Voando sobre um ninho de cucos, 1975 |
Exame Filosofia 2020
2ª Fase - Versão 1
A prova inclui 4 itens, devidamente identificados no
enunciado, cujas respostas contribuem obrigatoriamente para a classificação
final (itens 1., 11., 13. e 17.). Dos restantes 14 itens da prova, apenas
contribuem para a classificação final os 10 itens cujas respostas obtenham
melhor pontuação.
Para
cada resposta, identifique o item.
1. Leia o seguinte
discurso argumentativo.
Tendo em conta as questões ambientais, será razoável adiar o investimento
comboios de alta
velocidade? As viagens de comboio elétrico têm uma menor
pegada carbónica do
que as viagens de avião. Mas as viagens de comboio só atraem
passageiros se forem muito
rápidas. Ora, a rapidez destas viagens consegue-s
com
estações ferroviárias centrais e comboios de alta velocidade.
Selecione a opção
que apresenta a principal tese defendida por quem profere o discurso
anterior.
(A) As viagens de comboio têm a menor pegada carbónica.
(B) É preciso que as estações de comboio fiquem no centro das cidades.
(C) O investimento em comboios de alta velocidade não deve ser adiado.
(D) Os passageiros preferem as viagens de comboio elétrico.
|
2. Atente
na afirmação seguinte.
Aristóteles viveu e trabalhou em Atenas,
apesar de ter nascido em Estagira.
Para formalizar a
proposição expressa pela afirmação anterior, o dicionário correto é
(A) P: Aristóteles viveu em Atenas; Q: Aristóteles trabalhou em Atenas; R: Aristóteles nasceu em Estagira.
(B P: Aristóteles viveu em Atenas; Q: Aristóteles
trabalhou em Atenas; R: Ter nascido em Estagira.
(C) P: Aristóteles viveu e
trabalhou em Atenas; Q: Aristóteles
nasceu em Estagira.
(D) P: Aristóteles viveu em Atenas e trabalhou em Atenas; Q: Apesar de ter nascido em Estagira.
3. A negação de «Todas as religiões cristãs são
monoteístas» é
(A) «Há religiões
monoteístas que são cristãs.»
(B) «Nem todas as
religiões cristãs são monoteístas.»
(C) «Nenhuma religião
cristã é monoteísta.»
(D) «Só as religiões
monoteístas são cristãs.»
4. Identifique a afirmação que, caso fosse
a premissa de um argumento contra o serviço militar obrigatório, faria desse
argumento uma falácia ad hominem.
(A) Ou se apoia o recurso
à guerra ou se considera que o serviço militar não deve ser obrigatório.
(B) Defender o serviço
militar obrigatório é defender a obrigação de fazer parte de um exército.
(C) O serviço militar
obrigatório acabaria por conduzir a uma sociedade agressiva.
(D) Só as pessoas de
carácter violento é que defendem o serviço militar obrigatório.
5. Considere as afirmações seguintes.
1. Num triângulo retângulo, o quadrado da
hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos.
2. Pitágoras estudou as propriedades do
triângulo retângulo.
De acordo com Hume,
(A) 1 exprime uma relação de ideias; 2
exprime uma questão de facto.
(B) 1 exprime uma questão de facto; 2
exprime uma relação de ideias.
(C) 1 e 2 exprimem questões de facto.
(D) 1 e 2 exprimem relações de ideias.
6. De acordo com Hume, as nossas
expectativas acerca de regularidades futuras devem-se
(A) ao intelecto ou razão.
(B) ao hábito ou costume.
(C) à uniformidade da natureza.
(D) à ideia inata de causalidade.
7. Selecione a opção que diz respeito ao
problema da definição de arte.
(A) Uma instalação feita de lixo é uma obra de arte apenas por ser exposta numa galeria ou num museu?
(B) Será que a arte deve
ter compromissos morais e educativos?
