Ética de Kant - críticas.
Dilema de Helga
Helga e Raquel cresceram juntas. Eram as melhores amigas apesar do
facto da família de Helga ser cristã e a de Raquel judia. Durante muitos anos,
a diferença religiosa não parecia constituir problema na Alemanha, mas depois de
Hitler tomar o poder, a situação mudou.
Hitler exigiu que os judeus usassem braçadeiras com a estrela de
David. Começou a encorajar os seus seguidores a destruir os bens dos judeus e a
bater-lhes nas ruas. Por último, começou a prendê-los e a deportá-los.
Circularam rumores de que os judeus estavam a ser mortos. Esconder
judeus procurados pela Gestapo (a polícia de Hitler) era crime sério e violação
da lei do governo alemão.
Uma noite, Helga ouve bater à porta. Quando abriu, viu Raquel nos
degraus, envolvida num casaco escuro. Rapidamente Raquel saltou para dentro.
Ela tinha tido um encontro, e quando regressou a casa encontrou elementos da
Gestapo à volta de sua casa. Os pais e irmãos já tinham sido levados. Sabendo
do seu destino se a Gestapo a apanhasse, Raquel correu para casa da sua velha
amiga.
Se fosse convosco, o que fariam?
1º- Mandava Raquel embora (o que significava
entregá-la à Gestapo e, consequentemente, condená-la à morte, dado que sabia
que os judeus caídos nas mãos da Gestapo eram mortos);
2º- Escondia Raquel (o que significava pôr em
risco a sua segurança bem como a da sua família dado que esconder judeus era
considerado crime).
3º O que faria
Kant, neste caso?
· Segundo Kant
nunca devemos mentir, pois temos o dever absoluto de dizer a verdade,
independentemente das consequências.
· Claro que esta
atitude nos parece incorrecta, pois mentir, neste caso, parece que é aceitável
tendo em conta que, com essa mentira, poderemos salvar a vida da nossa amiga.
· Como Mentir não
pode ser univerlizada logo não constitui uma acção por dever – nunca poderemos
mentir em qualquer circunstância;
Ø Segundo Kant os deveres
são absolutos e não admitem excepções.
Ø Há casos em que temos
deveres incompatíveis. Como resolver?
Ø Por exemplo: O João
prometeu emprestar dinheiro à Joana, no entanto o João pensa melhor na sua vida
financeira e lembra-se que se emprestar dinheiro à Joana não poderá pagar as
prestações da sua casa.
Ø O que deve então o João
fazer?
Ø O João tem o dever cumprir
a promessa mas também tem o dever de pagar as prestações de casa;
Ø Em ambos os casos estes
valores são absolutos: o dever de cumprir a promessa e o dever de cumprir o
contrato com o banco.
Ø Kant, como sabemos,
defende que os valores são absolutos o que em casos como este poderá levar a um
conflito de valores sem solução.
Ø Segundo a ética de Kant, o
João, em qualquer dos casos, procederá mal.
A ética de Kant é:
Ø Uma ética formal (não tem conteúdo- não diz o que devemos ou não fazer mas como devemos agir)
Ø É universal (Aplica-se a todos os casos)
Ø Não resolve situações de conflito (dilemas morais)
Ø Defende princípios morais absolutos (Por exemplo: Não mentir em qualquer
situação)
Ø Desvaloriza a dimensão afectiva do homem (as máximas)
Ø
Valoriza
a dimensão racional (a lei moral é racional)
Ø
Rigorosa
e excessiva (não admite excepções)
Ø
É
vazia (Dá pouca ajuda a pessoas que tentam decidir o que fazer)
Ø
Há
autores que defendem que a ética de Kant pode permitir algumas acções imorais
por exemplo a máxima “Mata qualquer pessoa que te agrida” poderia ser
consistentemente universalizada e, no entanto, esta máxima é claramente imoral.
Ø
No
entanto, matar alguém que nos agride viola a segunda formulação do Imperativo
categórico pois esta obriga-nos a tratar os outros como fins em si mesmos e
nunca como meios.
Ø
A
ética de Kant tem alguns aspectos implausíveis, nomeadamente o permitir
justificar algumas acções absurdas como, por exemplo, dizer a um louco com um
machado onde se encontra o nosso amigo, em vez de o afastar mentindo-lhe.
Ø
Parece
inadequado o papel das emoções tais como a compaixão, a simpatia e a piedade.
Kant afasta tais emoções entendendo-as como irrelevantes para a moral.
Ø
Segundo
Kant, a única motivação apropriada para a acção moral é o sentido do dever
Ø
Sentir
compaixão pelos mais necessitados poderá ser digno de louvor, mas para Kant não
tem nada a ver com a moral – o que pensaria Kant em tempos de pandemia?
Ø
O
comportamento moral humano envolve aspectos tais como: compaixão, simpatia e
remorso afastá-los da moral, como fez Kant, será ignorar uma dimensão importante do comportamento humano.
Ø
A
ética de Kant não dá atenção às consequências da acção o que significa que um idiota bem
intencionado que involuntariamente provoque várias mortes, poderá moralmente
inocente pois não foi essa a sua intenção.
Ø
Em
muitos casos as consequências da acção são relevantes para aferir o valor moral
das acções: por exemplo, a nossa avó secou o nosso gato no micro-ondas.
Ø
Kant
considera condenável certos tipos de incompetência.
Ø
Com
algumas insuficiências ou criticas, a ética de Kant é um enorme contributo para
a afirmação dos Direitos Humanos.
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