quarta-feira, 8 de julho de 2020

Exame Filosofia 2020





Exame Filosofia 2020

1ª Fase - Versão 1

A prova inclui 4 itens, devidamente identificados no enunciado, cujas respostas contribuem obrigatoriamente para a classificação final (itens 1., 11., 14. e 17.). Dos restantes 14 itens da prova, apenas contribuem para a classificação final os 10 itens cujas respostas obtenham melhor pontuação.

Para cada resposta, identifique o item.

1.  A Luísa viajou muito e notou diferenças significativas, por exemplo, no estatuto das mulheres em diferentes sociedades. Alguns hábitos, como o de as mulheres apenas poderem passear acompanhadas, chocaram a Luísa; contudo, pareceu-lhe que muitas dessas mulheres aceitavam tais hábitos sem reservas. Esta observação foi a razão para a Luísa concluir que aquilo que é certo ou errado depende de cada cultura.
Perante o relato da Luísa, a Paula recordou que o estatuto das mulheres tinha mudado muito em Portugal, nas últimas décadas, e afirmou que isso representava um progresso, pois a sociedade portuguesa abandonara leis e hábitos errados.

É razoável presumir que

(A)   a Luísa é relativista e a Paula é objetivista.
(B)   ambas são subjetivistas.
(C)   ambas são relativistas.
(D)   a Luísa é objetivista e a Paula é subjetivista.

2.   Identifique a questão que envolve o problema da natureza dos juízos morais.

(A)   Será que só os princípios morais importam?
(B)   O juízo de que é correto acolher refugiados exprime uma preferência pessoal?
(C)   Será a escravatura moralmente permissível?
(D)   O juízo de que uma certa pessoa é corajosa é um juízo de valor acerca dessa pessoa?


3.   Se dissermos que, numa determinada circunstância, poderíamos não ter realizado a ação que realizámos, estamos implicitamente a admitir que

(A)   o determinismo moderado é implausível.
(B)   o determinismo radical é falso.
(C)   o libertismo é falso.
(D)   o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo.


4.   Suponha que os valores apresentados nas situações A e B indicam o acesso aos bens primários dos indivíduos 1 e 2.


Indivíduo 1
Indivíduo 2
Situação A
4
4
Situação B
5
6


De acordo com Rawls,

(A)   a situação A é preferível, porque nenhum dos indivíduos é desfavorecido.
(B)   a situação B é preferível, porque o total de acesso a bens e de felicidade dos dois indivíduos é maior.
(C)   a situação A é preferível, porque os dois indivíduos têm oportunidades iguais.
(D)   a situação B é preferível, porque o acesso aos bens primários do indivíduo menos favorecido é superior.


5.   A crítica de Nozick à teoria da justiça de Rawls põe em causa

(A)   o princípio da diferença.
(B)   o princípio da liberdade.
(C)   a existência de direitos de titularidade.
(D)   a existência de direitos invioláveis.


6.   Considere as afirmações seguintes.

1.           Tanto Hume como Descartes admitem haver conhecimento a priori e conhecimento a posteriori.
2.           Descartes defende que as ideias claras e distintas são certas.
3.          De acordo com Hume, nenhuma crença verdadeira pode ser justificada apenas pelo pensamento.


(A)   2 e 3 são verdadeiras; 1 é falsa.
(B)   3 é verdadeira; 1 e 2 são falsas.
(C)   1 e 2 são verdadeiras; 3 é falsa.
(D)   1 é verdadeira; 2 e 3 são falsas.


7.   Em filosofia da ciência, o problema da demarcação diz respeito

(A)   à relação entre o método dedutivo e o método indutivo.
(B)   à relação entre a ciência normal e a ciência extraordinária.
(C)   à distinção entre as ciências humanas e as ciências naturais.
(D)   à distinção entre o que é ciência e o que não é ciência.


8.   De acordo com Popper, para testar uma teoria científica é preciso

(A)   falsificá-la.
(B)   procurar falsificá-la.
(C)   procurar confirmá-la.
(D)   confirmá-la.


9.   O facto de, em muitas obras de arte, os artistas terem fingido sentir o que realmente não sentiram pode ser usado como uma objeção à definição

(A)   formalista da arte.
(B)   representacional da arte.
(C)   histórica da arte.
(D)   expressivista da arte.