(C) Será que sem a arte a nossa
vida se tornaria desinteressante?
(D) A intenção do criador ou do artista é relevante para compreender o significado de uma dada obra de arte?
8. Se um dado objeto não for considerado
uma obra de arte com o argumento de ser impessoal e não comover, a teoria da
arte implicitamente admitida como correta é a teoria
(A) formalista.
(B) expressivista.
(C) institucional.
(D) histórica.
9. Uma das premissas do argumento teleológico, ou do desígnio, a favor da existência de Deus é a de que
(A) o maior ser possível
tem de existir.
(B) todas as coisas têm
uma causa anterior.
(C) os organismos vivos
têm um propósito.
(D) sem Deus a nossa vida
não faria sentido.
10. Um facto frequentemente referido para pôr
em causa a existência de Deus é
(A) a existência de
agnósticos e ateus que têm preocupações morais.
(B) a diversidade de
religiões politeístas e em que há deuses cruéis.
(C) a descoberta de
problemas matemáticos que são tidos por insolúveis.
(D) a ocorrência de
tempestades devastadoras que matam pessoas.
Leia o Texto 1 e considere-o nas suas
respostas aos itens 11 e
12.
Texto 1
Temos a obrigação de ajudar
alguém que seja pobre; mas, como o favor que fazemos implica que o seu bem-estar
depende da nossa generosidade, e isso humilha a pessoa, é
nosso dever comportarmo-nos como se a nossa ajuda fosse […]
meramente o que lhe é devido […], permitindo-lhe manter o seu respeito por si
própria […], de modo a não diminuir o valor dessa pessoa enquanto ser humano […].
I. Kant, A
Metafísica dos Costumes, Lisboa, FCG, 2017, pp. 390-392. (Texto adaptado)
11. É possível inferir
do Texto 1 que há atos de caridade que podem ser moralmente censuráveis.
Concorda que há atos
de caridade que podem ser moralmente censuráveis? Justifique a sua
perspetiva.
|
12. No Texto 1, Kant
começa por afirmar que «temos a obrigação de ajudar alguém que seja pobre».
Essa afirmação exprime um juízo de valor? Justifique a sua resposta.
13. Considere o caso
seguinte.
Num país, metade das
pessoas tem um rendimento mensal de 6000 €, que lhes permite adquirir bens
que elas próprias consideram dispensáveis, e a outra metade tem um rendimento mensal de 600 €, que dificilmente chega para satisfazer as suas necessidades básicas. Foram
apresentadas duas propostas ao governo: na primeira, propõe-se
que o rendimento disponível seja redistribuído,
transferindo 200 € das pessoas que têm um rendimento mensal de 6000 € para as
que têm um rendimento mensal de 600 €; na segunda, propõe-se que não se faça
qualquer redistribuição.
Um utilitarista tenderia a apoiar a
primeira proposta. Porquê?
|
Leia o Texto 2 e
considere-o nas suas respostas aos itens 14 e 15.
Texto 2
As descobertas descrevem-se muitas vezes
como meros acrescentos […] ao conhecimento científico acumulado, e esta
descrição contribuiu para que a descoberta surgisse como uma medida
significativa de progresso. Todavia, sugiro que [tal descrição] só é totalmente
adequada para as descobertas que, como os elementos que preencheram lugares que
faltavam na tabela periódica, foram antecipadas e procuradas previamente […].
Em contrapartida, no caso [da descoberta] do oxigénio, os reajustamentos exigidos […] foram
tão profundos que desempenharam um papel integral e essencial […] na perturbação gigantesca da teoria e da prática químicas que, desde
então, passou a ser conhecida como a Revolução química.
T. S. Kuhn, A
Tensão Essencial, Lisboa, Edições 70, 1989, pp. 220-222. (Texto adaptado)
14. Kuhn distingue duas formas de fazer
ciência. De acordo com o Texto 2,
em qual dessas formas de fazer ciência se enquadram as descobertas que levaram ao preenchimento da tabela periódica? Justifique.
