Falácias Informais
1. Generalização
Precipitada
A amostra é demasiado limitada e é usada
apenas para apoiar uma conclusão tendenciosa.
Exemplos:
Fred, o australiano, roubou a minha
carteira. Portanto, os Australianos são ladrões. (Claro que não devemos
julgar os Australianos na base de um exemplo.)
Perguntei a seis dos meus amigos o que eles pensavam das novas restrições ao consumo e eles concordaram em que se trata de uma boa ideia. Portanto as novas restrições são populares.
Prova:
Identifique as dimensões da amostra e a população em questão. Depois mostre que a amostra é insuficiente. Note-se que uma prova formal requer cálculo matemático porque está em jogo a teoria das probabilidades. Mas em muitas situações podemos confiar no bom senso.
Identifique as dimensões da amostra e a população em questão. Depois mostre que a amostra é insuficiente. Note-se que uma prova formal requer cálculo matemático porque está em jogo a teoria das probabilidades. Mas em muitas situações podemos confiar no bom senso.
2. Amostra
limitada
Há diferenças relevantes entre a amostra
usada na inferência indutiva e a população como um todo
Exemplos:
- Para ver como os Portugueses vão votar na próxima
eleição sondou-se uma centena de pessoas em Bragança. Isto mostra, sem
dúvida, que a direita vai limpar as eleições. (As pessoas de Bragança
tendem a ser mais conservadoras e, portanto, mais propensas a votar em
partidos de direita do que as outras pessoas no resto do país.)
- As maçãs do topo da caixa parecem boas. Todas as
maçãs desta caixa devem ser boas.(As maçãs com bicho, claro, estão em
camadas mais fundas...)
Prova:
Mostre que há diferenças relevantes entre a amostra e a população como um todo. Depois, argumente que por a amostra ser diferente, a conclusão é provavelmente diferente.
Mostre que há diferenças relevantes entre a amostra e a população como um todo. Depois, argumente que por a amostra ser diferente, a conclusão é provavelmente diferente.
3. Falsa analogia
Numa analogia mostra-se, primeiro, que
dois objectos, a e b, são semelhantes em algumas das suas propriedades, F, G,
H. Conclui-se, depois, que como a tem a propriedade E, então b também deve ter
a propriedade E. A analogia falha quando os dois objectos, a e b, diferem de
tal modo que isso possa afectar o facto de ambos terem a propriedade E. Diz-se,
neste caso, que a analogia não teve em conta diferenças relevantes.
Exemplos:
- Os empregados são como pregos. Temos de martelar
a cabeça dos pregos para estes desempenharem a sua função. O mesmo deve
acontecer com os empregados.
- Governar um país é como gerir uma empresa. Assim,
como a gestão de uma empresa responde unicamente ao lucro dos seus
accionistas, também a governação deve fazer o mesmo. (Mas os
objectivos da governação e da gestão de uma empresa são muito diferentes;
assim, provavelmente têm de encontrar critérios diferentes.)
Prova:
Identifique os dois objectos ou eventos que estão a ser comparados e a propriedade que se diz que ambos possuem. Mostre que os dois objectos diferem de tal modo que a analogia se torna insuficiente.
Identifique os dois objectos ou eventos que estão a ser comparados e a propriedade que se diz que ambos possuem. Mostre que os dois objectos diferem de tal modo que a analogia se torna insuficiente.
4. Apelo à
autoridade (argumentum ad verecundiam)
Ainda que às vezes seja apropriado citar
uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria das vezes não o é. O apelo
à autoridade é especialmente impróprio se:
- A pessoa não está qualificada para ter uma
opinião de perito no assunto.
- Não há acordo entre os peritos do campo em
questão.
- A autoridade não pode, por algum motivo ser
levada a sério — porque estava a brincar, estava ébria ou por qualquer outro
motivo.
Uma variante da falácia do apelo à
autoridade é o “ouvi dizer” ou “diz-se que”. Um argumento por “ouvir dizer” é
um argumento que depende de fontes em segunda ou terceira mão.
Exemplos:
- O famoso psicólogo Dr. Frasier Crane
recomenda-lhe que compre o último modelo de carro da Skoda.
- O economista John Kenneth Galbraith defende que
uma apertada política económica é a melhor cura para a recessão. (Apesar
de Galbraith ser um perito, nem todos os economistas estão de acordo nesta
questão.)