10.   Apenas os defensores das teorias essencialistas da arte consideram que

(A)   há condições necessárias e suficientes para que um objeto seja arte.
(B)   a arte pode ser definida.
(C)   há propriedades intrínsecas dos objetos que os tornam obras de arte.
(D)   a arte é essencial à vida.


11. Atente na afirmação seguinte.

Todos os atos têm uma motivação egoísta.
Caso discordasse desta afirmação, teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta? Justifique.

12.   Considere o argumento seguinte.

Se o Manuel perder o último comboio do dia, então dorme em casa de amigos. Logo, o Manuel dorme em casa de amigos.
Utilizando uma das regras de inferência estudadas e, em conformidade com essa regra, introduzindo uma segunda premissa, o argumento anterior torna-se válido.
Escreva a premissa que torna o argumento válido e a regra de inferência usada.


13.   Utilize o dicionário seguinte para formalizar as quatro frases apresentadas. 
Dicionário
P: Stuart Mill é liberal.
Q: Stuart Mill é socialista.

I)     Stuart Mill não é liberal.
II)    Stuart Mill é liberal ou socialista.
III)   Se Stuart Mill é liberal, então não é socialista.
IV)  É falso que Stuart Mill seja liberal e socialista.



Leia o Texto 1 e considere-o nas suas respostas aos itens 14 e 15
Texto 1
Todos tivemos de lidar com pessoas que dizem que algo por exemplo, a homossexualidade […] – é moralmente errado, mas que são incapazes de apontar quaisquer consequências más que daí resultem. […] Certas teorias morais, mesmo quando são motivadas por uma preocupação com o bem-estar humano, parecem consistir num conjunto de regras para serem seguidas, sejam quais forem as consequências.
W. Kymlicka, Contemporary Political Philosophy – an introduction, Oxford, Oxford University Press, 2002, p. 11.


14. Será que o utilitarismo é uma das teorias morais que consistem apenas «num conjunto de regras para serem seguidas»?
Justifique.

15.              No Texto 1, refere-se que teorias morais «motivadas por uma preocupação com o bem-estar humano». Explique o que entende Mill por bem-estar.

Leia o Texto 2 e considere-o nas suas respostas aos itens 16 e 17
Texto 2
E notando que esta verdade «eu penso, logo existo» era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.
R. Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2000, p. 74.

16.              No Texto 2, Descartes refere as «extravagantes suposições dos céticos».
Apresente um argumento cético que possa justificar tais suposições.

17. Em sua opinião, o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um fundamento sólido do conhecimento?
Justifique.

18.   Haverá boas razões para acreditar que Deus existe?
Na sua resposta, deve:
-    clarificar o problema filosófico inerente à questão formulada;
-    apresentar inequivocamente a sua posição;
-    argumentar a favor da sua posição.

COTAÇÕES


As pontuações obtidas nas respostas a estes
4 itens da prova contribuem obrigatoriamente para
a classificação final.


1.


11.


14.


17.


Subtotal
Cotação (em pontos)
15
15
15
15
60
Destes 14 itens, contribuem
para a classificação final
da prova os 10 itens cujas respostas obtenham melhor pontuação.


2.


3.


4.


5.


6.


7.


8.


9.


10.


12.


13.


15.


16.


18.


Subtotal
Cotação (em pontos)
10 x 14 pontos
140
TOTAL
200

FIM

CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE 

CLASSIFICAÇÃO





Item

Versão 1

Versão 2

Pontuação
1.
(A)
(B)
15
2.
(B)
(B)
14
3.
(B)
(D)
14
4.
(D)
(C)
14
5.
(A)
(A)
14
6.
(C)
(A)
14
7.
(D)
(B)
14
8.
(B)
(C)
14
9.
(D)
(A)
14
10.
(C)
(D)
14


11. 
15 pontos


A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.