Na sua resposta,
integre adequadamente a informação do texto.
15. No Texto 2, a «Revolução química» é descrita como «perturbação
gigantesca da teoria e da prática químicas».
Mostre que a expressão
«perturbação gigantesca da teoria e da prática» é adequada à descrição das revoluções científicas, tal como Kuhn as concebe.
16. Considere a seguinte
afirmação condicional.
Se todas as nossas
ações forem determinadas, então não teremos livre-arbítrio.
Na sua opinião, a condicional anterior é verdadeira ou é falsa? Explicite a posição acerca do problema do livre-arbítrio que defende e que o leva a ter essa opinião.
17. Descartes afirma ter
começado por rejeitar todas as crenças que foi acumulando desde a infância.
Por que razão
procedeu de modo tão drástico?
|
18. Será que a redistribuição da riqueza põe
em causa a liberdade individual? Na sua resposta, deve:
- clarificar
o problema filosófico inerente à questão formulada;
- apresentar
inequivocamente a sua posição;
- argumentar
a favor da sua posição.
FIM
COTAÇÕES
As pontuações obtidas nas respostas a estes
4 itens da prova contribuem obrigatoriamente
para
a classificação final.
|
1.
|
11.
|
13.
|
17.
|
Sub
total
|
||||||||||
Cotação (em pontos)
|
15
|
15
|
15
|
15
|
60
|
||||||||||
Destes 14 itens, contribuem
para a classificação final
da prova os 10 itens cujas respostas obtenham melhor
pontuação.
|
2.
|
3.
|
4.
|
5.
|
6.
|
7.
|
8.
|
9.
|
10.
|
12.
|
14.
|
15.
|
16.
|
18.
|
Sub
total
|
Cotação (em pontos)
|
10 x 14 pontos
|
140
|
|||||||||||||
TOTAL
|
200
|
||||||||||||||
CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE
CLASSIFICAÇÃO
item
|
Versão 1
|
Versão 2
|
Pontuação
|
1.
|
(C)
|
(d)
|
15
|
2.
|
(a)
|
(B)
|
14
|
3.
|
(B)
|
(a)
|
14
|
4.
|
(d)
|
(B)
|
14
|
5.
|
(a)
|
(C)
|
14
|
6.
|
(B)
|
(C)
|
14
|
7.
|
(a)
|
(a)
|
14
|
8.
|
(B)
|
(d)
|
14
|
9
|
(C)
|
(d)
|
14
|
10.
|
(d)
|
(a)
|
14
|
11. 15 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação inequívoca
da posição defendida. Justificação da posição defendida:
No caso de o aluno
defender que há atos de caridade que podem ser moralmente censuráveis:
‒ em circunstâncias em que o bem-estar de uma pessoa dependa da generosidade
de outra e essa generosidade seja de algum modo exibida, o respeito que a
pessoa ajudada tem por si própria não é tido em devida conta e, com isso, o seu
valor é diminuído;
‒ a diminuição do valor de uma pessoa é uma violação do dever de tratar sempre qualquer pessoa como fim em si mesma (OU é uma violação do dever de reconhecer o valor incondicional de qualquer pessoa).
No caso de o aluno
defender que não há atos de caridade que possam ser moralmente censuráveis:
‒ por geralmente
aumentarem o bem-estar das pessoas pobres (ou diminuírem a sua insatisfação),
os atos de caridade promovem a felicidade geral e têm consequências moralmente boas;
‒ ainda que a pessoa
pobre possa sentir algum embaraço perante um ato de caridade praticado por
alguém que não o apresenta como um dever, as
consequências do ato são boas por aumentarem o bem-estar, independentemente da
atitude ou das motivações de quem o pratica.
Nota ‒ Os aspetos constantes
dos cenários de resposta apresentados são apenas
ilustrativos, não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Apresenta
inequivocamente a posição defendida.
