Exame Filosofia 2020
1ª Fase - Versão 1
1ª Fase - Versão 1
A prova inclui 4 itens,
devidamente identificados no enunciado, cujas respostas contribuem
obrigatoriamente para a classificação final (itens 1., 11., 14. e 17.). Dos restantes 14 itens da prova, apenas contribuem para a classificação
final os 10 itens cujas respostas obtenham melhor pontuação.
Para
cada resposta, identifique o item.
1. A Luísa viajou muito e notou diferenças significativas, por
exemplo, no estatuto das mulheres em diferentes sociedades. Alguns hábitos,
como o de as mulheres apenas poderem passear acompanhadas, chocaram
a Luísa; contudo,
pareceu-lhe que muitas
dessas mulheres aceitavam tais hábitos sem reservas. Esta observação foi a razão para a
Luísa concluir que aquilo que é certo ou errado depende de cada cultura.
Perante o relato da Luísa, a Paula recordou que o estatuto das
mulheres tinha mudado muito em Portugal, nas últimas décadas, e afirmou que
isso representava um progresso, pois a sociedade portuguesa abandonara leis e
hábitos errados.
É
razoável presumir que
(A) a
Luísa é relativista e a Paula é objetivista.
(B) ambas
são subjetivistas.
(C) ambas
são relativistas.
(D) a
Luísa é objetivista e a Paula é subjetivista.
2.
Identifique a questão que envolve o
problema da natureza dos juízos morais.
(A)
Será que só os princípios morais importam?
(B) O
juízo de que é correto acolher refugiados exprime uma preferência pessoal?
(C) Será
a escravatura moralmente permissível?
(D) O
juízo de que uma certa pessoa é corajosa é um juízo de valor acerca dessa pessoa?
3.
Se dissermos que, numa determinada circunstância, poderíamos não ter realizado
a ação que realizámos,
estamos implicitamente a admitir que
(A) o
determinismo moderado é implausível.
(B)
o determinismo radical é falso.
(C)
o libertismo é falso.
(D)
o livre-arbítrio é incompatível com
o determinismo.
4.
Suponha que os valores apresentados
nas situações A e B indicam o acesso aos bens primários dos indivíduos 1 e 2.
Indivíduo
1
|
Indivíduo
2
|
|
Situação A
|
4
|
4
|
Situação B
|
5
|
6
|
De
acordo com Rawls,
(A)
a situação A é preferível, porque nenhum dos indivíduos é desfavorecido.
(B)
a situação B é preferível, porque o total de acesso
a bens e de felicidade dos dois indivíduos é maior.
(C)
a situação A é
preferível, porque os dois indivíduos têm oportunidades iguais.
(D)
a situação B é preferível, porque o acesso
aos bens primários do indivíduo menos
favorecido é superior.
5.
A crítica de Nozick à teoria da justiça de Rawls põe em causa
(A)
o princípio da diferença.
(B)
o princípio da liberdade.
(C)
a existência de direitos de titularidade.
(D)
a existência de direitos
invioláveis.
6.
Considere as afirmações
seguintes.
1.
Tanto Hume como Descartes admitem haver conhecimento a priori e conhecimento a posteriori.
2.
Descartes
defende que as ideias claras e distintas são
certas.
3.
De
acordo com Hume, nenhuma crença verdadeira pode ser justificada apenas pelo pensamento.
(A)
2 e 3 são verdadeiras; 1 é falsa.
(B)
3 é verdadeira; 1 e 2 são
falsas.
(C)
1 e 2 são verdadeiras; 3 é falsa.
(D)
1 é verdadeira; 2 e 3 são
falsas.
7.
Em filosofia da ciência, o problema da demarcação diz respeito
(A)
à relação entre o método dedutivo e o método indutivo.
(B)
à relação entre a ciência normal e a ciência extraordinária.
(C)
à distinção entre as ciências humanas e as ciências naturais.
(D)
à distinção
entre o que é ciência e o que não é ciência.
8.
