quarta-feira, 19 de maio de 2021

Ética de Kant - críticas.





Ética de Kant - críticas.


Dilema de Helga

 

Helga e Raquel cresceram juntas. Eram as melhores amigas apesar do facto da família de Helga ser cristã e a de Raquel judia. Durante muitos anos, a diferença religiosa não parecia constituir problema na Alemanha, mas depois de Hitler tomar o poder, a situação mudou.

Hitler exigiu que os judeus usassem braçadeiras com a estrela de David. Começou a encorajar os seus seguidores a destruir os bens dos judeus e a bater-lhes nas ruas. Por último, começou a prendê-los e a deportá-los.

Circularam rumores de que os judeus estavam a ser mortos. Esconder judeus procurados pela Gestapo (a polícia de Hitler) era crime sério e violação da lei do governo alemão.

Uma noite, Helga ouve bater à porta. Quando abriu, viu Raquel nos degraus, envolvida num casaco escuro. Rapidamente Raquel saltou para dentro. Ela tinha tido um encontro, e quando regressou a casa encontrou elementos da Gestapo à volta de sua casa. Os pais e irmãos já tinham sido levados. Sabendo do seu destino se a Gestapo a apanhasse, Raquel correu para casa da sua velha amiga.

 

Se fosse convosco, o que fariam?


1º- Mandava Raquel embora (o que significava entregá-la à Gestapo e, consequentemente, condená-la à morte, dado que sabia que os judeus caídos nas mãos da Gestapo eram mortos);


2º- Escondia Raquel (o que significava pôr em risco a sua segurança bem como a da sua família dado que esconder judeus era considerado crime).


O que faria Kant, neste caso?

·   Segundo Kant nunca devemos mentir, pois temos o dever absoluto de dizer a verdade, independentemente das consequências.

·    Claro que esta atitude nos parece incorrecta, pois mentir, neste caso, parece que é aceitável tendo em conta que, com essa mentira, poderemos salvar a vida da nossa amiga.

·  Como Mentir não pode ser univerlizada logo não constitui uma acção por dever – nunca poderemos mentir em qualquer circunstância;

Ø Segundo Kant os deveres são absolutos e não admitem excepções.

Ø  Há casos em que temos deveres incompatíveis. Como resolver?

Ø  Por exemplo: O João prometeu emprestar dinheiro à Joana, no entanto o João pensa melhor na sua vida financeira e lembra-se que se emprestar dinheiro à Joana não poderá pagar as prestações da sua casa.

Ø O que deve então o João fazer?

Ø  O João tem o dever cumprir a promessa mas também tem o dever de pagar as prestações de casa;

Ø Em ambos os casos estes valores são absolutos: o dever de cumprir a promessa e o dever de cumprir o contrato com o banco.

Ø Kant, como sabemos, defende que os valores são absolutos o que em casos como este poderá levar a um conflito de valores sem solução.

Ø Segundo a ética de Kant, o João, em qualquer dos casos, procederá mal.

 

A ética de Kant é:


Ø  Uma ética formal (não tem conteúdo- não diz o que devemos ou não fazer mas como devemos agir)

Ø  É universal (Aplica-se a todos os casos)

Ø  Não resolve situações de conflito (dilemas morais)

Ø  Defende princípios morais absolutos (Por exemplo: Não mentir em qualquer situação)

Ø  Desvaloriza a dimensão afectiva do homem (as máximas)

Ø Valoriza a dimensão racional (a lei moral é racional)

Ø Rigorosa e excessiva (não admite excepções)

Ø É vazia (Dá pouca ajuda a pessoas que tentam decidir o que fazer)

Ø Há autores que defendem que a ética de Kant pode permitir algumas acções imorais por exemplo a máxima “Mata qualquer pessoa que te agrida” poderia ser consistentemente universalizada e, no entanto, esta máxima é claramente imoral.

Ø No entanto, matar alguém que nos agride viola a segunda formulação do Imperativo categórico pois esta obriga-nos a tratar os outros como fins em si mesmos e nunca como meios.

Ø A ética de Kant tem alguns aspectos implausíveis, nomeadamente o permitir justificar algumas acções absurdas como, por exemplo, dizer a um louco com um machado onde se encontra o nosso amigo, em vez de o afastar mentindo-lhe.

Ø Parece inadequado o papel das emoções tais como a compaixão, a simpatia e a piedade. Kant afasta tais emoções entendendo-as como irrelevantes para a moral.

Ø Segundo Kant, a única motivação apropriada para a acção moral é o sentido do dever

Ø Sentir compaixão pelos mais necessitados poderá ser digno de louvor, mas para Kant não tem nada a ver com a moral – o que pensaria Kant em tempos de pandemia?

Ø O comportamento moral humano envolve aspectos tais como: compaixão, simpatia e remorso afastá-los da moral, como fez Kant, será ignorar uma dimensão  importante do comportamento humano.

Ø A ética de Kant não dá atenção às consequências da acção  o que significa que um idiota bem intencionado que involuntariamente provoque várias mortes, poderá moralmente inocente pois não foi essa a sua intenção.

Ø Em muitos casos as consequências da acção são relevantes para aferir o valor moral das acções: por exemplo, a nossa avó secou o nosso gato no micro-ondas.

Ø Kant considera condenável certos tipos de incompetência.

Ø Com algumas insuficiências ou criticas, a ética de Kant é um enorme contributo para a afirmação dos Direitos Humanos.


                                                 Lola


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