Justifica de modo
completo e preciso a posição defendida.
|
15
|
3
|
Apresenta
inequivocamente a posição defendida.
Justifica de modo completo, mas com
imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, a posição
defendida.
|
12
|
2
|
Apresenta a posição
defendida.
Justifica
parcialmente e com imprecisões a posição defendida.
|
8
|
1
|
Não apresenta a
posição defendida.
Apresenta corretamente conteúdos
relevantes para a justificação de uma posição.
OU
Apresenta a posição defendida.
Apresenta
corretamente conteúdos relevantes para a justificação de uma posição,
mostrando compreensão de uma perspetiva moral relevante, mas a posição
defendida e a justificação não são claramente consistentes.
|
4
|
12. 14 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Indicação de que a
afirmação exprime um juízo de valor:
‒ sim, a afirmação exprime um juízo de valor.
Justificação:
‒ a afirmação indica o que devemos fazer;
‒ por indicar o que se
deve fazer, a afirmação tem carácter normativo.
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
3
|
Indica que a afirmação exprime um
juízo de valor. Justifica de modo completo e preciso.
|
14
|
2
|
Indica que a
afirmação exprime um juízo de valor.
Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo
preciso, mas não completo.
|
9
|
1
|
Indica que a
afirmação exprime um juízo de valor.
Não justifica, ou apresenta conteúdos
que, embora corretos, não constituem uma justificação adequada.
OU
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, refere que a afirmação
exprime o que devemos fazer), mas não indica que a afirmação exprime um juízo
de valor.
|
4
|
13. 15 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação das
razões que levariam um utilitarista a apoiar a primeira proposta:
‒ o utilitarismo
recomenda que a felicidade geral seja maximizada;
‒ transferir 200 € das pessoas que têm um rendimento de 6000 € para as pessoas que têm um rendimento
de 600 € aumenta mais a felicidade das pessoas que têm um rendimento de 600 €
(por lhes permitir satisfazer as necessidades básicas) do que diminui a felicidade das pessoas que têm um rendimento de 6000 € (por apenas limitar
parcialmente a aquisição de bens reconhecidos como dispensáveis);
‒ se a felicidade de umas pessoas aumenta mais do que diminui a felicidade de outras, a felicidade geral é desse modo maximizada.
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Apresenta de modo completo e preciso
as razões que levariam um utilitarista a apoiar a primeira proposta.
|
15
|
3
|
Apresenta de modo completo, mas com
imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, as razões que levariam um
utilitarista a apoiar a primeira proposta.
|
12
|
2
|
Apresenta parcialmente e com imprecisões as razões que levariam um utilitarista a apoiar a primeira proposta.
|
8
|
1
|
Apresenta corretamente conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, refere que, de acordo com
o utilitarismo, a felicidade das pessoas é um critério moral), mas sem apresentar as razões quelevariam um utilitarista a apoiar a primeira proposta.
|
4
|
14. 14 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Identificação da forma
de fazer ciência em que, de acordo com o texto, as descobertas referidas se
enquadram:
‒ ciência normal.
Justificação:
‒ a ciência normal é a investigação orientada pelo paradigma em vigor;
‒ na ciência normal, os investigadores procuram solucionar os enigmas da Natureza, expandindo o âmbito
de aplicação do paradigma e, assim, fazendo «acrescentos ao conhecimento
científico acumulado»;
‒ por terem sido «antecipadas e procuradas previamente», as descobertas que levaram ao preenchimento
da tabela periódica foram enquadradas e orientadas pelo paradigma em vigor
característico da ciência normal.
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Identifica
corretamente a forma de fazer ciência.
Justifica de modo completo e preciso o
enquadramento das descobertas referidas na ciência normal.
Integra adequadamente informação do
texto.
|
14
|
3
|
Identifica
corretamente a forma de fazer ciência.
