segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Legalidade e Moralidade




Legalidade e Moralidade
“Ou me prende ou mantenho condução de rali”.  
A PSP partilhou nas redes sociais o testemunho de um cidadão apanhado a conduzir ‘em modo rali’ em Lisboa. “Ou me prende ou sigo e na mesma condução”, afirmou Vítor Martins Romão para o polícia.
O relato em causa foi enviado por um “pai aflito”, que recebeu uma chamada do Hospital de Santa Maria: a filha estava em espera no bloco operatório, pois faltava a assinatura de um dos pais no termo de consentimento.
“Escusado será dizer que, após ligar os quatros piscas, a minha condução passou para o modo WRC [mundial de ralis], na versão pai aflito”, descreveu Vítor Martins Romão, no testemunho que enviou à PSP e foi partilhado por esta força no Facebook.
“Tenho esperança de não ter colocado em perigo os condutores que apanhei, mas talvez tenha feito por queimar pontos para duas cartas de condução”, admitiu.
Até que foi mandado encostar por “uma moto da PSP”.
“O agente, após continência, pediu-me os documentos e perguntou o porquê da marcha de urgência e do tipo de condução. Ao que respondi que tinha una filha à espera num bloco operatório do Santa Maria e que ele tinha duas opções: ou me prendia já, ou eu ia seguir e na mesma condução”, relatou o cidadão.
Vítor Martins Romão confessou que “não estava o mais sereno” e chorava de “aflição e nervoso”.
“Calmo. Sem sequer tirar o capacete, nem pegar na carteira dos documentos, [o polícia] apenas me disse: respire fundo, acalme-se o que lhe seja possível e siga-me”.
“Escoltou-me até Santa Maria”, continuou: “Em frente ao portão principal, voltou a fazer continência e seguiu. Fiquei sem palavras. Nem nome, nem cara, sequer. Apenas o senhor polícia da mota”.
“Talvez fosse isso mesmo que ele quis dizer”, concluiu este cidadão que enviou o relato da situação à PSP.
“Ele foi apenas a polícia. Foi apenas a instituição que representa. E eu e a minha filha, os cidadãos que ele jurou defender. E existem muitas formas de defender. Algumas nem vêm nos cânones, outras vêm nos cânones e são humanamente infringidas. Obrigado, senhor polícia. Jamais o esqueceremos”.
In Observador
7 de Novembro de 2018


Testemunho do cidadão Vítor Martins Romão:

"Antes de mais, a minha guerreira continua a lutar de forma brava. 24h depois da cirurgia.
Ontem, quando estava a regressar a Lisboa, vindo de uma rápida ida a Grândola, recebi uma chamada da Renata, aflitíssima, porque lhe tinham ligado do Hospital de Santa Maria a solicitar presença urgentíssima de um de nós.
Faltava assinar o termo de consentimento, para o procedimento anestésico da Margarida, e ela encontrava-se no bloco operatório em espera, para a tão urgente e vital cirurgia.
Escusado será dizer que, após ligar os 4 piscas, a minha condução passou para o modo WRC, na versão Pai Aflito.
Tenho esperança, de não ter colocado em perigo os condutores que apanhei, mas talvez  tenha feito por queimar pontos para 2 cartas de condução.
Algures na cidade, quando olhei pelo retrovisor, tinha uma moto da PSP a mandar encostar.
Assim fiz.
O agente dirigiu-se e após continência, pediu-me os documentos e perguntou o porquê da marcha de urgência e do tipo de condução.
Ao que respondi, que tinha uma filha à espera num bloco operatório de Sta. Maria, e que ele tinha 2 opções: ou me prendia já, ou eu ia seguir e na mesma condução.
Obviamente, não estava o mais sereno, e as lágrimas correram-me, num misto de aflição e nervoso.
Calmo. Sem sequer tirar o capacete, nem pegar na carteira dos documentos, que lhe estava a dar, apenas me disse: "respire fundo, acalme-se o que lhe seja possível e siga-me".
Saiu em direcção à mota e escoltou-me até Santa Maria.
Em frente ao portão principal, voltou a fazer continência e seguiu.
Fiquei sem palavras.
Nem nome, nem cara, sequer.
Apenas o senhor polícia da mota.
Talvez fosse isso mesmo que ele quis dizer. Ele foi apenas a Polícia. Foi apenas a instituição que representa. E eu e a minha filha, os cidadãos que ele jurou defender.
E existem muitas formas de defender.
Algumas nem vêm nos cânones, outras vêm nos cânones e são humanamente infringidas.
Obrigado senhor polícia, em nome, da minha familia, do meu País, que tanto precisa. Jamais o esqueceremos.
Nota:
numa sociedade que nunca será perfeita, mas que devemos sempre lutar para que seja, prefiro tolerar uma falha dos bons a ajudar os bons, do que penalizar uma falha dos bons a lutar contra os maus.
É só."

Este agente da PSP, muito provavelmente, não conhece Kant nem a sua distinção entre as esferas da Legalidade e da Moralidade. Contudo, nesta sua nobre atitude, agiu por dever e confirmou a esfera da Moralidade como patamar superior ao da Legalidade, agindo e vendo o OUTRO como um fim em si mesmo e não um meio!
Este agente, sem rosto mas com uma existência autêntica, é o verdadeiro criador do Imperativo Categórico!

Há dias que nos enchem a alma!


                                            Lola

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