De acordo com Popper, para testar uma teoria científica é preciso
(A)
falsificá-la.
(B)
procurar falsificá-la.
(C)
procurar confirmá-la.
(D)
confirmá-la.
9.
O
facto de, em muitas obras de arte, os artistas
terem fingido sentir
o que realmente não sentiram
pode ser usado como uma
objeção à definição
(A)
formalista da arte.
(B)
representacional da arte.
(C)
histórica da arte.
(D)
expressivista da arte.
10.
Apenas os defensores das teorias essencialistas da arte
consideram que
(A)
há condições necessárias e suficientes para que um objeto
seja arte.
(B)
a arte pode ser definida.
(C)
há propriedades intrínsecas dos objetos que os tornam
obras de arte.
(D)
a arte é essencial à vida.
11. Atente na afirmação seguinte.
Todos
os atos têm uma motivação egoísta.
Caso
discordasse desta afirmação, teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação
egoísta? Justifique.
12.
Considere o argumento seguinte.
Se o Manuel perder o último
comboio do dia, então dorme em casa de amigos. Logo, o Manuel dorme em casa de
amigos.
Utilizando uma das regras de
inferência estudadas e, em conformidade com essa regra, introduzindo uma
segunda premissa, o argumento anterior torna-se válido.
Escreva
a premissa que torna o argumento válido e a regra de inferência usada.
13.
Utilize o dicionário seguinte para
formalizar as quatro frases apresentadas.
Dicionário
P: Stuart Mill é liberal.
Q:
Stuart Mill é socialista.
I)
Stuart
Mill não é liberal.
II)
Stuart
Mill é liberal ou socialista.
III)
Se
Stuart Mill é liberal, então não é socialista.
IV) É falso que Stuart Mill seja
liberal e socialista.
Leia o Texto 1 e considere-o nas suas respostas aos itens 14 e 15.
Texto 1
Texto 1
Todos já tivemos
de lidar com pessoas que dizem que algo – por exemplo,
a homossexualidade […] – é
moralmente errado, mas que são incapazes de apontar quaisquer consequências más
que daí resultem. […] Certas
teorias morais, mesmo quando são motivadas por uma preocupação com o bem-estar humano,
parecem consistir num conjunto de regras para serem seguidas,
sejam quais forem as consequências.
W.
Kymlicka, Contemporary Political
Philosophy – an introduction, Oxford, Oxford University Press, 2002, p. 11.
14. Será
que o utilitarismo é uma das teorias morais que consistem apenas «num conjunto
de regras para serem seguidas»?
Justifique.
15.
No
Texto 1, refere-se que há teorias
morais «motivadas por uma preocupação com o bem-estar humano». Explique o que entende Mill por bem-estar.
Leia o Texto 2 e considere-o nas suas respostas aos itens 16 e 17.
Texto 2
Texto 2
E
notando que esta verdade «eu penso, logo existo» era tão firme e tão certa que
todas as extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro
princípio da filosofia que procurava.
R. Descartes,
Discurso do Método, Lisboa, Edições
70, 2000, p. 74.
16.
No Texto 2,
Descartes refere as «extravagantes suposições dos céticos».
Apresente
um argumento cético que possa justificar tais suposições.
17. Em sua
opinião, o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um fundamento
sólido do conhecimento?
Justifique.
18.
Haverá boas razões para acreditar que Deus existe?
Na sua resposta, deve:
Na sua resposta, deve:
-
clarificar
o problema filosófico inerente à questão formulada;
-
apresentar
inequivocamente a sua posição;
-
argumentar
a favor da sua posição.