Justifica de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, o enquadramento das descobertas referidas na
ciência normal.
Integra adequadamente informação do
texto.
|
11
|
2
|
Identifica
corretamente a forma de fazer ciência.
Justifica parcialmente e com
imprecisões o enquadramento das descobertas referidas na ciência normal.
Integra informação do texto.
|
7
|
1
|
Apenas identifica corretamente a forma
de fazer ciência, mas sem justificar ou apresentando conteúdos que não
constituem uma justificação.
OU
Apenas apresenta corretamente
conteúdos relevantes para a justificação solicitada (por exemplo, distingue a
ciência normal da ciência extraordinária), procurando aplicá-los ao caso em
análise, mas sem identificar a forma de fazer ciência.
|
4
|
15. 14 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Demonstração de que a
expressão indicada é adequada à descrição das revoluções científicas, tal como
Kuhn as concebe:
‒ um paradigma científico define as leis fundamentais, os métodos e os resultados
esperados, ou seja, define a teoria e a prática científicas;
‒ uma revolução científica é o resultado da
substituição (frequentemente abrupta) de um
paradigma científico por outro;
‒ por conseguinte, uma
revolução científica implica uma mudança profunda da teoria e da prática num certo ramo
científico.
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Mostra de modo completo e preciso que
a expressão indicada é adequada à descrição das revoluções científicas, tal
como Kuhn as concebe.
|
14
|
3
|
Mostra de modo completo, mas com imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, que a expressão indicada é adequada à
descrição das revoluções científicas, tal como Kuhn as concebe.
|
11
|
2
|
Mostra parcialmente e com imprecisões que a expressão indicada é adequada à descrição
das revoluções científicas, tal como Kuhn as concebe.
|
7
|
1
|
Apresenta corretamente conteúdos
relevantes para a demonstração solicitada (por exemplo, caracteriza as
revoluções científicas como episódios relativamente raros na história da
ciência), procurando aplicá-los ao caso proposto, mas não mostra que a
expressão indicada é adequada à descrição das revoluções científicas, tal
como Kuhn as concebe.
|
4
|
16. 14 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação
inequívoca da posição defendida acerca do valor de verdade da condicional.
Explicitação da posição defendida acerca do problema do livre-arbítrio:
No caso de o aluno
considerar que a condicional é verdadeira, defendendo o determinismo radical:
‒ o determinismo radical é a posição segundo a qual tudo (incluindo escolhas e ações) está determinado e (por isso) não há lugar para o livre-arbítrio / a ideia de que temos livre-arbítrio não passa de uma ilusão (assim, o determinista radical defende que tanto a antecedente da condicional como a consequente são verdadeiras).
No caso de o aluno
considerar que a condicional é verdadeira, defendendo o libertismo:
‒ o libertismo é a posição segundo a qual há livre-arbítrio e (por isso) nem tudo está determinado (assim,
o libertista defende que tanto a antecedente da condicional como a sua
consequente são falsas).
No caso de o aluno
considerar que a condicional é falsa, defendendo o determinismo moderado:
‒ o determinismo moderado é a posição
segundo a qual o facto de tudo estar determinado não implica que não haja lugar
para o livre-arbítrio (assim, o determinista moderado defende que a antecedente
da condicional é verdadeira, mas a consequente é falsa).
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
3
|
Apresenta posições consistentes sobre
o valor de verdade da condicional e sobre o problema do livre-arbítrio.
Explicita de modo completo e preciso a
posição defendida acerca do problema do livre-arbítrio.
|
14
|
2
|
Apresenta posições consistentes sobre
o valor de verdade da condicional e sobre o problema do livre-arbítrio.
Indica a posição defendida acerca do
problema do livre-arbítrio, mas não a explicita.
|
9
|
1
|
Apresenta posições inconsistentes
sobre o valor de verdade da condicional e sobre o problema do livre-arbítrio
(por exemplo, afirma que a condicional é falsa e que defende o libertismo).