- Encaminhamo-nos para uma guerra nuclear. A semana
passada Ronald Reagan disse que começaríamos a bombardear a Rússia em
menos de cinco minutos. (Claro que o disse por piada ao testar o
microfone.)
- Sousa disse que nunca perdoaria ao Pinto. (Trata-se
de um caso de “ouvir dizer” — de facto ele apenas disse que Pinto nada
tinha feito para ser perdoado.)
Prova:
Mostre uma de duas coisas (ou ambas):
Mostre uma de duas coisas (ou ambas):
- A pessoa citada não é uma autoridade no campo em
questão;
- Entre os especialistas não há consenso sobre o
assunto discutido.
5. Petição de
Princípio (petitio principii)
A verdade da conclusão é pressuposta
pelas premissas. Muitas vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas premissas de
uma forma ligeiramente diferente. Nos casos mais subtis, a premissa é uma
consequência da conclusão.
Exemplos:
- Dado que não estou a mentir, segue-se que estou a
dizer a verdade.
- Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E
o que a Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita por Deus e
Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar primeiro que
Deus existe para aceitarmos que ele escreveu a Bíblia.)
Prova:
Mostre que para acreditarmos nas premissas já teríamos de aceitar a conclusão.
Mostre que para acreditarmos nas premissas já teríamos de aceitar a conclusão.
6. Falso dilema
É dado um limitado número de opções (na
maioria dos casos apenas duas), quando de facto há mais. O falso dilema é um
uso ilegítimo do operador “ou”. Pôr as questões ou opiniões em termos de “ou
sim ou sopas” gera, com frequência (mas nem sempre), esta falácia.
Exemplos:
- Ou concordas comigo ou não. (Porque se pode
concordar parcialmente.)
- Reduz-te ao silêncio ou aceita o país que temos.
(Porque uma pessoa tem o direito de denunciar o que entender.)
- Ou votas no Silveira ou será a desgraça nacional.
(Porque os outros candidatos podem não ser assim tão maus.)
- Uma pessoa ou é boa ou é má. (Porque muitas
pessoas são apenas parcialmente boas.)
Prova:
Identifique as opções dadas e mostre (de preferência com um exemplo) que há pelo menos uma opção adicional.
Identifique as opções dadas e mostre (de preferência com um exemplo) que há pelo menos uma opção adicional.
7. Falsa Causa (post hoc ergo propter hoc)
O nome em Latim significa: “depois
disso, logo, por causa disso”. Isto descreve a falácia. Um autor comete a
falácia quando pressupõe que, por uma coisa se seguir a outra, então aquela
teve de ser causada por esta.
Exemplos:
- A imigração do Alentejo para Lisboa aumentou mal
a prosperidade aumentou. Portanto, o incremento da imigração foi causado
pelo incremento da prosperidade.
- Tomei o EZ-Mata-Gripe e dois dias depois a minha
constipação desapareceu...
Prova:
Mostre que a correlação é coincidência, mostrando: 1) que o “efeito” teria ocorrido mesmo sem a alegada causa ocorrer, ou que 2) o efeito teve uma causa diferente da que foi indicada.
Mostre que a correlação é coincidência, mostrando: 1) que o “efeito” teria ocorrido mesmo sem a alegada causa ocorrer, ou que 2) o efeito teve uma causa diferente da que foi indicada.
8. Ataques
pessoais (argumentum ad hominem)
Ataca-se pessoa que apresentou um
argumento e não o argumento que apresentou. A falácia ad hominem assume
muitas formas. Ataca, por exemplo, o carácter, a nacionalidade, a raça ou a
religião da pessoa. Em outros casos, a falácia sugere que a pessoa, por ter
algo tem algo a ganhar com o argumento, é movida pelo interesse. A pessoa pode
ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias.
Há
três formas maiores da falácia ad hominem:
- Ad hominem (abusivo): em vez de atacar uma afirmação, o
argumento ataca pessoa que a proferiu.
- Ad hominem (circunstancial): em vez de atacar uma afirmação,
o autor aponta para a relação entre a pessoa que a fez e as suas
circunstâncias.
- Tu quoque: esta
forma de ataque à pessoa consiste em fazer notar que a pessoa não pratica
o que diz.
Exemplos:
- Podes dizer que Deus não existe mas estás apenas
a seguir a moda (ad hominem abusivo).