COTAÇÕES
As
pontuações obtidas nas respostas a estes
4
itens da prova contribuem obrigatoriamente
para
a classificação final.
|
1.
|
11.
|
14.
|
17.
|
Subtotal
|
||||||||||
Cotação (em pontos)
|
15
|
15
|
15
|
15
|
60
|
||||||||||
Destes 14 itens, contribuem
para a classificação final
da
prova os 10 itens cujas respostas obtenham melhor pontuação.
|
2.
|
3.
|
4.
|
5.
|
6.
|
7.
|
8.
|
9.
|
10.
|
12.
|
13.
|
15.
|
16.
|
18.
|
Subtotal
|
Cotação (em pontos)
|
10 x 14 pontos
|
140
|
|||||||||||||
TOTAL
|
200
|
||||||||||||||
FIM
CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE
CLASSIFICAÇÃO
Item
|
Versão 1
|
Versão 2
|
Pontuação
|
1.
|
(A)
|
(B)
|
15
|
2.
|
(B)
|
(B)
|
14
|
3.
|
(B)
|
(D)
|
14
|
4.
|
(D)
|
(C)
|
14
|
5.
|
(A)
|
(A)
|
14
|
6.
|
(C)
|
(A)
|
14
|
7.
|
(D)
|
(B)
|
14
|
8.
|
(B)
|
(C)
|
14
|
9.
|
(D)
|
(A)
|
14
|
10.
|
(C)
|
(D)
|
14
|
11.
15 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Indicação
solicitada:
‒ não, não teria
de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justificação:
‒
quem considera que é falsa a proposição de que todos
os atos têm uma motivação
egoísta apenas tem de mostrar que, pelo menos, um ato
não tem (OU alguns atos não têm) uma motivação
egoísta;
‒
o objeto da discórdia não é a existência
de atos com uma motivação egoísta, mas a ideia de que todos os atos tenham uma
motivação egoísta.
OU
‒
a falsidade da proposição «Todos os atos têm uma motivação egoísta»
não implica a verdade da proposição
«Nenhum ato tem uma motivação egoísta», pois ambas podem ser falsas;
‒
para mostrar que é falso que todos os atos têm uma motivação egoísta,
bastaria apresentar um exemplo
de um ato que não tivesse uma motivação egoísta, pois, caso seja verdade que
«Alguns atos têm uma motivação egoísta», então é falso que «Todos os atos têm uma motivação egoísta».
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação,
não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justifica de modo completo e
preciso.
|
15
|
3
|
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação,
não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo
preciso, mas não completo.
|
12
|
2
|
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação,
não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justifica parcialmente e com
imprecisões.
|
8
|
1
|
Indica corretamente que, caso
discordasse da afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma
motivação egoísta.
Não justifica a resposta, ou apresenta conteúdos que,
embora corretos, não constituem uma justificação da resposta.
OU
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, apresenta as relações entre os
valores de verdade de proposições A e E, ou A e O, ou A e I), procurando
aplicá-los ao caso em análise, mas não indica que, caso discordasse da
afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
|
4
|
12. 14 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Identificação
da premissa e da regra de inferência usada:
‒ (premissa) O
Manuel perde o último comboio do dia;
‒ (regra de
inferência) Modus ponens.
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
3
|
Identifica corretamente a premissa e
a regra de inferência usada.
|
14
|
2
|
Apenas identifica corretamente a
premissa do argumento.
|
9
|
1
|
Apenas identifica corretamente a
regra de inferência usada.
|
4
|
13. 14 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Formalização
das frases apresentadas:
I) ¬P
II)
P ˅ Q
III)
P → ¬Q
IV)
¬ (P ˄ Q)
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Formaliza corretamente as quatro
frases.
|
14
|
3
|
Formaliza corretamente apenas três
frases.
|
11
|
2
|
Formaliza corretamente apenas duas
frases.
|
7
|
1
|
Formaliza corretamente apenas uma
frase.
|
4
|
14. 15 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Indicação
do solicitado:
‒
não, o utilitarismo não é uma teoria
moral que consista apenas «num conjunto de regras para serem seguidas».