Explicita de modo completo e preciso a
posição defendida acerca do problema do livre-arbítrio.
|
4
|
17. 15 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da razão
pela qual Descartes começou por rejeitar todas as suas crenças:
‒ Descartes reconheceu
ter aceitado como verdadeiras muitas opiniões falsas que recebeu
ao longo da sua educação;
‒ dada a dificuldade de separar as crenças falsas das outras crenças, Descartes considerou que a melhor maneira de se proteger do erro
seria rejeitar provisoriamente todas as suas crenças, como se todas fossem
falsas e incertas.
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
4
|
Apresenta de modo
completo e preciso a razão solicitada.
|
15
|
3
|
Apresenta de modo completo, mas com
imprecisões OU de modo preciso, mas não completo, a razão solicitada.
|
12
|
2
|
Apresenta
parcialmente e com imprecisões a razão solicitada.
|
8
|
1
|
Apresenta corretamente conteúdos
relevantes (por exemplo, refere o teste da dúvida defendido por Descartes),
mas não apresenta a razão solicitada.
|
4
|
18. 14 pontos
A resposta integra os
aspetos seguintes ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do
problema:
– a redistribuição da riqueza implica que o Estado transfira riqueza dos mais favorecidos/mais ricos para os menos favorecidos/mais pobres;
– algumas pessoas defendem que a redistribuição é um meio para assegurar a justiça social, mas outras
pessoas pensam que a liberdade individual pode ser ameaçada por esta interferência do Estado;
– parece, então, haver
um conflito entre a liberdade individual e a redistribuição da riqueza.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação a favor
da posição defendida:
No caso de o aluno
considerar que a redistribuição da riqueza põe em causa a liberdade individual:
- os mais favorecidos são geralmente os mais produtivos, e o facto de alguém ser mais produtivo resulta geralmente de decisões voluntárias; as decisões
voluntárias de trabalhar mais e de ser mais produtivo são uma expressão da
liberdade individual dos agentes;
- para
terem mais bens e usufruírem de mais serviços/mais riqueza, os agentes
preferiram livremente trabalhar mais, em vez de disporem desse tempo de
trabalho para atividades de lazer;
- caso
uma parte da riqueza adquirida em resultado da liberdade individual de
trabalhar mais seja transferida para os menos favorecidos, é retirada uma parte
do trabalho realizado a quem nele se empenhou, e a liberdade de dispor da
propriedade individual é, deste modo, posta em causa
OU o trabalho que permitiu produzir
essa riqueza converte-se em trabalho forçado (a favor dos menos favorecidos), e a liberdade de trabalhar mais (OU de escolher o que se faz com o tempo) é, deste modo, posta em causa.
No caso de o aluno
considerar que a redistribuição da riqueza não põe em causa a liberdade
individual:
- o
lugar de cada um na distribuição natural de capacidades e talentos (lotaria
natural) e o ponto de partida de cada um na sociedade (lotaria social), bem
como os acidentes da vida, não resultam das escolhas dos agentes, e o que não
resulta das escolhas dos agentes (nem, por conseguinte, da sua liberdade
individual) não é merecido;
- a redistribuição da riqueza permite que os menos favorecidos tenham os bens e serviços sem os quais a sua liberdade individual estaria diminuída (e é uma compensação devida aos menos favorecidos pelo facto de estes não merecerem que as suas expectativas sejam determinadas pela lotaria social ou pela lotaria natural);
- se,
em conjunto com mecanismos de redistribuição da riqueza, os mais favorecidos
receberem os incentivos adequados para produzirem mais riqueza (por exemplo, prémios de produtividade ou salários
mais elevados), também eles passam a dispor de mais bens e serviços e, assim, veem a sua liberdade individual aumentada.
