irmãs e mães. Este tipo de coisa não pode acontecer”, sentenciou.
Ewan McGregor. Em um tuíte recente, o ator de Trainspotting se expressou sobre o escândalo sexual. “Weinstein. Era questão de tempo para que isto viesse à luz e ele está recebendo o que merece. Tinha ouvido rumores ao longo dos anos, mas isto é desagradável. Adeus, abusador”, declarou.

in El Pais
PABLO XIMÉNEZ DE SANDOVAL
Los Ángeles 12 OUT 2017



3. Argumentos "a favor"

Em Hollywood, o movimento Time’s Up, apoiado por mais de 300 atrizes, conseguiu tingir de preto a cerimônia do Globo de Ouro, em protesto contra as agressões sexuais. 
Na França, um grupo formado por uma centena de artistas e intelectuais tomou nesta terça-feira a direção contrária ao assinar um manifesto criticando o clima de “puritanismo” sexual que o caso Harvey Weinstein teria desencadeado. O texto, publicado no jornal Le Monde, é assinado por conhecidas personalidades da cultura francesa, como a atriz Catherine Deneuve, a escritora Catherine Millet, a cantora Ingrid Caven, a editora Joëlle Losfeld, a cineasta Brigitte Sy, a artista Gloria Friedmann e a ilustradora Stéphanie Blake.
“O estupro é um crime. Mas a sedução insistente ou desajeitada não é um crime nem o galanteio uma agressão machista”, afirmam as autoras deste manifesto. “Desde o caso Weinstein houve uma tomada de consciência sobre a violência sexual exercida contra as mulheres, especialmente no âmbito profissional, onde certos homens abusam de seu poder. Isso foi necessário. Mas esta liberação da palavra se transforma no contrário: nos intima a falar como se deve e nos calar no que incomode, e os que se recusam a cumprir tais ordens são vistos como traidores e cúmplices”, argumentam as signatárias, que lamentam que as mulheres tenham sido convertidas em “pobres indefesas sob o controle de demônios falocratas”.
Entre as promotoras do manifesto estão personalidades que já haviam expressado opinião oposta a esse movimento, quando não abertamente contrárias a certas lutas do feminismo. Por exemplo, a filósofa Peggy Sastre, autora de um ensaio intitulado A Dominação Masculina Não Existe, ou a escritora Abnousse Shalmani, que em setembro assinou um artigo onde descrevia o feminismo como um novo totalitarismo. “O feminismo se transformou em um stalinismo com todo seu arsenal: acusação, ostracismo, condenação”, disse na revista Marianne. Por sua vez, a jornalista Élisabeth Lévy qualificou como “abjeto” o movimento iniciado com rótulos como #MeToo ou #balancetonporc (“denuncia teu porco”). Em um tom mais moderado, Deneuve também se opôs a este fenômeno no final de outubro. “Não acho que seja a forma mais adequada de mudar as coisas. O que virá depois? Denuncia tua puta? São termos muito exagerados. E, sobretudo, acho que não resolvem o problema”, declarou na época. Também Millet, crítica de arte e autora do relato autobiográfico A Vida Sexual de Catherine M., se opôs repetidamente a um feminismo “exacerbado e agressivo”.
As signatárias dizem que as denúncias registradas nas redes sociais se assemelham a “uma campanha de delações e acusações públicas contra indivíduos aos quais não se deixa a possibilidade de responder ou de se defender”. “Esta justiça expeditiva já tem suas vítimas: homens punidos no exercício de seu ofício, obrigados a se demitirem [,,,] por terem tocado um joelho, tentado dar um beijo, falado de coisas íntimas em um jantar profissional ou enviado mensagens com conotações sexuais a uma mulher que não sentia uma atração recíproca”, dizem no texto. Também alertam para o retorno de uma “moral vitoriana” oculta sob “esta febre por enviar os porcos ao matadouro”, que não beneficiaria a emancipação das mulheres, mas que estaria a serviço “dos interesses dos inimigos da liberdade sexual, como os extremistas religiosos”.