Justificação:
‒
para os utilitaristas, o facto de algo
ser moralmente certo ou errado é determinado pelas suas consequências OU o
simples facto de uma regra ser considerada correta (ou ser apresentada como
correta) não é uma justificação aceitável da sua moralidade / de que deva ser seguida;
‒
uma regra só adquire estatuto moral / só
deve ser seguida se o teste da experiência mostrar que, em geral, a sua
aplicação tem consequências boas;
‒
em circunstâncias excecionais, se for
previsível que a aplicação de uma regra não maximizará o bem, então essa regra
não deve ser seguida.
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Indica que o utilitarismo não
consiste apenas num
conjunto de regras
para serem seguidas. Justifica de modo completo e preciso.
|
15
|
3
|
Indica que o utilitarismo não
consiste apenas num
conjunto de regras
para serem seguidas. Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo
preciso, mas não completo.
|
12
|
2
|
Indica que o utilitarismo não
consiste apenas num
conjunto de regras
para serem seguidas. Justifica parcialmente e com imprecisões.
|
8
|
1
|
Indica que o utilitarismo não consiste apenas
num conjunto de regras para
serem seguidas. Não
justifica, ou apresenta conteúdos que, embora corretos, não constituem uma
justificação adequada.
OU
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, refere o princípio da utilidade), mas não indica
que o utilitarismo não consiste apenas
num conjunto de regras para serem seguidas.
|
4
|
15. 14 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Explicação
da noção de bem-estar defendida por Mill:
‒
o bem-estar é o mesmo que a felicidade;
‒
a felicidade consiste
no prazer e na ausência
de dor OU a felicidade consiste em experiências aprazíveis
(e de ausência de dor).
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
2
|
Explica de modo completo e preciso o
que Mill entende por bem-estar.
|
14
|
1
|
Explica de modo
completo, mas com imprecisões OU de modo
preciso, mas não completo,
o que Mill entende por bem-estar.
|
7
|
16. 14 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Apresentação de um argumento cético (usado pelos céticos
anteriores a Descartes ou seus contemporâneos, ou mobilizado ou avançado por
Descartes):
‒ os sentidos
enganam-nos muitas vezes;
‒
por essa razão, todas as nossas crenças
empíricas podem ser falsas. OU
‒
enganamo-nos muitas vezes ao raciocinar;
‒
por essa razão, todos os nossos
raciocínios podem ser errados / todas as nossas conclusões podem ser falsas.
OU
‒ acreditamos,
por vezes, que estendemos um braço;
‒ quando
sonhamos, por vezes, também acreditamos que estendemos um braço;
‒
não dispomos de um modo seguro de
distinguir as crenças que temos quando acordados das crenças que temos quando sonhamos;
‒ ora, quando
num sonho acreditamos que estendemos um braço, essa crença é falsa;
‒
logo, a crença de que, num certo
momento, estendemos um braço pode sempre ser falsa.
OU
‒
acreditamos que 2+2=4 ou que um quadrado tem quatro lados;
‒ estejamos
acordados ou a dormir, as crenças
referidas são verdadeiras;
‒
imaginemos, no entanto, que um génio maligno extremamente poderoso e astuto tem o poder de causar
ilusões na nossa faculdade de raciocínio;
‒ assim, mesmo as proposições de que 2+2=4 ou de que um quadrado tem quatro lados podem ser falsas;
‒
logo, podemos
acreditar em proposições que nos parecem
inteiramente evidentes e essas proposições serem falsas.
OU
‒
para serem justificadas, as nossas crenças
apoiam-se noutras crenças,
e assim sucessivamente, o que nos
conduz a uma regressão infinita;
‒ nesse caso,
nenhuma crença está justificada.
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Apresenta de modo completo e preciso
um argumento cético.
|
14
|
3
|
Apresenta de modo completo, mas com imprecisões OU de
modo preciso, mas não completo, um argumento cético.
|
11
|
2
|
Apresenta parcialmente e com
imprecisões um argumento cético.
|
7
|
1
|
Apresenta corretamente conteúdos relevantes (por exemplo,
refere o método da dúvida usado por Descartes), mas sem apresentar
explicitamente um argumento cético.
|
4
|
17. 15 pontos
A resposta integra os aspetos
seguintes ou outros igualmente
relevantes.