- É natural que o ministro diga que essa política
fiscal é boa porque ele não será atingido por ela (ad hominem circunstancial).
- Podemos passar por alto as afirmações de
Simplício porque ele é patrocinado pela indústria da madeira (ad
hominem circunstancial).
- Dizes que eu não devo beber, mas não estás sóbrio
faz mais de um ano (tu quoque).
Prova:
Identifique o ataque e mostre que o carácter ou as circunstâncias da pessoa nada tem a ver com a verdade ou falsidade da proposição defendida.
Identifique o ataque e mostre que o carácter ou as circunstâncias da pessoa nada tem a ver com a verdade ou falsidade da proposição defendida.
9. Apelo ao
povo (argumentum ad populum)
Com esta falácia sustenta-se que uma
proposição é verdadeira por ser aceite como verdadeira por algum sector
representativo da população. Esta falácia é, por vezes, chamada “Apelo à
emoção” porque os apelos emocionais pretendem atingir, muitas vezes, a
população como um todo.
Exemplos:
- Se você fosse bela poderia viver como nós. Compre
também Buty-EZ e torne-se bela. (Aqui apela-se às “pessoas
bonitas”)
- As sondagens sugerem que os liberais vão ter a
maioria no parlamento, também deves votar neles.
- Toda a gente sabe que a Terra é plana. Então por
que razão insistes nas tuas excêntricas teorias?
10. Apelo à
Ignorância (argumentum ad ignorantiam)
Os argumentos desta classe concluem que
algo é verdadeiro por não se ter provado que é falso; ou conclui que algo é
falso porque não se provou que é verdadeiro. (Isto é um caso especial do falso
dilema, já que presume que todas as proposições têm de ser realmente conhecidas
como verdadeiras ou falsas). Mas, como Davis escreve, “A falta de prova não é
uma prova”. (p. 59)
Exemplos:
- Os fantasmas existem! Já provaste que não
existem?
- Como os cientistas não podem provar que se vai
dar uma guerra global, ela provavelmente não ocorrerá.
- Fred disse que era mais esperto do que Jill, mas
não o provou. Portanto, isso deve ser falso.
Prova:
Identifique a proposição em questão. Argumente que ela pode ser verdadeira (ou falsa) mesmo que, por agora, não o saibamos.
Identifique a proposição em questão. Argumente que ela pode ser verdadeira (ou falsa) mesmo que, por agora, não o saibamos.
11. Espantalho
(Boneco de palha)
O argumentador, em vez de atacar o
melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou
tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das “técnicas” de
argumentação mais usadas.
Exemplos:
- As pessoas que querem legalizar o aborto, querem
prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos uma sexualidade
responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.
- Devemos manter o recrutamento obrigatório. As
pessoas não querem o fazer o serviço militar porque não lhes convém. Mas
devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a conveniência.
Prova:
Mostre que o argumento oposto foi mal representado, mostrando que os opositores têm argumentos mais fortes. Descreva um argumento mais forte.
Mostre que o argumento oposto foi mal representado, mostrando que os opositores têm argumentos mais fortes. Descreva um argumento mais forte.
12. Derrapagem
(bola de neve)
Para mostrar que uma proposição, P, é
inaceitável, extraiem-se consequências inaceitáveis de P e consequências das
consequências... O argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é
falso ou duvidoso. Mas a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos
vários passos “se... então...” que constituem o todo do argumento.
Exemplos:
- Se aprovamos leis contra as armas automáticas,
não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas, e então
começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver
num estado totalitário. Portanto não devemos banir as armas automáticas.
- Nunca deves jogar. Uma vez que comeces a jogar
verás que é difícil deixar o jogo. Em breve estarás a deixar todo o teu
dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode acontecer que te vires para o
crime para suportar as tuas despesas e pagar as dívidas.
- Se eu abrir uma excepção para ti, terei de abrir
excepções para todos.
Prova:
Identifique a proposição, P, que está a ser refutada e identifique o evento final, Q, da série de eventos. Depois mostre que este evento final, Q, não tem de ocorrer como consequência de P.
Identifique a proposição, P, que está a ser refutada e identifique o evento final, Q, da série de eventos. Depois mostre que este evento final, Q, não tem de ocorrer como consequência de P.
Stephen Downes
Tradução e adaptação de Júlio Sameiro
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