Efeitos na cultura

O manifesto alerta também para as repercussões que este novo clima poderia ter na produção cultural. “Alguns editores nos pediram [,,,] que façamos nossos personagens masculinos menos ‘sexistas’, que falemos de sexualidade e amor com mais comedimento ou que convertamos ‘os traumas sofridos pelas personagens femininas’ em mais explícitos”, denunciam as signatárias, opondo-se também à recente censura de um nu de Egon Schiele no metrô de Londres, ao pedido de retirada de um quadro de Balthus de uma mostra do Metropolitan de Nova York e às manifestações contra uma retrospectiva dedicada à obra de Roman Polanski em Paris.
“O filósofo Ruwen Ogien defendeu a liberdade de ofender como algo indispensável para a criação artística. Da mesma maneira, nós defendemos uma liberdade de importunar, indispensável para a liberdade sexual”, subscrevem as cem signatárias do manifesto. “Como mulheres, não nos reconhecemos nesse feminismo que, para além da denúncia dos abusos de poder, assume o rosto do ódio aos homens e à sexualidade”, concluem. O texto provocou nesta terça-feira mal-estar entre as associações feministas na França, que o atacaram nas redes sociais. “Ultrajante. 
Na contracorrente da tomada de consciência atual, algumas mulheres defendem a impunidade dos agressores e atacam as feministas”, declarou a associação Osez le féminisme (Ouse o feminismo).

 EL PAIS
ÁLEX VICENTE
Paris 9 JAN 2018 

3. Contra argumentos

Resposta a Catherine Deneuve: "Os porcos e os seus aliados estão inquietos?"
"Assim que a igualdade avança um milímetro sequer, almas bondosas alertam-nos imediatamente para o facto de que arriscamos cair em excesso", apontam.

Numa carta aberta, publicada na terça-feira pelo Le Monde, personalidades como Catherine Deneuve defenderam que “a violação é um crime", mas que "o flirt insistente ou inconveniente não é um delito, nem o galanteio é uma agressão machista", classificado o movimento #MeToo como uma espécie de "puritanismo". Agora, várias feministas francesas responderam, num texto publicado no site Franceinfotv.
Assinado por 30 activistas, a primeira subscritora é a feminista Caroline De Haas. O texto critica fortemente os argumentos defendidos por Deneuve e tantas outras personalidades. "Esta carta é um pouco como o colega constrangedor ou o tio irritante que não percebe o que se está a passar", defendem as activistas francesas. "Assim que a igualdade avança um milímetro sequer, almas bondosas alertam-nos imediatamente para o facto de que arriscamos cair em excesso", aponta ainda num tom sarcástico, alertando que todos os dias em França acontecem "centenas" de casos de assédio sexual e violação.
"Os porcos e os seus aliados estão inquietos?", questionam em provocação. "É normal. O seu mundo velho está em vias de desaparecer – muito devagar, demasiado devagar, mas inexoravelmente. Algumas reminiscências poeirentas não mudarão nada, ainda que publicadas no Le Monde".
Em relação à questão do flirt, respondem: "As signatárias da carta confundem deliberadamente a relação de sedução, com base no respeito e prazer, com a violência".
Com o título Defendemos a Liberdade de Importunar, Indispensável à Liberdade Sexual, a carta aberta agora criticada foi assinada por cerca de 100 mulheres, entre escritoras, artistas e académicas. No seguimento do escândalo de assédio sexual de Hollywood – que despoletou a denúncia de inúmeros casos, como o de Kevin Spacey –, estas defendem que "aquilo que começou como algo que dá liberdade às mulheres para falar alto se tornou o oposto" e que agora "intimidamos pessoas a falar correctamente" e "gritamos com aqueles que não se metem na linha". Falavam inclusivamente de uma "caça às bruxas".

Outras personalidades, como a actriz Asia Argento – que acusou Harvey Weinstein de a ter assediado sexualmente, na década de 1990 – expressaram também a sua opinião relativamente à carta aberta. "Catherine Deneuve e outras mulheres francesas contam ao mundo como a sua misoginia interiorizada as lobotomizou de forma irreversível", escreve no Twitter.  A ex-ministra francesa da Igualdade, Laurence Rossignol, usou a mesma plataforma para condenar a carta, falando da "estranha angústia de já não existir sem o olhar e o desejo dos homens que leva as mulheres inteligentes a escrever grandes disparates".

 10 de Janeiro de 2018, 17:33to
LUSA/GUILLAUME HORCAJUELO


4. A lei
"Quem importunar outra pessoa, praticando perante ela atos de carácter exibicionista, formulando propostas de teor sexual ou constrangendo-a a contacto de natureza sexual, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.”
 Artigo 170º do Código Penal 

E você:
Que tema/problema?
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Que argumentos?
Que refutação?



                                           Lola

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