Apresentação inequívoca da posição defendida .
Justificação da posição defendida:
No caso de o aluno considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um fundamento sólido do conhecimento:
‒
se se duvida, e duvidar é uma forma de
pensamento, então não se pode, consistentemente, negar que se existe;
‒ o cogito resiste a todos os argumentos
céticos (designadamente, ao argumento do génio
maligno);
‒
sendo o cogito uma
certeza inabalável, pode servir de fundamento ao conhecimento.
No
caso de o aluno considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes
não é um fundamento sólido do conhecimento:
‒
do facto de haver pensamentos que expressam dúvidas
não se segue a existência de um ser pensante
que é a sede desses pensamentos;
‒ Descartes apenas
poderia ter concluído que «se há estados de dúvida, há pensamentos», e nada mais;
‒ nada garante a
existência de um eu que duvida ou pensa.
OU
‒
embora o cogito, em si mesmo, possa ser considerado uma certeza inabalável,
não é um fundamento sólido, pois não serve de base a nenhuma outra crença;
‒
caso alcançássemos o cogito após o método da dúvida sugerido
por Descartes, teríamos
de confiar nas nossas
faculdades de raciocínio para progredir além do cogito;
‒
ora, o método da dúvida que nos levou ao
cogito (particularmente, a hipótese
do génio maligno ou do Deus enganador
que se comprazesse em enganar-nos) pôs em causa as nossas faculdades.
Nota ‒ Os aspetos constantes dos cenários de
resposta apresentados são apenas ilustrativos, não esgotando o espectro de
respostas adequadas possíveis.
Níveis
|
Descritores de desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Apresenta inequivocamente a posição
defendida.
Justifica, de modo completo e
preciso, a posição defendida.
|
15
|
3
|
Apresenta inequivocamente a posição
defendida.
Justifica de modo
completo, mas com imprecisões OU de modo
preciso, mas não completo,
a posição defendida.
|
12
|
2
|
Apresenta a posição defendida.
Justifica parcialmente e com
imprecisões a posição defendida.
|
8
|
1
|
Não apresenta a posição defendida.
Apresenta corretamente conteúdos relevantes
para a justificação de uma posição. OU
Apresenta a posição defendida.
Apresenta corretamente conteúdos relevantes
para a justificação de uma posição, mas a posição defendida e a justificação
não são claramente consistentes.
|
4
|
18. 14 pontos
A resposta
integra os aspetos seguintes ou outros
igualmente relevantes.
Clarificação do problema:
–
o problema consiste em saber se há
provas que justifiquem acreditar que Deus existe (OU que Deus não existe);
–
de acordo com o conceito teísta de Deus,
os atributos de Deus são, entre outros, a suma bondade, a omnipotência e a omnisciência;
–
ora, algum do nosso conhecimento do
mundo parece não ser consistente com a crença na existência de um tal Deus (por
exemplo, a existência do mal, seja natural ou moral, parece ser inconsistente
com a ideia de um mundo governado por um Deus sumamente bom, omnipotente e
omnisciente / a convicção de que o universo é governado por leis físicas parece
ser incompatível com a crença num Deus omnipotente).