OU
- a redistribuição da riqueza permite corrigir a influência das lotarias natural e social nas expectativas dos indivíduos e, por isso, é um
aspeto fundamental da justiça;
- a redistribuição da riqueza poria em causa a liberdade individual se implicasse violações das liberdades
básicas iguais, por exemplo, se, através de práticas igualitaristas irrestritas, se oprimissem os indivíduos,
privando-os sistematicamente do usufruto dos seus talentos e capacidades (e, assim, da expressão da sua individualidade/personalidade), ou se, através de tais práticas, se impedisse a propriedade privada, não a respeitando;
- o
direito a fazer certos contratos e negócios (por exemplo, aproveitando-se da
escassez de um bem fundamental) ou o direito a deter certas formas de
propriedade (tendo, por exemplo, o controlo dos meios de produção ou o
monopólio de bens e serviços essenciais) não são liberdades básicas (nem estão
protegidos pela prioridade do princípio da liberdade).
Nota ‒ Os aspetos constantes
dos cenários de resposta apresentados são apenas
ilustrativos, não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.
A classificação
final da resposta resulta da soma das pontuações atribuídas a cada um dos
seguintes parâmetros.
A – Problematização.....................................................................
3 pontos
B – Argumentação a favor de uma posição pessoal.................... 6 pontos
C – Adequação
conceptual e teórica........................................ 3 pontos
D – Comunicação.........................................................................
2 pontos
|
|||
Parâmetros
|
Níveis
|
descritores de
desempenho
|
Pontuação
|
A
Problematização
|
2
|
Clarifica adequadamente o problema
filosófico inerente à questão apresentada.
|
3
|
1
|
Clarifica com imprecisões, ou de modo
implícito, o problema filosófico inerente à questão apresentada.
|
2
|
|
B
Argumentação
a favor de uma
posição pessoal
|
3
|
Apresenta
inequivocamente a perspetiva defendida.
Evidencia um bom
domínio das competências argumentativas:
· articula
adequadamente os argumentos ou as razões ou os exemplos apresentados;
· apresenta, com
clareza e correção, argumentos persuasivos, razões ponderosas ou exemplos
adequados e plausíveis a favor da perspetiva defendida ou contra perspetivas
rivais da defendida.
|
6
|
2
|
Apresenta
inequivocamente a perspetiva defendida.
Evidencia um domínio
satisfatório das competências argumentativas:
· elenca
os argumentos, as razões ou os exemplos;
· apresenta, com
imprecisões, argumentos persuasivos, razões ponderosas ou exemplos adequados
e plausíveis a favor da perspetiva defendida ou contra perspetivas rivais da defendida.
|
4
|
|
1
|
Apresenta a perspetiva defendida,
ainda que de modo implícito. Evidencia uma intenção argumentativa, mas os
argumentos ou as razões apresentadas a favor da perspetiva defendida, ou
contra perspetivas rivais da defendida, são fracos ou claramente falaciosos,
ou os exemplos selecionados são inadequados.
|
2
|
|
C
adequação conceptual e teórica
|
2
|
Aplica corretamente conceitos
relevantes para a discussão do problema. Mobiliza (uma) perspetiva(s)
teórica(s) adequada(s) à discussão do problema, mostrando compreensão
dessa(s) perspetiva(s).
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3
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1
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Aplica com imprecisões conceitos relevantes para a discussão do problema. Mobiliza com
imprecisões (uma) perspetiva(s) teórica(s) adequada(s) à discussão do problema, mostrando uma compreensão parcial dos aspetos centrais dessa(s) perspetiva(s).
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2
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D
Comunicação
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2
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Apresenta um
discurso estruturado e fluente.
Escreve com sintaxe,
ortografia e pontuação globalmente corretas.
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2
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1
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Apresenta um discurso fluente, embora com falhas pontuais na estruturação.
Escreve com sintaxe, ortografia e pontuação globalmente corretas, podendo apresentar
falhas pontuais.
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1
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Voando sobre um ninho de cucos, 1975 |
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