Indicação solicitada:
   não, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justificação:
   quem considera que é falsa a proposição de que todos os atos têm uma motivação egoísta apenas tem de mostrar que, pelo menos, um ato não tem (OU alguns atos não têm) uma motivação egoísta;
   o objeto da discórdia não é a existência de atos com uma motivação egoísta, mas a ideia de que todos os atos tenham uma motivação egoísta.
OU
   a falsidade da proposição «Todos os atos têm uma motivação egoísta» não implica a verdade da proposição «Nenhum ato tem uma motivação egoísta», pois ambas podem ser falsas;
   para mostrar que é falso que todos os atos têm uma motivação egoísta, bastaria apresentar um exemplo de um ato que não tivesse uma motivação egoísta, pois, caso seja verdade que «Alguns atos têm uma motivação egoísta», então é falso que «Todos os atos têm uma motivação egoísta».


Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação

4
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justifica de modo completo e preciso.

15

3
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo.

12

2
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Justifica parcialmente e com imprecisões.

8




1
Indica corretamente que, caso discordasse da afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.
Não justifica a resposta, ou apresenta conteúdos que, embora corretos, não constituem uma justificação da resposta.
OU
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, apresenta as relações entre os valores de verdade de proposições A e E, ou A e O, ou A e I), procurando aplicá-los ao caso em análise, mas não indica que, caso discordasse da afirmação, não teria de mostrar que nenhum ato tem uma motivação egoísta.




4


12.  
14 pontos


A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Identificação da premissa e da regra de inferência usada:
   (premissa) O Manuel perde o último comboio do dia;
   (regra de inferência) Modus ponens.


Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação
3
Identifica corretamente a premissa e a regra de inferência usada.
14
2
Apenas identifica corretamente a premissa do argumento.
9
1
Apenas identifica corretamente a regra de inferência usada.
4


13.   14 pontos


A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Formalização das frases apresentadas:
I)      ¬P
II)     P ˅ Q
III)    P → ¬Q
IV)   ¬ (P ˄ Q)



Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação
4
Formaliza corretamente as quatro frases.
14
3
Formaliza corretamente apenas três frases.
11
2
Formaliza corretamente apenas duas frases.
7
1
Formaliza corretamente apenas uma frase.
4
.

14.  15 pontos

A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Indicação do solicitado:
    não, o utilitarismo não é uma teoria moral que consista apenas «num conjunto de regras para serem seguidas».
Justificação:
   para os utilitaristas, o facto de algo ser moralmente certo ou errado é determinado pelas suas consequências OU o simples facto de uma regra ser considerada correta (ou ser apresentada como correta) não é uma justificação aceitável da sua moralidade / de que deva ser seguida;
   uma regra só adquire estatuto moral / só deve ser seguida se o teste da experiência mostrar que, em geral, a sua aplicação tem consequências boas;
   em circunstâncias excecionais, se for previsível que a aplicação de uma regra não maximizará o bem, então essa regra não deve ser seguida.


Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação

4
Indica que o utilitarismo não consiste apenas num conjunto de regras para serem seguidas. Justifica de modo completo e preciso.

15

3
Indica que o utilitarismo não consiste apenas num conjunto de regras para serem seguidas. Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo.

12

2
Indica que o utilitarismo não consiste apenas num conjunto de regras para serem seguidas. Justifica parcialmente e com imprecisões.

8



1
Indica que o utilitarismo não consiste apenas num conjunto de regras para serem seguidas. Não justifica, ou apresenta conteúdos que, embora corretos, não constituem uma justificação adequada.
OU
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, refere o princípio da utilidade), mas não indica que o utilitarismo não consiste apenas num conjunto de regras para serem seguidas.



4


15.  14 pontos


A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Explicação da noção de bem-estar defendida por Mill:
   o bem-estar é o mesmo que a felicidade;
   a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor OU a felicidade consiste em experiências aprazíveis (e de ausência de dor).



Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação
2
Explica de modo completo e preciso o que Mill entende por bem-estar.
14

1
Explica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, o que Mill entende por bem-estar.

7


16.  
14 pontos

A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de um argumento cético (usado pelos céticos anteriores a Descartes ou seus contemporâneos, ou mobilizado ou avançado por Descartes):
   os sentidos enganam-nos muitas vezes;
   por essa razão, todas as nossas crenças empíricas podem ser falsas. OU
   enganamo-nos muitas vezes ao raciocinar;
   por essa razão, todos os nossos raciocínios podem ser errados / todas as nossas conclusões podem ser falsas.
OU
   acreditamos, por vezes, que estendemos um braço;
   quando sonhamos, por vezes, também acreditamos que estendemos um braço;
   não dispomos de um modo seguro de distinguir as crenças que temos quando acordados das crenças que temos quando sonhamos;
   ora, quando num sonho acreditamos que estendemos um braço, essa crença é falsa;
   logo, a crença de que, num certo momento, estendemos um braço pode sempre ser falsa. OU
   acreditamos que 2+2=4 ou que um quadrado tem quatro lados;
   estejamos acordados ou a dormir, as crenças referidas são verdadeiras;
   imaginemos, no entanto, que um génio maligno extremamente poderoso e astuto tem o poder de causar ilusões na nossa faculdade de raciocínio;
   assim, mesmo as proposições de que 2+2=4 ou de que um quadrado tem quatro lados podem ser falsas;
   logo, podemos acreditar em proposições que nos parecem inteiramente evidentes e essas proposições serem falsas.
OU
   para serem justificadas, as nossas crenças apoiam-se noutras crenças, e assim sucessivamente, o que nos conduz a uma regressão infinita;
   nesse caso, nenhuma crença está justificada.


Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação
4
Apresenta de modo completo e preciso um argumento cético.
14

3
Apresenta de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, um argumento cético.

11
2
Apresenta parcialmente e com imprecisões um argumento cético.
7

1
Apresenta corretamente conteúdos relevantes (por exemplo, refere o método da dúvida usado por Descartes), mas sem apresentar explicitamente um argumento cético.

4

17.  15 pontos

A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação inequívoca da posição defendida . Justificação da posição defendida:

No caso de o aluno considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um fundamento sólido do conhecimento:

   se se duvida, e duvidar é uma forma de pensamento, então não se pode, consistentemente, negar que se existe;
   o cogito resiste a todos os argumentos céticos (designadamente, ao argumento do génio maligno);
   sendo o cogito uma certeza inabalável, pode servir de fundamento ao conhecimento.

No caso de o aluno considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes não é um fundamento sólido do conhecimento:

   do facto de haver pensamentos que expressam dúvidas não se segue a existência de um ser pensante que é a sede desses pensamentos;
   Descartes apenas poderia ter concluído que «se estados de dúvida, pensamentos», e nada mais;
   nada garante a existência de um eu que duvida ou pensa.

OU

   embora o cogito, em si mesmo, possa ser considerado uma certeza inabalável, não é um fundamento sólido, pois não serve de base a nenhuma outra crença;
   caso alcançássemos o cogito após o método da dúvida sugerido por Descartes, teríamos de confiar nas nossas faculdades de raciocínio para progredir além do cogito;
   ora, o método da dúvida que nos levou ao cogito (particularmente, a hipótese do génio maligno ou do Deus enganador que se comprazesse em enganar-nos) pôs em causa as nossas faculdades.
Nota ‒ Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.


Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação

4
Apresenta inequivocamente a posição defendida.
Justifica, de modo completo e preciso, a posição defendida.

15

3
Apresenta inequivocamente a posição defendida.
Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, a posição defendida.

12

2
Apresenta a posição defendida.
Justifica parcialmente e com imprecisões a posição defendida.

8



1
Não apresenta a posição defendida.
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação de uma posição. OU
Apresenta a posição defendida.
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação de uma posição, mas a posição defendida e a justificação não são claramente consistentes.



4


18.   14 pontos

A resposta integra os aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do problema:
   o problema consiste em saber se há provas que justifiquem acreditar que Deus existe (OU que Deus não existe);
   de acordo com o conceito teísta de Deus, os atributos de Deus são, entre outros, a suma bondade, a omnipotência e a omnisciência;
   ora, algum do nosso conhecimento do mundo parece não ser consistente com a crença na existência de um tal Deus (por exemplo, a existência do mal, seja natural ou moral, parece ser inconsistente com a ideia de um mundo governado por um Deus sumamente bom, omnipotente e omnisciente / a convicção de que o universo é governado por leis físicas parece ser incompatível com a crença num Deus omnipotente).
Apresentação inequívoca da posição defendida. Justificação da posição defendida:

No caso de o aluno considerar que há boas razões para acreditar que Deus existe:

-    supondo que uma ordem de causas (eficientes), na qual todos os acontecimentos têm uma causa, regride infinitamente, não haveria uma primeira causa;
-    ora, se não houvesse uma primeira causa, também não haveria causas subsequentes, mas tais causas existem;
-    terá de haver uma primeira causa, a que chamamos Deus, que seja a origem de todas as causas e não seja causada por nenhuma outra coisa;

OU

-    tudo na Natureza tem um propósito, incluindo coisas como, por exemplo, a Lua, mas essas coisas não podem mover-se de acordo com um propósito, a menos que sejam dirigidas por alguém com conhecimento e inteligência;
-    do mesmo modo que uma seta não se move para o seu alvo sem um arqueiro que a dirija, também as coisas naturais sem inteligência não se movem para os seus fins sem um ser inteligente que as dirija;
-    terá de haver um ser inteligente que dirija todas as coisas sem inteligência para os seus fins, e a esse ser chamamos Deus;

OU

-    Deus é, por definição, o maior ser pensável e, se compreendermos a natureza de Deus, reconheceremos que Deus terá de existir;
-    ora, o que existe no pensamento e na realidade é de uma grandeza maior do que o que existe apenas no pensamento;
-    Deus, o maior ser pensável, terá de existir não apenas no pensamento, mas também na realidade;

OU

-    não temos provas de que Deus existe, mas admitindo que é tão provável que exista como que não exista, ainda assim é racional apostar que Deus existe, tendo em conta as previsíveis consequências práticas da nossa aposta;
-    se apostarmos que Deus existe e Deus existir, obteremos a felicidade eterna e, além disso, teremos uma vida terrena com prazeres mais elevados do que uma vida de prazeres banais; se apostarmos que Deus existe e Deus não existir, nada ganharemos e nada perderemos; se apostarmos que Deus não existe e Deus não existir, nada perderemos; e se apostarmos que Deus não existe e Deus existir, perderemos tudo e sofreremos uma punição eterna;
-    logo, é racional e prudente que cada indivíduo faça a aposta de que Deus existe, que é aquela que oferece uma compensação maior.


No caso de o aluno considerar que não há boas razões para acreditar que Deus existe:

-    é uma evidência que o mal existe no mundo, seja aquele que resulta de ações humanas, seja aquele que tem como causa acontecimentos naturais que os seres humanos não controlam;
-    um Deus sumamente bom quereria prevenir a existência do mal, um Deus omnisciente conheceria a diferença entre o bem e o mal e saberia como impedir que o mal ocorresse, e um Deus todo-poderoso, querendo e sabendo como impedir a existência do mal, poderia impedi-la;
-    a existência de mal no mundo é incompatível com a existência de Deus e, além de nos levar a afirmar que não temos boas razões para acreditar que Deus existe, permite ainda sustentar que Deus não existe;

OU

-    o argumento cosmológico não nos dá boas razões para acreditar que Deus existe, pois não é seguro que uma entidade que existe fora da natureza seja o Deus pessoal com as propriedades de suma bondade, omnipotência e omnisciência;
-    por outro lado, ainda que qualquer acontecimento natural remonte a um acontecimento que ocorre fora da natureza, daí não se segue que existe apenas um acontecimento fora do mundo natural a que remonte cada acontecimento natural;
-    além disso, do facto de nenhum acontecimento natural poder ocorrer sem ser causado não se segue que tenha de haver um primeiro acontecimento natural – as cadeias causais podem estender-se infinitamente;

OU

-    o argumento teleológico, ou do desígnio inteligente, não nos dá boas razões para acreditar que Deus existe, pois as premissas de que se parte são duvidosas;
-    quando observamos o mundo, verificamos que poderia estar ordenado de forma mais inteligente (por exemplo, com menos doenças ou menos catástrofes naturais);
-    a teoria da evolução por seleção natural mostra que os processos evolutivos não são orientados por uma inteligência ou mente, e a hipótese da seleção natural torna provável que os organismos se adaptem;