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o aluno considerar que há boas razões para
acreditar que Deus existe:
- supondo
que uma ordem de causas (eficientes), na qual todos os acontecimentos têm uma
causa, regride infinitamente, não haveria uma primeira causa;
- ora, se não houvesse
uma primeira causa,
também não haveria
causas subsequentes, mas tais causas existem;
- terá de haver uma primeira causa,
a que chamamos Deus, que seja a origem de todas as causas e não
seja causada por nenhuma outra coisa;
OU
- tudo na Natureza tem
um propósito, incluindo coisas como, por exemplo, a Lua, mas essas coisas não
podem mover-se de acordo com um propósito, a menos que sejam dirigidas por
alguém com conhecimento e inteligência;
- do
mesmo modo que uma seta não se move para o seu alvo sem um arqueiro que a
dirija, também as coisas naturais sem inteligência não se movem para os seus fins sem um ser inteligente que as dirija;
- terá
de haver um ser inteligente que dirija todas as coisas sem inteligência para os
seus fins, e a esse ser chamamos Deus;
OU
- Deus é, por definição, o maior ser pensável e, se compreendermos a natureza de Deus, reconheceremos que Deus terá de existir;
- ora, o que existe
no pensamento e na realidade é de uma grandeza maior do que o que existe apenas no
pensamento;
-
Deus, o maior ser pensável, terá de existir não apenas no
pensamento, mas também na realidade;
OU
- não
temos provas de que Deus existe, mas admitindo que é tão provável que exista
como que não exista, ainda assim é racional apostar que Deus existe, tendo em
conta as previsíveis consequências práticas da nossa aposta;
- se
apostarmos que Deus existe e Deus existir, obteremos
a felicidade eterna e, além disso, teremos uma vida terrena com prazeres mais
elevados do que uma vida de prazeres banais; se apostarmos que Deus existe e
Deus não existir, nada ganharemos e
nada perderemos; se apostarmos que Deus não existe e Deus não existir, nada perderemos; e se apostarmos
que Deus não existe e Deus existir, perderemos
tudo e sofreremos uma punição eterna;
- logo,
é racional e prudente que cada indivíduo faça a aposta de que Deus existe, que
é aquela que oferece uma compensação maior.
No
caso de o aluno considerar que não há boas razões para acreditar que Deus
existe:
- é
uma evidência que o mal existe no mundo, seja aquele que resulta de ações
humanas, seja aquele que tem como causa acontecimentos naturais que os seres
humanos não controlam;
- um
Deus sumamente bom quereria prevenir a existência do mal, um Deus omnisciente
conheceria a diferença entre o bem e o mal e saberia
como impedir que o mal ocorresse, e um Deus todo-poderoso,
querendo e sabendo como impedir a existência do mal, poderia impedi-la;
- a
existência de mal no mundo é incompatível com a existência de Deus e, além de
nos levar a afirmar que não temos boas razões para acreditar que Deus existe,
permite ainda sustentar que Deus não existe;
OU
- o
argumento cosmológico não nos dá boas razões para acreditar que Deus existe,
pois não é seguro que uma entidade que existe fora da natureza seja o Deus
pessoal com as propriedades de suma bondade, omnipotência e omnisciência;
- por
outro lado, ainda que qualquer acontecimento natural remonte a um acontecimento
que ocorre fora da natureza, daí não se segue que existe apenas um
acontecimento fora do mundo natural a que remonte cada acontecimento natural;
- além
disso, do facto de nenhum acontecimento natural poder ocorrer sem ser causado
não se segue que tenha de haver um primeiro acontecimento natural – as cadeias
causais podem estender-se infinitamente;
OU
- o
argumento teleológico, ou do desígnio inteligente, não nos dá boas razões para
acreditar que Deus existe, pois as premissas de que se parte são duvidosas;
- quando
observamos o mundo, verificamos que poderia estar ordenado de forma mais
inteligente (por exemplo, com menos doenças ou menos catástrofes naturais);
- a teoria
da evolução por seleção natural
mostra que os processos evolutivos não são orientados por uma inteligência ou mente, e a hipótese
da seleção natural
torna provável que os organismos se adaptem;
OU
- o argumento ontológico não nos dá boas razões para acreditar que Deus existe,
pois podemos conceber uma ilha maior do que a qual nenhuma
outra existe – uma ilha perfeita –, mas a existência de uma ilha perfeita não pode ser estabelecida por um argumento a priori construído a partir da análise do conceito
de ilha perfeita – a existência de uma ilha perfeita não pode ser descoberta apenas pelo uso da razão;
- também
poderíamos incluir na definição de um conceito a propriedade da existência –
por exemplo, poderíamos definir um E-unicórnio como um unicórnio existente –,
mas isso não implicaria que o conceito fosse
exemplificado;
- a
proposição de que Deus existe é uma proposição acerca do conceito de Deus, pela
qual se afirma que o conceito de Deus é exemplificado, e não uma proposição
acerca de Deus, na qual se afirmasse que a existência é uma das suas propriedades.