OU

-    o argumento ontológico não nos boas razões para acreditar que Deus existe, pois podemos conceber uma ilha maior do que a qual nenhuma outra existe uma ilha perfeita –, mas a existência de uma ilha perfeita não pode ser estabelecida por um argumento a priori construído a partir da análise do conceito de ilha perfeita a existência de uma ilha perfeita não pode ser descoberta apenas pelo uso da razão;
-    também poderíamos incluir na definição de um conceito a propriedade da existência – por exemplo, poderíamos definir um E-unicórnio como um unicórnio existente –, mas isso não implicaria que o conceito fosse exemplificado;
-    a proposição de que Deus existe é uma proposição acerca do conceito de Deus, pela qual se afirma que o conceito de Deus é exemplificado, e não uma proposição acerca de Deus, na qual se afirmasse que a existência é uma das suas propriedades.

OU

-    apenas os argumentos baseados em evidências podem persuadir-nos de que Deus existe, e nesse caso, não sendo o argumento do apostador baseado em evidências, mas em considerações práticas, não temos a convicção de que existe algo de real por detrás da aposta;
-    é errado excluir a priori conceitos de Deus igualmente admissíveis e pressupor unicamente um Deus que recompensa os crentes com a felicidade eterna ou que castiga eternamente os descrentes;
-    é possível que Deus recompense as pessoas que são boas, sejam ou não crentes, ou que castigue aquelas que, apenas por interesse próprio (por exemplo, aquelas que são persuadidas pelo argumento do apostador), procurem ganhar os seus favores.
Nota ‒ Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis, designadamente, respostas nas quais se consideram conceções não teístas de Deus.






A classificação final da resposta resulta da soma das pontuações atribuídas a cada um dos seguintes parâmetros.

A Problematização............................................................................................................................................. 3 pontos
B Argumentação a favor de uma posição pessoal.............................................................................................. 6 pontos
C – Adequação conceptual e teórica..................................................................................................................... 3 pontos
D Comunicação.................................................................................................................................................. 2 pontos

Parâmetros

Níveis

Descritores de desempenho

Pontuação

A
Problematização
2
Clarifica adequadamente o problema filosófico inerente à questão apresentada.
3
1
Clarifica com imprecisões, ou de modo implícito, o problema filosófico inerente à questão apresentada.
2








B
Argumentação a favor de uma posição pessoal



3
Apresenta inequivocamente a perspetiva defendida.
Evidencia um bom domínio das competências argumentativas:
·   articula adequadamente os argumentos ou as razões ou os exemplos apresentados;
·   apresenta, com clareza e correção, argumentos persuasivos, razões ponderosas ou exemplos adequados e plausíveis a favor da perspetiva defendida ou contra perspetivas rivais da defendida.



6



2
Apresenta inequivocamente a perspetiva defendida.
Evidencia um domínio satisfatório das competências argumentativas:
·    elenca os argumentos, as razões ou os exemplos;
· apresenta, com imprecisões, argumentos persuasivos, razões ponderosas ou exemplos adequados e plausíveis a favor da perspetiva defendida ou contra perspetivas rivais da defendida.



4


1
Apresenta a perspetiva defendida, ainda que de modo implícito. Evidencia uma intenção argumentativa, mas os argumentos ou as razões apresentadas a favor da perspetiva defendida, ou contra perspetivas rivais da defendida, são fracos ou claramente falaciosos, ou os exemplos selecionados são inadequados.


2


C
Adequação conceptual e teórica

2
Aplica corretamente conceitos relevantes para a discussão do problema. Mobiliza (uma) perspetiva(s) teórica(s) adequada(s) à discussão do problema, mostrando compreensão dessa(s) perspetiva(s).

3

1
Aplica com imprecisões conceitos relevantes para a discussão do problema. Mobiliza com imprecisões (uma) perspetiva(s) teórica(s) adequada(s) à discussão do problema, mostrando uma compreensão parcial dos aspetos centrais dessa(s) perspetiva(s).


2


D
Comunicação
2
Apresenta um discurso estruturado e fluente.
Escreve com sintaxe, ortografia e pontuação globalmente corretas.
2

1
Apresenta um discurso fluente, embora com falhas pontuais na estruturação. Escreve com sintaxe, ortografia e pontuação globalmente corretas, podendo apresentar falhas pontuais.

1




                                                Lola

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...