OU
- apenas
os argumentos baseados em evidências podem persuadir-nos de que Deus existe, e
nesse caso, não sendo o argumento do apostador baseado em evidências, mas em
considerações práticas, não temos a convicção de que existe algo de real por
detrás da aposta;
- é
errado excluir a priori conceitos de
Deus igualmente admissíveis e pressupor unicamente um Deus que recompensa os
crentes com a felicidade eterna ou que castiga eternamente os descrentes;
- é
possível que Deus recompense as pessoas que são boas, sejam ou não crentes, ou
que castigue aquelas que, apenas
por interesse próprio
(por exemplo, aquelas
que são persuadidas pelo argumento do apostador), procurem ganhar
os seus favores.
Nota ‒ Os
aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas
ilustrativos, não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis,
designadamente, respostas nas quais se consideram conceções não teístas de
Deus.
A classificação final da resposta
resulta da soma das pontuações atribuídas a cada um dos seguintes parâmetros.
A – Problematização............................................................................................................................................. 3 pontos
B – Argumentação a favor de uma posição pessoal.............................................................................................. 6 pontos
C – Adequação conceptual e teórica..................................................................................................................... 3 pontos
D – Comunicação.................................................................................................................................................. 2 pontos
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Parâmetros
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Níveis
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Descritores
de desempenho
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Pontuação
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A
Problematização
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2
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Clarifica adequadamente o problema filosófico inerente à
questão apresentada.
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3
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1
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Clarifica
com imprecisões, ou de modo implícito, o problema filosófico inerente à
questão apresentada.
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2
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B
Argumentação
a favor de uma posição pessoal
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3
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Apresenta
inequivocamente a perspetiva defendida.
Evidencia um
bom domínio das competências argumentativas:
· articula
adequadamente os argumentos ou as razões ou os exemplos apresentados;
· apresenta,
com clareza e correção, argumentos persuasivos, razões ponderosas ou exemplos
adequados e plausíveis a favor da perspetiva defendida ou contra perspetivas
rivais da defendida.
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6
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2
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Apresenta
inequivocamente a perspetiva defendida.
Evidencia um
domínio satisfatório das competências argumentativas:
· elenca os
argumentos, as razões ou os exemplos;
· apresenta,
com imprecisões, argumentos persuasivos, razões ponderosas ou exemplos
adequados e plausíveis a favor da perspetiva defendida ou contra perspetivas
rivais da defendida.
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4
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1
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Apresenta a perspetiva defendida, ainda que
de modo implícito. Evidencia uma intenção argumentativa, mas os argumentos ou
as razões apresentadas a favor da perspetiva defendida, ou contra perspetivas
rivais da defendida, são fracos ou claramente falaciosos, ou os exemplos
selecionados são inadequados.
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2
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C
Adequação conceptual e teórica
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2
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Aplica corretamente conceitos relevantes para a discussão
do problema. Mobiliza (uma) perspetiva(s) teórica(s) adequada(s) à discussão
do problema, mostrando compreensão dessa(s) perspetiva(s).
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3
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1
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Aplica com imprecisões conceitos relevantes para a
discussão do problema. Mobiliza com imprecisões
(uma) perspetiva(s) teórica(s) adequada(s) à discussão do problema, mostrando uma compreensão parcial
dos aspetos centrais
dessa(s) perspetiva(s).
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2
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D
Comunicação
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2
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Apresenta um discurso estruturado e
fluente.
Escreve com sintaxe, ortografia e
pontuação globalmente corretas.
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2
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1
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Apresenta um
discurso fluente, embora com falhas
pontuais na estruturação. Escreve com sintaxe,
ortografia e pontuação globalmente
corretas, podendo apresentar falhas pontuais.
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1
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Lola
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